sexta-feira, 31 de agosto de 2012

EDITORIAL: O FUNERAL, O FOLCLORE E A INDIFERENÇA



 Esta semana encerraram o Salão Brazil e a livraria 115. Para a Baixa, estes dois estabelecimentos, um na hotelaria e outro na área dos livros, eram dois importantes afluentes que ajudavam a movimentar este rio comercial e urbano. Se formos frios na objectividade, poderemos até dizer que morreram estes, ficam mais e outros virão. É verdade. O problema é que estas casas ao encerrarem levam consigo muitas dezenas de anos de convivência e companheirismo. Uma cidade pode ser uma metrópole, um cosmos, um corpo uno administrativo, um arquipélago, mas na sua divisão organizacional é constituída por becos, ruas, avenidas e praças. Depois, estas podem ser fragmentadas em pequenas ilhas que formam os seus bairros e, estes, anda poderão ser divisíveis em pequenos núcleos de pessoas ou agremiações. É esta coabitação social que constitui o âmago, a alma do lugar onde vivemos.
Quando desaparece um estabelecimento antigo, cuja publicidade foi feita de boca-em-boca, sentimos que na sua viagem sem regresso levam consigo um pouco de nós. Durante décadas foram a nossa família; conhecemos os seus proprietários, os seus empregados; muitas das suas histórias que passaram atrás do balcão; tantas vezes partilhámos as suas alegrias ou tristezas. Não será esta semana que mais iremos notar a sua ausência. Será de aqui a uns tempos quando precisarmos de algo que só eles tinham, porque cada estabelecimento é singular. Será nessa altura, quando a carência nos toca, que vamos ficar à toa ao batermos com o nariz na porta forrada a jornais e, às vezes, acompanhados com um edital em jeito de epitáfio, em arrazoado de insolvência, “aqui jaz”.

MAS, O QUE É ISTO? NEM UMA VELINHA?

 O que impressiona é a forma ligeira, de apatia geral, como se assiste à passagem do féretro destas grandes casas carregadas de história comercial. Em analogia parece que estamos a assistir ao filme Titanic, em que enquanto o grande barco se afunda, no salão de baile a orquestra continua a tocar e os muitos passageiros continuam a dançar grandes valsas, estendidas em passos estudados, sem noção de que o seu fim está próximo. Por sua vez o comandante, numa frieza calculista, faz de conta que tudo está bem e que o grande transatlântico navega à bolina.
Lembrei-me desta metáfora, exactamente, porque também esta semana o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Barbosa de Melo, vinha retratado no Diário as Beiras a inaugurar a “Primark”, o novo espaço gigante de 1800 metros quadrados e instalado no Fórum Coimbra. Para ajudar a este meu pensamento vem também a Universidade de Coimbra, em parceria com a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, e a Associação Ruas, a propor que na semana de 17 a 24 de Setembro as lojas abertas adiram a um concurso de montras, cujo prémio é de 1000 euros para o vencedor, e as muitas encerradas, nos seus vidros, sejam decoradas com painéis “que cerca de 200 crianças estão a pintar” –in Diário as Beiras de hoje e com o sugestivo título: “Uma semana para devolver autoestima às ruas da Baixa através das montras”.

A MENINA DANÇA?

 Vamos por partes e analisar cada uma destas iniciativas, a do presidente da edilidade coimbrã e a Universidade. Comecemos pelo chefe do executivo camarário e regente dos destinos da cidade. Enquanto político partidário, representante de todos os eleitores e, num equitativo equilíbrio imaginário de interesses, empenhado em tudo o que se passa no seu município, será que Barbosa de Melo fez bem em ir inaugurar esta nova grande superfície comercial? Antes de dar a resposta, convém dizer que esta área está inserida num condomínio particular e já há muitos anos licenciada e em actividade –quero dizer, portanto, que o executivo não poderia obstar a sua abertura. Convém acrescentar que, segundo o Diário de Coimbra (DC), vai empregar 125 pessoas –não se trata de uma nova criação de emprego, no sentido de que esta marca veio ocupar o espaço da “Rádio Popular”. Assenta também dizer que, ainda segundo o DC, esta nova marca irlandesa vende um pouco de tudo, desde roupas a bijutaria, a poucos euros.
E agora, depois destas ressalvas, à pergunta formulada, se eu tivesse que responder, diria que Barbosa de Melo não fez bem em estar presente na inauguração. Quanto muito, para não parecer mal, delegava num chefe de gabinete, ou outro qualquer vereador. E porquê? A meu ver, passa a mensagem de que continua a apoiar o grande capital, representado no grande comércio. E aqui poderemos fazer outra pergunta: “mas e na Baixa, não vai às inaugurações?”. Vai sim. Esteve há dias a inaugurar o “McDonald’s”, junto à Rodoviária –o que não constitui um bom exemplo, porque correu por aqui que a cadeia norte-americana fez tudo demasiado rápido. Se fosse um simples operador não teria sido assim, mas adiante.
Continuando, não poderemos esquecer que a abertura da “Primark” vai contribuir para o encerramento de mais uns tantos pequenos comércios na cidade, e era aqui, a meu ver, que o presidente da autarquia se deveria distanciar e sem se implicar directamente. Se tivesse usado um pouco de mais argúcia política, fazendo diferente dos seus antecessores, agradava a todos e não carrega com o ónus.

O QUE É PRECISO É INTELECTUALIZAR

 Quanto a facto da Universidade de Coimbra se estar a envolver em várias áreas formativas do comércio, como por exemplo “merchandising” e vitrinismo, vejamos, não quero parecer uma ave de mau agoiro e estar sempre no contra. O que entendo é que estas medidas, são avulsas; são analgésicos para um doente que está em estado terminal. A Universidade fica muito bem na fotografia –tal como Barbosa de Melo-, mas não resolve as questões de fundo do comércio de rua. Porque, façamos uma pergunta: o comércio tradicional não vende por não saber expor os seus produtos? Não vende porque não sabe atender os seus clientes? Serão estas as questões que minam a actividade da compra e venda costumada? Não, não são estas dificuldades. Qualquer comerciante pode responder a este assunto sem pestanejar. Há várias premissas que concorrem para o mesmo objecto. Posso elaborar algumas. Algumas delas e substantivas: o comércio de rua está a desaparecer rapidamente porque está perante uma concorrência selvagem das grandes superfícies, que, nas suas práticas, visam apenas prejudicar o lojista; a mudança de paradigmas nos costumes –compras online e no grande comércio e desvalorização acentuada da coisa, enquanto símbolo memorial e de poder económico; sobreprodução mundial, que concorre para o embaratecimentogeral dos bens; a queda acentuada da procura interna, sublinhada pelo decréscimo do rendimento das famílias e pelo aumento do desemprego; aumento desmesurado da carga fiscal na pequena empresa.

E QUAIS SÃO AS ACESSÓRIAS?

 Depois há os adjectivos, a grande área, pela sua grandeza, presumivelmente, terá crédito bancário, o que lhe permite aceder a produtos mais baratos, e o pequeno operador não; a desertificação dos centros urbanos e deslocalização do citadino para a periferia; uma acentuada descida nas vendas que conduz a margens negativas de comercialização; o empobrecimento visível da maioria dos mercadores, com falências a surgir em grande escala, arrastando toda a família, e provocando uma apatia generalizada; rendas exageradas, usurárias, que são prática corrente no sector e está a conduzir o arrendamento comercial em “rapidinhas” de três meses, “em deixa ver o que é que isto dá?”; uma política de desvalorização, consumada nas últimas duas décadas, que retirou dignidade ao comerciante e, mais grave, ao não ser acautelado um necessário trespasse, condenou-se esta profissão a terminar na geração em curso. Tudo indica que, se nada for feito com urgência, os jovens não abraçarão a compra e venda como vida profissional.
Quem quiser ajudar a salvar o comércio terá de olhar para estas premissas. Tudo o que se faça fora disto é floreado, que, embora pareçam muito bem, não vêm acrescentar nada de novo.

BOA TARDE, PESSOAL...

UMA IMAGEM POR ACASO...


FECHOU A 115 DA PRAÇA 8 DE MAIO



 Encerrou a livraria 115, na Praça 8 de Maio. Depois de 35 anos naquele local e ter sido um dos espaços emblemáticos da Baixa de Coimbra fechou portas. Até agora esta reputada firma livreira da cidade detinha três casas num raio de cinquenta metros. Esta no largo de Santa Cruz, outra na Rua da Moeda, onde é possível comprar artigos mais virados para “o faça você mesmo”, em bricolage, e tintas e pincéis para artes decorativas, e outra grande livraria, também histórica, a Casa Castelo, na Rua da Sofia –estas duas, felizmente, ainda em funcionamento.
Segundo Fernando Freixo, um dos sócios desta afamada sociedade livreira, “entendemos que perante as vendas e as dificuldades que o mercado do livro está atravessar, neste momento, não fazia sentido manter a casa da Praça 8 de Maio aberta e, acredite, com muita pena nossa fechámos. Com os elevados custos com o pessoal, e em face do negócio que se está a fazer, não era possível mantermos três estabelecimentos em funcionamento. Temos a certeza que os nossos clientes irão entender e virão aqui à Rua da Sofia.”
Conheço o senhor Fernando e a família há cerca de 30 anos e por quem tenho a maior estima. Pessoas muito trabalhadoras e, sobretudo, generosas. Tal como milhares de portugueses, a quem políticos mais preocupados com os seus interesses e dos outros povos do que a salvaguarda dos bens e vidas dos muitos nacionais residentes nas ex-colónias, no período revolucionário do após-25 de Abril, veio com “uma mão atrás e outra à frente”. Resultado de muita entrega, muitas noites sem dormir, muito trabalho, esta sociedade familiar atingiu um patamar de reconhecido mérito na cidade. Chegou a ter, durante quase duas décadas e até ao virar do milénio, uma outra livraria nas Escadas do Quebra Costas.
Hoje, ao conversar com o meu amigo Freixo, não pude deixar de perceber o profundo desânimo que lhe consome a alma, ao ver o estado a que chegou o mercado livreiro. “Rebentaram com tudo, Luís. Não há volta a dar a isto. Repare, a nossa margem de comercialização do livro escolar é de 20 por cento. Se for às grandes superfícies fazem-lhe um desconto de 20 por cento. Ou seja, como não precisam deste lucro, porque o que lhes convém é levar lá as pessoas para compararem outras coisas, rebentam com as pequenas casas com esta nossa. Diga-me, como é que é possível manter uma pequena livraria aberta nestas condições e nesta selva? Trabalha aqui uma dezena de pessoas. Nestas circunstâncias, como é que ganhamos dinheiro para lhes pagar? Depois, como se o que conto fosse pouco, as editoras, que estão a agir em oligopólio porque estão na mão de poucos, fazem de nós “gato-sapato”. O que está acontecer é simplesmente indescritível. Nunca pensei, depois de mais de meio século a vender livros, que viria a constatar esta situação. O que querem fazer deste país, Luís? Já viu que a Baixa está ficar sem tabacarias? Há cerca de uma vintena de anos nessas muitas entradas de portas estava uma família a trabalhar. Era dali que retiravam o seu meio-sustento. E hoje, com esta selvajaria, com a falta de ética, na lei do mais forte, as pessoas vão viver de quê? Será que ninguém vê que estamos a caminhar para o abismo e para a destruição do trabalho e do rendimento que lhe está associado? Nunca pensei que viria assistir a isto…”

BOM DIA, PESSOAL...

AJUDE OS BOMBEIROS...



Caros Sócios e Amigos,

Chegados ao fim do mês de Agosto importa “dar contas” da “Campanha 5 € Solidários”, que iniciámos no dia 23 de Julho.
Assim, recebemos até ao momento 181 donativos, impondo-se um reconhecido agradecimento a todos os que nos quiseram ajudar. A importância recebida ainda que não sendo significativa representa uma ajuda e tem um significado que nos sensibiliza pela atenção e generosidade demonstrada para com esta Associação Humanitária.
Importa, também, referir que recebemos o contributo de ideias e sugestões daqueles que não estando disponíveis para ajudar financeiramente nos propuseram que solicitasse-mos ao Governo disposições legais que tornassem obrigatório a canalização para os Bombeiros de uma determinada verba, ou que propusesse-mos à Câmara o lançamento de uma “taxa” a reverter para os Bombeiros, ou que não utilizasse-mos este tipo de campanha através da comunicação social e das redes sociais mas que viesse-mos para a rua à frente dos bombeiros, ou, ainda, que fizesse-mos peditórios em determinados locais, etc. A todos, igualmente, agradecemos e teremos em boa nota as suas sugestões na convicção de que foram sugestões dadas com convicção e boa-fé.
Temos, contudo, que concluir que esta não era a resposta que esperávamos. É, sobretudo, difícil perceber o alheamento dos cidadãos de Coimbra para com os problemas e as dificuldades dos seus Bombeiros Voluntários, quando estes há 123 anos, todos os dias, 24 horas por dia, se preocupam com a sua protecção e segurança. Vamos, por isso, aguardar que neste período pós-férias ainda apareçam alguns gestos de ajuda solidária porque as nossas dificuldades são muitas e persistem.
Um muito obrigado a todos em nome da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Coimbra.
O Presidente da Direcção,
João Silva

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...



JPG deixou um novo comentário na sua mensagem "ENCERROU O SALÃO BRAZIL":



 Quando passei no seu espaço (muito bem recheado), vinha de visitar o Núcleo da Cidade Muralhada (Torre de Almedina e outros espaços) com o meu filhote.

Aproveitei para lhe mostrar e explicar o que são as Repúblicas e o Sousa Bastos.

Ao passar junto ao Salão Brazil (ainda me atrevi a contar algumas peripécias - as mais "softs", claro), fiquei surpreendido, mas pareceu-me que seria apenas um encerramento temporário para férias.

É muito mau não conseguirmos manter espaços do nosso imaginário colectivo.

Restam-nos as fotos e as vivências (enquanto o tal Alzheimer não nos trair).

Abraço!

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "Sinais ameaçadores", deixo também "O paraíso é aqui" e "Rostos nossos (Des)conhecidos -O Lobo"




SINAIS AMEAÇADORES

 O homem sozinho, aparentemente perdido no meio da multidão, caminha pela rua larga. Não leva nada consigo, no entanto, para os poucos que dão por ele e atentam no seu rosto granítico, esculpido a cinzel, fechado, como impenetrável é a pedra dura do penhasco, parece carregar todas as dores e sofrimentos do mundo.
O que se passará com este viandante das calçadas, percorridas por milhentos pés que nem reparam no chão que pisam, interroga um por outro transeunte mais atento e, que certamente livre de preocupações, ainda tem tempo para olhar a face de quem com ele se cruza. Em segundos, e logo que um novo pensamento não atropela o anterior, como num jogo de imagens virtuais que vão surgindo em catadupa, uma a seguir à outra, as teses mais variadas vão gerando interpelações.
Por sua vez imagina-se o romeiro, em dúvida metódica, igualmente a perguntar-se da razão de, coletivamente, os rostos por quem passa levarem consigo uma máscara de solidão. E o mais grave é este sentimento de tristeza, como nuvem tóxica, perpassar para todos e até ele próprio, que normalmente é bem-humorado, como se fosse apanhado numa rede, também se sentir cada vez mais ensimesmado?
Numa época de muitas questões e poucas soluções, mas onde quer as primeiras quer as segundas são formuladas e, imediatamente sem respostas de contento, se esvaem no vazio dos dias como fumo em dia de vento, mesmo em metáfora, valerá a pena cogitarmos.
O que aconteceu, na última década, para perdermos a alegria que tanto nos caracterizava enquanto população de afetos, simpática no trato, onde o júbilo marcava presença constante e passarmos de um estado geral de felicidade para uma situação de apatia generalizada? O que significará este tempo negro que nos envolve em massa de imbricamento? Será simplesmente a crise económica, com a sua onda destruidora de esperança, que estará por detrás da queda dos sonhos e a concorrer para uma pandemia social de depressão e a pôr a baixo todo um ânimo necessário para nos soerguermos sobretudo numa altura em que mais precisamos?
Comecemos por analisar a felicidade. Este sentimento de contentamento, a par com o mito da juventude, ao longo da história da humanidade, tem constituído o Santo Graal da eterna procura. Sabe-se que esta sensação de bem-estar, para além de poder ser induzida através de estupefaciente, naturalmente é efémera em curtos lapsos de tempo. Para além disso, é muito influenciada pelo meio envolvente. Por conseguinte, estes estados de alma podem perfeitamente ser estimulados pelas políticas governamentais de uma nação. Em silogismo, neste presente que estamos a conviver, se o estado geral anímico dos cidadãos é a letargia, quer dizer que os dirigentes da última década têm governado direccionalmente para a infelicidade dos seus eleitores. Esquecemo-nos amiúde vezes que estes executivos tecnocráticos se transformaram em máquinas frias de insensibilidade tecnológica. Um abcesso destruidor da própria aura de encantamento que envolve o espírito positivo da democracia. Ao visar apenas objetivos financeiros globais, retirando todo o serviço público de redistribuição equitativa, esquecendo as necessidades básicas de conforto físico e espiritual, e contribuindo na delapidação esperançada da pessoa humana, enquanto ser de sentimentos correlacionados em mimética, estão também a destruir as cidades, vilas e aldeias no melhor das suas vivências.
Por outro lado, verificamos também que a felicidade “per capita”, nos últimos dois séculos, foi sempre olhada individualmente pelo poder instalado sobre o prisma neoliberal. Isto é, como se o Estado, no seu pendor idiossincrático, de respeito pela forma de ser, não tivesse nada a ver, ou não se devesse imiscuir, com o que se passa dentro de cada um dos seus súbditos. Ou seja, a felicidade foi sempre apreciada sobre o distante prisma social, quase metafísico, e nunca pelo lado económico. Acontece que cidadãos apáticos, indiferentes ao que se passa à sua volta, são esqueletos de vivos-mortos que, na sua indolência de abandono, para além de se tornarem muito mais propensos à doença e ao suicídio, não criam nem geram riqueza. Que tempo é este?


O PARAÍSO É AQUI

 “Em finais do ano passado a minha casa foi assaltada. Ali era o meu trabalho, o coração, o pulsar do rendimento da minha família. Foi um rude golpe que sofri. O Governo do meu país, a Venezuela, não garantia a minha segurança e a dos meus. Apesar de ter começado bem, com ideias para o desenvolvimento do povo, há cerca de 14 anos, Chavez, com o passar do tempo, foi se tornando igual aos governos que o antecederam. Ou dito de outra forma, transformou o viver de todos os venezuelanos em algo inexplicavelmente vazio de tudo, de fé, de esperança, do simples acreditar no homem enquanto agente da mudança para uma vida melhor.
A lei no meu país só existe para alguns; a corrupção grassa como cogumelos em terra protegida no inverno; ninguém respeita ninguém; a propriedade privada não é salvaguardada; qualquer edifício, grande ou pequeno, a qualquer momento, pode ser confiscado a mando das autoridades com a bandeira do interesse público; a vida não vale nada; mata-se para roubar um telemóvel, um relógio, um fio de ouro.
Depois de o meu negócio ter sido roubado nunca mais dormi tranquilo. Senti-me inseguro na minha terra. Apesar dos meus trinta e poucos anos, tinha levado uma facada na minha alma. Via os meus sonhos esvaírem-se como farrapos de nevoeiro em manhã de sol resplandecente. Sentia faltar-me as forças. Era lá o meu lar e ali fui agredido. Era lá que tinha tudo, naquelas paredes edificadas pela minha família estavam as nossas reminiscências. Aquele prédio era o centro de centrifugação, o ninho de toda a minha prole, da minha mãe, da minha mulher, dos meus dois filhos ainda infantes.
Uma noite, em que o despertar teimava em me manter acordado e o sono, mais uma vez, me abandonara, dei por mim a dirigir-me ao computador e, no motor de busca, escrever: “as melhores praias do mundo”. E a primeira que saiu foi “Algarve”. “Algarve”? O que seria isso de “Algarve”? Eu nunca ouvira falar em tal. Nessa noite não preguei olho a pesquisar tudo o que dizia respeito a “Portugalo”. Através da Web, corri tudo do Minho ao Algarve, do norte ao sul, de lés-a-lés. Como pesquisador de ouro atrás da sua pepita, comecei a ver casas para venda. Acabei preso numa habitação próximo de Coimbra. No dia seguinte estava a expor os meus planos à minha mulher. Se ela estivesse de acordo, abandonaríamos a nossa terra e partiríamos em busca da terra prometida, à procura de um mundo melhor. Esta abraçou completamente a minha ideia. A Venezuela não era mais uma pátria profícua, nem para nós, nem para os nossos filhos.
A seguir contactei dois bancos portugueses e tratei de obter crédito para comprar a moradia. Infelizmente, porque demorei algum tempo, acabei por a perder, ganhei outra, em sentido oposto, mas também muito próximo da cidade dos estudantes. Eu e a minha família estamos cá há quase 6 meses. Isto é muito bom! Estamos muito felizes! Você tem noção de que o paraíso é aqui? As gentes de “Portugalo” são muito simples e respeitadoras. Que bem que nos sentimos cá! Aqui há segurança. Adoro estar aqui. É aqui que queremos ficar. É aqui que quero que os meus filhos cresçam e se façam pessoas de bem, cidadãos interessados em lutar pelo que acreditam –sabe que um dos problemas do meu berço natalício é a incapacidade do povo em se revelar contra a tirania do Governo. Aceitam tudo de braços caídos sem revolta. Lutem todos com coesão, ergam-se em bloco contra as decisões arbitrárias. Com o tempo todo o governo abusa do seu mandato e, se o povo não se levantar em peso contra o arbítrio, escraviza-o e age como ditador eleito. Foi o aconteceu com Chavez.
Estou a tentar vender o que tenho lá na Venezuela para depois trazer a minha mãe para junto de nós. Esta terra é abençoada por Deus, meu amigo!”

(Relato, na primeira pessoa, obtido de um cidadão imigrante venezuelano e agora a viver entre nós.)



ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS

"O LOBO"

 O Lobo é um simpático, humilde e introspecto artista plástico que, com muito calor humano de todos nós, calcorreia estes becos e ruelas da Baixa e nos faz companhia diariamente. Há pouco tempo deu-lhe para decorar com pinturas suas umas janelas de um prédio abandonado no início das Escadas de Quebra-Costas e junto ao Arco de Almedina. A verdade é que, segundo se consta lá na zona, parece que o local se transformou em “ex libris” para turista ver e recordar através de fotografia.
Até há pouco tempo era costume encontrar o Lobo a pintar e expor nas Ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz. Segundo conta, há poucos dias, cerca das 21h00, ficou espantado e indignado com a atuação de dois agentes da PSP. “Eu estava a pintar e tinha alguns trabalhos expostos na parede. Vieram dois polícias e interpelaram-me dizendo que eu não podia estar ali. Interroguei se estava a incomodar alguém –até porque se fosse mais cedo, até poderia entender, sei lá, que fossem os comerciantes que não gostassem de me ver ali. Um deles disse para eu sair dali depressa e antes que me pedisse a identificação. Bolas!, senti-me humilhado, entende senhor Luís? Você conhece-me. Sabe muito bem que sou educado e não atrapalho a vida de ninguém. Enxotaram-me como se eu fosse um cão, ou um qualquer criminoso, entende? Ora, você sabe, eu sou um artista modesto mas com obra feita. Tenho vários livros de poesia publicados. Já fiz várias exposições de pintura. Sabe o que é? Acho que estes profissionais de segurança medem todos por igual e sem levar em conta o desempenho e o valor cultural de cada um. Como tenho este aspeto simples… só pode ter sido por isso, senhor Luís. Não vou voltar mais a expor na rua!”
Há cerca de um mês o Lobo expôs na galeria “Arte à parte”, na Rua Fernandes Tomás, e vendeu tudo, como tão bem conta o Paulo Abrantes, no seu blogue “Denúncia Coimbrã”.

ENCERROU O SALÃO BRAZIL



 Encerrou uma das mais típicas casas da Baixa de Coimbra: o Salão Brazil. Escrever assim, desta forma fria, não consigo transmitir a quem me lê um pouco da tristeza que me envolve. É como se estivesse a anunciar a morte de um ente querido.
Depois de décadas de muita história deste salão, nesta segunda fase, digamos assim, foram 8 anos de muita luta -e essa homenagem, creio, ninguém a fará, mas é devida- que o Telmo, contra ventos e marés, tudo fez para manter este grande navio à tona. Porque soçobrou todos sabemos as causas mas nem vou enunciá-las pela razão de que não falei com este último proprietário e, como forma de respeito, prefiro escrever que, enquanto durou, durante estes 8 anos, foi uma casa de referência na Baixa, na cidade, em Portugal e até pelo mundo inteiro, tendo em conta os muitos estrangeiros que o frequentavam. Sei, porque enquanto vizinho me apercebia, que o Telmo deu tudo para aguentar até que pode.
Se as cidades são centros de convivência, naturalmente, só fazem sentido com as pessoas e os estabelecimentos que os constituem. Ao desaparecerem do seu seio, homem e negócio porque são siameses impossíveis de separar, a urbe, enquanto núcleo, fica mais triste, mais só, muito mais a viver em angústia pesada e que se vai alastrar a quem nele vive e revive. Todos nós que continuamos a assistir a estas ausências anunciadas, e que nunca mais voltarão, deveríamos ficar preocupados com o que se está a passar nas nossas ruas das nossas cidades, vilas ou aldeias. O que está acontecer à nossa volta é demasiado trágico para podermos aceitar pacificamente de mãos cruzadas sobre o peito. A pergunta que mais me ocorre é perguntar: o que é isto?
É certo que, enquanto cidadãos comuns, não poderemos fazer nada -ou poderemos?-, mas e quem manda, quem detém o poder decisório, também não pode fazer nada? Ou será que este poder sofre de autismo? Estando a ser o coveiro destas muitas casas com história e a mandar para o charco as famílias que aí detinham o seu rendimento e que lhes permitia viver condignamente, parece apenas interessado em tudo o que é grande, prestando vassalagem ao que vem de fora, faz de conta que não vê e assobia para o lado? É demasiado triste o que está acontecer aos nossos pequenos centros onde vivemos e partilhamos com todos as nossas vidas. Especulando, deveríamos ter uma varinha mágica que pudesse perpetuar estes marcos históricos para além do seu ciclo de vida. Infelizmente não temos! Uma lágrima de saudade para uma luz que feneceu.

JAZZ AO CENTRO CLUBE TOMA CONTA DO ESPAÇO

 Embora o Jazz ao Centro Club já desse há vários anos uma “mãozinha” ao Telmo, segundo o presidente desta agremiação jazzística, Rocha Santos, “ficámos com o espaço e vamos continuar para que a história deste grande salão tão importante para a Baixa de Coimbra não se perca. Depois de umas pequenas obras de remodelação, contamos em (re)abrir lá para o princípio de Outubro. Vamos fazer deste local um grande centro de actividades culturais onde, naturalmente, o Jazz estará presente mas também outras formas musicais. Embora já o fosse, mas como viemos de novo e cheios de força, estamos apostados em fazer desta casa, que agora pertencerá ao Jazz ao Centro Clube, um sítio de referência local e internacional. Queremos dar a conhecer à cidade todo o nosso trabalho em prol da música. A maioria dos conimbricenses não sabe mas temos uma vasta obra cultural em marcha. Já editámos 18 discos. Felizmente, pela declaração expressa de várias entidades, o nosso esforço está ser reconhecido por todos, incluindo a Câmara Municipal de Coimbra. Esta nova passada, que agora estamos a encetar, é mais uma entre muitas ideias que temos para colocar a andar.”

"A UNIVERSIDADE VEM À BAIXA"




 "No âmbito do projecto “A UNIVERSIDADE VAI À BAIXA”, integrado na candidatura da Universidade de Coimbra a Património Mundial,  realizado em parceria entre a Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, a Associação Ruas – Recriar a Universidade, Alta e Sofia e a Universidade de Coimbra, está prevista uma iniciativa a decorrer entre 17 e 29 de Setembro, nas montras das lojas encerradas no eixo das ruas Ferreira Borges, Visconde da Luz e Sofia.
Lançámos o desafio às crianças da cidade para virem à Baixa e criarem trabalhos plásticos sobre a cidade e a Universidade, com os quais se pretende o dar voz às gerações mais novas para que se manifestem sobre o que gostariam que fosse a cidade em que vivem. O resultado final deste processo criativo será exposto nas montras de estabelecimentos comerciais encerrados, localizados nas ruas indicadas, durante o período de tempo referido.
As sessões, orientadas por um monitor profissional, decorrem na semana de 3 a 7 de Setembro, nas instalações do Museu Municipal-Edifício Chiado, em dois horários distintos: das 10h30 às 12h30 para crianças dos 4 aos 6 anos de idade; das 14h00 às 17h00 para crianças dos 7 aos 10 anos. A frequência destas sessões é gratuita. Devendo a inscrição ser feita para a  Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra através do e-mail apbcoimbra@gmail.com ou dos telefones 239842164 ou 914872717 (Carina Alves)

Atenciosamente,
Carina Alves"

APBC - Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra
Rua João de Ruão, 12 Arnado Business Center, piso 1, sala 3
3 000-229 Coimbra
Tel. 239 842 164  Fax. 239 840 242 Tel. 914872418



UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...




Jorge Neves deixou um novo comentário na sua mensagem "A ERVA E O PÓ DO TERREIRO":


 Pegando na última parte do seu texto e aproveitando o pedido para fazer-mos uma reflexão sobre o assunto, vou exteriorizar o que penso, e porque penso, já que conheço a realidade da toxicodependência e os seus caminhos labirínticos.

Os locais de consumo e tráfico de droga em Coimbra vão desde o Largo da Portagem (tráfico principalmente Buprenorfina (subutex)); Largo do Romal (consumos com prevalência de álcool); Praça do Comércio (consumo e tráfico SPA); Terreiro da Erva (consumo e tráfico SPA com grande concentração de indivíduos à hora das refeições); Azinhaga da Pitorra e Fábrica Ideal e Triunfo (consumo endovenoso, prostituição).”
Estas são algumas das zonas e edifícios mais referenciados por ocupação de toxicodependentes, prostitutas e sem abrigo da cidade de Coimbra, que segundo dados oficiais, publicados no Diagnóstico de território – Baixa – Coimbra 2008,os toxicodependentes referenciados são 198, as prostitutas cerca de 100 e os sem-abrigo 70, dados estes que não andam muito longe da realidade em 2012.
No meu entender existem habitações com perigo para a saúde pública, nomeadamente os edifícios da antiga fábrica Ideal e Triunfo, onde as agulhas, seringas com resto de sangue, lâminas, frascos com metadona, comprimidos, dejectos que se misturam com os ratos que por ali vagueiam a céu aberto junto às instalações e no seu interior.
Já por várias vezes os agentes de socorro foram buscar toxicodependentes com “overdose” de heroína e os bombeiros chamados por causa de incêndios nas referidas instalações.
A toxicodependência é uma doença, quer queiramos quer não. Como tal, os doentes têm de ser tratados e apoiados tanto pelos familiares como pelas Instituições de apoio ao toxicodependente.
Eu entendo que ninguém queira ter essas instituições perto da sua casa ou estabelecimento comercial, mas deixo uma pergunta: mas querem um posto médico ou hospital perto de casa, não querem?
O problema não reside na localização dessas instituições de apoio ao toxicodependente, mas sim reside na falta de policiamento desses locais, na falta de uma intervenção rápida e eficaz com o intuito de dissuadir a venda e o consumo na via pública. Venda e consumo sempre existiu e vai continuar a existir, mas terá mesmo que ser em sítios residenciais e comerciais?
Para terminar só um pequeno alerta, nos últimos meses a Baixa de Coimbra foi “invadida” por novos consumidores e traficantes (afirmo isto porque sou da Baixa, ando na rua todos os dias, e o pessoal que vejo a consumir, traficar não são caras conhecidas pelo menos da Baixa de Coimbra e não se pode dissociar estes novos traficantes/consumidores da onda de assaltos que vêm acontecer em Coimbra.

Jorge Neves

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A ERVA E O PÓ DO TERREIRO



 Em plena “silly season” na cidade, em que salvo um pequeno assalto aqui e ali e um incêndio na periferia nada acontece, antes de ontem a agressão a dois (um?) agentes da Polícia Municipal perpetrados por dois arrumadores do Terreiro da Erva veio abanar a pacatez desta terra.
Há muito que esta praça, localizada em pleno coração da Baixa, tem vindo a resvalar pelo cano da convivência, quem sabe em solidariedade com os muitos toxicodependentes e os sem-terra que por ali assentaram poiso em último reduto das suas vidas desgraçadas, à espera que a tão prometida recuperação do edificado à sua volta avance. E é precisamente por esta inércia camarária que este outrora largo industrial e comercial, como condenado no corredor da morte, se tem vindo a arrastar na decrepitude do tempo e no desleixo dos homens. Há mais de uma vintena de anos que está prometido avançar com um grande projecto para toda a sua zona envolvente. Em resultado desta apatia, e também da crise económica, nas últimas décadas os comércios à sua volta foram encerrando e os espaços, com autocolantes nas suas portas, parecem mausoléus em cemitério de mortos que ninguém quer ou lembra. Desapareceu o barbeiro, a loja de peças de automóveis, a casa de móveis, a loja de vidros, a oficina de bicicletas, a fábrica de olaria e última representativa de um passado de glória esquecido e enterrado nas entrelinhas das chinesices. Neste terreiro só resistiram as casas de hotelaria, o parque de estacionamento improvisado glosando um quarto mundo e os muitos arrumadores em busca de uma moeda que lhes permita comprar uma dose que é vendida à frente de todos e perante a indiferença geral. As salas de chuto são os becos estreitos, mal-cheirosos em putrefacção, e onde até o sol renega a penetração.
Há cerca de uma dezena de anos instalou-se na zona um centro de apoio e, recentemente, em 2008, o GAT, Gabinete de Apoio ao Toxicodependente, da Cáritas Diocesana de Coimbra, que, conforme o nome indica, presta assistência às centenas, senão muitos milhares de adictos, divididos entre a toxicodependência e o alcoolismo; a prostituição e os sem-abrigo da área. É evidente que ninguém quer uma vizinhança assim e hoje no Diário de Coimbra (DC) os comerciantes insurgem-se contra esta situação de apatia recorrente. Há muito tempo que, em face do aumento generalizado de tráfico e consumo –são as estatísticas postadas nos jornais que o dizem-, os operadores apontam o dedo à estrutura da Cáritas como fomentadora de tal movimentação indesejada. Mas, paremos para pensar. Será que o apoio dado por esta entidade é a causa ou é uma consequência de um estado que assistimos e de um tempo que vivemos? Penso que não há dúvida na resposta: esta estrutura existe porque é precisa no apoio psicológico, na troca de seringas e na ajuda do material para consumo, e, sobretudo, no acompanhamento e na monotorização desta população. Ora se não há dúvida de que é necessária porque não a queremos cá? Não queremos porque ninguém quer uma doença cancerígena, ou uma má vizinhança por perto. Mas se nós não queremos quem quer? É óbvio que ninguém. E então como é que se vai fazer? Vai-se impor pela força que outros aceitem o que a nós nos causa embaraço? Porque, repete-se, a sua implementação, pelo que vemos, está justificada. Não estaria se, de facto, por cá não houvesse toxicodependentes. Esta é a verdade. Não há outra.
Li com a atenção as declarações de Luís Costa, Presidente do Conselho de Administração da Cáritas Diocesana de Coimbra. Transcrevendo do DC, afirma este senhor que não conheço: “facilmente podemos imaginar como seriam as ruas, os cantos da Baixa de Coimbra se coexistissem com 277.613 unidades de seringas usadas”. Acrescenta ainda: “que aquele é o local que faz sentido, porque é ali que estão os consumidores de estupefacientes”. E deixa uma pergunta aos comerciantes: “se a estrutura não existisse ali, seria melhor (para a Baixa)?”
E é com esta interrogação profunda que deveremos partir para outras constatações. Hoje, estou convencido, não haverá nenhuma família que não tenha no seu seio um drogado, em leves ou pesadas, ou viciado noutra qualquer substância. Ora, olhando para esse nosso familiar, temos o direito de, apenas visualizando o nosso umbigo, exigir que não sejam apoiados milhares na mesma situação?
É que, a meu ver, há uma questão essencial: o que concorre para este mau ambiente social generalizado, contrariamente ao que se pensa, é o estado decrépito de toda a zona envolvente ao Terreiro da Erva e não o facto de lá existirem organizações de apoio. Ou seja, o que é preciso exigir é celeridade à autarquia e não a expulsão de quem pratica um essencial e bom serviço à comunidade. Claro que para pensar assim temos de transcender um pouco o nosso interesse egoísta individual e olhar, sobretudo, para os nossos familiares que tanta dor nos causa.
Vamos reflectir sobre isto? Fica o convite para quem o quiser fazer.

BOM DIA, PESSOAL...

INCOMPETÊNCIA



 Há uma semana, mais propriamente no dia 22, uma senhora caiu num buraco aberto na calçada na Rua Eduardo Coelho e em frente à sapataria Trinitá. Nessa mesma hora, e tal como noutras vezes, fiz a reclamação para a autarquia. Aproveitei para descrever  o estado do piso nesta antiga rua dos sapateiros, mostrando através de fotografias a situação calamitosa em que se encontrava esta artéria.
Ontem, dia 28, vieram dois funcionários da edilidade para reparar os buracos. Então aconteceu o incrível, estes serventes camarários, numa atitude que brada aos céus, repararam os maiores e deixaram na mesma os mais pequenos e que, embora com menos gravidade, continuam a fazer cair transeuntes. Foram ao cúmulo de, em frente à Trinitá e na entrada da Rua das Padeiras, junto a uma caixa de saneamento calcetarem um buraco ao lado desta e na tampa deixarem vários orifícios em falta. Para além disso fecharam um, onde a senhora se magoou e ao lado, junto a uma tampa de ferro das águas, deixaram outro nas mesmas condições.
É preciso não ter pejo em afirmar que, para além de uma enorme irresponsabilidade profissional e social, estes funcionários são incompetentes e contribuem para denegrir a relação entre os munícipes e os serviços da Câmara Municipal. Especulando, a menos que ontem se encontrassem em greve e só estivessem obrigados a cumprir serviços mínimos. Ainda que se possa levar estes comportamentos para a brincadeira estes procedimentos, infelizmente regulares, são mais graves do que parecem. Mais, como a exigência não faz parte do seu vocabulário, continuam no mesmo desleixo porque ninguém se queixa e, se calhar, quem os comanda também não está para se ralar. As consequências para esta omissão e apatia são mostradas em imensas quedas com ferimentos às vezes graves de quem passa nestas ruelas estreitas. Só uma perguntita assim meia estúpida: se estes senhores trabalhassem para um privado fariam o mesmo?
Era bom que o senhor Presidente da Câmara Municipal de Coimbra mandasse fazer uma avaliação dos serviços que estes funcionários prestam.

(TEXTO ENVIADO PARA CONHECIMENTO DA CMC)

terça-feira, 28 de agosto de 2012

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...

(Imagem da Web)


Pedro Galveias deixou um novo comentário na sua mensagem "A ASCENSÃO DO MEDO":


Sr. Luís,

Tenho uma loja na Baixa e uma filha bebé com quem passeio frequentemente nas ruas da mesma. Ora, se por um acaso eu estivesse presente nesta situação, seria para mim ou para outra pessoa nas mesmas condições muito complicado intervir sabendo que este tipo de pessoas praticam uma violência gratuita e sempre desmesurada. Compreendo a reacção de medo das pessoas. Ainda para mais quando quem nos deve proteger e fazer algo, demora 15 minutos a chegar estando mesmo ali ao lado. (tal como é incompreensível os assaltos à Pétala, à perfumaria do Mercado e outros). Sim, por vezes tenho vontade de fazer justiça pelas próprias mãos, criar milícias populares e actuar. Mas sabe, depois a polícia já não demora 15 minutos para me vir buscar, vem logo! Depois ainda temos aqueles comerciantes que, preocupados com os seus bens, têm que pagar 1000€ por noite por 2 agentes da polícia, se o edifício onde têm a sua loja estiver em obras e com andaimes montados e solicitarem a vigilância do mesmo.
O problema da Baixa tem que ser resolvido de outra forma, como tantas vezes já referiu. E com isto não meto no mesmo saco todos os agentes da polícia, pois alguns preocupam-se e fazem o que podem...
Nunca ignorei os "personagens" da Baixa de Coimbra que o Sr. Luís tão bem retrata (o saudoso "Aspirante", o Senhor Pino, que vende a CAIS, e tantos outros...) Mas causa-me alguma revolta os marginais que passam o dia em frente à Câmara Municipal a vender droga debaixo do nariz das autoridades e a elaborar os assaltos que vão fazer. As autoridades conhecem-nos, sabem quem são... e todos os dias lá estão!
Eu ainda acredito na Baixa de Coimbra.


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NOTA DO EDITOR

 Começo por lhe agradecer o seu comentário sincero. Gostei muito da forma como se expressa. A seguir vou escrever que, entre outras, há duas premissas que são transversais à humanidade. Ninguém está livre delas: o receio e a dívida. Quanto ao receio, todos temos medo de algo ou de alguma coisa. Quanto à dívida, todos somos devedores de algo, a alguém terreno, nem que seja pelo simples reconhecimento de um pequeno gesto altruísta, ou, se for crente, a uma entidade transcendental, a Deus, por exemplo.
Quando escrevo em título “A ascensão do medo”, pretendo apenas alertar para o facto de não nos deixarmos dominar por ele. Não pense que ao fazê-lo me julgo superior. Sou um “cagarola” como outro qualquer. Porém, como sabe, até pelo facto de dar a cara escrevendo o que penso implica algumas vezes introspecção, sobretudo, tendo em conta a consequência futura. Tantas vezes penso se valerá a pena continuar. Mas tenho dois motivos fortes. O primeiro é que gosto de escrever –e sem este vício é difícil  passar. O segundo é que –também outro vício- gosto de intervir. Gosto de dar opinião. Estas são verdadeiramente as razões, mas ainda lhe vou acrescentar mais um ponto: não resisto a contar uma história –se você costuma ler este blogue, saberá que estou sempre pronto a contar qualquer coisa que se passou comigo ao longo da minha vida. Aí vai algo que nunca aqui escrevi:

                                                      I

Em 1982, com 25 anos, estabeleci-me por conta própria com um café na Alta da cidade. Até aí, eu fora sempre empregado e peguei no negócio com dinheiro emprestado. Caí lá, na zona, por puro acaso. Passava lá de vez em quando, mas não conhecia nada do que por lá acontecia. Antes de abrir, porque o estabelecimento estava mesmo miserável, com a ajuda de um meu cunhado, pintei, limpei, arranjei o que pude sem gastar muito dinheiro. Lembro-me que, enquanto andava lá nas limpezas, um sujeito assomou à porta e disse: “foi você que ficou com isto? Não lhe dou um mês para ir embora. Ninguém aguenta este café. É impossível ter mão na escumalha que o frequenta”. Eu fiquei a olhar para o homem e, recordo, apenas retorqui: vamos ver! Outra vez, outro disse-me: “olhe que isto aqui é muito difícil de aguentar. Há aqui um grupo de cerca de uma dúzia de indivíduos, são eles que mandam e impõem a sua lei. Nunca chame a polícia para nada!”

                                                       II

Logo no primeiro dia em que abri, cerca das 23h00, com a sala cheia, e onde estavam pessoas da minha família e a do meu cunhado, entrou lá um indivíduo e, como touro enraivecido, virou tudo. Eu, que nunca tinha andado à pancada, magro e sem grande estatura física, fiquei aparvalhado a olhar para o que estava acontecer. Só via e ouvia os clientes a gritarem espavoridos e as mesas todas tombadas e com a louça quebrada e espalhada pelo chão. Logo nesse dia chamei a polícia que o identificou. Nos dias subsequentes era sempre o mesmo. Logo que o avistava a entrar acompanhado dos outros as minhas pernas tremiam como varas verdes. Há distância de trinta anos consigo sentir a sensação. Comecei por tentar chamá-lo à atenção para o que ele estava a fazer, mas o resultado era o mesmo. Quando falava comigo concordava, à noite, juntamente com outros, quebrava copos e o mais que calhava. Então tive de decidir o que fazer. Ou avançava para a luta e salvava o que tinha ou, tal como os anteriores donos, tinha de abandonar. 
A primeira vez que me envolvi à pancada com ele partiu-me o nariz –ainda conservo a marca mesmo no meio da cana. Aos poucos, com a ajuda da PSP porque sempre que tinha problemas esta força ia lá, eu fazia queixa, e levava aqueles energúmenos a tribunal, depois de muita pancadaria e muitos vidros partidos, consegui pô-los a todos fora dali. Não se pense que foi fácil. Cheguei a contratar um indivíduo para fazer segurança mas o problema persistia para pior. Durante um ano inteiro foi assim. Tive uma arma apontada à cabeça; tive uma faca encostada ao pescoço; andei ao murro sei lá com quem e considero que muitas vezes fui injusto com quem não merecia. Fui a 13 julgamentos em que era o ofendido. Ao fim de pouco mais de um ano tinha a casa quase limpa. Mas, por parte desta escumalha, tinha a cabeça a prémio e muitos inimigos. Chegaram a partir-me a montra com um calhau envolvido numa mensagem de ameaça à integridade física. Lembro-me de, diariamente, sair a altas horas da noite do café e esperar levar um “enxerto” para nunca mais me levantar. Mas eu armava-me em forte. Ninguém sabia como as minhas pernas tremiam. Só eu sentia aquele medo que me atrofiava a alma. Mas tinha noção de que estava a caminhar no bom sentido. Aliás, não tinha mesmo outra hipótese do que ir em frente. Se recuasse nunca conseguiria pagar a quem devia. Por outro lado, sempre acreditei que todos nós só temos uma oportunidade na vida. Aquela era a minha. Se a perdesse não iria ter outra igual. Vivia atemorizado com o que pudesse acontecer a qualquer momento. Eu estava todo o dia no café sem arredar pé e até à noite, como se esperasse que, se saísse, a guerra iria rebentar a qualquer momento. Durante o dia só me afastava para ir buscar os meus filhos à escola e rapidamente voltava para lá. Pressentia que, mais tarde ou mais cedo, os distúrbios iriam recomeçar. Sentia que o grupo esperava vingança. Isto numa altura em que eu não podia falhar. Para além disso, os anteriores cedentes, deixaram a firma na falência e eu andava a fazer acordos com todos os credores para conseguir levar o barco a bom porto.

                                                    III

 Passado cerca de um ano e meio, recordo bem, por volta das 18h00, fui levar a minha filha a casa e demorei cerca de 45 minutos. Quando retornei ao estabelecimento encontrei o café todo destruído, mesas, cadeiras, balcões, louça partida, e -na altura tinha três empregados- um funcionário com uma orelha deitada abaixo. Tinham sido três irmãos muito famosos na cidade pelos seus desmandos de violência e que eu deixara de servir –um deles tinha-me apontado uma faca ao pescoço. A PSP prendeu-os e o caso foi remetido para inquérito.
Na semana seguinte, com a ajuda de um amigo polícia, tratei de pedir uma licença de uso e porte de arma. Passado pouco tempo comprei a pistola e aguardei. Dizia-me a minha intuição que estes três irmãos iriam voltar para fazerem o mesmo. Passado mais ou menos um ano, cerca da meia-noite de um qualquer dia, apareceram os três para repetirem a proeza. Começaram por pedir para serem servidos. Eu neguei. Fui buscar a arma ao escritório, coloquei uma bala na câmara, pu-la no bolso e fui para o balcão. Um deles, ameaçador, perguntou: “serves-nos ou não?”. Eu disse não. Então ele pegou numa cadeira e elevou-a no ar com intenção de a arremessar contra uma mesa. Puxei pela 6,35 e, visando os três, desafiando, interpelei: parte se fores capaz! Se o fizeres ficas aí. Então, numa experiência que espero que nunca mais se repita, aconteceu uma coisa extraordinária. Quando ele viu a pistola apontada ficou lívido. Foi como se estivesse perante uma cascavel. Meio atarantado, largou a cadeira e, sem conseguir controlar os nervos, como estava junto de um empregado colocou-se atrás dele e, servindo-se do homem como escudo, foi até à porta e desapareceu. Eu, talvez pela aparente posição de superioridade concedida pela arma, estranhamente, estava calmo. Os outros dois, visados pela pistola, aguardaram quietos que viesse a PSP. Irrompeu a polícia e, depois de um dos agentes me ter descarregado a arma e contemporizar muitas vezes “tenha calma”, “tenha calma!”, levaram-nos lá para fora para identificar. Lá dentro, fiquei a pensar: desta vez é que estou mesmo frito. É desta que estes três meliantes me vão matar. 

                                                IV

 Agora veja-se o lado comportamental e antropológico dos humanos: estes fulanos nunca mais me chatearam. Mais, quando passavam por mim na rua, evitando fitar-me, colocavam o olhar no chão. Dois deles ainda hoje andam por aqui pela Baixa. Nunca mais tivemos a mínima provocação. Eles fazem de conta que aquilo nunca aconteceu e eu, da mesma forma, igualmente. Até já falámos, inclusivamente.
Eu resumo, poderemos interrogar: e se um deles tivesse mesmo começado a partir tudo? O que teria acontecido? Eu teria disparado? Não teria? E se o tivesse feito? Essa é uma questão que não tenho resposta, mas dá para pensar como a fronteira entre o livre-arbítrio, a liberdade e a prisão é uma linha ténue e imperceptível. 
Penso que foi a forma aparentemente segura como os enfrentei que me levou a vencer. Afinal, como já alguém escreveu, a vida não é mais do que um grande teatro onde cada um  de nós representa o papel que lhe está atribuído pelo destino. Ali, naquela noite, eu representei um acto e correu muito bem. Mas poderia ter corrido muito mal sobretudo para mim.
Estive na Alta, com o estabelecimento, 12 anos. Lá ganhei a minha vida, a minha independência financeira e lá atravessei a ponte entre a miséria e o remedeio. Por lá deixei muitos amigos e que ainda hoje me acompanham e recordamos com saudade. Tive sorte, é claro. Não tenho a mínima dúvida! Mas, afinal, o que é sorte senão uma sequência lógica de acontecimentos encadeados uns nos outros?!
Em suma, para salvar o que é nosso, temos mesmo de vencer o medo. Dá para ver que quando a necessidade obriga, e quando está em causa a nossa vida, qualquer pacato cidadão se pode transformar em homicida. Creio que, nessa altura, nesta sucessão de factos foi o que aconteceu comigo.

BOM DIA, PESSOAL...

A ASCENSÃO DO MEDO

(IMAGEM DA WEB)

 Hoje os dois jornais da cidade, o Diário de Coimbra e o Diário as Beiras, em primeira página, respectivamente, noticiam assim: “Polícias Municipais agredidos “à cadeirada” e “Agentes da Polícia Municipal agredidos por arrumadores”.
A meu ver há aqui questões que convêm analisar. A primeira diz respeito ao facto de, contrariamente ao que é afirmado nos dois periódicos, haver apenas um agente da Polícia Municipal (PM) dentro da pastelaria Sírius e não dois como é propalado. Segundo o que consegui saber de fonte idónea, que presenciou os factos, mas que pediu o anonimato, “o agente estava sozinho. Foi então que entraram os dois arrumadores e, sem quê nem para quê, o começaram a agredir. Mas eu não quero falar mais disso que, com essa gente vadia –referindo-se aos arrumadores- não quero nada!”. Voltei a insistir se, de facto, era apenas um agente que estava presente. Um bocado agastada, repetiu: “já lhe disse que era um só!”. E não foi possível arrancar-lhe mais nada.
A segunda questão que se coloca é a razão de os dois jornais afinarem pelo mesmo diapasão: ou seja, pelos vistos, ambos caírem na nota errada. E, sem ir mais longe, poderemos interrogar porquê? Quem deu esta informação falseada? Sim, porque alguém a deu. Conheço bem o trabalho dos dois matutinos e sei que não escrevem de qualquer maneira –claro que posso especular que teria sido muito difícil de obter informações dentro do estabelecimento de hotelaria. Se com os jornalistas se passou o mesmo que comigo, dá para adivinhar o que teria acontecido.
O problema é que esta (falsa) informação é mais grave do que parece. É que se lermos a notícia sobre o prisma em que dois agentes da PM são agredidos por dois arrumadores toxicodependentes inferimos uma ilacção: “o quê? Dois vadios mal nutridos conseguem bater em dois agentes treinados para enfrentar situações de risco? Afinal, que preparação física tem estes agentes? Enquanto cidadão, sinto-me inseguro com estes polícias. Pelos vistos, só servem mesmo é para multar!”
Porém se, eventualmente, lêssemos que um agente da PM foi agredido dentro de um café por dois rufias, o caso muda completamente de figura. Eram dois contra um. A ilação seria mais ou menos assim: “fogo!, já não há respeito por nada, nem por uma farda. Coitado do agente, com dois energúmenos, também o que é que ele poderia fazer?”
Ou seja, se na primeira aferição sai prejudicada a imagem da PM, já na segunda sai reforçada.
Outra questão pertinente. Este incidente aconteceu a cerca de pouco mais de meia centena de metros da 2ª Esquadra da Polícia de Segurança Pública (PSP). Segundo uma testemunha que ouvi e pediu o anonimato, “a PSP demorou mais do que 15 minutos a aparecer. Não sei ao certo, mas que foi um quarto de hora lá isso foi, garantidamente”. Isto quer dizer que se, por acaso, houvesse uma arma nas mãos dos agressores, facilmente teriam assassinado o agente da PM. Além de mais, e com base nas declarações desta testemunha, havia vários clientes dentro do café e ninguém se prontificou a ajudar o cívico que, declaradamente, estava em desvantagem numérica. Nem um só se levantou para o auxiliar.

ONDE PÁRA A SOLIDARIEDADE PARA QUEM NOS DEFENDE?

 Hoje, à hora do almoço, dirigi-me à pastelaria Sírius para saber informações. Como conheço o actual proprietário foi com ele que pretendi falar. Debalde, estava de férias. Então, identificando-me, e mostrando o objecto da conversa, perante a gerente que, presumivelmente, o substitui, de uma forma pouco polida e muito crispada, a profissional virou costas e deixou-me a falar sozinho. É óbvio que lhe assiste o direito legítimo de falar ou não falar, mas quando as pessoas não prestam declarações com receio de represálias de dois meliantes e, sobretudo, para testemunhar em favor de um agente que arrisca a vida para nos defender alguma coisa vai mal na cidadania. Quando o medo toma conta do nosso agir é mais preocupante do que parece. Acerca deste ponto, ao falar com a testemunha que presenciou o atraso da PSP foi-me adiantando que “as empregadas estão cheias de medo. Os dois arrumadores ameaçaram-nas. Mesmo ontem elas não quiseram depor para a polícia. Você já viu? Andam estes agentes a dar o corpo ao manifesto para depois, quando é preciso testemunhar a favor da verdade, se encontrar pessoas que não querem saber de quem os defende. Mas depois, quando estão à rasca, queixam-se que isto é assim e assado!”

ATITUDES QUE NINGUÉM ENTENDE...




Políticos ganham mais do que em 2011

sábado, 25 de agosto de 2012

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

UM NOVO RIO NA HOTELARIA DA BAIXA



 Junto à Igreja de São Bartolomeu, ao fundo da Praça do Comércio, e no antigo espaço do “João Brasileiro”, há cerca de duas semanas, (re)abriu o novo restaurante “Rio Mondego”.
Com uma decoração muito apelativa, com pessoal muito simpático, a nova casa de restauração promete dar que falar e ser um ponto de paragem obrigatória na Baixa.
A anfitriã é a Letícia Pereira. De origem brasileira, mas já há muitos anos entre nós e com larga experiência na indústria hoteleira, compromete-se a, através de pratos típicos do Brasil e outros da nossa terra portuguesa, não deixar créditos por mãos alheias.
Com uma ementa com preços acessíveis, mas onde a qualidade está acima de tudo, vai-me contando que quer servir bem. Não quer o cliente apenas para uma vez. “Quero que quem nos visite leve consigo um gostinho especial da nossa comida, está a entender? Não queremos ser mais uma casa hoteleira no Centro Histórico. Essencialmente, queremos conquistar o nosso espaço.”
Durante mais de dois anos esteve no Terreiro da Erva estabelecida com um pequeno restaurante, ao lado do Cantinho dos Reis. “Tivemos de largar, porque a renda era enormíssima: pagávamos 2000 euros. Felizmente, e com muito esforço, mesmo assim, consegui aguentar até poder. As rendas aqui na Baixa são muito caras, mas esta zona é muito agradável e segura. Você já reparou nos tantos estrangeiros que aqui tentam ganhar a vida?”
Letícia vai dizendo que está contente. “Este nosso espaço é muito bonito, muito arejado, e, para além disso, tem duas boas salas. Servimos almoços e jantares, festas de aniversário, refeições para grupos e todos quantos quiserem dar-nos o prazer da sua visita. Está tudo a correr muito bem. A clientela, de dia para dia, sentimos que repete a visita. Ora, sendo assim, é porque a nossa comida, o nosso jeito de atenção lhes agrada. É ou não é?”.
Claro que não deixa de estar preocupada, “sabe, esta subida do IVA de 13 para 23 por cento é um custo enorme para todos nós. Sobretudo em uma altura que temos de conter os custos para aguentar o barco e não nos podemos estender muito na faina dos preços. Mas, se Deus Nosso Senhor quiser, havemos de resistir. Você tem de vir cá provar as nossas especialidades. Olhe, por exemplo, amanhã vamos ter “Moqueca”, é um prato tradicional brasileiro, composto por vários peixes. Venha cá!”

O VIAJANTE MAIS COLORIDO DA BAIXA




 Já aqui falei muito sobre o Celso Fonseca. É um viajante destas ruas e ruelas que, com as suas cores garridas de pintura de Malangatana, dá luz e vida a estas pedras cinzentas e cansadas pelo tempo.




UMA IMAGEM POR ACASO...


A MUDANÇA DOS COSTUMES...

Foto: A primeira página de hoje.


 Antigamente as “trabalhadoras” da mais antiga “profissão” do mundo "atacavam" de peito cheio, como quem diz, com uns generosos seios completamente desnudados e uma saíta curtíssima. Agora, conforme nos conta o Diário de Coimbra, numa completa revolução de procedimentos, atacam de faca em punho. Bolas, está tudo em mudança, carago!




O RETORNO DO ABROLHOS



 Estou certo de que a maioria de vocês, leitores, não se deve lembrar deste personagem fascinante de que vos vou falar novamente: Almerindo Abrolhos. Abrolhos, simplesmente, para os mais íntimos.
Há cinco anos este fantástico exemplar de homem passeava-se pelas ruas da Baixa de Coimbra e tinha a sede do escritório montada na esplanada do café Santa Cruz. Na altura, quem o via, de sapatos abicados de verniz, comprados nas sapatarias Romeu, calça branca, bem vincada, camiseta Lacoste e com um pullover sobre as costas e com as mangas atadas sobre o peito, não imaginava os montes e vales de sabedoria deste mestre popular, doutorando das artes de bem falar e bem representar. A sua imagem era um ícone vivo. O bigodinho à Errol Flynn, a sombrear uns lábios bem desenhados e sobrepostos por um nariz aquilino, introspecto e provocador, era parte de um rosto bem desenhado por um grande artista do pincel e das tintas misturadas em mil cores matizadas de sedução. Dois olhos vivos, pequeninos, eram os faróis de uma testa alta e inteligente e coberta com um cabelo negro, naturalmente de ficção, todo projectado para a nuca com carradas de brilhantina. Num raio de cinco metros em redor a fragrância a “La Parairie”, adquirida na perfumaria Pétala, e que não está ao meu alcance, era intensa e mais parecia uma rede de sedução estendida intencionalmente e onde todas mulheres boas deste mundo –pitas e cotas, que o Abrolhos, lá nisso, nunca discriminou ninguém-, atraídas pelo melaço, iam cair.
O tempo foi passando e, embora a mesa no átrio do café lá permanecesse em memória e sempre que eu a ocupava me recordasse o Almerindo, deixei de o ver por aqui. O nosso cérebro é muito engraçado, se alguém desaparecer do nosso deslumbramento visual durante muito tempo a mente fecha progressivamente a gaveta da memória.
 Nunca procurei saber o que estaria por detrás da nuvem que obliterou o Abrolhos. Durante uns meses coloquei a hipótese de ter sido levado por uma viúva rica, cheia de pastel, assim do género da Duquesa de Alba, que se casou em Espanha aos 85 anos com um plebeu muito mais novo, o Afonso Diez –afinal não é este o sonho de qualquer homem? Depois supus que teria ido dar aulas para uma universidade do Reino Unido, assim do tipo de Oxford, ou, sei lá, se calhar, assessorar a rainha –e fazer-se à corte, obviamente- para as grandes questões do mundo.
Ontem, à hora do jantar, sem que nada o fizesse prever, como visão de óptica, dou com um sujeito que me parecia conhecer levemente de qualquer lado. Palavra de honra, estive à vontade dez minutos à procura de respostas cá no meu computador pessoal, como quem diz, no meu cérebro, lógico. Até que de repente bati duas vezes com a mão aberta na minha fronte: não pode ser! Aquele gajo é o Almerindo Abrolhos, carago! Não, não pode ser!, disse cá para os meus botões, este sujeito só nos tiques se parece com o outro. Tem um ar abandalhado no vestir… até parece um mendigo, porra! E fui meter conversa com o indivíduo.
-Boa noite! –Disse eu, assim com um certo ar acanhado e formal.
-b’noite… qu’é que se passa, meu? Há “zar”? –Pergunta o fulano.
-(Não há dúvida, é o Abrolhos, aquela voz era inconfundível)… Desculpe, o senhor não é o Almerindo Abrolhos?
-Como?... Como? Almerindo… quê? Que confiança é essa? Andámos os dois na costura? Foi? Doutor Almerindo Abrolhos, se faz favor! Homessa!...
-(Confesso que fiquei um bocado atrapalhado, é que o gajo falou alto, à bruta, e todo o pessoal da esplanada, largando as conversas de ocasião, centralizaram em nós os seus olhares sempre sequiosos de algo que abanasse as suas vidas rotineiras, cinzentas e pasmagóricas. Mas também não me dei por achado. Isso é que era bom! Puxei da minha argumentação para situações de estado de necessidade, de crise, e, gritando mais alto ainda, aí vai.)… Ó Abrolhos, já não te lembras de mim, pá? O teu amigo, o Luís Fernandes… meu? –E abri os braços a imitar o Cristo Rei, da Capital.
-Quê? És o Luís, aquele badameco que até escrevia num blogue? És tu, meu? Fogo!, estás mesmo acabadote de todo. Estás pior que o rosto do cavaco… como quem diz… estás todo escavacado, meu! Dá cá um abraço!
E lá nos fundimos num aperto de consideração e amizade, agora restaurada, creio, em longas conversas de fim de verão que se irão seguir. Vamos aguardar.


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