segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

COIMBRA: UMA CIDADE DE ILHOTAS






  O Diário de Coimbra de hoje, em primeira página, titula: “HUC vão construir hotel e duas áreas comerciais”.
Prosseguindo a leitura no interior do jornal, poderemos ler: “Um hotel com 4500 metros quadrados, a construir na entrada dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) (…). Esta é uma das novidades do Plano Director dos HUC, EPE que será apresentado esta semana numa cerimónia pública marcada pelo Conselho de Administração daquela unidade hospitalar. (…) Regateiro prometeu dar todos os pormenores acerca desta nova unidade hoteleira esta quarta-feira. O mesmo fará sobre as duas áreas comerciais que estão incluídas no Plano Director dos HUC. Uma delas será integrada num dos dois edifícios que serão construídos em terrenos livres entre as urgências e a Cirurgia Cardiotoráxica (…), num total de 24.600 metros quadrados”.
Antes de prosseguir vamos primeiro entender o que significa ser um hospital EPE, como é o caso dos HUC. Segundo um estudo do economista Eugénio Rosa, “Tal como mostrámos em relação às empresas públicas de transportes, este governo está a utilizar também os Hospitais EPE, que pertencem ao SNS –Serviço Nacional de Saúde-, para reduzir o défice orçamental. Como esses hospitais empresas, embora pertencendo ao SNS, são entidades autónomas, os seus prejuízos não são considerados para o cálculo do défice orçamental. Assim a “habilidade” de engenharia financeira deste governo tem sido a seguinte: fazer transferências insuficientes do OE –Orçamento do Estado- para o SNS, o que contribui para a redução do défice. Os prejuízos que inevitavelmente resultam dessa política são concentrados nos Hospitais EPE”.  Pode ler aqui o estudo deste economista.
Na página da RTP, em notícia da Lusa, de 6 de Dezembro último, pode ler-se: “Os hospitais públicos com gestão empresarial (EPE) registaram um agravamento dos prejuízos em 22, 4 por cento nos primeiros nove meses do ano, para 218 milhões de euros, segundo os dados da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS)”.
Numa primeira premissa, já dá para ver que este “investimento” do Conselho de Administração dos HUC vai ser pago por todos nós.
Continuando e passando para uma segunda, comecemos por questionar: a cidade de Coimbra precisa de mais hotéis e mais centros comerciais? Ou seja, a sua oferta nestes dois segmentos é insuficiente? Claro que não, pelo contrário é excedentária.
Passemos ainda a outra premissa: o que se quer fazer da cidade? Será fazer dela a continuação de um arquipélago com várias ilhas? A Norte, com uma grande superfície comercial, a "ilha" de Eiras, a Oeste, a de Taveiro, com outra grande área comercial, o Retail Park; a Sul, toda a zona de Santa Clara e também com o Fórum; a Este, toda a zona da Solum, com grandes áreas comerciais que se conhecem. Falta o centro da cidade, constituído pela Alta e Baixa. Se esta, a Baixa, por si só é uma "ilhota" abandonada pelos grandes investimentos, a Alta, tal como as outras, nos últimos 30 anos, tornou-se uma "ilha" amuralhada sem comunicação com a outra parte do Centro histórico. Refiro-me, obviamente, aos mais de trinta mil estudantes que desembarcam todos os anos em Coimbra, entrando na colina de Minerva à segunda-feira e só de lá saindo à sexta. Salvo ocasiões especiais, raramente saem da sua "ilha" -aqui, englobo todos os polos universitários. Quando deveriam ser uma mais valia económica para o desenvolvimento do centro da cidade (Alta e Baixa), não o são porque estão como que encasulados. E porquê? Porque os Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra (SASUC), sob o comando, até há meses, de Luzio Vaz, tournou-se auto-suficiente. Têm tudo, desde lavandarias, livrarias, cantinas, que “servem dois milhões de refeições por ano, e residências universitárias com mais de 1300 camas –in DN, acerca do livro lançado recentemente. E qual o problema? –interroga você.
O problema –que quanto a mim é gravíssimo, e, por acaso, já o escrevi em 1993 nas páginas do Diário de Coimbra- é que, sendo estes investimentos feitos com subsídios públicos, privilegiou-se o interesse particular da Universidade -e dos estudantes- em detrimento do interesse geral que é a economia da urbe no seu conjunto. Ora, agora pasme-se, Luzio Vaz vai receber no próximo 4 de Julho a medalha da cidade –há uma coisa que gostaria que ficasse bem salvaguardado: este senhor, que não conheço pessoalmente, enquanto funcionário da universidade, fez o que tinha a fazer com grande paixão. Sei que é uma pessoa sensível e, em vários casos que testemunhei, de estudantes carenciados, empenhou-se acima do que lhe era exigido. Mas será que não era essa a sua função profissional? A cidade terá assim tanto a ver com isso? Se tiver, a ser assim, vamos condecorar todos os bons profissionais que deixaram marca em vários serviços públicos.
Voltando ao investimento dos HUC, o que se está a fazer? Uma coisa tão simples como isto: para além de –mais uma vez- prejudicar toda a economia da cidade, vai fazer com que quem nos visita, por ter doentes internados nos HUC, saia na Estação de Coimbra-B, suba directamente àquele empreendimento e lá permaneça enquanto os seus familiares estiverem naquele hospital.
É isto que se quer para o futuro da cidade? Se o executivo de Carlos Encarnação aprovar este investimento megalómano, que não volte a dizer que tem projectos e gosta da Baixa. E mais: vá preparando a medalha para homenagear o presidente dos HUC por altos serviços prestados a Coimbra.

4 comentários:

Nuno disse...

Quando li a notícia também fiquei um bocado surpreendido! Embora compreenda que uma unidade hoteleira possa fazer sentido no perímetro de acção dos HUC (e por que não, também do IPO) para alojar acompanhantes de doentes internados, também me parece que isto possa ser uma concorrência desleal à oferta hoteleira que já existe. Talvez esta questão seja um pouco semelhante à existente com as farmácias dos hospitais. Fez-se um alarido tão grande em torno desta questão e, aparentemente, poucos danos causou às outras farmácias. Se calhar, está-se aqui a fazer uma tempestade num copo de água.

Claro que faz todo o sentido questionarmos a repercussão que uma decisão destas vai ter para a cidade. Na minha opinião, faria mais sentido apostar-se numa forma de criar melhores condições ao estacionamento nos HUC. Há já algum tempo que se fala na construção de um cilo com parques de estacionamento. Sendo este estacionamento pago, acho que fazia mais sentido do que um centro comercial ou um hotel. Até porque, a ver pela quantidade de carros que, diariamente, estiaciona nos HUC, o volume de receitas seria, certamente, bastante significativo. E que jeito dava ter um lugar para estacionar o carro...

Um abraço,
Nuno.

Daniel disse...

Não estou a perceber o que é que este projecto tem a ver com a baixa. Os HUC são uma unidade hospitalar de grande dimensão, por isso faz todo o sentido este tipo de projectos, para que se sirva devidamente os utentes dos HUC e seus familiares.
Coimbra tem falta de unidades hoteleiras, por isso quantas mais construírem melhor, em qualquer local da cidade não tem de ser sempre na baixa.

"Voltando ao investimento dos HUC, o que se está a fazer? Uma coisa tão simples como isto: para além de –mais uma vez- prejudicar toda a economia da cidade, vai fazer com que quem nos visita, por ter doentes internados nos HUC, saia na Estação de Coimbra-B, suba directamente àquele empreendimento e lá permaneça enquanto os seus familiares estiverem naquele hospital." - Sr. Luís, quem tem familiares internados nos HUC e bem visita-lo, não dever ter grande vontade de andar a passear pela baixa. E porque é que acha que actualmente não vão directos para os HUC, e andam a passear pela baixa e fica instalado nos hotéis da baixa?

Se determinada pessoa decidir ir à baixa, não é por ter um "empreendimento" nos HUC que vai deixar de fazê-lo.

Anónimo disse...

Coimbra está a ser governada mas e por uma cambada de Idiotas.

Daniel disse...

«HUC duplicam oferta de estacionamento dentro de cinco anos
Plano prevê mais 1.500 lugares – incluindo os do projecto do Metro Mondego – para população diária que é de “cidade média portuguesa”»: http://www.diariocoimbra.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=6183&Itemid=135

Acham isto mau? Na minha opinião é um bom projecto para os HUC e para a cidade de Coimbra.