terça-feira, 30 de abril de 2013

UMA IMAGEM, POR ACASO...



 Esta mulher, retratada hoje à hora do almoço na Baixa, vasculhava num caixote de fruta fora do contentor umas laranjas abandonadas no lixo. Certamente ali deixadas por uma loja de fruta da zona porque impróprias para vender no estabelecimento mas ainda boas para suprir carências alimentares.  Ainda bem que houve o bom senso de não as colocar dentro do recipiente da imundice.
Não é a primeira vez que assisto a um quadro do género nos últimos tempos. Atente-se no pormenor de a senhora estar bem vestida e apresentar a mala a tiracolo. Olhando o anúncio ao lado, especulando, é mais que certo já ter ido todo o ouro, a prata, a jóia de família e o último prato de Sacavém que, como memória de um país industrial que se perdeu nas chinesices,  ainda resistia na parede da sala. Agora, numa declarada pobreza envergonhada, o estômago fala mais alto e, mesmo atentando contra a dignidade subjacente e impróprio de uma nação que não respeita os que sempre trabalharam para o seu Produto Interno Bruto, esta pessoa e outras como ela, terão de se atirar à procura e o que jamais pensaram algum dia fazer.
Até há um ano atrás era comum ver alguns sem-abrigo a apanhar géneros directamente dos escolhos, hoje, curiosamente, poucos se avistam em imagens assim –talvez porque a cobertura por parte de instituições é salutar. Numa inversão que deve fazer reflectir, como se pode verificar, são pessoas como esta que ocuparam o lugar deixado vago. São cidadãos que viveram bem até há pouco tempo e agora, pelas políticas discriminatórias de austeridade, foram empurrados para a indigência.
Devemos pensar seriamente sobre o que está acontecer à frente dos nossos olhos. Não se sabe se amanhã seremos nós. Tomemos atenção!


segunda-feira, 29 de abril de 2013

JORNADAS CIDADÃS DO CPC



 Na tarde deste domingo, último, num anfiteatro bem composto do Conservatório de Música de Coimbra e com cerca de duas centenas de pessoas, o independente Movimento Cidadãos Por Coimbra (CPC) apresentou a síntese das sessões de debate programático realizadas durante a manhã e a apresentação dos cabeças de lista à Câmara Municipal e à Assembleia Municipal de Coimbra.
Com uma mesa de painel constituída por Luísa Bebiano Correia, Catarina Martins, Isabel Campante, José Dias, José Vieira Lourenço, Fátima Carvalho e Pedro Rodrigues foi exarado o resultado das intervenções matutinas. Em resumo de explanação dos vários oradores, fica um cheirinho do que lá se passou. Por parte de Catarina Martins, professora universitária, foi dito o seguinte: “É preciso travar a discussão do PDM, Plano Diretor Municipal, que está a ser feito no maior dos segredos. É necessário acreditar na reabilitação urbana, impedir a edificação de novas construções e apostar na renovação de novos moradores para o centro da cidade. É preciso travar a privatização da água. Deve-nos preocupar também os SMTUC, Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra."
Fátima Carvalho, ex-sindicalista, defendeu que “estamos todos a precisar de esperança. É necessário envolver os cidadãos. Por isso mesmo temos de saber o que pensam. Se eles não vêm aqui, teremos nós de ir até eles. A economia da cidade é melhor do que a sua política. Há uns anos atrás viam-se alguns dos seus sectores a fazer parte do empobrecimento. Agora verificamos que há muitos mais sectores a incluir este enfraquecimento. Há na cidade um empobrecimento encapotado. Temos de nos preocupar com esta pobreza envergonhada. Há muita gente desesperada com os serviços públicos.”
José Vieira Lourenço, professor, enfatizou: “A política de inclusão não pode ser uma política de exclusão. Porque não criar sítios para os cidadãos dormirem a sesta? O Conselho Municipal de Educação não funciona. A última ata é de 2008. Vivemos em uma cidade cujo peso do passado pesa demasiado na relação com o presente. É preciso colocar as desigualdades de avesso. Todos temos a ganhar com a partilha.”
Pedro Rodrigues, ator e encenador, em sumário das jornadas, concluiu que “não há falta de oferta cultural na cidade, há é uma insuficiente e desequilibrada visibilidade para o exterior do que aqui se faz. As instituições trabalham de costas voltadas, como por exemplo a Câmara Municipal e a Universidade. Temos aí dois fatores muito importantes na cidade: a candidatura a Património Mundial, pela Unesco, e a inauguração do Convento de São Francisco.”
No período reservado ao público presente, Carlos Sá Furtado, professor, interrogou: “Há 2000 fogos desabitados na cidade? Havendo tantas casas vazias vai-se continuar a construir?”
Serafim Duarte, deputado na Assembleia Municipal, exclamou: “Se há um assunto importante a tratar é a revitalização do centro urbano. Por mais “Noites Brancas” e outras iniciativas que se façam serão sempre paliativos. É urgente desenvolver a revivificação e ocupação da Baixa. Não precisamos de mais espaços. É preciso densificar os existentes. A Rua da Sofia tem uma série de antigos colégios desabitados. O Terreiro da Erva e a Praça do Comércio precisam de atividades âncora.”
Pedro Bingre, professor, em resposta a uma intervenção na plateia de um cidadão sobre o que se passa na Baixa comercial, defendeu que “construiu-se uma casa nova em cada 6 minutos. (Na última década) o PIB, Produto Interno Bruto, subiu cerca de 40 por cento e a dívida hipotecária cresceu para os 2300 por cento. Vivemos em uma cidade que vive do rentismo –especulação absolutista das rendas. Os comerciantes têm de vender cada vez a mais baixo preço e as rendas mantêm-se. Aos estudantes a mesma coisa. É urgente acabar com esta exploração. Não se pode permitir que alguns proprietários parasitem num setor tão importante para a cidade.”
Sob a música de fundo dos Deolinda, “Agora sim, damos a volta a isto. Agora sim há pernas para andar”, subiram ao palco o mandatário, Abílio Hernandes, docente da Faculdade de Letras, e os candidatos à Assembleia Municipal e à autarquia, respetivamente José Reis, diretor da Faculdade de Economia de Coimbra, e Ferreira da Silva, reconhecido advogado na cidade.



BOM DIA, GENTE DE ESPERANÇA...

PSP DE COIMBRA ABRE-SE À SOCIEDADE CIVIL


A meu ver muito bem, num acto simples e grande eficácia em prol da cidadania e da participação pública, que se pretende activa e proactiva, o Comando Distrital da Polícia de Segurança Pública de Coimbra escancara as suas portas aos cidadãos.
Fica aqui o texto publicado no Facebook:


 "O Comando Distrital da PSP de Coimbra da PSP de Coimbra, pretendendo potenciar a participação pública e por essa via a cidadania ativa, disponibiliza a partir de hoje um meio de informação dirigido ao cidadão, de fácil acesso e utilização gratuita, no sentido de fomentar a cultura cívica e de participação, decorrendo dos objetivos traçados por este Comando Distrital e em consonância com os objetivos estratégicos definidos pela Direção Nacional da PSP.
Pretende-se que este seja um espaço de informação sobre as actividades que a PSP desenvolve, com especial enfoque em Coimbra e na Figueira da Foz, não descurando, sempre que for pertinente, informações relativas à actividade da PSP de âmbito nacional.
Será também um espaço informativo direccionado para áreas sobre as quais a PSP tem especiais responsabilidades, entre as quais se destacam as armas, trânsito, programas especiais como a “Escola Segura”, ruído, segurança privada e policiamento de grandes eventos, entre outras.
Sendo um espaço de partilha dedicado à segurança, será também utilizado para a apresentação de conselhos úteis aos cidadãos e apresentação de ideias que ajudem a comunidade a melhor percecionar as questões da segurança.
Com a abertura da página, https://www.facebook.com/pages/Comando-Distrital-da-PSP-de-Coimbra/, e a disponibilização pública do endereço eletrónico rpub.coimbra@psp.pt, damos mais um passo para aproximar a polícia do cidadão, potenciando a criação de sinergias geradoras de maior transparência e de um ambiente mais informado e seguro.
Coimbra, 29 de Abril de 2013
O Comandante Distrital
Pedro Teles
Intendente"





A DROGA DA MÁQUINA



 Está ainda por se saber a razão de uma bonita mulher poder atemorizar e fazer tremer um homem da cabeça até aos pés. Se essa ocorrência, do ponto de vista analítico, pode ser sujeita a interrogações mas não causa inquirições transcendentais, já o facto da máquina proceder igualmente e em consonância com o seu detentor, isto sim, e como nefelibata, a andar nas nuvens, coloca-nos sob o manto diáfano da introspecção. Em silogismo, poderemos aventar que o aparelho, deixando de ser independente e extrínseco, passou a ser a extensão do homem urbano. Nesta era digital, contrariando o corte entre pessoa e coisa, a máquina ganhou vida e de controlada passou a controleira do seu pensamento, da sua vontade e da sua forma de ser, tornando-se intrínseca à própria condição humana. Até onde nos vai levar esta subalternização e dependência ainda está para se ver. Estamos apenas no limiar de uma jornada que, apesar dos incomensuráveis proventos comunicacionais, pelos custos sociais, destruidores de sentimentos profundos de partilha conducentes ao isolamento e da actividade física laboral, inevitavelmente, no balanço final que se fará nas gerações vindouras, verificar-se-á que este domínio absoluto teria sido pernicioso e detractor da liberdade enquanto conceito de independência intelectual.
Para prejuízo da retratada, Catarina Martins, num elementar argumento estafado e estafermo, desvalorizando a minha pouca competência, tentei explicar a razão desta fotografia ter saído completamente esboçada. Consegui?


sexta-feira, 26 de abril de 2013

POLÍCIA MUNICIPAL CUMPRIU O SEU DEVER





 Hoje, durante a manhã, agentes da Polícia Municipal deixaram umas lembrancinhas a uns certos abusadores que, reiterada e abusivamente, fazem da mais antiga praça da Baixa um estacionamento privado. Como já se viu, os cívicos multaram e muito bem todos os veículos estacionados na Praça do Comércio. Que não lhe doa a mão que escreve. Aliás, façam o favor de vir todos os dias para ver se esta gente aprende. Se a maioria coloca os seus carros nos estacionamentos a pagar, por que razão há-de haver uma dúzia de munícipes a furar o esquema? É evidente que o fazem na razão directa da permissividade concedida no deixa correr. Por outras palavras, se há um pino junto ao Banco de Portugal, na entrada da Rua Sargento-mor, porque não está a funcionar? Lembro que este sistema de pinos de impedimento de tráfego nas ruas estreitas custou em 1999 qualquer coisa como 80 mil euros e, tal como outros, estão inertes e não servem para nada. Perante investimentos públicos desta envergadura não admira que as coisas estejam como estão.
Voltando à Praça do Comércio, não sou de modo algum partidário de um Estado-polícia onde a ordem só funciona à cacetada, mas, perante certas posturas individuais de usurpação da liberdade colectiva, tenho de confessar que não há mesmo volta a dar-lhe. Já por duas vezes fui falar pessoalmente com um comerciante desta praça para não colocar o lixo durante o dia e não estacionar a sua carrinha ao lado e em frente à Igreja românica de São Tiago, construída no século XII. Pelas duas vezes me respondeu que, sim senhor, iria tomar cuidado. Nos dias seguintes a lixeira e o carro de mercadorias lá continuam. O que esperam estas pessoas que, ganhando aqui a vida, deveriam dar o exemplo?


TEXTOS RELACIONADOS

"Uma imagem recorrente"
"É uma praça velha..."
"Qualquer local serve para estacionar?"
"Leia O Despertar"
"Filhos e enteados..."
"Leia O Despertar"
"Uma imagem por acaso"
"Praça do comércio: a Chinatown"
"Finalmente vai s ser disciplinada.."

UMA IMAGEM DE POUCA VERGONHA... QUE ENVERGONHA




 Esta fotografia foi captada hoje à hora do almoço, na Praça do Comércio. Pelo título, até pode parecer que, intrinsecamente, estou a culpar os vendedores. Não, nada disso! Se bem que, por vezes, estas pessoas deveriam cuidar mais do espaço envolvente onde desenvolvem o seu negócio, mas, acima de tudo, a minha intenção é chamar a atenção para o facto de a autarquia através de ofício, em Dezembro último, ter assumido perante a junta de freguesia de São Bartolomeu de que, nesse mês de Natal, iria substituir estas tendas terceiro-mundistas por uns modernos quiosques. Quatro meses passaram e tudo continua na mesma, assim como a venda (des)ambulante no "Bota-abaixo" –segundo se consta por aqui, pelos becos esconsos de mentideiros, ao que parece as cabines que mandaram fazer são demasiadas exíguas e não servem para nada.
Voltando à imagem da Praça do Comércio, não se trata apenas de retratar uma paisagem histórica que está a ser violentada pela incúria de quem deveria cuidar e não o faz. Para mim, que, como tolinho, me canso de escrever sobre este assunto, é o facto de este desleixo levar à desmotivação completa. Uma pessoa olha para isto, todos os dias, e pensa, porra, para que ando eu –e outros como eu-, a bater em ferro frio, se quem pode é pago para fazer e não quer saber?

UMA IMAGEM, POR ACASO...


HOJE HÁ "NOITE BRANCA"



 Hoje há Noite Branca na Baixa. Esta iniciativa, no seguimento de outras já realizadas pela Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC), consiste em manter o comércio e a hotelaria abertos até à meia-noite. Este conceito importado dos nossos vizinhos europeus tem por intenção trazer novos públicos para as zonas históricas, desertificadas, sem moradores e sem visitantes. Em metáfora, é uma espécie de very light, pedido de ajuda, para alguém que está em vias de desaparecer nas profundezas do esquecimento.
Por isso mesmo, se puder, leitor, venha hoje à Baixa e saboreie um dos muitos pratos de bacalhau que os muitos restaurantes aderentes têm à escolha. Para além disso haverá animação constante nas ruas estreitas e largas. Tal como já transcrevi aqui, está também a decorrer uma feira vintage no Be Fado.



TERTÚLIA NO CAFÉ SANTA CRUZ

 A Aposenior no âmbito do programa “Coimbra Ger(a)ções”, coordenado pela Câmara Municipal de Coimbra –segundo o Diário de Coimbra-, promove hoje às 19h00, no Café Santa Cruz, uma tertúlia “Memória(s) do espaço –a Baixa e a Baixinha”.
Fui convidado pela organização a estar presente –a quem agradeço a gentileza de se terem deslocado aqui pessoalmente. Infelizmente, porque muito gostaria de participar neste tema que me é tão querido, não posso estar. A partir das 19h00 estou noutra guerra, onde também sou necessário e dei a minha palavra de que estaria sempre e diariamente. Por isso mesmo, não poderei mesmo participar, incluindo a Noite Branca.

E'TIQUETA NO BE FADO






"Em finais de Abril, Coimbra recebe o evento E’TIQUETA.

Com a duração de três dias | 26, 27 e 28 Abril, E’TIQUETA, pretende reunir vendedores independentes de artigos vintage e 2.º mão a preços baixos. Vendedores de artigos de vestuário, calçado, acessórios e decoração.

Aberto ao público em geral!

Com E’TIQUETA durante três dias a cidade de Coimbra dinamiza-se a si própria. Num cenário que irá levar o público às cores, música, aromas de outros tempos, de outras épocas, de outras modas e traços.

O evento assume-se como E’TIQUETA do tecido de Coimbra, contendo informações sobre a sua composição, sobre a suas gentes, sobre os cuidados que se querem prevenidos, sobre a criação de oportunidades, de revitalização, de resposta a quem veste Coimbra.

E’TIQUETA | um evento de oportunidades. 

Pretende em três dias ser loja comum de vendedores independentes de artigos vintage e 2.º mão, assumindo-se como uma oportunidade de estes tirarem partido de artigos que já não utilizam mais.
E oportunidade de quem visita para uma compra a preços baixos que o leva a uma espécie de viagem no tempo, de uma moda que vive duas vezes.

Os intervenientes/vendedores independentes de E’TIQUETA podem inscrever-se via online, mediante preenchimento e envio de linha de candidatura E’TIQUETA até dia 7 de Abril.

Aliado ao preço baixo, a qualidade dos artigos será igualmente umas das marcas de E’TIQUETA. Todo o processo de selecção de candidaturas passa por rigorosos critérios de qualidade, garantindo assim o valor dos artigos.

E’TIQUETA vai-se realizar no espaço BE FADO, em Coimbra, espaço vivo de tradição e identidade da Cidade de Coimbra.”


UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...



Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "BURLAS & ESQUEMAS":



CAROS AMIGOS:
Recebi um email com perguntas sobre compras no comércio e receberia como prémio uma importância, mas não dizia nada sobre descontarem dinheiro do meu telemóvel, agora, do dia 18 ao dia 25, já recebi 4 perguntas e ROUBARAM-ME cerca de 8 euros é de uma tal TRIVICELL, devo responder às perguntas ou não ???? Obrigada.

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...



António Olaio deixou um novo comentário na sua mensagem "O MIJADINHAS DA PRAÇA VELHA":


Caro Jorge Oliveira,

Quando fizeram uma exposição na Casa da Cultura sobre as "Mijadinhas" eu esqueci-me de anotar a receita dos fabulosos bolos de ovos (seriam os de bom bocado?).
Será possível consegui-la ainda?
Talvez o sr. Jorge Oliveira a possa dar.
Como foi mostrada na exposição, já não deve ser segredo.
Cumprimentos,
António Olaio
(a.olaio@sapo.pt)

quinta-feira, 25 de abril de 2013

quarta-feira, 24 de abril de 2013

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "A GERAÇÃO MALTRATADA", deixo também as crónicas "VAI ABRIR O PRAÇA CAFÉ"; "REFLEXÃO: SUICÍDIO GERACIONAL"; e "A HELENA FEZ ANOS".



A GERAÇÃO MALTRATADA

 O homem que tenho à minha frente chora desalmadamente. Por arrastamento choro também. Tem 62 anos e desde miúdo que aprendeu a tratar o comércio por tu. Filho de pais muito pobres, nos arredores da cidade, o trabalho foi o único meio de angariar rendimento e sonhar com uma vida melhor. Com 12 anos, por volta de 1960, começou a labutar numa mercearia ali para os lados de Santa Clara. Entre segunda e sábado, percorria os cerca de uma dúzia de quilómetros a pé, ida e volta, entre a aldeia e a cidade. Naquele tempo só havia dois feriados no ano: dia de Páscoa e de Natal. Na véspera deste dia do nascimento de Jesus, as vendas de géneros alimentícios, atendiam os fregueses até altas horas, quase até à missa do galo. Um dia, contou-me, num Natal do início do mesmo ano de 1960, por volta das 21h30, estava ainda a arrumar as garrafas de gás para ir passar a consoada a casa, quando o telefone retiniu na loja do tendeiro. Era um cliente da Rua do Depósito, no planalto de Santa Clara, a pedir um litro de óleo para confecionar as filhoses. Numa altura em que o freguês era o rei da massa e tinha sempre razão, o velho merceeiro e patrão, em face do pedido, logo se prontificou na sua satisfação e encarregou o marçano de imediatamente ir à prateleira retirar um litro de óleo e marchar em grande velocidade em direção ao planalto. O petiz, cansado e farto de calcar e calcorrear as pedras da calçada, maldizendo o comprador, as filhoses e a sina que lhe calhou em sorte de nascer pobre e ter de ser o burro de carga de todas as solicitações e saco de todas as marradas, foi à estante, por cima da tulha do açúcar, sem olhar para os rótulos, retirou uma garrafa que colocou numa mochila para o efeito, e partiu desalentado em busca do cumprimento da ordem dada. Meia hora depois estava a entregar a encomenda à dona da casa, lá na parte alta da cidade, e, como boomerang predestinado ao regresso, fez novamente o caminho inverso na orientação da casa do bacalhau ao quilo. Encontrou o velho merceeiro à porta, colérico e completamente fora de si, com um cacete na mão e a gritar: “meu filho de uma figa! Desgraçaste-me o negócio! Então levaste um litro de petróleo?! A senhora queimou as mãos, meu desastrado!”
Dali, da casa dos fiados, sempre a cavalgar nos dias, partiu para outro negócio e outro e outro até ir para a tropa. Quando deixou o serviço militar casou com a sua namorada de muitos anos. Foram viver para uma casa muito velhinha, lá na aldeia. Mas, noite após noite, o nosso homem antes de adormecer elaborava mil planos para sair do patamar da pelintrice. Mas como? Interrogava-se em solilóquio sem fim. A mulher era costureira e ganhava pouco, que mal dava para as linhas. Ele continuava a trabalhar numa casa comercial na cidade e o ordenado, para além de ser quase invisível, parecia líquido, porque se esvaía por entre os dedos. Mas a fé em dar o salto, assente numa vontade férrea, minava o dia e a sua penumbra. Os pensamentos em movimento, como andorinha a cruzar o céu primaveril, eram apenas preenchidos com uma mensagem: “eu sou capaz! Eu sou capaz! Vou vencer!”
Um dia, por volta de 1980, soube de um pequeno quiosque numa entrada de um prédio que estava em trespasse. Foi falar com o dono e acertaram o preço. Porém havia um problema: faltava o dinheiro necessário. Foi falar com um amigo e, dividindo o investimento pelos dois, depois de correrem Seca e Meca a arranjarem financiadores, sem rede, como kamikase suicida a atirar-se para a frente em defesa da causa nobre, lá abriram o comércio. Durante anos e anos foi comprar e vender até altas horas da noite, sem tempo para deprimir e muito menos para dormir. Como recompensa de Deus, o negócio floria como rosa em terra fecunda. Vieram os filhos, crescendo sem pai, estudaram e chegou o dia em que foram admitidos na Universidade. E o nosso sonhador desfez-se em lágrimas de prantos sofridos. Estava a dar aos seus o que não lhe fora oferecido pelos seus ancestrais. Sentia um contentamento indescritível. Ali, naquela conquista escolar que tanto significado tinha para si próprio, os seus herdeiros eram a extensão de si mesmo. Constituíam a projeção e a realização de tantos sonhos martelados em noites de lua cheia e de vazio quarto-minguante.
No início da década de 1990 já era proprietário de três estabelecimentos e detinha meia dúzia de funcionários ao seu serviço. A venda de produtos caminhava de vento em popa. Adquiriu o seu primeiro automóvel a estrear, a seguir uma vivenda num bairro chique limítrofe da cidade. Em meados da mesma década comprou uma casa na praia. Veio o virar do milénio e o futuro estava garantido, pelo menos era assim apregoado pelos políticos da altura e pelo crédito anunciado pelos bancos. Veio 2001 e o abalo causado pelas torres gémeas. Aparentemente a economia continuava a rolar numa relativa normalidade. Nessa altura surgiu um bom negócio, na possibilidade de comprar uma outra vivenda com outras condições de bem-estar. O banco emprestava com a possibilidade de esperar pela venda da primeira. E o nosso homem comprou. Caiu o céu sobre a Europa e, como castelo de cartas, tudo descambou em catadupa. A primeira casa não se vendeu, outras complicações surgiram e as vendas decaíram a pique. E o comerciante que, ao longo da vida se atirou sempre sem rede e sem resguardo, num ápice estava cheio de dívidas. Há dias apresentou um pedido de falência. É único? Não, na volta do nosso olhar, há cerca de uma dúzia de profissionais que estão na iminência de dar o mesmo passo. Para o comerciante que agora pediu a insolvência –e para outros que lhe vão seguir- gostaria de deixar um grande abraço, apertado e de sentimento. Que não se sinta diminuído. Que não se deixe abater. Sei, porque conheço bem a sua história. Sei que fez tudo o que podia para levar o seu navio a bom porto. Não conseguiu. Mas não foi por falta de esforço e entrega à causa comercial. Uma grande, grande, salva de palmas para este meu amigo.




VAI ABRIR O PRAÇA CAFÉ

 Dentro de dias, com muita força e coragem por parte do Luís Miguel Brandão, vai nascer um novo estabelecimento de hotelaria na Praça do Comércio. Trata-se do Praça Café, uma nova ilha verdejante que vem complementar o fantástico arquipélago de hotelaria na mais encantadora praceta da Baixa de Coimbra.
O Luís Miguel, de 50 anos de idade, estava desempregado desde 2011. Trabalhava na área ligada à construção civil, mais propriamente em equipamentos de cozinha. Sempre gostou muito de hotelaria, conta-me a sorrir e com ar confiante. “Bem sei que não tenho experiência no ramo, mas se a sorte protege os audazes estou certo de que não se vai esquecer de mim. Não achas, Luís?!”
Para já, na montagem do café, está a ser um bom ensaio. Para sua surpresa, a Câmara Municipal, no que toca à prestação administrativa, está a portar-se muito bem. Os serviços têm sido céleres. “Até ver estou muito bem com eles, enfatiza. Sinto que há uma abertura muito grande para a simplificação dos problemas, no processo de licenciamento. Estou contente, porque, para além de intuir que compreendem todas as minhas imensas dificuldades, experimento uma sensação de companheirismo nesta minha batalha. Curiosamente, a ideia que tinha era que deixavam arrastar os processos “ad eternum”. Para minha surpresa, agora, verifico com prazer que os meus receios eram infundados.
Já agora, aproveitando a oportunidade que O Despertar me concede, gostaria de convidar todos os leitores para a inauguração deste meu sonho, que conto ser possível já no fim deste mês.”





REFLEXÃO: SUICÍDIO GERACIONAL

Podem até falar-me de Átila, o flagelo de Deus,
de Calígula, o esquizofrénico filho de Tibério,
de Gengis Khan, o criminoso Mongol Imperador,
de Hitler, esse louco sanguinário de cemitério,
até Mao Tsé Tung, o homicida aterrorizador,
têm rosto, lugar na história, marca de magistério,
liquidaram milhões, dando a cara, em ódio castrador,
mas não me venham com assassinos de ministério,
que, matam, silenciosamente, pelo desânimo aterrador,
milhares de cidadãos que não suportam o despautério
de gente amoral, narcisista, filha de puta, cabrões sem amor,
que os condenam à indigência, à vida de impropério,
à vergonha de passar por um falhanço agressor,
após terem sacrificado a família, suado, em presbitério,
viram-se sem nada, espoliados, sem dignidade, com dor,
constataram que a sua passagem nesta vida de mistério,
não deixou memória, foi um vazio intragável de horror,
 somente uma aragem ligeira de um vento sem critério,
foi por isto tudo,  e muito mais, que o meu amigo, com ardor,
com a coragem que sempre lhe conheci, o Daniel Tibério,
partiu deste mundo sem se despedir, sendo o seu executor,
para ele, para o , para alguns outros deste hemisfério,
um sentido respeito pela sua escolha solitária, comovedor,
que a sua morte não fosse em vão e nos faça pensar sério,
e nos empurre para o expurgar deste genocídio conspirador.



A HELENA FEZ ANOS

 A Dr.ª Helena Mendes, advogada na Rua da Sofia, a “Lena” Sobral para os amigos, fez anos na semana que findou. Não sei quantas primaveras por ela passaram, nem me desperta minimamente o interesse. É completamente irrelevante e despiciente. Há pessoas que aos nossos olhos nunca envelhecem e permanecem iguais para sempre –este, em paradigma, é um caso desses. O que sei é que os invernos que calcorreou nesta vida, até agora, lhe deram uma experiência empírica de sensibilidade, um pulsar de sentimentos, que só quem calca espinhos e marca a alma a ferro incandescente, pode entender o sofrimento alheio.
Como já se viu, gosto muito da Dr.ª Helena Mendes, enquanto advogada, e da “Lena” Sobral, enquanto amiga. Se crendo que todos cumprimos uma missão e não andamos por cá por mero acaso e capricho do destino, acredito piamente que a minha admirada só poderia ser mesmo causídica, defensora dos oprimidos e sem voz que dela necessitam. Muitos parabéns pelo seu aniversário. Mas acima de tudo, intrinsecamente, uma grande salva de palmas por ser a exceção, na boa pessoa que é.


UM REVOLUCIONÁRIO PASSEIO AO MINHO

(Carlos Clemente por alturas de 1995 e em pose no mural do Rancho de Coimbra)

 Amanhã, numa iniciativa da Junta de Freguesia de São Bartolomeu, e pelo dinâmico presidente Carlos Clemente, vai realizar-se um convívio dos reformados e carenciados desta freguesia da Baixa de Coimbra, que consiste num passeio ao Norte do país.
Para além da convivência entre os muitos fregueses, moradores, reformados e carenciados, que ficarão a conhecer várias zonas turísticas e a sua história, serão também oferecidos almoço, lanche e um pezinho de dança. É provável, especulo, que, em face da comemoração do 25 de Abril também se ofereça um cravo vermelho a cada um dos viajantes.


OS MÚSICOS DE RUA ACTUAM NO PAVILHÃO DE PORTUGAL, AMANHÃ


(Foto de Fátima Santos)


 A denominada “Orquestra de Músicos de Rua de Coimbra”, num gentil convite de Emília Martins e presidente da Direcção da Orquestra Clássica do Centro, vai actuar amanhã no Pavilhão de Portugal, às 18h00. Inserido na comemoração da 39ª comemoração do 25 de Abril, esta banda constituída essencialmente por fantásticos músicos de rua, mais uma vez, estará presente neste grande salão cultural da cidade. Este agrupamento, formado em finais de Novembro do ano passado, com cerca de uma dezena de executantes, depois da fase de maturação sempre normal nestas coisas, neste momento e já em resultado de escolha apurada tem seis componentes que nunca falham, o Lourenço, o Emanuel, o Paolo, o Luís Cortês, a Celeste e este vosso servidor, que é uma espécie de faz-tudo, compõe e musica os temas (pessimamente, porque não há outro), toca (desafinado), canta (mal, evidentemente) e faz umas palhaçadas (porque é um desavergonhado) para levar os transeuntes a contribuírem para ajudar estas generosas pessoas que fazem o favor de o acompanhar. Para além dos que nomeei, há ainda um eventual, o Gastão, um espectacular instrumentista, de clarinete, que sempre que pode nos segue. 
Já agora, aproveitando este momento de publicidade que eu próprio me concedo e aos meus colegas, gostaria muito de ver outras pessoas a tocar connosco. Embora saiba porquê, mas fazendo de conta que não vislumbro, declaro que tem sido muito difícil conseguir novos elementos. Juro por minha honra que, a começar por mim, para além de uma certa demência notória, com queda para o show business, não sofro de nenhuma doença transmissível e não tomo qualquer medicamento ou droga, incluindo álcool. Pelos meus colegas, atesto que, para além de serem umas óptimas pessoas (que é um grande defeito nos tempos que correm) também não padecem de qualquer patologia assim de mais e que possa prejudicar alguém. Nenhum deles tem uma qualquer doença grave e que possa ser nocivo à comunidade. Quer dizer, estou a lembrar-me agora, a Celeste Correia, para além de ser uma bonita mulher, não tem complexos de cantar com os músicos de rua. Ora, vendo bem, e olhando à volta, tenho dúvidas de que tenha mesmo os parafusos todos na rosca certa. Quase aposto que não tem. Como é que pode? Como é que uma mulher, que não precisa daquilo para nada, se expõe a estar com estes malucos de sanidade de normalidade acima da média? É certo que não lesa ninguém, antes pelo contrário alegra todo o meio envolvente, mas, mesmo assim, cá para mim, esta senhora está muito doente. Só pode. Provavelmente será maleita de gaiteira. E isto, convenhamos, é uma doença gravíssima. Curável não será de certeza, porque, penso, é crónica e não há ainda medicamento inventado. Isto tudo para dizer que se aceitam candidatos envergonhados e que queiram perder os “três vinténs” da timidez. A entrada é imediata e não precisam de ter experiência.

COM A BOCA NA BOTIJA



 Segundo o Diário de Coimbra de hoje, “A Polícia de Segurança Pública deteve dois indivíduos que ontem de madrugada tentaram assaltar a “Rogério Joias”, ourivesaria localizada na Baixa de Coimbra” –acrescento, na Rua Eduardo Coelho.
Não deixa de ser curioso um pormenor acerca deste assalto gorado, felizmente. Ontem circulava, de boca em boca e aqui na Baixa, a informação de que tinha havido uma tentativa de assalto a uma ourivesaria. Porém ninguém sabia onde e a quem tinha acontecido. Estranho é que à hora do almoço interroguei dois profissionais com estabelecimento de compra e venda de ouro vizinhos da “Ourivesaria Rogério” e nenhum deles sabia de nada. Por sorte, e ainda bem, desta vez tudo acabou em bem. Há mais ou menos três anos, durante o dia, numa palmada ligeira, levaram deste  estabelecimento um anel. O certo é que cada vez mais, mesmo no aspecto da segurança de pessoas e bens, é um risco permanente estar dentro de uma loja comercial. Há dias, cerca de três semanas, ao fecho, ainda com o meu negócio aberto, um indivíduo levou consigo um alambique em cobre com cerca de vinte quilos. Tive a ventura de me avisarem e, numa correria louca, parti atrás dele. Quase o alcancei na Praça do Comércio. Ao ver-se acossado abandonou o proveito do furto e, como lebre, fugiu em busca de outro melhor resultado. Nem lhe vi a cara. Isto tudo para dizer que tudo contribui para quem trabalha na área comercial se sinta um joguete ao sabor de vários factores. No fim deste “crosse” bem sei como fiquei a pensar: porra! Isto é uma guerra perdida para quem tem alguma coisa! Vale mais não ter nada! Como se já não bastasse uma pessoa andar a tentar lutar todos os dias para se aguentar aberto e de cabeça erguida e, sem que se faça nada por merecer, leva-se uma bofetada destas! Ó égua!?!

terça-feira, 23 de abril de 2013

O FURAMUNDOS



 Os centros urbanos, em metáfora, são um lago onde convivem harmoniosamente todas as espécies piscícolas, Há os peixões, aquelas castas que, residindo em luxuosas cavernas do fundo, descendem de grandes famílias que sempre governaram a mancha de água já desde pelo menos um século para trás. Quando emitem sons todo o universo local se coloca em sentido e a maioria bate barbatanas às suas manifestações sonoras, mesmo que anedóticas e patéticas. Lá no tanque, encontramos os seus apelidos na universidade da biodiversidade, na biblioteca de algas marinhas, nos funcionários do paço regedor da vida animal e que gere os destinos da peixaria.
Depois há os peixitos, aquele grupo que só conta enquanto alimento e mão-de-obra para os peixões. Como formigas em verão de estio, atrelados com alguns filhos, vêmo-los esfalfados a atravessar o lago de um lado para o outro, num rodopio incessante em busca de alimento. Algumas vezes rebuscando as migalhas caídas dos opíparos repastos da classe soberana. Para além de serem os primeiros a cair no arrasto, aquando da faina dos predadores, porque estão mais expostos, este agrupamento também serve para votar e eleger sempre os mesmos na autocracia da mancha líquida de história retorcida e sem narrativa reconhecida.
E no meio destas duas classes há então os híbridos, aqueles que, para além de andarem permanentemente de boca aberta como se estivessem continuamente a pedir comida, não servem para nada. Não trabalham, não votam, não bajulam. Mesmo desprezados por todos, pela classe dominante e pela classe dominada, como tábua de mandamentos, prestam apenas para marcar as fronteiras entre a senilidade e o bom senso e o remedeio e a miséria. Apelidados por todos de loucos, estranhamente são livres. Não conhecem horários, dormem em qualquer recanto das profundezas do lençol de água, mesmo que imundas, e, ainda mais extraordinário, sorriem, sorriem como recém-nascidos livres de preocupações.
Estranhe-se também como é que eu querendo escrever sobre o senhor Mendes, personagem de mistério e que apelidei de Furamundos, dei uma volta ao figurativo interior da terra apenas para dizer que pessoas como ele, cromos e projecções de nós, e que existem em todas as comunidades, têm um encanto natural. Dificilmente conseguimos passar ao lado das suas interessantes formas de estar e (com)viver a pulular pela cidade, nem que seja, pelo menos, com um olhar fugidio.


TEXTOS RELACIONADOS

O dia do Armagedon”; “O Euleutério ensandeceu e ninguém sabe”; “O Anjo Cinzento de Deus”; “O Onzeiro”; “Perdido entre a Carneirada; “Um amor para toda a vida”; “O Homem que papava livros”; “O velho café do Teatro Avenida





NOSSA SENHORA DO TURISMO NOS SALVE



Nossa Senhora de todos os caminheiros em turismo do mundo salve esta Baixa de Coimbra. Só um milagre desta redentora poderá evitar o cataclismo evidente.

VIOLARAM A TRICANA



 Neste fim-de-semana passado a lavandaria e tinturaria Tricana, na Rua da Gala, foi assaltada durante a noite. Como o estabelecimento está encerrado ao Sábado, não se sabe se a intrusão teria ocorrido de Sexta para Sábado ou nas noites subsequentes. O que se sabe é que sem qualquer violência demonstrável do exterior, uma vez que as portas estavam fechadas como de costume, a funcionária Elsa França na manhã de ontem, Segunda-feira, verificou que tudo estava remexido. Estranho ou talvez nem tanto, os ladrões levaram toda a roupa de duas clientes que estava passada a ferro e pronta para entrega.
Segundo a Elsa, “para além deste prejuízo, que ainda foi elevado uma vez que eram peças boas e de marca, felizmente não levaram o computador, como aconteceu há cerca de três anos. A PSP tomou conta da ocorrência e comunicámos ao seguro para que se possa efectivar o ressarcimento ao nosso cliente. A entrada só poderia ter sido pelas portas laterais já que as fechaduras são simples. Às tantas, se calhar, foi com chave falsa. É aborrecido… Ninguém deu conta de nada! Também é certo que neste quarteirão do prédio não mora ninguém. Há um senhor, mas só cá vem de tempos a tempos. Ali à frente mora o dono do restaurante, por cima do estabelecimento, mas, pelos vistos, também não se apercebeu. Quem cá entrou, de certeza, precisava de roupa. Só poderia ser assim!”

UM COMENTÁRIO RECEBIDO

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)



 "Onze e  cinquenta e cinco da noite. Foi a esta hora, depois de mais um dia de trabalho, que acabei de ler a tua resposta a alguém (que tu propositadamente não revelas o nome) e que também  respondeu a um texto que tinhas escrito n’O DESPERTAR com o titulo  " Reflexão: Baixa Quo Vadis?”. Gostei muito do que li. Aprecio a tua frontalidade e a tua coragem de dar  cara pelos mais fracos, embora saibas que era mais vantajoso estares do outro lado da barricada. Há, de facto, muita hipocrisia nos sectores mais elevados. É por estas e por outras que eu gosto de ler  QUESTÕES NACIONAIS.
Um abraço. "

Ilídio F. Lopes 
Philadelfia
USA 

segunda-feira, 22 de abril de 2013

UM COMENTÁRIO RECEBIDO



Na última edição d'O Despertar escrevi um texto "Reflexão: Baixa Quo Vadis? Uma das entidades, no seu legítimo direito, entendeu insurgir-se contra o que escrevi. Retirando por minha iniciativa a identificação, entendi que deveria publicar aqui a minha resposta. A sua admoestação à minha forma de pensar e agir, penso, deve dar que pensar. Não tenho a certeza de que dê. Pelo sim, pelo não, fica aqui a minha alegação:


Exm.º Senhor (…)

Em resposta ao seu e-mail, ponto por ponto, começo por lhe dizer que quando escrevi “Esta gente quer saber da recuperação da Baixa para alguma coisa?" incluo V. Exª, sim. Aliás, tal como todos os que nomeio por igual. Ao escrever numa certa ambiguidade foi intencional. Não quis particularizar. Como penso que o senhor sabe, sou muito ignorante, mas sei que existe o que descreve.
Continuando, escreve V. Exª: “Mas, caso se confirme ser a mim que se refere gostaria de esclarecer que por razões familiares de muitos conhecidas, há já vários anos que praticamente não passo os fins de semana em Coimbra, pelo que tive o o cuidado de pedir a um dos membros para me representar na referida cerimónia, o que, efectivamente, aconteceu."
Lamento, mais uma vez, ter de nadar contra a sua corrente e desmenti-lo: ninguém esteve presente das entidades que citei. Muito menos o senhor que descreve. Eu estive lá. Portanto, citando as suas próprias palavras, “efectivamente (não) aconteceu”.
V. Exª não pode pedir rectificação a uma verdade absoluta. No entanto, se preferir, escreva para o jornal O Despertar a contrariar o que foi plasmado.
Continuando a citar as suas palavras, “ desejaria tão só fazer-lhe eu uma pequena e simples pergunta: Será que V.ª Ex.ª já se terá porventura interrogado alguma vez, se os processo de intenção, as afirmações e os juízos definitivos que faz, de forma tão convicta, sobre os comportamentos dos outros não serão, por vezes, mais prejudiciais do que benéficos à causa da Baixa que pretende assumir?"
Meu caro senhor, aqui vou dar-lhe razão: tenho a certeza de que não vou conseguir grande coisa. Apesar disso, em minha defesa, alego que me recuso a fazer o jogo de cintura de que a maioria faz. Tenho a mania que sou diferente? Provavelmente. Mas sabe por que escrevo conforme penso? Vou responder-lhe à letra: estou farto de pessoas influentes, que ocupando lugares de relevo e que andam constantemente com a Baixa na boca, façam gato-sapato dos pequenitos, dos trabalhadores (não me refiro a mim), das pequenas instituições como o Rancho de Coimbra, por exemplo. Se lá estivesse a televisão, meu caro senhor, garantidamente estariam todos. Na parte que me toca, estou farto da hipocrisia reinante da classe dominante –vai desculpar, mas por silogismo, incluo V. Exª. Esta classe de topo apenas olha para os iguais no mesmo estatuto. Despreza os humildes. Eu sei do que falo e do que escrevo. Poderá até pensar que me pronuncio assim por frustração de não pertencer ao meio. Puro engano, meu senhor. Sou humilde –na minha apreciação de humildade- e pertenço à ralé com orgulho. Não faço jogos de cintura, recuso-me a vender a alma a troco de benefícios pessoais. Bem sei que não vou longe. Paciência. Também não almejo grandes voos. Sou racional e terra à terra.

Com os melhores cumprimentos.
Luís Fernandes



A HELENA FEZ ANOS




 A Dr.ª Helena Mendes, advogada na Rua da Sofia, a “Lena” Sobral para os amigos, fez anos na semana que findou. Não sei quantas primaveras por ela passaram, nem me desperta minimamente o interesse. É completamente irrelevante e despiciente. Há pessoas que aos nossos olhos nunca envelhecem e permanecem iguais para sempre –este, em paradigma, é um caso desses. O que sei é que os Invernos que calcorreou nesta vida, até agora, lhe deram uma experiência empírica de sensibilidade, um pulsar de sentimentos, que só quem calca espinhos e marca a alma a ferro incandescente pode entender o sofrimento alheio.
Como já se viu, gosto muito da Dr.ª Helena Mendes, enquanto advogada, e da “Lena" Sobral, enquanto amiga. Se crendo que todos cumprimos uma missão e não andamos por cá por mero acaso e capricho do destino, acredito piamente que a minha admirada só poderia ser mesmo causídica, defensora dos oprimidos e sem voz que dela necessitam. Muitos parabéns pelo seu aniversário. Mas acima de tudo, intrinsecamente, uma grande salva de palmas por ser a excepção, na boa pessoa que é.


SUICÍDIO GERACIONAL



SUICÍDIO GERACIONAL

Podem até falar-me de Átila, o flagelo de Deus,
de Calígula, o esquizofrénico filho de Tibério,
de Gengis Khan, o criminoso Mongol Imperador,
de Hitler, esse louco sanguinário de cemitério,
até Mao Tsé Tung, o homicida aterrorizador,
têm rosto, lugar na história, marca de magistério,
liquidaram milhões, dando a cara, em ódio castrador,
mas não me venham com assassinos de ministério,
que, matam, silenciosamente, pelo desânimo aterrador,
milhares de cidadãos que não suportam o despautério
de gente amoral, narcisista, filha de puta, cabrões sem amor,
que os condenam à indigência, à vida de impropério,
à vergonha de passar por um falhanço agressor,
após terem sacrificado a família, suado, em presbitério,
viram-se sem nada, espoliados, sem dignidade, com dor,
constataram que a sua passagem nesta vida de mistério,
não deixou memória, foi um vazio intragável de horror,
 somente uma aragem ligeira de um vento sem critério,
foi por isto tudo,  e muito mais, que o meu amigo, com ardor,
com a coragem que sempre lhe conheci, o Daniel Tibério,
partiu deste mundo sem se despedir, sendo o seu executor,
para ele, para o , para alguns outros deste hemisfério,
um sentido respeito pela sua escolha solitária, comovedor,
que a sua morte não fosse em vão e nos faça pensar sério,
e nos empurre para o expurgar deste genocídio conspirador.


Suicídio subiu 54% no norte do país






BOM DIA, GENTE DE ESPERANÇA...

BACALHAU COM TODOS




Parceria da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC) com a Academia do Bacalhau de Coimbra.
Semana do Bacalhau na Baixa de Coimbra
onde vai ser possível comer, aprender a cozinhar e saborear!



 Começa no dia 22 de Abril, segunda-feira, a primeira Semana do Bacalhau na Baixa de Coimbra. Trata-se de uma iniciativa da Academia do Bacalhau de Coimbra e da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC), que decorre até dia 27 de Abril, sábado. Durante toda a semana diversos restaurantes da Baixa de Coimbra vão proporcionar aos seus clientes, ao almoço e ao jantar, especialidades como Bacalhau à Beirão, Feijoada de Sames de Bacalhau, Tibornada de Bacalhau, Sopa Seca de Bacalhau, entre muitas outras, já que como se sabe, são mais de 1001 as maneiras de confeccionar pratos do fiel amigo. Aderiram à iniciativa 15 estabelecimentos que vão ser avaliados por um júri num concurso gastronómico que vai eleger as três melhores especialidades. A divulgação dos premiados será feita na sexta-feira, 26 de abril, e a entrega dos prémios está prevista para o último dia do evento, dia 27 de Abril, sábado, por ocasião do jantar do 10º aniversário da Academia do Bacalhau de Coimbra.


Comer bacalhau e aprender a cozinhá-lo!


Ao longo da semana estão previstas sessões de show cooking (mostra de cozinhados em espectáculo) dinamizadas pela Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra, com acesso gratuito, no Café Santa Cruz e em alguns restaurantes a indicar.
No período da manhã, entre as 10h00 e as 11h30, as sessões são dirigidas aos mais jovens, como forma de sensibilizar para o consumo deste alimento e à tarde, entre as 16h30 e as 18h00, são de acesso livre a todos os visitantes da Baixa de Coimbra e acompanhadas de provas de vinhos.



Noite Branca na sexta-feira


A 26 de Abril realiza-se mais uma edição das Noites Brancas, na qual para além da divulgação dos resultados do concurso gastronómico,  o comércio estará aberto até às 24h00 e a animação será uma constante nas ruas e restaurantes aderentes à iniciativa.



Mais informações sobre as iniciativas da Semana do Bacalhau na Baixa de Coimbra, que contou com o apoio da Lugrade, podem ser obtidas através do facebook da APBC (facebook.com/baixadecoimbra), telemóvel 914872418 ou mail apbcoimbra@gmail.com."

domingo, 21 de abril de 2013

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...

Foto


Daniel deixou um novo comentário na sua mensagem "PARA PENSAR...":


 Trânsito na Rua Ferreira Borges e Visconde da Luz? Isso não traz nada de bom para a Baixa. É só trânsito de passagem, contribui apenas para que os edifícios fiquem encardidos com o fumo dos carros, reduz a qualidade do ar e aumenta a poluição sonora, o que torna a experiência de passear na Baixa muito menos agradável. Por exemplo, a Rua da Sofia tem muito trânsito, em que esse trânsito ajuda ao comércio quando as pessoas se acotovelam no estreito passeio? A Rua da Sofia, inserida na candidatura a Património Mundial da UNESCO, devia ser completamente pedonal ou apenas para transportes públicos.
No entanto, concordo com o regresso dos antigos eléctricos a essas ruas, isso sim, iria ajudar o comércio e o turismo.

UM POEMA PARA CATARINA



UM POEMA PARA CATARINA

Quando te vejo, Catarina,
a sorrir para a eternidade,
pareces mesmo uma menina
recém-chegada à cidade;
Ninguém dirá que tu, Catarina,
parecendo frágil pela humildade,
que emanas um ar de franzina,
és fortíssima na humanidade;
Olho os teus olhos negros, Catarina,
pareces feliz na vontade,
mas eu apreendo neles, minha divina
que sofres de fragilidade;
Talvez perdesses um amor, Catarina,
uma paixão recente de amizade,
uma página escrita em cartolina,
que te magoa e gera ansiedade;
Mas deves saber, Catarina,
que o meu mundo é a asnidade,
de presciente nada tenho, minha bailarina,
porém, garanto-te: vais encontrar a felicidade.

sábado, 20 de abril de 2013

"OLHEM, TENHAM DÓ..."

Foto


 De vez em quando sou surpreendido por manifestações de soberba. Num tempo em que a partilha deveria granjear resultados, nem que fosse em afectos, às vezes pergunto-me se certas pessoas sabem que vão morrer e que esta passagem, a que chamamos vida, é uma simples caminhada de parecidos, não iguais como se diz.
Vem esta introdução ao caso porque ontem a denominada “Orquestra de Músicos de Rua de Coimbra” esteve a tocar na Rua Ferreira Borges entre as 1h30 e as 15h00. Como se sabe, faço parte deste agrupamento. Sou o mentor, o criador, digamos assim. Sou aquele que dando as músicas e poemas, com a prestimosa colaboração destes extraordinários músicos, na sua companhia, vou mostrando o que na parte musical sempre fiz. Como eles fazem o favor de me acompanhar, os lucros financeiros que se obterem são para eles. Na parte que me refere, já me sinto pago com a possibilidade de estar a tocar com estas excelentes pessoas. Faço isto com muita satisfação. Acontece que ontem, como sempre, tivemos o cuidado de não prejudicar ninguém. Isto é, tentando, por exemplo, não tapar nenhuma montra de estabelecimento ou obstaculizar a entrada de um prédio. Pois mesmo assim, ontem, porque estávamos junto a um estabelecimento encerrado à hora do almoço, a dona passou e lançou-nos um olhar que até parecia chispar fogo. Volto a lembrar que estava encerrada a loja. Mesmo assim, perante aquele sinal de reprovação, passámos mais para o lado e em frente a um negócio fechado e que faliu. Como se fosse pouco, veio de lá, do prédio, uma moradora a implicar, de que ali morava gente idosa e que os residentes não podiam passar. Tínhamos deixado cerca de um metro e meio para a passagem. Perante a exultação desta mulher, só podia mesmo gozar. Então disse-lhe que tivesse dó de nós todos. Estávamos ali a tocar porque éramos todos desgraçadinhos. Quereria a senhora uma canção dedicada? Virei-me para a Celeste Correia e disse: “Celeste, canta aqui para a senhora o nosso fado “Olhem, tenham dó…”. E a mulher, certamente a pensar que não iria gostar do presente, abalou a falar sozinha. É um caso de dó, não é?
Felizmente, para contrabalançar, tive lá dois momentos muito bonitos. Duas belas mulheres vieram dar-me um beijinho, a Isabel Fernandes e a Catarina Martins, e até quase esqueci a soberba dos casos que conto. Há sempre alguém que resiste e fura a mediocridade geral.