sexta-feira, 5 de agosto de 2011

FILHOS E ENTEADOS DE UMA BAIXA COMERCIAL





 “Senhor Luís, estou indignado! Como sabe tenho o meu restaurante ali, está a ver? Nesta altura de Agosto estamos no pico do turismo. Vai ser assim até ao próximo dia 20. Esta minha actividade é como a formiga, temos de aproveitar nesta altura.
Como lhe ia dizendo, esta semana levantaram os pinos, que impedem a passagem de automóveis para todas as ruas do Centro Histórico. Embora, nesta altura, cause algum desarranjo para as nossas cargas e descargas até entendo o interesse maior que significa impedir a entrada de viaturas para o casco urbano.
O que me leva a estar indignado é o facto de se deixar uma via aberta para os vendedores ambulantes de etnia cigana no Bota-Abaixo. Diga-me lá, isto é alguma coisa? É preciso descaramento! Que merda é esta? –desculpe falar assim. Há na Baixa filhos e enteados?”
Depois de ter declinado expor-se publicamente foi à sua vida. Cerca do meio-dia fui ver se era verdade.
Entrei na Praça do Comércio. Junto à igreja de São Tiago constatei que dois vendedores com umas tendas esquisitas e que habitualmente costumam vender ali não estão –do ponto de vista paisagístico, a meu ver, não fazem falta, mas apreendendo do lado humano, sendo justos, teremos de questionar a razão de não estarem hoje ali. Estas pessoas, alguns estrangeiros com visto de residência, esfalfam-se para ganhar, ali, a vida para a sua família. Logo de manhã lá estão a montar a tenda e, como há dias vi, às 22h30 estão a desmontar tudo para uma carrinha.
Continuei a andar. Todo o tabuleiro da velha praça, habitualmente pejado de viaturas, está vazio. Junto à igreja de São Bartolomeu uma carrinha de caixa-aberta está estacionada. Continuo. Junto ao Banco de Portugal, ao lado do Baía, o pino está levantado. A entrada da Rua dos Esteireiros está também bloqueada. Mais à frente, a Rua das Azeiteiras, também, e todas as ruas estreitas, incluindo a Rua Adelino Veiga e Padeiras. Continuo.
Estranho, penso para mim, a Rua Simão de Évora tem o pino em baixo. Logo a seguir a Rua da Louça está bloqueada. Dou a volta pela Loja do Cidadão e verifico que, junto aos vendedores ciganos, o marco que controla o pino serve de suporte a umas roupas e está no meio das tendas. Naturalmente o pino está em baixo. Continuo a andar. O largo da Maracha e o da entrada da Braga-parques está pejado de ligeiros. A entrada da Rua da Gala está com o pino em baixo. Ou seja, quem quiser sair dali, calmamente entra na Rua da Gala, corta à direita para a Rua Simão de Évora e está na Avenida Fernão de Magalhães.
Continuo em direcção à Praça 8 de Maio. Neste largo, junto à farmácia Universal, estacionada, apenas estacionada e sem qualquer função de carga e descarga, está uma camioneta de andaimes. Junto à Caixa Geral de Depósitos, os dois pinos que dão acesso à Praça 8 de Maio e ruas da calçada estão em baixo –certamente para darem passagem ao “pantufinhas”, mas, a meu ver, nesta extremidade da rua é preciso colocar lá uma barreira com comando que sobe e desce quando passa o pequeno autocarro. Junto ao Turismo a mesma coisa. Os dois pinos estão em baixo. Terá de se fazer o mesmo sistema de cancela com comando.
Não há dúvida de que o hoteleiro tem razão. Claro que, temos de ver as coisas como elas são. Este homem, como outros, estão carregados de certeza, mas não dão a cara. Se não se afirmam como é que se muda isto? É assim? A passar a bola para mim, que escrevo, ou para outros, poucos, que não ficam no anonimato, será assim que poderemos exigir um tratamento justo por parte da edilidade? Quando é que cada um entende que tem uma quota-parte de responsabilidade na mudança que se exige?
É evidente que, tudo o que escrevi atrás é certo, mas é à autarquia, enquanto poder administrativo, enquanto timoneira que recebe do povo o direito de aplicar a justiça do bom exemplo, que, na cidadania, deve mostrar a todos a responsabilidade que cabe a cada um e, dentro de uma discricionariedade entendível, tratar todos com consideração e por igual. É à Câmara Municipal de Coimbra que cabe a obrigação de ser equitativa. Aqui, neste sentido, justo ou injusto, é que verdadeiramente começa a cidadania. É na forma como trata todos os cidadãos, não podendo discriminar positivamente uns para penalizar outros, que ganhará ou não o devido respeito de todos.
Enquanto munícipes, como num jogo, todos somos peças de um xadrez que se completa. Embora o Rei seja o paradigma, sem o peão não haverá disputa.
Apenas se pede bom senso e nada mais.

(PELO PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO, ESTE TEXTO FOI ENVIADO À CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA)

2 comentários:

Anónimo disse...

Prepare-se para ouvir umas «bocas» chamando-o de racista e ouros epítetos semelhantes.Então o Luís atreve-se a pedir igualdade para todos? incluindo os ciganos? É que nesta cidade a discriminação social e racial(relativamente á raça cigana)existe sempre.É que as autoridades e instituições estatais têm uma noção diferente de igualdade,e os ciganos habituaran-se então á «igualdade»,ou seja,para eles só não são discriminados se tiverem mais direitos e menos obrigações que o resto da população.Se tiverem as mesmas obrigações,desde sociais e de comportamento a económico-financeiras(impostos,p.e.) já os estão a discriminar,jhá somos uma cambada de racistas.Vamos lá fazer um bota abaixo á antiga,com barracas por todo o lado,desde que os feirantes sejam ciganos,isto é condição essencial.
Não tenho que me justificar,mas quem me conhece sabe que de racista não tenho nada,sou a favor da igualdade em todos os aspectos da vida em comunidade,INCLUINDO AS OBRIGAÇÔES SOCIAIS,MORAIS;ÈTICAS;ETC,ETC.Portanto não devemos abrir excepções,só com o receio de protestos de membros de determinada raça.
Marco

P.S.Desculpe lá a confusão deste comentário,Luís.Mas cheguei agora do trabalho e estou com sono,mas não queria deixar de contribuir com a minha opinião.

Jorge Neves disse...

Sou pela igualdade de tudo e para toDos como sabe, tenho algumas amizades no meio cigano.
Não concordo com este tipo se inserção social atraves da descriminação para com os outros comerciantes da baixa que a CM de Coimbra fez.
Ou levanta os pinos para todos ou os baixa. Esta inserção descriminatória teve um "pai" que agora já nem se encontra na CMC.