segunda-feira, 30 de setembro de 2013

"MUI CHOCOLATE" COM GALA



 Quem recorda o filme “Chocolate”, que passou nos cinemas portugueses há cerca de oito anos, com Juliette Binoche e Johny Depp nos principais papéis de uma história de amor? Pelo ar apático do seu rosto, já vi que há mais de uma década que não entra num cinema. Deixe lá. Não há problema. Eu conto resumidamente a sinopse. O filme gira em volta de uma recém-aberta loja de chocolates, que apesar da desconfiança da população da cidade perante uma desconhecida, aos poucos, através da simpatia da dona da venda (Juliette Binoche), da inovação na apresentação dos produtos, e sobretudo do cheiro, os odores que se entranhavam entre a viúva infeliz e a casadoira esperançada, aquela, consegue conquistar completamente e persuadir os seus habitantes a desfrutarem os seus deliciosos produtos.
Para me servir de introdução, falei desta obra cinematográfica porque a semana passada abriu a “Mui Chocolate”, na Rua da Gala. Se fizermos comparação, entre esta nova casa de docinhos do céu que agora emerge e a fita que referencio, há mais semelhanças que diferenças. Vou começar por apresentar a nova heroína deste filme real: Leonor Ramos. Prazer Leonor. Seja bem-vinda ao nosso meio. Vou dar-lhe voz. Conte um pouco da realidade que está por trás desta abertura. Tem a palavra:
“Estou na meia-idade, naquela altura de balanço existencial em que uma pessoa dá por si a interrogar-se sobre o que fez até agora, o que faz neste momento, e o que quer fazer no futuro. Há quem diga que esta catarse toca todos. O problema será conseguirmos dar resposta. O medo de tomar decisões toma-nos de assalto e condiciona-nos na inacção. Eu era secretária de direcção numa empresa na cidade há cerca de duas décadas. Estava portanto empregada. Há muitos anos que me deitava embrulhada no sonho de ter um negócio meu e acordava com a mesma pergunta: quando vais ser capaz de ser capaz de dar o salto, Leonor? Eu não queria morrer sem tentar dar corda aos sapatos da minha imaginação. Até que este ano, da graça de 2013, decidi-me: vai ter de ser agora mesmo, disse para mim. Tenho família ligada à hotelaria no distrito da Guarda. Desde pequena que me lembro de ter brincado por entre dropes e a magia de um balcão. Sempre gostei desta parte da cidade, da Baixa. Há aqui qualquer coisa de místico, de mistério, que não consigo explicar. Sinto uma atracção fatal pelo casario de pedra e ambiente familiar de bairro. Acredito que o futuro da cidade mora aqui. Quando vi este local, ainda em bruto, do agora meu café, foi como uma luz que se acendeu na minha cabeça. Como uma revelação, tive um pressentimento: é aqui que vou edificar o meu sonho. Naquelas paredes velhas, carcomidas pela idade, desamparadas pelo tempo, imaginei imediatamente o que queria. Falei com a senhoria, prontifiquei-me a fazer as obras, e como a renda acordada ficou acessível, em 200 euros, disse para mim: atira-te Leonor, que vale mais um único gosto realizado do que uma vida sem gosto e sem amor.
Para além de mim, criei um posto de trabalho. Estou muito contente. Por enquanto, o horário que praticamos é das 9 às 19h00, de segunda a sexta-feira. Ao sábado é das 9 às 13h00. Como só abri portas há uma semana ainda não posso fazer projecções, mas pelas manifestações pressinto que os clientes gostam muito dos meus gelados de bola. Vejo o quanto é difícil recusar a minha doçaria caseira; os crepes de chocolate, os profiteroles, os bolinhos de coco, as bolachas de manteiga. Quer provar?”

MAIS UMA PARA "REMODELAÇÃO"



 Neste sábado, último, após algumas filas para vender o estoque existente durante vários dias, encerrou a Loja Portuguesa, na Rua das Padeiras.
Nos vidros forrados a papel um pequeno quadro se salienta: “fechados para remodelação”. Aqui na Baixa, desde as Ruas largas, da Sofia, Ferreira Borges e Visconde da Luz, até aos becos estreitos, a levarmos em conta os imensos estabelecimentos na mesma situação, com mensagens iguais, tudo indica que este final de ano de 2013, com tantas obras em perspectiva, construção civil e decoração, vai ser bom para o PIB, Produto Interno Bruto. Afinal o comércio está com bons indicadores. Quem ousa dizer, ou escrever, o contrário? Os boateiros do costume, como eu, naturalmente. Apetece-me gritar bem alto, mesmo que só eu me ouça: porque não te calas?!

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

BOA TARDE, GENTE DE ESPERANÇA...

LEIA O DESPERTAR...



Para além  do texto "REFLEXÃO: OS SEMÁFOROS DO DESPESISMO", deixo também as crónicas "OS BENQUISTOS DA CIDADE"; "UMA ORDEM NO MEIO DO CAOS"; e "VIVA COIMBRA".




OS SEMÁFOROS DO DESPESISMO

 Nos últimos dias fomos surpreendidos pela colocação de temporizadores em todos os semáforos da cidade. Em juízo de valor, é muito provável que à maioria até passe despercebido, mas, para quem se deu conta, mais que certo, estará a interrogar-se para que serve cronometrar o período de espera, no máximo um minuto, que medeia entre o vermelho, laranja e verde. O tempo se vai encarregar de provar que estas loucuras insensatas, gastadoras e despesistas do erário público, são contraproducentes à saúde pública. Pelo aumento do batimento cardíaco, são geradoras de ansiedade. Mais ainda, são anátemas, maldições, instrumentais que num perseguir obsessivamente um modernismo bacoco transforma a vida quotidiana num inferno. Aquele minuto de espera enquanto o verde não caía era um momento raro de introspecção individual para muitos de nós. A colocação destes relógios nos sinaleiros electrónicos, para além do absurdo pelo vazio de utilidade prática, é uma invasão na nossa rotina intimista. Haja bom senso, por amor de Deus!



OS BENQUISTOS DA CIDADE

 São cerca de 14 horas naquela penúltima quinta-feira. Venho dos lados da Rua da Sofia. Como todos os dias, em frente à Câmara Municipal vou ser barrado pelas jovens utentes da meritória obra da Comunidade São Francisco de Assis, que me irão tentar sensibilizar para ou comprar um objeto ou contribuir com uma moeda. Ainda que compreenda completamente o fim deste peditório –por que contribuí no primeiro dia- sinto-me quase agredido pela forma como é feito –aliás, bem na mesma linha de outros para instituições de solidariedade que se fazem nas ruas largas. Sinto um conflito, porque sei que se não se dirigirem diretamente aos transeuntes todos passam ao lado e nem um cêntimo cairá na esperança de vida destas associações de solidariedade. Mas, por outro lado, este género de aproximação, de abalroamento massivo, chateia e, porque caíram na vulgaridade repetida, cria em nós anticorpos, uma má vontade imanente, que faz repelir toda e qualquer solicitação, seja para boas ou más causas. Perante a beleza da garota da Comunidade da Irmã Teresa não posso evitar lançar um olhar ao seu belo colo. Estou velho, eu sei. Quando passamos a "alimentar-nos" e a contentar-nos com imagens, pressinto, estou realmente no epílogo da vida. Paciência! Passemos à frente, que esta parte era perfeitamente desnecessária. Com a bela rapariga ao meu lado, mesmo mirando os atributos que Deus lhe deu –e que tenha compaixão de mim por esta minha fraqueza-, de uma forma cínica, vou dizer-lhe: tenha dó! Não pode ser todos os dias, menina! Também sou pedinte! Ela vai rir-se, pensando que estou a brincar –é interessante verificar que quando falamos sério, dizendo a verdade, por parecer tão inverosímil, quase nunca acreditam no que dizemos. Deixo a miúda de mão estendida. Nos poucos metros que me separam da Praça 8 de Maio vou a pensar nesta triste realidade em que estamos transformados. Uma obra tão meritória e de entrega ao próximo, como sei que é esta da Comunidade de São Francisco de Assis, para sobreviver tem de estar a prostrar a mão há vários dias naquele local. Sinto algum desassossego. Tinha obrigação de ser mais generoso. Deveria lembrar-me de outras ocasiões em que também já pedi. Mas enfim! Avancemos, que estes desabafos não interessam nada a quem lê.


Percorro uma dezena de metros e estou agora no átrio da Igreja de Santa Cruz. No patim do vetusto templo um homem realiza e apresenta uma mostra de magia, inserido na 17.ª Edição dos Encontros Mágicos de Coimbra. Em baixo, na pedra clara e plana, e em cima, na esplanada do Café Santa Cruz, cerca de meia centena de pessoas assistem à performance do artista estrangeiro, salvo erro espanhol.
Por momentos, vou parar e pensar. É o circo na cidade. Tento ter uma conversa séria com os meus botões. Ilusoriamente, como se me dividisse em dois heterónimos, começo a admoestar e a interrogar um deles: “lá estás tu com essa mania de criticar tudo! Fosca-se! A animação não faz falta à cidade? Se calhar, se não houvesse nada, às tantas, serias tu o primeiro a criticar, não?”. Imaginariamente a minha outra personalidade vai responder: “pois, bem sei que não é fácil de gerir uma coletividade. Tens razão, mas, comparando com o ato de pedir para a obra de São Francisco de Assis, há qualquer coisa que me coloca os cabelos em pé. Apesar de podermos classificar ambos de espetáculos cénicos, no sentido do desempenho social, cada um deles tem uma moral diferenciada. Um, o da irmã Teresa, de maneira altruísta, salva crianças sem pais, forma pessoas para a vida, tentando evitar que caiam na delinquência, e para o conseguir o que tem de fazer? Estender a mão à caridade. A outra, a exibição de magia, numa linha de entretém, em que o circo substitui o pão, distrai e quimericamente alimenta as massas. Mas há uma questão de pormenor, que é demasiado importante para deixar passar em branco: estes shows, que começaram em 1998, inseridos na 17.ª Edição dos Encontros Mágicos de Coimbra, este ano, durante cinco dias, custam ao erário público a módica quantia de 36 mil e 500 euros mais IVA; no ano passado 31 mil e 609 euros mais IVA; em 2007 60 mil euros; em 2006 54 mil euros; em 2001 custaram 26 milhões 240 mil escudos, na nova moeda 130 mil e 1200 euros.”
Lá estás tu a filosofar! Isso interessa? São meros pormenores para quem não tem mais nada para pensar!”
  

UMA ORDEM NO MEIO DO CAOS

 Quem entra na Rua Direita pelo lado de Santa Cruz, mais que certo, deverá parecer-lhe estar a entrar numa zona de guerra recentemente bombardeada. Continua a andar e de repente, no meio de buracos no chão e paredes semidestruídas a esboroarem-se perdidas no espaço, depara-se com um painel colorido com desenhos abstratos, numa das paredes de um edifício. Chama atenção pelo contraste da ordem no meio de toda aquela desordem. No chão, podem ainda ver-se sanitas e bidés, restos de um tempo passado, a servirem de vasos com flores vivas, catos e outras plantas de várias cores e cheiros. Certamente a primeira interrogação de espanto surge assim: “mas será que interromperam as obras por causa daquele painel?”. Perante um andaime montado ao lado da obra, pode ainda surgir outra especulação: “mas terá sentido estar a alindar uma zona cujo final, por obras da planeada nova Avenida Central, será a destruição de todo o edificado?”.


Quem vai responder a estas questões é Carlos Costa, de 53 anos, e até há pouco, durante 15 anos, a trabalhar na Áustria e na Alemanha. Desempregado de longa duração, está há dois anos em Coimbra. É o residente encarregue de, diariamente, logo de manhã, abrir o portão de acesso gradeado. A intenção é, com os trabalhos de criação artística, levar outros a participar também. “É um projeto da Divisão de Ação e Família, da Câmara Municipal de Coimbra, e inserido num Programa Comunitário para a Cidadania e Igualdade –diz-me com clareza e convicção, e apontando em redor. Repare nesta envolvência decadente, de morticínio visual, que instiga à violência e faz eclodir a depressão a quem por aqui vive e por cá passa como transeunte. Com a nossa arte, orientada pela artista plástica Tatiana Santos, que cria os desenhos, procuramos inverter esta tendência de devastação e desalento psicológico. As cidades são o que dela fazemos. Desde a Primavera que todos os dias estamos de porta-aberta para quem quiser mostrar o seu talento. Não recebo nada do Estado. Faço tudo isto por gosto. Mantenho-me ocupado e o facto de estar a criar eleva a minha autoestima porque sei que estou a ser útil em alguma coisa. Com o meu exemplo tento que outros me sigam. Felizmente que há sempre gente. Temos alturas de estar aqui uma dezena de pessoas. Repare que todos materiais utilizados são coisas velhas sem valor que teriam por destino o lixo. Nós estamos a dar-lhe uma nova reutilização, uma nova forma, uma nova vida. Enquanto não mandarem tudo abaixo neste corredor ladeado por prédios, vamos fazer aqui grandes coisas como, por exemplo, uma horta suspensa; sapatos perdidos que encontramos por aí e vamos pendurá-los naquela parede –e aponta. Você já viu aqueles desenhos na Avenida Fernão de Magalhães, paralelo à Loja do Cidadão? Venha daí comigo”.


E lá vou eu apreciar aqueles quadrados geométricos pintados na parede e que, por verificação anterior, pensava serem painéis de azulejo que sempre ali existiram. Conta-me Carlos, “não, não! Estes desenhos são uma criação nossa tendo por princípio um vulgar mosaico. Estão lindos, não estão?”
Estão sim! Levei uma lição de vida que não me vou esquecer tão cedo. Mesmo no meio da noite escura consegue-se sempre vislumbrar a luz desde que estejamos de coração aberto. Muito obrigado, Carlos Costa.


VIVA COIMBRA

 Subitamente, numa manhã quase outonal da semana passada, o Largo da Portagem acordou sem um dos taipais que obstaculizava a panorâmica do hall de entrada na cidade e de que aqui dei conta. Apenas se lá mantém um dos abortos. Como sempre, quando acontecem destas coisas, ninguém viu nada, nem alguém ousa comentar. O único que viu com certeza absoluta tudo o que se passou, num desrespeito por quem escreve –que aliás, vindo de quem vem nem admira- entretido a tirar notas com o caderno e a pena na mão, não liga aos meus apelos de procurar ser o mais objetivo possível. Lá do alto do pedestal onde foi colocado, Joaquim António de Aguiar, o “Mata-frades”, envolvido pela nuvem em céu azul, nem se digna desviar o olhar da folha de apontamentos. Já nem reclamei. Para quê? Se o fizesse estaria a perder tempo. Paciência! Até porque sendo este personagem um lendário político, sem ofensa para quem o é, o que se poderia esperar dele, se não o silêncio? Aliás, se falasse, está de ver que as suas frases seriam titubeantes assim no género: “sim… talvez…nem por isso… ou antes pelo contrário!”
Em resumo, o que se deve extrair é que, mesmo emendando a mão em ato de contrição, ficou bem a quem o fez. Errar é humano. Quem nunca errou que atire o primeiro painel.

UM COMENTÁRIO RECEBIDO E UMA RESPOSTA PRONTA




Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "EDITORIAL: A CAMPANHA DO VALE TUDO":



 Tenho pena que não tenha comentado o forró efectuado pela CDU na Praça 8 de Maio.
Admito que não tenha sabido.
Quanto teria custado a vinda do Vitorino e todo o aparato?
Talvez mais do que uma rosa.
Aí já não interessa o problema dos comerciantes.
E o PSD ou seja a Coligação ?
Procure ser isento.
Concordo consigo ao escrever que vai votar. Dever Cívico.


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NOTA DO EDITOR


 Em primeiro lugar, muito obrigado por ter comentado. Tomara eu que, tal como o senhor, mais o fizessem, meu amigo anónimo mas conhecido.
E agora vamos passar à refutação. O senhor até me conhece relativamente bem, sabe que não pratico política partidária. Os partidos para mim estão como os clubes de futebol. Gosto de todos, enquanto catalisadores de recreio e diversão desportiva. Admito a defesa dos seus interesses corporativos, mas não vou à bola com algum particularmente. Isto é, respeito intrinsecamente a sua idiossincrasia mas não alinho com qualquer um deles. Bem sei que isto é estranho –eu próprio me questiono-, mas é assim. Deve ser um problema disfuncional no cérebro, admito. Pode o amigo até arguir que uma coisa não terá nada a ver com outra. Isto é, futebol é desporto, virado, portanto, para o lazer e ocupação de tempos livres de massas. Já os partidos políticos, enquanto organizações ideológicas que, nas suas ideias, defendem certos princípios programáticos societários, tem mais a ver com a nossa vida diária na polis, nós cidadãos sempre imbricados nessa mesma política da cidade. Contrariamente ao muito que se diz e escreve, tenho para mim que os partidos políticos irão existir enquanto houver democracia. Por outras palavras, são o braço executivo desta mesma escola participativa -não é preciso ser presciente para saber que este sistema está a prazo. Mais tarde ou mais cedo vai cair uma ditadura, de esquerda ou direita. Embora me incline que será de direita. É o eterno retorno à história do nosso País na sua repetição ordenada em contingência. E porquê a emergência desta ditadura? Porque um sistema democrático só persistirá havendo disciplina e cumprimento das partes, povo e governo, no Contrato Social. Ou seja, o povo sabe que terá de confiar desde que a outra parte seja confiável, abstractamente pessoa de bem. Aceita pagar impostos desde que essas mesmas contribuições sejam aplicadas em equidade para o bem comum e, acima de tudo, directamente no seu bem-estar quando for velho, nomeadamente no acesso a um sistema de saúde, ter direito a uma aposentação que lhe permita viver o resto dos seus dias com dignidade e na educação dos seus filhos –SAÚDE, EDUCAÇÃO e JUSTIÇA são o sustentáculo de uma Nação que, pretensamente numa distribuição justa, pretende almejar o bem-estar físico e uma felicidade necessária e comum a todos os seus cidadãos. Um sistema democrático só se arrastará no tempo se haver respeito, entre o Estado e o cidadão, no que se pede e no que se dá. O Estado tem de ser como um grande pai que se admira pela forma como se comporta perante os seus filhos. Impõe a proibição de se fumar, mas não fuma. Obriga a que não se consuma álcool, mas não bebe. Prescreve por igual a obrigação de todos os seus entes contribuírem com trabalho. Se não labutarem não manducam. Ora o que temos assistido nas últimas décadas por parte do Estado? Seguindo as linhas socialistas/comunistas dos antigos países do leste Europeu, com o argumento de dirimir as assimetrias sociais, passou a distribuir aos que nada produzem a riqueza originada pelos que se esfalfam a trabalhar, mesmo sem levar em conta o histórico de cada um. A regra aplicada é: se és pessoa, logo existes, logo tens direitos para que essa tua existência seja garantida. Nada de mais errado. Deveria ser assim: és pessoa. Existes. Tens direitos nesta tua existência se garantires as obrigações que te são consignadas civil e constitucionalmente. Podes trabalhar? Então trabalha. Tens de afiançar o teu auto-sustento e, se tiveres, da tua família.
O trabalho é um direito, apenas e só, enquanto instrumento de rentabilidade e meio de alcançar a dignidade social. O Estado não tem de garantir trabalho a ninguém. O Estado, abonando um mínimo de subsistência humanitária, caucionando que ninguém morre por falta de assistência, deve repartir levando sempre em conta a contraprestação, o que recebeu desse mesmo cidadão. A igualdade social, assente numa patente e clara desigualdade colectiva, só pode ser atingida se todos, tendo em conta as suas diferenças limitativas, partilharem as mesmas obrigações. Passando esta arrogância subjectiva, o cancro deste sistema democrático em que estamos mergulhados assentou em duas metástases (pelo menos a partir de 1910). Uma foi o aproveitamento descarado dos governantes para si para todas as suas clientelas –veja-se a analogia com a queda da ex-URSS. E a segunda, para avençar a sua continuada reeleição, em manipulação política tentando comprar o voto, foi a distribuição a quem nada fez nem nunca apeteceu trabalhar. Há excepções a esta regra? Claro que há. Na floresta negra haverá sempre uma árvore multicolor a contrariar a escuridão.
E chegados aqui, pegando no léxico popular, poderemos interrogar: mas, actualmente, com a maioria absoluta de coligação, e outras anteriores maiorias conquistadas nas urnas, não estamos já numa ditadura de direita? A meu ver não. Estamos a viver um CENTRISMO que emergiu entre o conservadorismo secular e um progressismo fraturado e titubeante –nasceu nas últimas quatro décadas e é um subsistema da democracia republicana. Enquanto máquina tentacular de propaganda, alimenta-se das doutrinas fascistas, socialistas e comunistas. Os seus actos de governance, profundamente egocêntricos, visam essencialmente a salvação das suas famílias e clientelas, garantindo a prossecução do status e linhagem de apelidos e, ao mesmo tempo, criando condições facilitadoras aos prosélitos de seguidismo cego. Os melhores lugares são distribuídos por esta prole de genética aristocrática.
Este Estado, através dos governos enquanto órgãos executivos, prega uma doutrina ao cidadão particular e, em causa própria, faz o que lhe convém e lhe dá mais proveito. Este Estado espalha ao operário para trabalhar mas depois, por linhas travessas, desvalorizando o rendimento do trabalho, retira-lhe todos os proventos desse esforço para alimentar a sua própria máquina pesada, gastadora, sôfrega e parasitária. E pior, depois de o exaurir, depenando-o materialmente e psicologicamente, abandona este proletário à sua sorte e sem se importar que morra à fome após uma vida de esforço e trabalho.
Isto tudo para lhe dizer que, inevitavelmente, a médio-prazo teremos uma revolução. Este sistema é insustentável a curto e médio-prazo. Bem sei que acabei por fugir ao tema. Mas, tenha dó, acusar-me de parcialidade? Pedir-me para ser isento? Não defendo nenhuma força política partidária, meu caro. Enquanto durar este festival, tenho a certeza de que todos são necessários, pequenos e grandes partidos. Apenas foquei intencionalmente os dois maiores candidatos por, alegadamente, serem concorrentes ao lugar de presidente da autarquia.


UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...




Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "OS SEMÁFOROS DO DESPESISMO":



 "A gestão do tráfego na rede viária assume uma importância especial nos cruzamentos, considerados os elementos críticos da rede viária, quer sob o ponto de vista da segurança rodoviária, quer sob o ponto de vista das condições de escoamento, devido à multiplicidade e complexidade das interações entre todos os seus utilizadores.
Os sistemas semafóricos destinam-se a regular a passagem do tráfego através de cruzamentos, de forma segura e eficiente. Embora os sistemas convencionais de sinalização luminosa desempenhem um papel importante no controlo do fluxo de tráfego, têm tempos perdidos significativos, e, consequentemente, uma redução de capacidade de escoamento. Os pontos de transição, onde a luz do sinal muda de verde para vermelho e de vermelho para verde, são necessários para permitir que os motoristas alternem o direito de passagem. Porque o ponto de transição real não é facilmente previsível nos locais de semáforos convencionais, os condutores poderão cometer erros de julgamento sobre a decisão de parar ou avançar. Portanto, a segurança do cruzamento, assim como a sua capacidade, poderia ser potencialmente melhorada com o fornecimento de informação adicional sobre o início da transição.
Indicadores de contagem regressiva têm sido amplamente utilizados e aceites, em maior escala em países do Leste Asiático, com resultados satisfatórios ao nível operacional e de segurança.
Este tipo de equipamento dá indicação do tempo restante, antes da mudança de estado dos sinais luminosos convencionais (por exemplo, amarelo e vermelho). O pressuposto básico é que os utentes da via vão aplicar essas informações, para tomar melhores decisões sobre o momento adequado para parar e avançar. O dispositivo é utilizado em conjunto com a normal sinalização luminosa de tráfego, funcionando como uma peça auxiliar de todo o sistema.
Os dispositivos de contagem regressiva destinam-se a proporcionar benefícios de segurança e operacionalidade, através de:

• melhorar a capacidade de interseções sinalizadas, reduzindo o tempo perdido;
• ajudar os motoristas a compreender melhor os fluxos de tráfego;
• permitir aos motoristas para tomar decisões sobre o tempo restante da fase verde ou vermelho;
• reduzir a frequência de acidente nos cruzamentos.
Segundo estudos realizados, a instalação de um dispositivo de contagem regressiva para o tempo de vermelho, destinado a veículos, tem um impacto positivo, enquanto no tempo de verde aumenta a probabilidade de acidentes nos cruzamentos. Pode haver várias explicações, no entanto, a razão principal é o desvio de atenção do motorista a partir da interseção. Quando um motorista decide passar por uma luz verde, presta maior atenção ao indicador da contagem em vez verificar o que está a ocorrer no cruzamento, especialmente durante os últimos segundos. Por exemplo, o condutor do veículo anterior pode optar por desacelerar e parar no cruzamento, enquanto o condutor do veículo seguinte acelera na tentativa de passar a intersecção. Como o dispositivo de contagem regressiva para o tempo de verde teve efeitos negativos sobre a segurança e a eficiência, tem havido uma alteração da política de instalação destes equipamentos, tendo-se procedido em diversos locais à desmontagem ou desligamento dos dispositivos. No entanto, a instalação de dispositivos pata contagem do tempo de vermelho tem algumas vantagens."

NOITE BRANCA CANCELADA





 A “Noite Branca” –plano de intenção de manter os estabelecimentos comerciais abertos até à meia-noite-, produzida pela Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC), prevista para se realizar hoje foi cancelada devido ao mau tempo.
Segundo Carina Alves, da APBC, “se o tempo o permitir, será reagendada para a próxima sexta-feira, dia 4 de Outubro. Caso as condições meteorológicas o permitam, volto a repetir.”

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

EDITORIAL: A CAMPANHA DO VALE TUDO


 O candidato do Partido Socialista (PS) à Câmara Municipal de Coimbra Manuel Machado, juntamente com a sua comitiva, andou hoje, durante a manhã, a distribuir rosas nas lojas da Baixa da cidade.
Sabendo-se o estado económico-financeiro da maioria dos comerciantes, muitos deles, em que me incluo, que, para além de não ganharem para as despesas diárias de água e luz, já não têm dinheiro para comer, pergunta-se: o que é isto?
Apesar de ninguém falar do que está acontecer aos lojistas, nem os interessados sofredores, que preferem morrer em silêncio do que denunciarem esta tragédia social, nem outros que se apercebem e fazem que não vêem, este é o estado real da Baixa. Pergunto-me muitas vezes onde está a coragem destes profissionais que preferem fugir, com o rabo entre as pernas, a darem a cara pelo que lhes está acontecer. Interrogo-me diariamente como, com esta apatia e entorpecimento social, se há-de mudar o País? O interessante, sem interesse nenhum, é que todos, no diz-que-disse, defendem uma mudança neste sistema político que, como nuvem tóxica, está a matar toda uma classe profissional. No entanto, como árvores fustigadas por vendaval, cai um, cai outro e, num continuum que se transformou em rotina de andróides, ninguém se importa ou parece dar importância. Cada um, à sua maneira, olha para este claudicar do vizinho com alguma comiseração e sempre a pensar que, nos intervalos dos pingos de chuva, se vai safar. O resultado, nos últimos dois anos, é uma verdadeira catástrofe social. Num silêncio incomodativo, assiste-se a um paulatino desaparecimento à míngua.
Voltando à distribuição de rosas pelo candidato do PS, numa altura em que, como manto negro que se abateu sobre esta zona, a miséria assentou arraiais no Centro Histórico, é uma ofensa esta distribuição despesista. Sabendo todos que uma rosa é mais cara do que uma sopa, porque não ofereceu ele uma tijela com caldo e uma côdea aos comerciantes?
O mínimo, o que se esperava deste concursante à cadeira do poder da Praça 8 de Maio era contenção orçamental numa época de crise económica como a que estamos a viver. Até porque o que se aguardava deste candidato é que marcasse a diferença entre ele e o seu principal opositor, Barbosa de Melo, que, nos últimos dois meses, mais não tem feito do que anunciar obras pela cidade e suas freguesias. Bem se sabe que um e outro casos são intrinsecamente diferentes. Um, enquanto locatário a ocupar um cargo de representatividade colectiva, tendo obrigação de ser poupado, coibido nas verbas públicas que lhe são confiadas, endivida a autarquia para o futuro. Seja ele ou outro, quem vier depois que pague a factura. Nem que para isso se continue a aumentar taxas municipais sobre quem já nem dinheiro para se alimentar consegue. Outro, este de Manuel Machado, sabe-se que as verbas gastas com rosas ou são pagas pelo partido –e aqui já entram dinheiros públicos- ou pelos apoiantes ou pelo candidato. De qualquer modo, um cidadão, como eu, questiona-se como é possível continuar este forrobodó que indigna qualquer um mais atento.
Aliás, até vou mais longe, se o País está na indigência, se as autarquias estão assoberbadas em dívidas, o que faz mover tantos candidatos na sua direcção? Será apenas pela intenção de fazer melhor? Como cidadão que pensa nestas questões e minimamente informado lamento dizer: DUVIDO. Num cepticismo, num pessimismo que se me colou como uma máscara e que me transformou num tipo azedo e de maus modos, não acredito nos candidatos. Apesar disso, com um grande nó na garganta e sabendo que não remediarei nada, não me escusarei à participação de sufrágio. Vou votar no próximo domingo. E mesmo sabendo antecipadamente que tudo vai continuar igual, acredite-se, não votarei em branco.


UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...




Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "OS SEMÁFOROS DO DESPESISMO":



Discordo da inutilidade dos temporizadores. Poupa combustível e embraiagens.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

BOM DIA DE CHUVA, PESSOAL...

A EVOLUÇÃO DO GÉNERO


(Roubado numa qualquer esquina do mundo virtual)

A FRASE DO PENSADOR

(Imagem da Web)


  "Temo o dia em que a tecnologia se sobreponha à nossa humanidade. O mundo só terá uma geração de IDIOTAS." 
(Albert Einstein)

(Tomando um café)

(Confraternizando num restaurante)

(Desfrutando a arte num museu)

(Uma agradável conversa num café)

(Gozando um dia de praia)

(Namorados a divertirem-se)


(RECEBIDO POR E-MAIL)

terça-feira, 24 de setembro de 2013

OS SEMÁFOROS DO DESPESISMO



 Nos últimos dias fomos surpreendidos pela colocação de temporizadores em todos os semáforos da cidade. Em juízo de valor, é muito provável que à maioria até passe despercebido, mas, para quem se deu conta, mais que certo, estará a interrogar-se para que serve cronometrar o período de espera, no máximo um minuto, que medeia entre o vermelho, laranja e verde. O tempo se vai encarregar de provar que estas loucuras insensatas, gastadoras e despesistas do erário público, são contraproducentes à saúde pública. Pelo aumento do batimento cardíaco, são geradoras de ansiedade e desencadeantes de angústia. Mais ainda, são anátemas, maldições, instrumentais que, num perseguir obsessivamente um modernismo bacoco, transformam a vida quotidiana num inferno. Aquele minuto de espera enquanto o verde não caía era um momento raro de introspecção individual para muitos de nós. A colocação destes relógios nos sinaleiros electrónicos, para além do absurdo, pelo vazio de utilidade prática, é uma invasão na nossa rotina intimista. Haja bom senso, por amor de Deus!

UMA ENTREVISTA À "COR DO SOM", DO CLUBE DA COMUNICAÇÃO SOCIAL



Há dias fui entrevistado no programa "Cor do Som", do Clube de Comunicação Social de Coimbra (CCSC). Por pouco não havia "pancadaria" no estúdio entre o convidado entrevistado -que por mero acaso era eu- e o entrevistador Braga da Cruz. 
Perca cerca de 30 minutos a ouvir. Passando a imodéstia, acho que vale a pena. Nem que seja para apreciar o pingue-pongue verbal travado entre os dois. Aos órgãos directivos do CCSC o meu agradecimento. Não merecia tal distinção. Ao presidente Braga da Cruz as minhas desculpas pelo meu algum extremismo, pelo meu exacerbar de posições assumidas no programa. Bem-haja.

UM COMENTÁRIO INTERESSANTE...




Todos os dias tomo contacto com situações de puro egoísmo que me põem os cabelos em pé. De quando em vez, como se a querer contrariar esta tendência e a mostrar que a humanidade estará a salvo, sou surpreendido por manifestações iguais a esta. Ora veja! Diga-me se, perante uma coisa destas, não é caso para gritarmos de júbilo.



 Júlio Parente deixou um novo comentário na sua mensagem "O LUSO DO MEU (A)GOSTO":



 Olá amigo. O meu nome é Júlio Parente, sou de Seia. Faço parte de um grupo de amigos das duas rodas, chamado "Roda Punho da Póvoa Nova". No dia catorze de Setembro fizemos um passeio a Mira. No regresso parámos no Luso, e encontrámos o Rui que tocou umas musicas para nós. Reparei na sua cara um pouco triste, certamente porque, ao cantar que não lhe davam grande atenção. ao terminar a sua música ninguém bateu palmas; resolvi bater eu palmas e dizer aos meus amigos para o fazerem também. E tirei um sorriso da cara do Rui que valeu pelo dia inteiro. Reparei que tinha a sua viola estragada, já um pouco velhota. Juntamente com os meus amigos, estamos a organizar uma ida ao Luso para oferecemos uma viola nova ao Rui -é claro que descobri o Rui através do seu blogue. Agradecia muito que entra-se em contacto comigo para fazermos esta oferta ao Rui.
Pode contactar-me para o meu telemóvel: …. ou pelo mail: julio…. com.
O meu muito obrigado.


sábado, 21 de setembro de 2013

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...




JC Couceiro deixou um novo comentário na sua mensagem "RUA VAZIA, PORQUE ME DEIXAS TRISTE?":


Esta imagem é realidade. Pena é que a paisagem comercial não tenha a mesma capacidade de reacção do Carlitos, pois ele, embora tenha momentos assim, (triste e letárgico) mas também tem momentos de reacção, como o que ontem testemunhei, no voluntarismo que o caracteriza, a fazer de calceteiro num dos patamares das Escadas de S. Tiago, e que deveriam fazer reflectir certas instituições da cidade.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

EDITORIAL: OS BENQUISTOS DA CIDADE



 São cerca de 14 horas nesta última quinta-feira. Venho dos lados da Rua da Sofia. Como todos os dias, em frente à Câmara Municipal vou ser barrado pelas jovens utentes da meritória obra da Comunidade São Francisco de Assis, que me vão tentar sensibilizar para ou comprar um objecto ou contribuir com uma moeda. Ainda que compreenda completamente o fim deste peditório –porque contribuí no primeiro dia- sinto-me quase agredido pela forma como é feito –aliás, bem na mesma linha de outros para instituições de solidariedade que se fazem nas ruas largas. Sinto um conflito, porque sei que se não se dirigirem directamente aos transeuntes todos passam ao lado e nem um cêntimo cairá na esperança de vida destas associações de solidariedade. Mas, por outro lado, este género de aproximação, de abalroamento massivo, chateia e, porque caíram na vulgaridade repetida, cria em nós anticorpos, uma má vontade imanente, que faz repelir toda e qualquer solicitação, seja para boas ou más causas. Perante a beleza da garota da Comunidade da Irmã Teresa não posso evitar lançar um olhar ao seu belo colo. Estou velho, eu sei. Quando passamos a "alimentar-nos" e a contentar-nos com imagens, pressinto, estou realmente no epílogo da vida. Paciência! Passemos à frente, que esta parte era perfeitamente desnecessária. Com a bela rapariga ao meu lado, mesmo mirando os atributos que Deus lhe deu –e que tenha compaixão de mim por esta minha fraqueza-, de uma forma cínica, vou dizer-lhe: tenha dó! Não pode ser todos os dias, menina! Também sou pedinte! Ela vai rir-se, pensando que estou a brincar –é interessante verificar que quando falamos sério, dizendo a verdade, por parecer tão inverosímil, quase nunca acreditam no que dizemos. Deixo a miúda de mão estendida. Nos poucos metros que me separam da Praça 8 de Maio vou a pensar nesta triste realidade em que estamos transformados. Uma obra tão meritória e de entrega ao próximo, como sei que é esta da Comunidade de São Francisco de Assis, para sobreviver tem de estar a prostrar a mão há vários dias naquele local. Sinto algum desassossego. Deveria ser mais generoso. Deveria lembrar-me de outras ocasiões em que também já pedi. Mas enfim! Avancemos, que estes desabafos não interessam nada a quem lê.
Percorro uma dezena de metros e estou agora no átrio da Igreja de Santa Cruz. No patim do vetusto templo um homem realiza e apresenta um espectáculo de magia, inserido na 17.ª Edição dos Encontros Mágicos de Coimbra. Em baixo, na pedra clara e plana, e em cima, na esplanada do Café Santa Cruz, cerca de meia centena de pessoas assistem à performance do artista estrangeiro, salvo erro espanhol.
Por momentos, vou parar e pensar. É o circo na cidade. Tento ter uma conversa séria com os meus botões. Ilusoriamente, como se me dividisse em dois heterónimos, começo a admoestar e a interrogar um deles: “lá estás tu com essa mania de criticar tudo! Fosca-se! A animação não faz falta à cidade? Se calhar, se não houvesse nada, às tantas, serias tu o primeiro a criticar, não?”. Imaginariamente a minha outra personalidade vai responder: “pois, bem sei que não é fácil de gerir uma colectividade. Tens razão, mas, comparando com o acto de pedir para a obra de São Francisco de Assis, há qualquer coisa que me coloca os cabelos em pé. Apesar de podermos classificar ambos de espectáculos cénicos, no sentido do desempenho social, cada um deles tem uma moral diferenciada. Um, o da irmã Teresa, de maneira altruísta, salva crianças sem pais, forma pessoas para a vida, tentando evitar que caiam na delinquência, e para o conseguir o que tem de fazer? Estender a mão à caridade. A outra, a mostra de magia, numa linha de entretém, em que o circo substitui o pão, distrai e ilusoriamente alimenta as massas. Mas há uma questão de pormenor, que é demasiado importante para deixar passar em branco: estes shows, que começaram em 1998, inseridos na 17.ª Edição dos Encontros Mágicos de Coimbra, este ano, durante cinco dias, custam ao erário público a módica quantia de 36 mil e 500 euros mais IVA; no ano passado 31 mil e 609 euros mais IVA; em 2007 60 mil euros; em 2006 54 mil euros; em 2001 custaram 26 milhões 240 mil escudos, na nova moeda 130 mil e 1200 euros.”
Lá estás tu! Isso são mesmo pormenores!”

CANDIDATOS À MODA DE COIMBRA...



Tudo ao molhe e fé em Deus... na mesma lista...

RUA COM GENTE, PORQUE ME DEIXAS ALEGRE?



Repare-se no ar concentrado e seguro, algo místico, do senhor Mendes.  Este homem é um dos muitos figurantes que diariamente percorrem as pedras do Centro Histórico. Quase nunca damos por eles. Só têm direito a manifestações pungidas de dor no dia da notícia do seu desaparecimento, da sua morte física. São figuras típicas das cidades, pitorescas, que me encantam. De todos eles já contei parte das suas histórias tantas vezes imaginadas por eles mesmos. E isso, considerando que seja mentira, interessa para alguma coisa? Esta é do meu "afilhado" "Fura-mundos".


TEXTOS RELACIONADOS

O Onzeiro” 

RUA VAZIA, PORQUE ME DEIXAS TRISTE?



Tome-se atenção ao enquadramento ambiental de tristeza e solidão entre homem e paisagem. É o nosso "Carlitos", mais conhecido por  "popó", "pipi" ou sei lá que mais. Já falei tanto dele aqui, aqui e mais acolá...

LEIA O DESPERTAR



Para além  do texto "REFLEXÃO: VER PARA ALÉM DA NUVEM", deixo também as crónicas "NAS BARBAS DO DEIXA-ANDAR"; e "O ÚLTIMO DIA DA NOSSA IMPÉRIO".




REFLEXÃO: VER PARA ALÉM DA NUVEM

 Os jornais locais desta última segunda-feira, Diário de Coimbra e Diário as Beiras, davam à estampa a primeira página com o título “Agente da PSP preso após assaltar casa”. Quatro dias antes, nos mesmos periódicos, a “caixa-alta” era assim: “Assaltou à mão armada após falência da loja”. Já para não falar nos roubos noticiados que não merecem destaque especial vemos que estamos transformados numa sociedade em fim de linha, recorrendo a tudo, incluindo a violência, para sobreviver.
Não pretendo lavar o ato em atenuantes de águas sujas mas, por um momento, gostaria de pedir reflexão para o que está a acontecer a pessoas que, independentemente da profissão, sempre levaram uma vida digna e agora, pela força das circunstâncias, se vêem empurradas para o crime. Será que para além da vontade em praticar o facto não estiveram motivações poderosas? E quem desencadeou essas causas pode, como Pilatos, lavar as mãos na denominada moral social? Uma sociedade que tem o valor ético como fio condutor que entrelaça as teias da coletividade nos costumes, ethos, assentes na justiça, na equidade do tratamento justo, precisa do princípio da segurança, por parte do Estado, como um primado subjacente à sua existência -a seriedade, enquanto valor honestidade, só se multiplicará se estiver alicerçado na reciprocidade e estiverem criadas condições mínimas de convivência social. Quando falta esta base ínfima, que transforma um cidadão cumpridor num ladrão, os valores desaparecem e só se poderá esperar o pior que existe dentro de cada um de nós. Ora o que está este Estado, enquanto entidade abstrata de representação comunitária, a fazer aos seus cidadãos que jurou defender em Contrato Social assente na Constituição da República? Como juiz em causa própria legislando ao sabor das suas conveniências, numa arbitrariedade subversiva, por um lado, visando o vínculo relacional do funcionário público, a montante baixa-lhes o salário, único rendimento para fazer face a despesas assumidas anteriormente e incentivadas numa base de confiança política, e, por outro, a jusante aumenta-lhe a carga fiscal a pagar. Por outro lado ainda, sabe-se que ao cortar os rendimentos dos assalariados da função pública, inevitavelmente, se vai mandar para o charco a procura interna e, consequentemente, abalar toda a economia com falências, com desemprego em massa, cujo objeto visa unicamente baixar os custos do trabalho. Na subsequência, os privados, tal como a função pública, com compromissos financeiros assumidos, confrontam-se perdidos neste cenário de guerra onde, em estado de necessidade, a ação direta prevalece e vale tudo para sobreviver. Perante o que está acontecer, poderemos condenar sem mais nem menos quem se vê obrigado a recorrer ao crime?



NAS BARBAS DO DEIXA-ANDAR

O homem que sobe a encosta e caminha na minha direção, apoiado numa bengala, parece puxado por fios invisíveis que lhe dão alento e fazem esquecer o peso de muita história corrida em muitas décadas passadas. De seu nome Augusto Bastos Dias, nasceu em Lograssol, uma pequena aldeia irmã-siamesa da Vacariça e que a dois passos tem o Luso como padrinho. Viu a luz pela primeira vez em 1926, ano da requisição de Salazar para Ministro das Finanças pela revolução militar de 28 de Maio de 1926 –que não aceitou, ocupando a pasta somente em 1928-, que instituiu a Ditadura Militar e viria a contribuir para a implantação do Estado Novo. Desde miúdo, de cueiros, que se lembra do País em crise, ou não tivesse sofrido no corpo as agruras da pré e após 2.ª Grande Guerra em que uma sardinha era dividida em três na humilde casa de trabalho árduo campestre. Se o calcar fogo imuniza os pés à dor, estas memórias de penúria não o acomodaram e, pelo contrário, fizeram de Augusto –do latim sublime, sagrado, grande- um combatente na arena da polis, habituado a lutar pela defesa das ideias em que acredita, em que nem a idade de 87 anos o faz render-se ao situacionismo crescente como erva daninha em campo sem cultivo. Foi emigrante muitos anos na Alemanha. Foi neste país teutónico que sentiu a disciplina e o respeito pelo bem-estar do cidadão comum. Ali, nesta grande nação europeia, aprendeu a dar-se aos outros para receber. Considerar o próximo para ser considerado.
Num tempo de sociedade acrítica, passiva e conformista, que apenas responde aos estímulos egoístas, Bastos Dias é a antítese do homem apagado, sem brilho nos olhos e sentado no sofá. Augusto é um revolucionário urbano que sente faltar-lhe o tempo para modificar as coisas. Lá em casa, na pequena sala, aquela velha máquina de escrever, se falasse contaria, é a testemunha viva dos desabafos despejados nas muitas cartas enviadas a tantas instituições que detêm o poder de decisão em Portugal. Raramente lhe respondem, mas, como maratonista persistente, este lutador de ringue não desiste. Ele sabe que, enquanto cidadão, está a fazer o que deve –e quem faz o que deve faz o que pode, dizia Torga.
Desta vez, ao vir ter comigo, Augusto traz consigo um desânimo que o atropela num caso que para ele, idoso vulnerável pelas dores do corpo, e para tantos outros da sua idade é um suplício. Mas para se sentir o martírio de estar tolhido pela idade tem mesmo de se ser velho, estar lá no epílogo da vida, e experimentar a dificuldade de locomoção. Porém, como todos julgamos ser eternos nunca pensamos na velhice e quando se lá se chega à enseada de ancoradouro já é tarde para se alterar o que quer que seja.
Bastos Dias reside junto à Rua Carlos Seixas e diariamente toma o autocarro junto ao espaço onde se realiza a feira semanal do Bairro Norton de Matos. Se durante a semana não tem problemas em subir para os veículos, já ao sábado, dia do certame, não é assim. É que toda a área destinada a paragem fica ocupada com automóveis e, quase sempre, com carrinhas de teto elevado obstaculizando a visão de aproximação. Em consequência, obriga os muitos idosos como ele a estarem em pé e a percorrerem mais uns metros até ao transporte coletivo. “Para a maioria –diz-me-, gente nova que se move bem, este queixume até é comezinho, mas, por exemplo, imagine-se andar de muletas, verá o quanto custa percorrer uma pequena distância ao calor ou à chuva. Sinto-me espoliado do meu direito. Já me dirigi verbalmente ao senhor Comandante da Polícia Municipal –a primeira vez que o fiz ainda era o senhor Manuel Lobão que dirigia este corpo de agentes-; já apresentei requerimentos ao senhor Presidente da Câmara Municipal de Coimbra; ao senhor Comandante da PSP; ao administrador dos Transportes Urbanos de Coimbra –destes só obtive resposta deste último. Já fui à reunião do executivo municipal, mas tudo continua na mesma. Enquanto as forças não me abandonarem vou continuar a reclamar. Será que ninguém pensa que um dia também vai ser velho?”




O ÚLTIMO DIA DA NOSSA IMPÉRIO

 Nas ruas largas da cidade, os altifalantes colocados nos veículos, em alto som e acompanhados com música, como Messias Salvador, divulgam as propostas dos candidatos à autarquia de Coimbra. Todos anunciam uma nova vida. As frases espalhadas ao vento parecem ter sido todas coladas com cuspo. É “Juntos por Coimbra”, é “Coimbra com amor”. De repente, neste final de verão, Coimbra passou a ser a amada, a venerada, a mãe de todas as virtudes.
Alheio a tudo isto, a este ambiente de festa, um homem sozinho e amargurado sofre a bom sofrer. Mais que certo com as lágrimas a correr pela face cansada de uma vintena de anos a comandar um navio que, a navegar contra a corrente, verdadeiramente nunca dominou. Sem apelo com agravo, sem pompa nem glória, sem memória pelo seu esforço, sem uma palavra amiga pelos seu empenhados desempenhos, físico e financeiro, este comandante, que dá pelo nome de António Barroso Martins, vê este cruzeiro que se chama “Império”, de cerca de sete décadas a sulcar as águas deste lago de insensibilidade na Baixa de Coimbra, submergir hoje. Fica o homem, porque é forte e a tudo resiste, mesmo aos sopapos da vida. Ele sabe que se vão os anéis e ficam os dedos. Só perde quem tem alguma coisa para perder. Só larga dor quem ama algo que como escultor na pedra dura viu surgir a obra-prima saída do ponteiro e da sensibilidade do seu olhar. O amor é um processo maturado em longas noites de insónia. Hoje morreu a nossa Império. A cidade está de luto. Até aqui ninguém se importou com a saúde periclitante deste histórico e reputado café do Centro Histórico da urbe. Amanhã, presume-se, haverá uma procissão para visitar a morte morrida deste ícone de memória. Haverá frases angustiadas em jeito de interpelação Lapalissianas: “a Império fechou? Não pode ser! Ainda ontem estava aberta!”. Haverá outras que, como juiz em processo sumário, sentenciarão: “as empresas nascem e morrem. Ponto final!”.
Distante de todas estas especulações, no escritório do primeiro-andar, António Barroso Martins, o dono da Império nos últimos 20 anos, está à minha frente de olhos semicerrados. Está conformado com o rumo que o destino se encarregou de dar ao seu projeto existencial. “Eu tive culpa, sabe? Como todos os empresários, sou ambicioso. Tive demasiada fé nas minhas forças e falhei. Eu fui o forcado que tentou pegar o touro pelos cornos sozinho. Faltou-me a ajuda na retaguarda. Em 1993 esta casa tinha 43 empregados. Estava na falência, sem crédito bancário e com dívidas de mais de 40 mil contos, duzentos mil euros na nova moeda. Nessa altura a economia como barco em alto mar velejava à bolina. Acreditei que era possível manter o pessoal e, para não o despedir pagando elevadas indemnizações, fui injetando aqui dinheiro ganho em outros negócios. Tenho cá mais de um milhão de euros que, como pó, desaparecerá ao vento. Tenho ainda 4 funcionários. Sinto muita pena destes. Muita, mesmo! Dos outros seis, dos que desencadearam a insolvência, nem por isso! Embora compreenda a sua motivação como credores. Mas eu perdi muito mais aqui. Foram duas décadas da minha vida que se apagam hoje. Ainda ontem, de manhã, fui à Loja do Cidadão, à EDP, pedir para pagar em prestações a eletricidade que estava na iminência de corte. Disseram que não era possível fracionar. Como sempre tenho feito nos últimos anos, peguei na minha reforma e fui liquidar a dívida. Hoje fui surpreendido pela visita do administrador da massa falida. Tenho de encerrar hoje mesmo. Perante isto, o que fazer? Hei-de sobreviver! Vai ser muito duro, eu sei, mas não sou o único!”