quarta-feira, 30 de março de 2011

O DIA DO ARMAGEDON

(IMAGEM DA WEB)



 Tenho de confessar, gosto de conversar com pessoas que defendem teses, sobretudo aquelas a que ninguém dá um minuto de importância. Não sei muito bem se esta minha propensão para ouvir a tragédia terá algo de sádico. É possível. É mesmo bem possível. Perante uma inverosímil argumentação, em que qualquer um começa a rir à gargalhada, contrariamente, comigo acontece o contrário. É como se um sininho na minha mente começasse a tocar para me avisar de que, pela diferença, vale a pena ouvir. Então a minha máscara de “jornalista” toma conta do meu rosto e nem um músculo se contrai. Sou todo ouvidos e muita atenção, não vá o meu interlocutor pensar que estou a gozar com a cara dele ou dela. É verdade que, às vezes, não sei muito bem porque estou a ouvir, mas continuo. É como se estivesse à espera de escutar uma história do arco-da-velha. Quando são invulgares gravo mentalmente e depois escrevo-as aqui.   Hoje aconteceu-me um destes casos invulgares. Sem quê nem para quê, ela atirou assim de repente: “Você acha que o mundo está a caminhar no bom sentido?”. Era uma mulher de quarenta e poucos anos. Olhar assertivo. Cabelo pintado de castanho a disfarçar umas cãs prateadas. Vestia modestamente.
Mais uma vez o sininho na minha mente retiniu em toque de Trindades. Um pouco titubeante, fixando os meus olhos nos dela, respondi: penso que não. E ataquei logo com uma pergunta: porque é que me interroga?
-Nada de especial, mas o senhor já viu que o Mundo anda todo em guerra?
-E não foi sempre assim? Questionei para a espicaçar.
-Não, não foi não. Foi a partir do momento em que o homem pecou. Satanás tomou conta da Terra e agora é ele que manda. Mas o fim está para breve. O dia do Armagedon vai repor todo o equilíbrio perdido. Cristo vai tomar conta da Terra…
Você acredita em Deus?
-Não. Sou agnóstico –respondi.
-Ah…não acredita em nada, não é?
-Não, não é bem assim –disse eu a tentar tranquilizá-la. O agnóstico não nega totalmente a existência de Deus. Acredita é que a questão da sua existência não foi nem será resolvida. Está assim à espera da revelação. Estou a ser claro?
-Pois. Eu sou serva de Jeová e não duvido da sua existência. Ele está a ver-nos. Depois do “último dia”, em que a Terra será parcialmente destruída, só alguns sobreviverão. Eu sou uma deles…
-Já vi que eu não tenho salvação –interrompi assim um pouco dividido entre o incrédulo e o desdém camuflado.
-Ah…pois! Se calhar, não! Sabe que nem todos poderão ser eleitos. Eu fui escolhida porque sou boa pessoa. Não me meto em drogas; não ando metida na prostituição; não me meto em política…
-Ai não? –interrogo admirado. Então não vota?
-Não…já votei neste governo…
-Sim, já votou. Mas agora o Governo demitiu-se. Dentro de dois meses teremos novamente eleições…
-O senhor sabe o Pai-Nosso?...Pai-Nosso que estais no céu, santificado seja o vosso reino…”reino”…está ver? Jesus Cristo é que está sentado no trono…é Ele que nos governa. Estará próxima a Sua vinda. 140 mil pessoas, os escolhidos por Ele, governarão a Terra…
(Entretanto aproximaram-se algumas pessoas que pediram para interromper, queriam falar comigo. Falaram e foram à sua vida.)
Está ver? Está a ver? Sabe porque é que estas pessoas nos interromperam?
-Não…não sei. Presumo que precisavam de falar comigo…

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