quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

EDITORIAL: O EXCELENTÍSSIMO SENHOR COMERCIANTE

Proibido pagar em dinheiro transações de ouro superiores a 250 euros



Durante a manhã de hoje, sem que ninguém me encomendasse a empreitada, andei a percorrer muitas ourivesarias da Baixa. A minha intenção era, por um lado, sensibilizar os comerciantes para o facto das novas alterações legislativas para o sector de compra e venda de metais preciosos e gemológicos usados e que obrigam a ser acompanhados por um Avaliador Oficial reconhecido pela Contrastaria da INCM, Imprensa Nacional Casa da Moeda, por outro, e sobretudo, para saber se estariam interessados em frequentar um curso de avaliador oficial em Coimbra –no caso desta possibilidade se concretizar através do CEARTE.
Como sempre, fazer este tipo de incursões é um caso de estudo profissional-social. Ou seja, os resultados obtidos mostram como, apesar da crise –ou das crises, porque há várias em perspectiva- se continua a olhar para o lado e a fazer de conta que nada se passa. A maioria, numa apatia aflitiva, disse logo que não estava interessada. Perante este procedimento regimentar, com a entrada em vigor da lei em Novembro último, já desistiu de trabalhar com ouro e prata e gemas usadas. Embora em excepção uma minoria, curta, está eventualmente empenhada em conhecer o preço e candidatar-se a uma formação. São estes os mais simpáticos. Talvez porque, como eu, pensam que quando quase todos querem baixar os braços uma nova oportunidade se abre para os que resistirem.
Alguns que contactei, sem personalizar -é destes que quero escrever-, parecem ter o rei na barriga. Falam com notória sobranceria –como se ainda estivessem nos velhos tempos. A frase repetida é: “não me interessa! Não tarda vou encerrar! Não preciso disto para nada!”
Outros, “eu conheço muito bem a lei!” –mas começo a entrar na prescrição e noto que não sabem nada. A mais que um tive de sublinhar que não ganho nada com isto. O que me move é conseguir um número suficiente de interessados para que o curso possa ser ministrado na cidade. Pela sua parte, sem delicadeza, a arrogância, numa superioridade saliente, é uma constante. Falar com alguns até me deixou incomodado. Sem querer ofender quem quer que seja, acho que, acima de tudo estas pessoas, precisam mesmo de um curso de humildade. O mirar de alto-a-baixo é uma constante.
Para quem não me conhece, bem sei que o meu aspecto não ajuda, admito. Mas, com a idade, tornei-me mais circunspecto e passei a tomar em conta mais o interior. Coisas de velho, está de ver! Calça de ganga surrada, sapatos que já viram melhores dias, casaco a pedir substituição e, para piorar, não uso gravata. Mas, interrogando os ortodoxos que compram um livro pela capa, a forma de vestir é tudo? E precisam de ser quase grosseiros na comunicação? Valha-me Deus! Ou melhor, valha-os Deus!



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