terça-feira, 29 de agosto de 2017

BAIXA: MEDIDAS DESPENALIZADORAS E A FAVOR DA REVITALIZAÇÃO (13)

(Imagem de arquivo)




Tendo em conta a continuada situação de aproveitamento político, de empobrecimento e desalento que as actividades comerciais tradicionais da Baixa de Coimbra atravessam, diariamente e até às próximas eleições autárquicas de 01 de Outubro, vou sugerindo medidas que, se houvesse vontade política, poderiam servir para atenuar a queda e o encerramento de mais espaços mercantis.
Estou a escrever p'ro boneco? É o mais certo!

    Recuperar o agente policial de proximidade


Para melhor ilustrar o que defendo vou contar o que se passou hoje. Cerca das 11h30, na Rua Eduardo Coelho, um idoso com cerca de setenta e poucos anos, com roupas miseráveis e sebentas e cujo fedor não se aconselha aos mais sensíveis, apoiado-se em duas canadianas e transportando numa das mãos uma folha manuscrita A3 batia com uma das muletas na porta das lojas comerciais a solicitar uma moeda. O papel, com mensagem escrita à mão dizia mais ou menos isto: Tenho uma reforma de 264 euros e não chega para eu viver. Ajude-me para eu poder comer e pagar um quarto numa pensão.
Por, na mesma altura, um colega comerciante me ter alertado em surdina que o homem se tinha metido com uma prostituta e esta lhe ter furtado todo o dinheiro, fui falar com ele. Ora, o que constatei foi um velho aparentemente desmiolado, com um discurso incoerente, que não dizia coisa com coisa. Um mendigo das palavras. Era mais um velho do esquecimento, um homem sozinho. Afirmava ser da zona de Condeixa, mas não se lembrava de que aldeia. Disse ter dormido numa pensão, na Baixa, mas não sabia onde ficava. Parecia desorientado. Como arrastava as alpercatas desmazeladas com alguma dificuldade deduzi que não iria longe e tratei de encontrar um agente da PSP na proximidade. Debalde. Nas ruas em redor, na Praça 8 de Maio e até na Rua Visconde da Luz não avistei nenhum cívico. Da Polícia Municipal a mesma coisa. Como estava a cerca de uma centena de metros da 2.ª Esquadra fui lá e relatei ao agente de serviço na triagem o que se passava e se podia mandar um agente que andasse na zona para identificar o mendicante. Seria o homem um fugitivo de algum lar de idosos? Saberia a família por onde andava? Tentei inquietar o agente. A verdade é que, tocado ou não pelos argumentos, ligou para uns subalternos que, presumivelmente, andariam na zona e ordenou que se dirigissem às ruas estreitas. A verdade também é que -pelo menos que eu visse- por estas vielas não se vislumbraram. Do viandante homem sem identidade pouco se sabe. A sua história, acabada ou recomeçada, por não ser urgente, esperará por novos capítulos.

Há cerca de dezena e meia de anos que a Baixa, na mesma linha e acompanhando o esvaziamento de moradores, foi assistindo ao desaparecimento do chamado polícia de giro. Certamente tendo por objecto unicamente a poupança de meios, e provavelmente seguindo as ordens superiores do Ministério da Administração Interna, começou por ser retirada a vigilância nocturna -o que em 2007/2008 deu numa enorme vaga de assaltos e, para tapar os olhos com a peneira, redundou na instalação das câmaras de videovigilância -que na actualidade, pela santa burocracia, estão desactivadas. Depois, quando os ventos e as levadas ciclónicas acalmaram, progressivamente, não só se foram os da noite como paulatinamente foram retirando os agentes da rua durante o dia. É certo que, de vez em quando, andavam por aqui dois agentes da Polícia Municipal, mas isso foi Sol de pouca dura. Hoje, na Baixa, numa zona densamente povoada por turistas nacionais e internacionais, contam-se pelos dedos de uma mão os profissionais de segurança visíveis.
Pode até pensar-se que o que está em causa será a segurança física e psicológica de transeuntes, mas não é só isso. Um ou dois agentes numa zona é um factor de tranquilidade que enriquece todo o meio populacional em redor. Para além disso, embora com uma conotação saudosista negativa mas utilitária, como “polícia de costumes” pode ajudar a cumprir premissas de várias posturas municipais entre elas, por exemplo, a limpeza. Se houvesse cívicos por aqui, mais que certo, não continuariam a ser depositados sacos com lixo a qualquer hora do dia. Outro exemplo, o estacionamento anárquico de automóveis em zonas proibidas não continuaria a ser uma constante. Outro ainda, a necessária identificação de pessoas de rostos e comportamentos mal amanhados -como se sabe, chama-se a isto prevenção.
Vale a pena pensar nisto?


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