sexta-feira, 7 de julho de 2017

A ARTE DE CRITICAR SEM CRITICAR

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)



Está na moda falar de auto-estima da cidade. Fala o “polidor de esquinas”, fala o engraxador, fala o presidente, falam os candidatos a presidente, “falam” os câes, “falam” os gatos. O problema é quando, sobretudo os aspirantes ao poder, numa espécie de cocktail de ervas aromáticas, por um lado, apelam à crítica através da participação política dos cidadãos e, por outro, se queixam do “bota-abaixismo”.
Há muito tempo que tento entender a diferença entre “bota-abaixismo” e crítica. Nunca consegui chegar a uma conclusão. 
Fiz uma pesquisa na Internet, aqui, e fiquei a saber que o termo “bota-abaixismo” terá sido inventado por José Sócrates  para desvalorizar as críticas àquilo a que continua a chamar a governação, substituindo sem grandes vantagens estéticas a expressão “crítica destrutiva”. 
E já agora a palavra “crítica”? O Dicionário Online de Português expressa-se assim: “Análise avaliativa de alguma coisa; ação de julgar ou de criticar: submeteu o livro à crítica do professor.
Fiquei na mesma, claro que, como diria a outra, esta falta de apreensão terá a ver com a minha imbecilidade.
E para confundir mais ainda os meus neurónios padecentes, sobretudo o poder instalado e os candidatos ao poleiro, todos juntos, apelam constantemente à crítica cidadã, à estafada participação cívica e política, mas depois, são estes mesmos mensageiros da revelação profética que se queixam, amiúde, de “bota-abaixismo”.
Onde residirá a marca que distingue as duas palavras? Se calhar, digo eu que não entendo nada de psicologia social, uma crítica positiva, no correspondente a “bota-acimismo”, é o “está calado e cala-te” ou “continua calado se não estiveres de acordo com a nossa doutrina”.


A arte de interrogar é bem mais a arte dos mestres do que a dos discípulos; é preciso ter já aprendido muitas coisas para saber perguntar aquilo que se não sabe-Jean Jacques Rousseau

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