quinta-feira, 30 de março de 2017

ESTRELA POR UMA HORA







Num amável convite pela organização das “Jornadas Transdisciplinares”, durante cerca de uma hora, dissertei hoje na Faculdade de Psicologia de Coimbra sobre o tema “Rostos Nossos (Des)conhecidos”. Numa resenha histórica, englobei a Coimbra de antanho e a Coimbra de hoje.
Deixo aqui o texto escrito exclusivamente para o efeito:


ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS - DISSERTAÇÃO

A história das cidades remonta há milhares de anos. As primeiras terão surgido na Mesopotâmia, ao longo do rio Nilo, e sempre resultante da junção de pequenos lugares habitados. O crescimento de grandes impérios antigos e medievais levou ao aparecimento de grandes urbes como, por exemplo, Roma.
Durante a Idade Média, na Europa, uma cidade era tanto uma entidade política-administrativa como um conjunto de casario agregado. Com um quadro legislativo próprio, era o senhor feudal que impunha a sua lei. Com a queda do feudalismo, pela crise gerada nas relações entre senhores e servos, pela contínua imposição de obrigações, tributos e necessidade de permanecerem agarrados à terra, dos primeiros sobre os últimos, as cidades multiplicaram-se. Os camponeses, com o contingente populacional a crescer a par com as actividades artesanais e comerciais, recorrendo aos seus próprios meios de fuga para a liberdade, começaram a abandonar os feudos e a refugiar-se na periferia da cidade muralhada, onde, com a criação de feiras e mercados, permitia um melhor escoamento de produtos e, sobretudo, fugir ao absoluto controlo da entidade administrativa. Com o advento do Capitalismo e início da Globalização, com as viagens marítimas de circum-navegação, estavam criadas as condições para o desenvolvimento. Com a formação das associações de classe, “fraternidades”, e as “corporações”, que agregavam os seus membros em torno de estatutos comuns, bandeiras e santos padroeiros, surgiam as oficinas, em que a loja era o ponto de venda do produto aí criado, com os seus mestres, instaladas em ruas com ofício designado.
Em todas estas cidades, grandes ou pequenas, calcorreando as ruas, havia um quadro social comum que as unia: os loucos, os pedintes e a humilde gente do povo.
Os primeiros, os loucos, são seres com um elevado grau de demência que vagueiam na comunidade praticamente com total impunidade. Chegando a ser agressivos para o meio em que se inserem. Entre sussurros de espasmo verbal, nessa altura, algumas vezes pediam uma côdea ou uma moeda. No entanto, apesar da tensão, tal como hoje, assistia-se a uma desvalorização para os seus actos tresloucados.
Os segundos, os pedintes, ao longo da história, são as sombras pardas da colectividade. Tal como hoje, umas vezes mendigam por necessidade, outras por vício de obter um rendimento fácil e sem esforço.
Os terceiros, a gente humilde do povo, são a matriz identitária de um lugar habitado. Esforçados trabalhadores divididos em várias áreas, encontram no labor o único meio honesto de sobreviverem.
Com o aparecimento da Revolução Industrial, em finais do século XVIII, as migrações aumentaram do campo para a a cidade e estas desenvolveram-se cada vez mais junto de rios e em torno do litoral. Com o Estado-nação a surgir um século antes pelas ideias iluministas e a serem levadas à prática pela Revolução Francesa, estavam criadas todas as condições para a transformação da vida em sociedade urbana. Com a divisão do trabalho, com o burguês/cidadão a ser classificado de acordo com a sua função, se, por um lado, com este processo de mudança económica, pela primeira vez até aí, o padrão de vida das pessoas comuns começou a melhorar, por outro, aumentaram as desigualdades sociais e, consequentemente, cresceram os loucos, os pedintes e a gente humilde do povo. Sem grande rigor histórico e científico, será ao longo do século XIX que surge uma nova classe: os inadaptados. Embora bem-sucedidos na vida, a meio do percurso vieram a tergiversar, abandonam o rumo que tudo parecia indicar traçado e, muitas vezes ancorados em adicções, transformam-se em vidas errantes, em sombras de nós. Será porventura uma classe excedentária dos novos tempos, a limalha societária que transborda de uma sociedade que não tem complacência com os desiguais, os não-formatados, os não-alinhados nas suas convenções.

E EM COIMBRA?

Ao longo de todo o século XIX, retratados em publicações chegadas até nós, entre loucos, pedintes, gente humilde do povo e inadaptados, foram muitos os personagens típicos na cidade de Coimbra. Nos últimos, nos inadaptados, muitos deles foram também gerados no meio estudantil.
Ao longo do pretérito século XX proliferaram os “cromos”, designação atribuída aos diferentes entre iguais, que pela sua excentricidade deixaram forte marca na cidade. Embora se repartissem entre todas as categorias, foram alguns loucos e pedintes que atingiram notoriedade lendária, em projecção nacional e além-fronteiras, precisamente por estarem fortemente ligados aos usos e costumes dos estudantes universitários. Para ser mais exemplificativo, falo exactamente de dois personagens, que conheci bem: O “Tatonas”, de nome de registo apenas tratado como Daniel e a restante alcunha como apêndice, e o “Taxeira”, registado civilmente como Manuel dos Reis Carvalheira, que tem o seu nome gravado para a posteridade na toponímia coimbrã.
Neste século XXI, pela crise económica instalada, que pela falta de meios estatais, tantas vezes desviados para fins malditos, tem vindo a gerar instabilidade social, é provável que hoje em Coimbra o leque de abrangência seja muito maior do que se pensa, quer na demência, quer na mendicidade, quer nos classificados como inadaptados. O povo, quer com restrições financeiras e apertos na bolsa e no coração ou não, continua humilde e boa gente. Talvez por isto, a Dona Adelaide, uma das retratadas na exposição, baptizada por mim como a “última tremoceira”, com a vetusta idade de 93 anos, continue a trabalhar diariamente na Rua Visconde da Luz. Se auferisse uma reforma digna que lhe permitisse gozar uma legítima velhice na paz dos deuses, certamente, não continuaria a laborar exposta ao frio e ao calor da cidade.

O OLHAR DE QUEM PASSA SOBRE QUEM ESTÁ

Pela minha experiência, constata-se que estes “disfuncionais”, enquanto são vivos, aparentemente, não desencadeiam exteriorizações de extraordinário afecto. Os transeuntes, passando ao seu lado, ignoram-nos completamente. Parecem fazer deles apenas mais uma personagem que deambula pelas ruas estreitas e largas do casco urbano de uma cidade velha. No entanto, quando morrem -quase sempre abandonados e sozinhos- provocam um estertor de sofrimento colectivo. As manifestações de dor são pungentes como se tratasse de uma alta individualidade.
Especulando, dá para pensar que durante a vida repetitiva e vazia destas pessoas, enquanto circularam por entre nós, por que nunca lhes tivéssemos ligado muito nem dado qualquer importância, perante o facto consumado do seu desaparecimento, subitamente somos acometidos de um certo complexo de culpa, como se, pela falta de atenção, nos considerássemos responsáveis pelo seu nefasto sumiço.
Se respondermos sem pensar, assim no óbvio, estou certo que facilmente nos pronunciamos com uma palavra: hipocrisia. Porém, a meu ver, esta declaração de pesar é muito mais profunda e, estranhamente, é mesmo sentida como um corte na alma de cada um.
Gostava de interrogar: afinal, o que são estas pessoas numa cidade? Carlos do Carmo, em fado versejado e musicado, chamou-lhes os “loucos na cidade”. Há cerca de 30 anos li uma tese de um advogado francês –que já não recordo o nome- em que defendia que estes indivíduos, diferentes da maioria no estapafurdismo, tal-qualmente como a pequena delinquência, eram um quebrar da rotina nas urbes e pela sua acção pragmática, ainda que por vezes negativa, impediam que, em mimética estandardizada, fosse tudo igual. Por outras palavras, transportemo-nos para um agregado onde não se ouve um barulho, uma imprecação, onde tudo é previsível, onde a paz social é uma constante, um lugar paradisíaco, será que conseguiríamos viver num lugar assim? Penso que não. O homem é um ser social e ao mesmo tempo associal, tanto precisa de estar só como acompanhado. É capaz das maiores demonstrações de carinho, de solidariedade e bondade. No entanto, este mesmo homem, a qualquer momento, é capaz de, num repente, virar homicida e assassinar sem mácula na consciência. Se for em guerra, com a desculpa de estado de necessidade, mata dezenas, centenas, milhares de humanos. É portanto, em sincronismo, um ser pacífico e conflituoso. Isto para dizer que, para além de todos sermos bipolares, temos absoluta necessidade de exteriorizar os dois sentimentos que transportamos dentro de nós como instintos siameses.
E nova interrogação: o que tem estes dislates que descrevi atrás a ver com os dois comportamentos antagónicos –desprezo em vida e carinho na morte- perante um óbito? Comportamento que pode não ser avaliado somente num vagabundo de rua e ser alguém relativamente chegado?
Pelo conhecimento implícito, um falecimento desencadeia sempre em nós várias sensações desencontradas. Lembra-nos, por exemplo, que somos finitos, que a nossa vida é efémera, que a qualquer momento podemos perecer –este pressentimento torna-se mais latente tanto quanto mais velhos estivermos e próximos do fim. Mas, acima de tudo, na generalidade, no âmago de cada um, acende a luz do perdão, da caridade, e extingue ódios recalcados. É como se aquela imagem da morte de outrem nos viesse lembrar que todos erramos e somos pecadores. Que somos seres frágeis e fracos, e que, um dia, não se sabe quando, iremos também precisar daquela absolvição. Digamos, por outros termos, que, no nosso viver compulsivo, o desaparecimento de alguém, uma morte súbita, que tomemos conhecimento, toma assim no quotidiano o efeito de choque de um objecto arremessado na nossa cabeça.
Por outro lado, isto em relação ao desaparecimento destas pessoas invulgares -chamemos-lhe dementes ou outro epíteto qualquer- que nos cruzamos na rua mas que, provavelmente, nunca trocamos uma palavra ou um sorriso mas que, inconscientemente, passamos a admirá-los, penso, para além do sentimento de perda, solta também várias intuições diferenciadas. Enquanto vivos, transeuntes na cidade, olhamos para eles como o outro lado do espelho, o reverso de nós, a nossa alma despida. Ao mirá-los, naquele estado decrépito, é como se fizéssemos comparação entre o que somos e o que poderíamos ser. Vemo-los como a materialização dos nossos medos. E ao constatar que somos diferentes para melhor recebemos uma mensagem de bem-estar instantaneamente. É como se ao vermos uma pessoa assim, diminuída, nos obrigasse a um balanço imediato, mas também passível de ser emergente num futuro próximo e esta impressão, pela dureza da imagem viva, activa a nossa defensiva e alerta-nos para um hipotético perigo. Esta ilacção, em projecção mental, pode continuar até ao desaparecimento físico e visual da pessoa fixada pelo nosso olhar. Nesta altura, quando perdemos esta visualização, haverá um sentimento de culpa que se liberta em pena e dor materializada na disponibilidade em fazer o que for preciso para colmatar o que não foi feito anteriormente. Como se, em cada um de nós, houvesse uma implícita e absoluta necessidade de expiação de culpa pelo lapso. Poderemos pensar que haverá nesta manifestação um descarregar, um lavar da alma, por, durante anos e anos, nunca lhe darmos qualquer importância significante.

O MEU OLHAR

Sempre gostei muito de escrever. Há cerca de quatro décadas que exerço esta minha inclinação. Sempre escrevi regularmente para a “Página do Leitor” dos dois jornais diários da cidade, o Diário de Coimbra e o Diário as Beiras. Porém, como tinha de estar limitado à boa-vontade das redacções, acabava por ser um suplício a não publicação dos textos. Quem escreve por amor, fazendo-o com total entrega diariamente, precisa de sentir que é lido. O seu leitor é o carburante que alimenta a “máquina” que produz textos em frases encadeadas umas nas outras, mas versando sempre um sentido positivo assente no estético e moral. Alegadamente, sem leitor não haverá escritor.
Foi então que em 2007, com a ajuda de uma amiga para a problemática da Internet, criei o Blogue Questões Nacionais. E então, a partir daí, senti-me um passarinho pronto a voar. Numa década, já escrevi cerca de 11 mil posts, que se dividem em crónicas, textos de análise, humor e drama. De forma acutilante, incido essencialmente sobre a Baixa da cidade. Como sou comerciante, porque sinto na pele o sofrimento de uma nobre profissão ancestral que decai a olhos vistos, falo muito sobre o comércio na cidade.
Gosto de intervir na sociedade. Tenho uma necessidade premente de me fazer ouvir. Pode muito bem ser para alimentar o ego. É provável! Mas pode também ser pela minha história de vida. Afinal somos o resultado da adição de várias parcelas; o meio em que nascemos e crescemos, os caminhos que percorremos, os tombos que nos fizeram cair e a mão anónima e desinteressada que nos ajudou a levantar. Como amplificador, tento elevar os queixumes de quem trabalha e reside na zona velha e endereçá-los às autoridades competentes. Sem falsa modéstia, sem peneiras, sou um mero mensageiro que, pro bono, coloca ao serviço da comunidade um talento que julga possuir.
Não sei se o que faço, pela subjectividade impressa, é jornalismo na verdadeira acepção da palavra. Mais que certo não será. O que sei é que no que escrevo, para além do princípio da seriedade que me rege, aplico quase tanto carinho como de um pai para filho. Qualquer escrito passa a ser meu, muito meu, gerado nas minhas entranhas.
Por outro lado, sempre me preocupei em dar voz aos mais humildes, aqueles que, vestidos de anonimato, com a sua idiossincrasia, calcorreiam as pedras milenares da Baixa de Coimbra e nunca são motivo de atenção pública, nem mesmo no último suspiro. Por que todos temos uma narrativa, falo com eles, ouço os seus lamentos, enalteço as suas virtudes e, romanceando com carinho, conto as suas histórias de vida. Como a justificar a sua existência silenciosa e errante entre nós, talvez com a veleidade de servirem como documento de estudo social comparativo para a posteridade, tento mostrar que são pilares da comunidade –por que, embora pareça que não, de facto, são mesmo nossos sustentáculos existenciais. Ainda que subtilmente, a sociedade revê-se em figuras que quebram as normas societárias e alteram as rotinas e, sem dar por isso, acaba a amar os diferentes entre iguais.
A ideia subjacente a esta iniciativa com o título “ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS” é retirar do silêncio da clandestinidade citadina pessoas que conhecemos a fisionomia mas, para além disso, nada sabemos delas. Amam, sofrem, têm laços familiares, vivem e sobrevivem de quê? Dando-lhes visibilidade, poderemos fazer algo por elas? Ou estamos simplesmente a retratar a sua passagem efémera nesta vida?
Nestes dez anos, já escrevi e retratei mais de uma centena de personagens que passam ou passaram pelas ruelas e becos da zona histórica. Pode perguntar-se o motivo de apenas figurarem 13 rostos - que, como um está duplicado, são apenas 12- nestas “Jornadas Transdisciplinares”? A razão é muito simples: obedeceu a um critério de escolha dos responsáveis pelas jornadas. Mas, quanto a mim, serem estas pessoas ou outras, não lhe retira importância. Valem pela simbologia. A humanidade evoluiu muitíssimo na informatização tecnológica de meios que nos permitem saber tudo o que se passa no outro lado do mundo e até adivinhar o futuro. Facilmente poderemos saber que clima podemos contar dentro de um mês. No oposto, continuamos a ter imensas dificuldades em comunicar com o nosso confinante, falando pessoalmente com o nosso vizinho do lado.
Se esta exposição nos fizer pensar, nem que seja somente no tempo em que estou aqui a palrar como um papagaio, tenho a certeza de que estamos a contribuir para construir à nossa volta um mundo melhor.
Muito obrigado pelo convite.

António Luís Fernandes Quintans

quarta-feira, 29 de março de 2017

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...




CP deixou um novo comentário na sua mensagem "SER OU NÃO SER CIDADÃO POR COIMBRA":


Subscrevo Caro Miguel Dias. Muitíssimo respeito pessoal e cívico pelo José Augusto Ferreira da Silva, que considero um lutador como edil, honrado e tantas vezes só. Demonstrou o que é ser um grande e sério vereador. Tenho imensa pena que ele tenha, aparentemente, sido seduzido para este caminho de apresentação de um candidato como um facto consumado, sem os aderentes opinarem nada. Não é verdade, do que observei, e passo a citar "perante a mera proposta, apresentada pelo Coordenador do CpC, de debater possíveis contributos de cidadãos exteriores ao movimento mas disponíveis para integrar uma candidatura centrada nos princípios do CpC, (...) viram-se confrontados com a rejeição abrupta de qualquer discussão política através de um acantonamento obstinado".
O que eu vi foi um anúncio na comunicação social de J. Manuel silva como candidato do CpC. Quem o fez e quem enviou como facto consumado à Comunicação social, não sei - e francamente nem me importa-, mas não foi bonito e as lamentações agora surgidas não reflectem o que vi acontecer. Tudo um equivoco evitável julgo eu, mas muito lamentável num movimento de cidadãos onde as coisas impostas assim não podem ser absorvidas de bom grado, como é evidente. Foi uma situação absolutamente evitável, por ser por demais previsível. Mas o caminho faz-se caminhando e o CpC continuará o seu bom caminho. Há gente de grande valor e alma no CpC e mais virão certamente. Ao José Augusto Ferreira das Silva devemos, como cidadãos, um grande agradecimento pelo trabalho tão empenhado e tão exemplar. 

segunda-feira, 27 de março de 2017

UMA IMAGEM QUE VALE POR MIL PALAVRAS



É ASSIM A BAIXA, NA ACTUALIDADE

A MORTE, A VIDA E A NATUREZA DECRÉPITA 

A MORTE -simbolizada no anúncio necrológico colado na parede de alguém que já fez parte da Baixa, partiu e a deixo mais desertificada; 
A VIDA ARRASTADA NAS PEDRAS DA CALÇADA -em exemplo dado pelo “mendigo turco”, cujo quadro social assistimos cada vez mais;
A NATUREZA E A SUA DECREPITUDE -paradigmatizada na flor, no acentuado estado murcho do jarro.

sábado, 25 de março de 2017

UM COMENTÁRIO RECEBIDO E UMA RESPOSTA DADA...




Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "ESTÁ A DECORRER UM ABAIXO-ASSINADO NA BAIXA E PEL...":

O desrespeito do executivo? Certo, eu também quero que eles façam cumprir a lei. Mas o desrespeito e vergonha não é sobretudo dos que abusam? Não conhece nenhum, senhor Luís Fernandes?



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RESPOSTA DO EDITOR


Começo por lhe agradecer o comentário, caro anónimo-conhecido. Vamos por partes, e respondendo às suas questões, que eu não quero que lhe falte nada.
Pegando na frase “eu também quero que eles façam cumprir a lei”, meu considerado, dada a sua posição privilegiada na Câmara Municipal, ninguém melhor do o senhor para o fazer. Se não faz é porque não quer. Ou seja, não está para se aborrecer. Até entendo, se as coisas correrem mal, restam seis meses, e em meio ano não se faz o que se deveria ter feito em quatro anos.
Continuando a rebuscar o seu ataque em forma de defesa, meu caro amigo: “Mas o desrespeito e vergonha não é sobretudo dos que abusam?”. É verdade que sim, senhor, a causa do problema reside nos que abusam. Mas abusam porquê? Porque há completa inoperância da PSP e Polícia Municipal. Estamos de acordo, não estamos? Ora se concordamos, pela nossa amizade, faça o favor de não empurrar com a barriga, a despachar para a frente.
E vamos à última sua afirmação, “Não conhece nenhum, senhor Luís Fernandes?”
Eu conheço apenas alguns -não todos, por que o problema atingiu tal descontrolo que já extravasou para o cidadão comum que já viu o furo, que se pode estacionar na Praça do Comércio à borliú por que raio vai arrumar o carrito no parque de estacionamento a pagar?
Mas o caro colega também os conhece muitíssimo bem. Ora, sem ofensa, vamos lá pegar o boi pelos cornos: não confunda a força da formiga com a do elefante. Por outras palavras, quero dizer que eu sou um (in)significante cidadão que somente tento elevar o queixume de alguns colegas. Não detenho nem exerço qualquer poder ao serviço de quem quer que seja -nem ganho nada por escrever. O contrário se passa consigo. O caro amigo é (bem) pago para cuidar dos bens públicos, da segurança jurídica, para garantir que as normas regulamentares são cumpridas.
Ainda lhe digo mais, lembra-se quando, muito irritado contra o anterior executivo, antes de fazer parte do poder actual, indignadíssimo falava comigo sobre o anárquico estacionamento na antiga praça velha? Esqueceu-se não foi? Ser-se oposição dá mais pica do que ser poder, não dá? Estar dentro do centro decisor, no turbilhão, é como um escafandro que se veste e abafa todos os nossos gritos anteriormente dados. É, não é? Sabe uma coisa? Gostava muito e tinha muito mais apreço por si quando estava na oposição. Você está uma sombra do que era, porra! E é pena!

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Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "UM COMENTÁRIO RECEBIDO E UMA RESPOSTA DADA...":


Não. Abusam, antes de mais, porque têm falta de civismo. Claro que a policia deve atuar contra quem prevarica, comete crimes, etc. Estou é farto da história de que a delinquência é culpa da sociedade, do Estado, da câmara, etc. Envergonhe-se quem abusa, sem meias tintas. Não foram colegas seus comerciantes os pioneiros do abuso? Não fazem muitos dessas ruelas e praças os seus estacionamentos particulares? Ora, é sobre eles que deve ser dirigida a sua indignação. Não é só jeremiadas sobre os pobres dos comerciantes da baixa.
Parece saber quem sou. Fica autorizado a colocar aqui o meu nome. Faça isso de vez, sr. Luís Fernandes. 



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Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "UM COMENTÁRIO RECEBIDO E UMA RESPOSTA DADA...":


É
irrelevante a origem do pecado. Se é preciso fazer cumprir a lei quem de direito tem de a fazer cumprir. Se a lei é injusta deve-se mudar. Não há terceira via.



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Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "UM COMENTÁRIO RECEBIDO E UMA RESPOSTA DADA...":



irrelevante a origem do pecado."? Isto está bonito, está... 


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Unknown deixou um novo comentário na sua mensagem "UM COMENTÁRIO RECEBIDO E UMA RESPOSTA DADA...":


Não é o assunto em questão que me fez comentar este post; foram estas afirmações: ”Não foram colegas seus comerciantes...» e «Não é só jeremiadas sobre os pobres dos comerciantes ».
O sr. anónimo parece ter qualquer problema com esta classe trabalhadora, classe esta que é o «motor» da Baixa. O que seria do centro sem comerciantes? Mais adiante diz: «colegas seus». Como quem diz, não tenho nada a ver com esta gente, são colegas do Luís, por isso não deve ser coisa boa! E logo a seguir remata com «jeremiadas» e com «pobres» de forma irónica.
Sr. anónimo, não sou comerciante mas não gostei da forma como descreveu os «colegas» do Luís. Não acho correto desprezar e generalizar toda uma classe com base no comportamento de alguns, em relação ao mau estacionamento. O que interessa a profissão do prevaricador? interessa é multar, rebocar, seja o que for a quem viola a lei. Noto no seu comentário um certo desdém pelos comerciantes da Baixa. É a minha opinião e vale o que vale.
Marco Pinto

Coimbra


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Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "UM COMENTÁRIO RECEBIDO E UMA RESPOSTA DADA...":


Não é desdém nenhum, nem meto tudo no mesmo saco. Mas isso das classes, não é o próprio sr. Luís Fernandes que se refere a todos os autarcas e representantes de Coimbra, assim, por grosso, e do outro lado diz ter razão de queixa toda a classe de comerciantes da Baixa? Pergunto: incluindo os que prevaricam?
A questão é que muitos dos problemas de abandono da Baixa pela população se devem à classe dos comerciantes. Desde logo, pela falta de modernização, depois, pela falta de união e participação activa no associativismo. É ou não verdade? Os bons comerciantes, que os há, na Baixa, incluindo os jovens, beneficiariam de um bom ambiente geral. A Câmara municipal tem obrigações, mas não pode fazer tudo. Ironicamente, acho que o estabelecimento do Sr. Luís Fernandes é um dos atraentes espaços comerciais e já aqui o tinha dito. Fossem todos como ele, e veríamos mais pessoas a calcorrear aquelas ruas e a entrar nos estabelecimentos. Neste caso particular do estacionamento, digo e repito que a culpa é, em grande parte, de muitos comerciantes. Arriscaria até dizer que são também esses que se queixam de que as pessoas não vão à Baixa, porque existem os centros comerciais. Não foi minha intenção ofender ninguém.

António

sexta-feira, 24 de março de 2017

ESTÁ A DECORRER UM ABAIXO-ASSINADO NA BAIXA E PELA BAIXA







Parece que habitamos na terra do nunca. Veja-se bem ao ponto a que chegámos. Ou seja, o cidadão comum, para que lhe seja atribuído o que legalmente tem direito, tem de recorrer ao Abaixo-assinado para fazer o poder político cumprir a lei. Estamos num estado de Direito, não estamos?
Este Abaixo-assinado, como grito de socorro vindo das profundezas da alma do primeiro subscritor, Sara Cruz, vale sobretudo pela denúncia, pela incúria, pelo ostracismo, pelo desrespeito como o Executivo da Câmara Municipal de Coimbra trata quem aqui, na Baixa, trabalha e reside. O que está em causa é lembrar a autarquia que existem prerrogativas nos regulamentos e posturas municipais que proíbem o estacionamento anárquico dentro do perímetro da Baixa. O que está em causa é o não cumprimento da lei. O que está em causa é fazer-se gato-sapato do cidadão cumpridor dos seus deveres, que ama a sua cidade, e, pela omissão de quem tem obrigações para o colectivo, beneficiar o infractor. Isto é, afirmar, preto no branco, que o crime compensa.
Quando aponto o dedo ao Executivo, quero dizer a toda a vereação, incluindo naturalmente a oposição. E para que não lavem as mãos como Pilatos, também os deputados na Assembleia Municipal de Coimbra e também os representantes eleitos nas freguesias de São Bartolomeu e Santa Cruz, agora agregadas em União -quando foi a última vez que, no hemiciclo camarário, foi ouvida a voz de algum eleito em defesa da Baixa? Mal empregadas subvenções públicas que levam para casa pela sua medíocre prestação. Todos estes edis, pela não denúncia em local próprio, são coniventes com esta situação. É uma lástima que faz chorar o menos sensível para as questões ambientais, monumentais, sociais e turísticas da Baixa da cidade. É uma apatia que incomoda de mais. Dentro de cerca de cinco meses, como caçadores de borboletas, vamos ver todos a andarem por aqui a captarem votos. Nessa altura, podem contar serem recebidos com desprezo. O mesmo desprezo que nos votaram nos últimos quatro anos. Acreditem, não vamos esquecer o que nos prometeram e não cumpriram. Vamos lembrar-vos as palavras ditas da boca para fora, sem sentimento, sem convicção,  e depressa esquecidas. Haja vergonha na cara! Pelos nossos antepassados, haja vergonha, meus senhores!



UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...





Miguel Dias deixou um novo comentário na sua mensagem "SER OU NÃO SER CIDADÃO POR COIMBRA":



O problema de J.M. Silva para a maioria dos presentes (e não apenas militantes do BE) não é saber se ele é de direita ou esquerda. Para mim, por exemplo, é me indiferente. Já não conhecer uma única em relação aos assuntos da cidade acho grave... Como diz e bem, o apoio a JM Silva estava a ser cozinhada à grande partido (embora o BE já tenha feito o mesmo e mal): as cúpulas apresentam como facto consumado. Acho que não é assim que deve ser. Quanto à simpatia pelo José Augusto acho que é real. De alguma maneira parece mal na foto, mas merece o total reconhecimento pelo excelente trabalho que fez. Lamento muito ele não querer continuar. Um abraço.

P.S. Leio nas tuas palavras sempre uma certa suspeita de instrumentalização por parte do BE. Alguma vez isso aconteceu na Plataforma do Choupal? 


quinta-feira, 23 de março de 2017

SER OU NÃO SER CIDADÃO POR COIMBRA






Sigo o percurso político do movimento Cidadãos por Coimbra (mCpC) desde a sua fundação, quando começou com reuniões embrionárias numa sala próximo do José Falcão e depois com o anúncio oficial e apresentação no Café Santa Cruz. Aqui neste dia, neste café, compondo uma canção para o efeito, "Aurora", participei com a desaparecida “Orquestra de Músicos de Rua de Coimbra” -no qual fui o mentor e, com a ajuda de Emília Martins, presidente da direcção da Orquestra Clássica do Centro, juntando em grupo os instrumentistas que faziam a sua performance individualmente ao calor e ao relento, acabou a gravar-se um cd com treze temas originais -cuja venda reverteu para pagar a passagem para a Roménia do Paolo, um prestigiado músico de rua que, durante muitos anos, foi nosso companheiro diário e alegrou as ruas da Baixa.
Como estive ligado a alguns movimentos contestatários na cidade, entre a eles o atravessamento aéreo da Mata Nacional do Choupal por uma ponte rodoviária, de certo modo, aprendi o modo de agir do grupo e fiquei a conhecer quase todos os simpatizantes do Bloco de Esquerda em Coimbra, partido que, louve-se, sempre soube assumir uma certa liderança na cidade em questões fracturantes. Concorde-se ou não, pela capacidade de mobilização pública e forte convicção na defesa das suas teses, esta agremiação partidária veio a revelar-se uma pedrada no charco na adormecida urbe estudantina.
Nunca enganei os presentes. Sempre disse que, ideologicamente, era liberal, independente de qualquer facção político-partidária. Estava ali somente por me identificar com a reivindicação.
Penso que foi através deste conhecimento que teria sido convidado por, salvo erro, José Dias a participar nos encontros preliminares de constituição do mCpC junto à Escola Secundária José Falcão. Nessas congregações de cerca de uma dúzia de pessoas, cedo me apercebi que, através de discursos inflamados, este movimento de cidadãos pretendia ser e agir intrinsecamente na margem dos ideais de Esquerda. Numa daquelas reuniões pedi a palavra e chamei a atenção para um paradoxo notório. Se aquele agrupamento político pretendia constituir-se em representativo de cidadãos, livres e descomprometidos de partidos tradicionais, não fazia qualquer sentido que apenas coubesse nele pessoas identificadas com a Esquerda -até porque, do ponto de vista estratégico, para um projecto que estava a começar, era um erro crasso dispensar a aderência e os votos fosse lá de quem fosse. Disse mais: a ser assim, sendo exclusivo a uma facção ideológica, eu não faria nada ali naquelas conversações de organização. Salvo erro, citando de memória, assim respondeu José Dias: “claro que o Luís tem razão. Este movimento é dirigido a todos os cidadãos. De facto, só faz sentido abrangendo todas as tendências”. Passados mais de quatros anos, recordo que aquela tese, arrancada a ferros, não me convenceu e o tempo veio a mostrar que aquelas palavras não tiveram qualquer significado prático nos usos e costumes do mCdP. Aliás, a meu ver, a actual crise que o movimento está a passar assenta exactamente nesta declaração que, ao longo dos últimos quatro anos, nunca foi levada à prática. Mais à frente serei mais claro na defesa desta tese.
Foram constituídas listas para as eleições, Executivo, Assembleia Municipal e Freguesias, e fui convidado para integrar e concorrer, em nome do mCpC, à Junta de freguesia de São Bartolomeu. Declinando por motivos profissionais, nunca perguntei nem me foi dito qual o lugar que seria integrado.

O ANÚNCIO DO MESSIAS

Foi anunciado como um produto novo, inovador, que viria alterar todo o situacionismo. Em Fevereiro de 2013, na carta de princípios, na sua apresentação ao povo citadino prometia uma mudança nos usos e costumes:
É nossa ambição tornar Coimbra um concelho que aprofunde a democracia representativa através do exercício alargado da democracia participativa, que promova uma cultura de apresentação pública, de responsabilização e de prestação de contas das decisões camarárias estruturantes da vida da cidade e do concelho”.
A memória e a tradição têm de ser modernizadas para fazerem parte do projeto de futuro que ambicionamos para Coimbra-cidade e Coimbra-concelho. Ambição é, também, resgatar a Baixa da cidade e tirá-la do seu estado de marasmo e agonia. É devolver-lhe dinamismo no comércio, nos serviços, na componente residencial e na convivialidade cívica. Ambição é pôr a cidade de corpo inteiro na agenda do turismo e ter ousadia no entendimento do que pode ser uma cidade Património da Humanidade.
Coimbra, a cidade e o concelho, merecem mais e melhor. Merecem não continuar a ser tratados como mero objecto de disputa partidária. Merecem outra governação. Mais democrática e mais ambiciosa. É este o nosso compromisso.
Coimbra é a nossa causa!”

QUATRO ANOS EM POUCAS LINHAS

Vieram as eleições e, para além da representação na Assembleia Municipal, veio a ser eleito um vereador no Executivo: o advogado José Augusto Ferreira da Silva. Viria também a ser designado coordenador do mCpC. Sendo um homem de convicções na defesa dos seus valores, entre outros desempenhos, ocupou lugar no Conselho Regional de Coimbra da Ordem dos Advogados. Na Baixa, por quem o conhecia na altura, foi sempre respeitado pela sua assertividade e postura cordial. Tendo a esquerda como convicção, diz quem o conhece bem, foi sempre um seguidor de consensos, um moderado.
Porém, apesar do razoável desempenho de Ferreira da Silva como vereador eleito para o Executivo, o seu expediente nem sempre foi seguido com a mesma argúcia por outros pares quando, em sua substituição, ocuparam o seu lugar no executivo. E também por posições assumidas pelos deputados do seu grupo no hemiciclo. É verdade que foram dados passos importantes entre o cidadão e o poder político. Mas também foram dados tiros nos pés. O resultado de todo este trabalho conjunto, executivo e parlamentar, foi que acabou por desiludir tanto os eleitores como a super-estrutura constituída pelos fundadores -estes que, de certo modo e implicitamente, nunca quiseram largar a mão do seu menino, o mCpC. Sendo conotados com o Bloco de Esquerda – o manto diáfano da transparência obscura que sempre gravitou em torno do movimento mas que só se tornou mais clara quando, em final do ano passado, este partido veio a desistir de concorrer à Câmara coimbrã e a declarar o seu apoio ao mCpC. Quiseram impor a mesma doutrina organizacional bloquista a um agrupamento político que, pela sua carta constitucional, deveria ser e seguir completamente o oposto.

A AURA DE SANTANTONINHO

Para entornar o caldo, a SIC, sem confirmar as fontes, deu como certo que José Manuel Silva, ex-bastonário da Ordem dos Médicos, seria o candidato do mCpC à Câmara Municipal de Coimbra nas próximas eleições autárquicas e em substituição de Ferreira da Silva -este que na reunião que deu origem à notícia da televisão privada apoiava esta solução considerada como de “alargamento”. Apesar da moção vir a ser chumbado no plenário, caiu o Carmo e a Trindade na maioria dos aderentes do movimento de cidadãos. A consequência foi uma reunião dos fundadores à revelia de Ferreira da Silva. Este, enquanto coordenador, considerando-se desautorizado, em resposta, veio a marcar um plenário aberto a todos os simpatizantes no Rancho das Tricanas de Coimbra.

A DISSENSÃO NAS TRICANAS

Quem esteve no passado Sábado no Rancho das Tricanas de Coimbra, na Rua do Moreno, a observar os trabalhos do agrupamento, deu para perceber que a palavra “dissensão” foi a mais repetida no velho salão de baile e quase até à exaustão. Provavelmente, teria sido acometido de vários sentimentos. Tais como:
O primeiro, logo ao transpor a porta, contrariando o que esperava, foi ver a sala bem composta. Cerca de seis dezenas de aderentes estiveram presentes na popular colectividade.
O segundo, foi uma certa animosidade contra Ferreira da Silva, o coordenador e rosto materializado dos cidadãos por Coimbra na cidade. Ficou bem patente por parte do grupo de fundadores o não quererem abrir mão do controlo do movimento. Ficou bem vincado que, contrariando a vontade de Ferreira da Silva, aqueles querem a escolha de um novo candidato a partir das bases para o vértice da pirâmide organizacional e não o contrário como tentou implementar o coordenador. Ou seja, notou-se ali um choque de procedimento entre a esquerda moderada, de Ferreira da Silva, a querer imitar os partidos do arco do poder, e a esquerda radical, dos fundadores que, digo eu, estão agarrados à forma de agir dos comunistas.
O terceiro, deu para inferir que Ferreira da Silva é um homem respeitado por todos, mas seguido apenas por uma minoria. A maioria, constituída por simpatizantes do Bloco, está ao lado dos fundadores.
O quarto, deu para adivinhar que o candidato a anunciar dentro de dias, salvo melhor opinião e a ver vamos, sendo pior a emenda que o soneto, vai dar razão ao coordenador ao recomendar José Manuel Silva. Poderia apostar quem será, mas, como posso perder, vale mais não arriscar. Mas, para descansar as bases ligadas ao Bloco será um homem de esquerda retinta.
O quinto, deu para perceber que ninguém conhece, nem quer conhecer, o ex-bastonário da Ordem dos Médicos. É de Esquerda? É de Direita? É de Centro? Na dúvida, condena-se o réu. Vai daí, cola-se o candidato independente à direita.

Com isto tudo, e para ele o meu abraço de consideração, quem deve estar triste como a noite é José Augusto Ferreira da Silva, o coordenador, que, com a humildade reconhecida no Rancho de Coimbra disse que, naturalmente, sabia que não tinha feito tudo bem. Mas, avento eu, fez o que pode e quem faz o que pode faz o que deve, dizia Torga.

quarta-feira, 22 de março de 2017

UMA CARTA QUE DEVERIA FAZER REFLECTIR A IMPRENSA

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




Na penúltima edição do semanário Campeão das Províncias, na primeira página, podia ler-se o título: “É polémica a substituição de IPSS por uma empresa na Unidade de Saúde de Coimbra”. O desenvolvimento prosseguia na segunda e terceira páginas. Em subtitulo vincado a preto podia ler-se: “No princípio era o GES e Victor Camarneiro”. No prosseguimento da crónica o nome de Camarneiro apareceu uma única vez a finalizar um parágrafo. Era assim: “A parceira da Demagre, de que foram sócios dois gestores da Trancone (TCN), era a instituição particular de solidariedade social Associação de Fernão Mendes Pinto (AFMP), então presidida por Vitor Camarneiro”.
Este procedimento -a meu ver, algo anómalo- deu origem a uma carta do visado de impressionar o mais sensível. Sem querer mostrar qualquer sentimento de superioridade moral, tenho para mim que Victor Camarneiro ao usar do seu direito de defesa, eventualmente e alegadamente, terá carradas de razão. Um jornal, seja diário, seja semanário, seja local ou nacional, tem uma obrigação dupla: tratar todos os assuntos com independência e mostrar imparcialidade aos seus leitores. Eu sou leitor do semanário Campeão das Províncias. Enquanto companheiro semanal não gostei de ler a súplica de Camarneiro a solicitar aos órgãos do jornal um respeito merecido e que não lhe foi atribuído na crónica. Qualquer um de nós hoje pode estar bem e amanhã não se sabe. Seja lá quem for, hoje pode ser bestial e amanhã uma grande besta. Seja o tratamento do primeiro caso, em que é idolatrado, seja no segundo, em que passa a pior que asno social, os órgãos de informação, enquanto veículos de construção da honra e da desonra, têm uma responsabilidade acrescida. Quem escreve detém um poder muito acima do vulgar cidadão e por isso mesmo -tenho quase a certeza de que não foi o caso- não pode ser tomado de espírito justicialista ou legalista. Para julgar existem os tribunais e até estes órgãos de soberania, que exercem o seu poder de absolver ou punir em nome do povo, não podem cair em radicalismos societários, sob a consequência de desvirtuar a justiça.
Por outro lado, ainda, há um princípio aplicado a todas as religiões e boas regras societárias: não se bate em quem está no chão. Se não é possível estender-se-lhe a mão para o soerguer, no mínimo, vira-se-lhe as costas.
Admito que fosse um erro do jornalista, ou da redação, mas a ser assim, pelo exagero do subtítulo, o jornal, mesmo depois de publicar a carta de esclarecimento, deve um pedido de desculpas formal ao visado em edição subsequente.
Como ressalva, para que não se pense que faço este reparo sobre qualquer ponto de vista de interesse, sobre palavra de honra, não conheço, nem nunca vi mais gordo, Victor Camarneiro.
Deixo extractos da carta publicada na última edição do Campeão das Províncias:

DIREITO DE RESPOSTA DE VICTOR CAMARNEIRO”

Disseram-me, e eu confirmei, que o meu nome é citado na edição de 09 de Março do “Campeão” a propósito de mais um daqueles escritos do R.A. (Rui Avelar) sobre a Unidade de Saúde de Coimbra (USC), certamente com o objectivo de lançar suspeitas sobre o eventual favorecimento perpetrado pela administradora de insolvência, Ana Rito, à mãe dos seus netos, simultaneamente psicóloga da USC, e ao seu sócio, Carlos Magalhães, director clínico da Unidade, há muitos anos, na empresa que hoje gere e explora aquela entidade, cuja denominação, Propriarmonia, fiquei agora a conhecer.
(…) Só que, surpreendentemente ou não (???!!!), como há uns anos atrás quando fui constituído arguido no então designado processo dos CTT, voltou o vosso escriba a usar e abusar do meu nome sem alguma vez, antes como agora, me ter abordado para, no mínimo, conhecer a minha versão dos factos e dar-me a oportunidade de o esclarecer e me defender. Aliás, nem sequer depois de eu ter sido absolvido pelo colectivo de juízes, do Ministério Público não ter recorrido da sentença e da mesma ter transitado em julgado, jamais o Rui Avelar ou qualquer dos outros escribas que se apressaram a a comprometer-me publicamente deu qualquer relevo ao facto ou quis saber das consequências que tão ignóbil cometimento teve na minha vida e dos meus.
(…) O Dr. Lino Vinhal, director do “Campeão”, o Rui Avelar, ou quem quer que seja, por um momento que fosse, pensaram alguma vez em mim, no que me aconteceu e à minha família, e imaginaram em que situação fiquei no meio de tudo isto? Acusado pelo Ministério Público, constituído arguido, declarado insolvente por manigância de uma administradora de insolvência; contudo, absolvido, mas falido e desacreditado depois de uma vida repleta de feitos em prol dos outros e da comunidade em geral. Por acaso reflectiram, um minuto que fosse, como é que alguém depois de tudo isto ainda se consegue erguer sem deprimir, embebedar ou drogar?
(…) Decerto que nunca o fizeram porque o vosso ofício não é esse. O vosso ofício é outro. Bajular poderosos de forma acrítica e interesseira e amesquinhar quem se torna alvo fácil da vossa lamentável e vingativa escrita. Se não dizei-me que “merda” de subtítulo é este de “no princípio era o Ges e Victor Camarneiro”? -Falta de imaginação? Incompetência? Encomenda? Querem o meu sangue? Continuar a espezinhar-me porquê? Quem vo-lo encomendou?
(…) Estejam descansados comigo, vivo num T2 arrendado, estou divorciado há seis anos, os meus filhos mais velhos encontram-se fora do país, não possuo sequer conta bancária nem cartões de espécie alguma, nem carros, casas ou seja lá o que for! Trabalho por conta de outrem;
(…) Pode dormir tranquilo e deixar-me em paz, Sr. Dr. Lino Vinhal. Podes tu também deixar-me em paz, Rui Avelar. (...)”

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...



Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "O ESTRANHO CASO DA MULHER ACAMPADA":



O pedido de Internamento compulsivo foi feito no dia 22 de Fevereiro de 2017.
Hoje é dia 21 de Março e nada foi resolvido.
Apenas foi nomeado um advogado para a representar.

Está tudo pendente de avaliação médica que segundo percebi teria de ser feita num prazo de 15 dias.

Nada pode ser feito porque existe Lei. Mas a Lei também determina prazos para obtenção de uma decisão para um caso de tal urgência, e não está a ser cumprida.

Entretanto a situação piora. Continua na rua como um animal abandonado!

Não se tratam assim as pessoas. Nem vale a pena comentar...TRISTEZA! 

quinta-feira, 16 de março de 2017

MISS CURVY ESTÁ PARA AS CURVAS





Fez anteontem três anos. Parece que foi ontem. Miss Curvy, nome que nos remete para mulher curvilínea, veio para vencer e, para além de convencer, venceu. Em passo de anjo, devagar devagarinho, entrou na Rua Eduardo Coelho, mirou a estreita via de ponta-a-ponta e, como renovador que vem para revolucionar, instalou-se a meio da ruela dos antigos sapateiros no piso térreo do prédio mais bonito da zona. Como baluarte de observação, para si e inevitavelmente para quem passa, é impossível não dar por ela. Desconhecidos e amigos mais chegados, procuram obsessivamente uma troca de olhares. É assim como se, desse enleio de envolvimento psicológico, para estas almas errantes dali pudesse sair uma solução imediata para as suas vidas intrincadas e aparentemente fixadas unicamente nos problemas do mundo mas, verdadeiramente, um simples gesto de ternura, como ponte a ligar a catástrofe à felicidade, pudesse desvalorizar e transformar tudo num manto de flores primaveris.
Entre o raiar da manhã e o crepúsculo do anoitecer, entre o Sol que abençoa todos os que calcorreiam a Baixa de Coimbra durante o dia e a Lua que, à noitinha e depois do entardecer, se vai mostrando brilhante e poderosa, é nesta divisão astral que Miss Curvy faz milagres divinos entre casais desavindos no amor. No seu estabelecimento, diariamente, homens e mulheres adquirem adereços interiores que vão embelezar o corpo feminino.
Os primeiros, os homens, entre grunho e esbelto, com o miminho à sua amada(o), procuram encantar, e apimentar, as suas existências tantas vezes monótonas e enfadonhas em resultado de rotinas continuadas.
As segundas, as damas de juventude perdida e as meninas prementes de maioridade, sobretudo em fase de Lua cheia, quando o brilho lunar, intenso, enigmático e afrodisíaco, lhes penetra na alma e as deixa arrebatadas de paixão, os humores mudam e as mulheres se sentem mais livres e plenas de sensualidade, é na loja Miss Curvy que concretizam o desejo de entrarem balofas e saírem manequins e realizam o sonho do desejo frémito.

MAS, AFINAL, QUEM ÉS TU?

Supondo que, em analogia, Miss Curvy, o nome da loja encantada, seja a projecção da sua bela proprietária, vamos tentar saber um pouco sobre a simpática Áurea Tiago. É ela que, na primeira pessoa, levanta um pouco do véu:
Trabalhei cerca de cinco anos numa loja de lingerie, numa grande área comercial. Como sou natural de Coimbra, tive sempre um sonho de um dia abrir um negócio aqui na Baixa. Com a experiência adquirida atirei-me de cabeça nesta linda loja e no mais bonito edifício da nossa rua -concorda, não concorda?-, fez precisamente anteontem três anos.
O balanço é francamente positivo. Gosto muito do que faço. Se fosse hoje voltava a fazer o mesmo. Sabe que vim preencher uma lacuna de oferta comercial nesta zona da cidade e até abrangendo as grandes superfícies? Por um lado, vim oferecer boas marcas de lingerie, com modelos sensuais para senhoras de todas as idades, por outro, onde os soutiens marcam presença a partir do 28 de costas (que só os ingleses fabricam) até à copa H. Isto tudo a preços médios.
Acredito muito nesta zona comercial. Hoje a Baixa está em fase de mudança. Alguns negócios mais antigos estão a desaparecer mas outros, mais modernos, estão a ocupar o seu lugar. A meu ver, pela provável oferta esgotada tantas vezes aflorada, o comércio continua a ter lugar nesta área velha. Aqui há de tudo, existe uma variedade imensa de artigos e ramos comerciais. As pessoas podem e devem vir às ruas estreitas porque num raio alargado encontram de tudo. Desde acessórios de moda, carteiras, roupas e sapatos para homem, senhora e criança, ferragens e uma plêiade de produtos que é impensável encontrar num shopping.
Vale a pena vir à Baixa e, sobretudo, calcorrear estas encantadoras ruelas estreitas por onde teriam caminhado Eça e até Camões.”

terça-feira, 14 de março de 2017

E NUMA NOITE VENTOSA O VIDRO VEIO AO CHÃO...





Esta noite o enorme e grosso vidro da montra das desaparecidas Galerias Coimbra desfez-se em mil pedaços, que se derramaram sobre a Rua Eduardo Coelho.
As causas estão determinadas, mas se eu contasse assim tudo de rajada ficava sem espaço para especular. E eu preciso de escrever. Assim sendo, partindo do princípio que não sei nada, vamos conjecturar sobre o que terá acontecido. A acção, na sua consequência, pode ser natural, transcendental, ou até de mãozinha humana.
Na origem do derrube, eventualmente, poderão estar causas naturais. Senão vejamos: durante o período comum de sono até à madrugada esteve um vento que empurrava tudo a “toque de caixa”. Logo, por inerência, poderíamos concluir que o culpado reside na Natureza.
Por outro lado, o causador do estilhaçar pode perfeitamente residir num fenómeno transcendental. Já há muito que se temia que o vidro gigante pudesse cair sobre a via pública durante o dia e ferir transeuntes. Ora, acontecendo durante a noite, facilmente se chega à conclusão de que poderemos estar perante um milagre dos Pastorinhos, das aparições de Fátima -como se sabe, só falta a confirmação de um fenómeno para a Comissão dos Teólogos poder levar ao processo de canonização dos beatos Francisco e Jacinta Marto.
Por outro lado ainda, pode andar ali intenção do homem, generalizando. E porquê? E eu sei lá? Se aqui se adivinhasse tínhamos um consultório aberto na Baixa e não escrevíamos gratuitamente, p'ro boneco. Podemos aventar qualquer coisinha. Lá isso podemos!
Já aqui falei na “teoria das janelas quebradas”, tese da psicologia social de que abandono gera abandono, desordem gera desordem. Ou seja, que um bem decrépito, desamparado, exposto, gera na comunidade uma vontade de “descarregar” nele um certo desprezo pelo imprestável que está dentro de nós. Logo, por silogismo, poderia ter acontecido assim.
Mas também é verdade que alguém, movido pelo excessivo amor aos animais, pudesse destruir a vidraça para que um par de gatinhos, em liberdade, pudesse circular entre a rua e o seu aconchego. Mais à frente explicarei melhor esta conclusão.

UM POUCO DE HISTÓRIA

O prédio das Galerias Coimbra teve no seu seio uma das maiores catedrais de comércio na Baixa de Coimbra. Isto antes de nascerem as cidades "low cost". Depois de, em 2010, passar pela insolvência da firma Coimbra & Filhos, Lª, em 2011 o edifício foi adquirido por um comerciante chinês e com financiamento atribuído pelo Millennium BCP. Em 2013, alegadamente, por o negociante ter entrado em incumprimento com a entidade bancária, o BCP vem a retomar as instalações como garantia do seu crédito. E a partir desta data ficou entregue ao ostracismo do silêncio de abandono.
Em Fevereiro do ano passado, em vandalismo implícito, alguém arremessou uma pedrada e provocou um buraco no vidro. Depois, progressivamente, o rasgo foi-se alargando a toda a área de transparência e temia-se que a qualquer momento se pudesse abater sobre quem circulasse na Rua Eduardo Coelho ou sobre uns sem-abrigo que pernoitavam na lateral. Como os serviços de Protecção Civil não ligassem grande coisa ao assunto, enviou-se uma carta com aviso-de-recepção ao Presidente da Câmara Municipal e as grades de segurança foram corridas para evitar males maiores.
Passado um tempo as grades que davam acesso aos pisos superiores do imóvel, mais uma vez, apareceram forçadas e, novamente, passou a servir de alojamento local para dois sem-eira nem beira e a um casal de gatos. Ao lado de uma frutaria e de um estabelecimento hoteleiro, convenhamos que o cheiro não era muito agradável. Mas como somos um povo de “não te rales que eu também não”, sem-abrigo, felinos e operadores comerciais, todos conviviam alegremente. E a coisa continuou assim durante meses.
Há cerca de três semanas, a frente do edifício degradado apareceu com grades novas e corridas de modo a impedir o alojamento humano.
Embora, manifestamente, os técnicos que colocaram as grades tivessem sido avisados de que havia gatos dentro da loja, pelos vistos, talvez por não terem sido detectados, deixaram dois animais no interior. Claro que, mesmo assim, a sobrevivência dos bichanos ficou assegurada não só por existir um buraco no vidro -que lhes permitiam livre circulação- como também a alimentação diária colocada de fora para dentro pelos imensos defensores dos felídios -que não querem saber da conspurcação ambiental. Mas é assim, é assim! O que importa é que os gatinhos não passem mal.

TANTA CONVERSA, MAS, AFINAL, O QUE ACONTECEU?

Ontem à noite o vento uivava ameaçador e mal-disposto no Centro Histórico. Em razão concreta, não se sabe porque aparentava tamanha fúria. Podem haver várias motivações, aventando, uma delas pode ser o facto do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já ter vindo várias vezes à cidade e ainda não ter colocado os pés na Baixa, e não ter dado nem ter recebido uns beijinhos e abraços dos futricas cá da zona.
Prosseguindo, em virtude do vento querer levar tudo à frente, o vidro da montra em questão, por volta da meia-noite, deu em dar estalidos lancinantes, mais agressivos que, por analogia, presumivelmente Ferreira da Silva, o coordenador do movimento Cidadãos por Coimbra, teria emitido quando soube que o estavam a atirar para canto na escolha de candidato à autarquia. Vai daí, João Rodrigues, funcionário do BE 51, um estabelecimento hoteleiro mesmo ao lado, vendo que a vidraça se separou em duas, ficando a balouçar, e temendo que pudesse atingir alguém, ligou para a Protecção Civil para que viessem tomar conta da ocorrência. Estranhamente, ou talvez não se tivermos em conta que também estavam em causa dois gatinhos, coitadinhos, aquela entidade deslocou-se logo ao local e para que não houvesse sangue, humano e animal, partiu o que restava do vidro. É certo que, passadas quase vinte e quatro horas o resultado da quebra lá continua no chão à vista de toda a gente, mas isso não importa nada. O que interessa mesmo é que, pelo menos desta vez, respondeu com eficácia.
Até agora não foi possível saber se os gatinhos estarão mais felizes. Pode e deve admitir-se que sim. E pela sua felicidade, naturalmente, vale tudo. Se entre o dano causado, de deixar os vidros ao abandono na via pública, e a imediata solução do fim em causa haverá proporcionalidade? Isso já é outra questão.