sexta-feira, 27 de maio de 2016

TUDO IGUAL COMO DANTES




Largo da Freiria, Sexta-feira, 10h30, 20 graus celsius, Sol a espreguiçar-se e, num fico não fico, a vacilar se vai continuar a brilhar durante o dia ou, para castigar certos humanos filhos de mãe, vai dar lugar a uma chuva tola e indesejável.
Aqui neste encantador recanto histórico tudo se mantém igual, a não ser os gatos que habitam um prédio abandonado há cerca de uma dezena de anos e são protegidos por uma reconhecida associação. Ainda há pouco foram esterilizados –para evitar a procriação. Então não é que, fosse por isso ou não, a gataria anda com o cio nesta altura? Sempre tivemos o mês de Janeiro como o período natural para a reprodução. Esta noite, entre as 4h30 e 05h30, foi um festival orgiático. Os gemidos das “meninas”, “méeeeeeeeeeeeeeee”, não deixaram dormir ninguém. Às tantas, sei lá, com tantos carinhos no pelo reluzente, estão a ficar com o DNA transformado.
Claro que o que me leva a escrever nem o incómodo por não deixarem dormir ninguém. Ora essa, primeiro estão os animais! O que me preocupa é o elevado esforço do gato macho. E se ele morria em pleno acto sexual, por causa de tanto esforço físico? Não é por nada, mas, nestas alturas de cobrição, acho que estes animais deveriam ser acompanhados, durante a noite, por um veterinário e um técnico da referida associação. Este abandono deixa-me apreensivo.
Para não variar e provar que vale mais um costume arreigado que uma ordenação social disciplinada, e que o lixo pode e deve fazer parte da paisagem urbana, esta pequena praceta apresenta-se hoje, mais uma vez e como habitualmente, como ontem, antes de ontem e mais e mais atrás –, como quem diz, muito feliz por, pela omissão de quem deve ocupar-se das questões de urbanidade, merecer tanta distinção e, sem que se faça nada por ela,  poder fazer parte de nós, da Baixa.

 

 

ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA...

(Imagem do jornal Público)


“Subsídio de desemprego chega a menos de 22% dos trabalhadores independentes”

25/05/2016 - 21:26

“Dos cerca de 4300 pedidos de subsídio feitos por trabalhadores independentes e pequenos empresários, menos de mil tiveram luz verde.
Até Abril deste ano, chegaram à Segurança Social cerca de 4300 pedidos de subsídio de desemprego por parte de trabalhadores independentes e de sócios gerentes de empresas e empresários em nome individual, mas menos de mil pessoas (923 segundo os relatos de alguns parceiros sociais, que estiveram reunidos com o Governo) estão efectivamente a receber. A grande maioria dos pedidos, mais de 75%, foi rejeitada e há 3% que ainda estão a ser analisados. Na prática, são menos de 22% os pedidos que tiveram luz verde.
https://comunique.publico.pt/2015/11_Novembro/teste/inContent/somOff.pngOs dados foram apresentados nesta quarta-feira pela secretária de Estado da Segurança Social, Cláudia Joaquim, durante uma reunião da Comissão Permanente de Concertação Social, e deixaram as confederações patronais preocupadas, exigindo que se melhore a aplicação da lei.
À saída do encontro, Cláudia Joaquim reconheceu que a taxa de indeferimento “é elevada” e que vai ser avaliada a necessidade de ajustamentos aos diplomas em vigor (um para os trabalhadores independentes e outro para os empresários em nome individual e sócios gerentes). No caso específico do subsídio para empresários, a secretária de Estado equaciona melhorar a divulgação da medida.
Durante o encontro, e pelo relato dos sindicatos e das confederações patronais, o Governo explicou que os indeferimentos devem-se a várias razões, sobretudo com a situação contributiva não regularizada, com o não cumprimento do prazo de garantia exigido e com o facto de muitas vezes os requerentes não conseguirem provar que se trata de desemprego involuntário.
Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, lembra que é preciso ter em atenção que nos casos em que a empresa está insolvente “é óbvio que o pequeno comerciante ou pequeno empresário não tem as contribuições [para a Segurança Social] em dia". “É preciso aprofundar a medida”, disse ao PÚBLICO.
Também António Sarava, presidente a Confederação Empresarial de Portugal, considera que “há margem de progressão [da lei], mas é um início [de discussão] que louvamos".
O subsídio de desemprego para os independentes (recibos verdes) entrou em vigor em Julho de 2012, mas só começou a ter efeitos em 2013 e não está disponível para todos os trabalhadores nesta situação que fiquem desempregados. A prestação está reservada para os que tinham pelo menos 80% do seu rendimento anual assegurado pela mesma entidade (considerados economicamente dependentes) e que descontaram para a Segurança Social num período de 48 meses imediatamente anterior à data da cessação involuntária do contrato de prestação de serviços.
Já a protecção para os sócios gerentes de empresas e empresários em nome individual com rendimentos de actividade comercial ou industrial, começou a produzir efeitos em Janeiro de 2015, mas também aqui há regras a respeitar e só tem direito quem tenha descontado dois anos para a Segurança Social.
Os números agora divulgados para o conjunto dos trabalhadores a recibos verdes e empresários são inferiores aos apresentados pelo anterior Governo –in Jornal Público de 25-05-2016.


TEXTO RELACIONADO




terça-feira, 24 de maio de 2016

COMÉRCIO: UM QUADRO QUE MOSTRA TUDO






Promovido pela NERC, Associação Empresarial da Região de Coimbra, e em parceria com a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, e com a participação da CCP, Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, foi anunciado um encontro para as 18h00 de ontem com empresários dos sectores de comércio e serviços no Café Santa Cruz. Segundo o plasmado publicamente, a intenção deste evento no coração da Baixa comercial seria, primeiro, formalizar o acto do NERC como o mais recente associado à CCP e, em segundo, à boleia do primeiro e para captar a atenção dos empresários, discutir dois temas: “legislação do Arrendamento Urbano” e “Fiscalidade e Burocracia”.
Às 18h30 a sala do vetusto estabelecimento apresentava, à entrada, uma mesa com um grupo de estrangeiros em amena cavaqueira em som no máximo e onde, de vez em quando, saiam umas risadas que abafavam até o ruído do moinho de café e, lá mais para o fundo, sobressaía um painel da NERC, com uma imagem de aperto de mão e a mensagem “Juntos somos mais fortes”, e várias cadeiras vazias –aquela figuração imagética funcionava ali como uma ironia, era como se aquelas cadeiras desocupadas e encimadas pelo apelo à unidade dissessem tudo. Parecia que ali se iria desenrolar uma sátira, uma comédia, ao comércio tradicional. Uma peça de teatro falhada, com os artistas a defenderem um texto fora de contexto, muito batido, sem rasgo e pouco elaborado, no tema para um público que, provavelmente adivinhando antecipadamente o enredo, descredibilizando os actores, não compareceu à estreia.

UMA PEÇA PARA AUTO CONSUMO

O painel era constituído por Vitor Marques, presidente da APBC, Horácio Pina Prata, presidente da NERC, João Vieira Lopes, presidente da CCP, e Vasco de Mello, vice-presidente da confederação patronal.
Especulando, vejamos o que poderia ter levado os ilustres palestrantes a promover este encontro.
Vitor Marques, jovem, economista e empresário –sócio e herdeiro do historial do mítico Café Santa Cruz-, inteligente, frio e racional, determinado, dinâmico e ambicioso, adivinha-se uma necessidade de protagonismo, de ocupar um cargo político futuramente num governo local liderado pelo PS. Mais que certo, iremos ouvir falar dele no futuro.
Horácio Pina Prata, ex-vice-presidente da Câmara Municipal, ex-presidente da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra –esta associação com mais de 150 anos está insolvente-, engenheiro, homem de rasgo para a criação de necessidades, aparentemente, arrumou a ambição política no armário e, declaradamente, está lançado na via empresarial e na exploração do vazio deixado pela ACIC –ontem, com uma simpática estagiária a pedir contactos e a distribuir sorrisos, eram visíveis os panfletos desdobráveis com uma ficha de inscrição no interior.
João Vieira Lopes, desde 2010, presidente da CCP –que representa 100 associações do sector e que englobam mais de 200 mil empresas responsáveis por mais de 50 por cento do emprego no país-, segundo o jornal Público, “é administrador da Euromadiport, integrada na maior central de compras e serviços de operadores da distribuição independentes na Península Ibérica e na Europa, e da central de compras cooperativa portuguesa Unimark”.
Salvo melhor apreciação, seguindo a linha dos antecessores, tem feito um percurso apagado, sem grande rotura com o situacionismo decadente. Muitas declarações, com frases bombásticas, que vão de encontro à indispensabilidade de defender o comércio de rua, mas, na prática, não passa disso mesmo: fumo sem fogo. Em metáfora, é um barco que navega com terra à vista. Do que vi ontem –e, obviamente, não serve de conclusão- é uma líder embaciado, com um discurso verbal pouco mobilizador e menos como catalisador de reviravoltas.
É de prever que veio ontem a Coimbra mais por “frete” a Horácio Pina Prata –e à NERC-, sobretudo pela validação da adesão, que por missão empresarial.
Vasco Mello, vice-presidente da CCP, pela dissertação mais do mesmo, apresentou-se no Café Santa Cruz como uma extensão de Vieira Lopes.

JÁ NEM A VINDA DE DEUS CHAMA NINGUÉM

Seria de supor que a vinda do presidente da CCP a Coimbra, quer para a imprensa local, quer para os empresários, seria um acontecimento mediático, de casa cheia e de muitas perguntas e respostas. Salvo erro, a última vez que um presidente da CCP esteve em Coimbra a dirigir-se aos comerciantes, no salão nobre da ACIC, foi José António Silva, no início do milénio. Na altura, fez o mesmo que os políticos fazem na arte do convencimento: grande alarde na verve e pouca acção subsequente. Ou seja, baralhar e dar de novo para tudo ficar pior. O comércio, nos últimos vinte e cinco anos, tem sido isto mesmo, muito por culpa dos seus representantes eleitos, sempre a utilizarem os cargos, bem pagos, para outros altos voos.
Exceptuando o Diário as Beiras –que fez uma peça baseada em declarações de início de presença, do jornalista António Rosado-, praticamente todos os jornais, diários e semanários, da cidade ignoraram o acontecimento –o que leva a supor que para virar as luzes da ribalta sobre o comércio tradicional é preciso anunciar previamente um enforcamento em directo.

E LEVANTA-SE O PANO

Quando se ouviram as pancadas de Molière, na assistência, à espera do que viria a seguir, apenas estavam presentes três comerciantes, um prestador de serviços, um representante de uma farmácia e mais quatro pessoas.
Já que quem não prometeu estar não compareceu, deu-se início ao encontro, falando para os anjos.

JÁ QUE TEM DE SER…

O grande Horácio (Pina Prata) deu as boas-vindas. Seguiu-se Vitor Marques com uma narração já conhecida –lá atrás, na sala, os estrangeiros, falando alto e em risotas latínicas, pareciam determinados em não deixar ouvir as prédicas dos ilustres palestrantes. Depois falou Vieira Lopes e Vasco de Mello –como não se esforçaram muito para tornar interessante o sermão no café vazio, não vou reproduzir nada.

OLHOS NOS OLHOS

A pasmaceira estava em curso. Foi então que um tipo pouco ortodoxo –por acaso fui eu-, que tem a mania, gosta de dar nas vistas e é do pior para os “políticos”, resolveu acordar o sono do presidente da CCP. Atirei assim: olhos nos olhos, senhor engenheiro Vieira Lopes –e ele, como picado por uma vespa, levantou o olhar. Há muito que sigo o seu percurso como líder da CCP e membro da Concertação Social. Entendo a sua preocupação em defesa das empresas, dos vivos, mas gostava de o ver defender na Concertação os comerciantes insolventes e que, escandalosamente, (sobre)vivem na miséria. É preciso ajudar os vivos mas sem esquecer os mortos. O senhor, enquanto presidente da CCP, tem essa obrigação. Vou estar atento às suas próximas participações. Não vai ser a última vez que nos vamos encontrar. Recorde a minha cara. Voltarei a interpelá-lo sobre este assunto.
Armindo Gaspar, ex-comerciante, que sabe como ninguém como o Estado castiga e é injusto para quem trabalha uma vida, veio em meu socorro e atirou: “é escandaloso o que se passa com muitos ex-empresários. Recentemente, para ajudar nos primeiros tempos um comerciante que, depois de 38 anos de descontos para a Segurança Social, perdeu tudo e ficou a receber um subsídio de 178 euros, tivemos de organizar um jantar. É uma vergonha acontecer uma coisa destas!”
A resposta de Vieira Lopes foi assim: “a lei 12/2013 foi proposta pela CCP. De facto, nas últimas reuniões da CCP, ainda não levámos o assunto a este Governo.”

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...







Triste notícia, mas o Pedro não estava a ser "acompanhado" pela irmã? Pelo menos foi o que deduzi no seu outro artigo sobre ele. Descansa em Paz, Pedro. Serás para sempre lembrado por mim e muitos outros.


****************************************


Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "FALECEU PEDRO FREITAS, O "VAN GOGH" PORTUGUÊS":


Grande amigo descansa em paz.

C. Marreiros


****************************************


Tiago Albuquerque deixou um novo comentário na sua mensagem "FALECEU PEDRO FREITAS, O "VAN GOGH" PORTUGUÊS":


A minha infância foi a ver este excelente pintor.
Viveu no bairro onde ainda hoje habito.
Tem um Curriculum como poucos. Isto, antes de cair na malha da droga.
Grande pintor que nos deixou.
Obrigado Luís Fernandes, por tentar um final mais digno deste homem.
Obrigado por nos dar esta notícia, esperada mas sempre triste.


**********************************


Unknown deixou um novo comentário na sua mensagem "FALECEU PEDRO FREITAS, O "VAN GOGH" PORTUGUÊS":


Conheci o Pedro Freitas, na Parede. Tenho algumas obras dele e uma em especial que foi feita por encomenda. Se como artista era extraordinário, como pessoa não existem palavras para o descrever. A sua simplicidade, a sua beleza interior deveriam servir de exemplo a muitos que por aí andam e olharam muitas vezes de lado para este SENHOR. Onde quer que estejas, recebe um grande abraço e até um dia, Pedro.
Jorge Marques



****************************************



Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "FALECEU PEDRO FREITAS, O "VAN GOGH" PORTUGUÊS":



Que país cheio de pessoas de merda, que só tratam bem que lhes pode vir a trazer benefícios!! Valha uma minoria de excepção... Obrigada. Conheço muita gentalha que merece isso, mas o Pedro não! Tive o prazer de o conhecer um pouco. Tenho uma obra dele e o currículo.



***************************************



Pedro Silva deixou um novo comentário na sua mensagem "FALECEU PEDRO FREITAS, O "VAN GOGH" PORTUGUÊS":



Triste notícia.
Conheci o Pedro há cerca de 20 anos, em Coimbra. Excelente artista, ser humano superior de extrema delicadeza e educação.
Tenho várias obras dele e em algumas fez questão de colocar dedicatórias especiais e muito pessoais...
Tenho muita pena de lhe ter perdido o rasto e de não ter sabido por onde e como andava nestes últimos anos, pelo que lhe peço desculpas.
Até sempre Pedro Freitas e descanse em paz!



***************************************



Jose Lourenco deixou um novo comentário na sua mensagem "FALECEU PEDRO FREITAS, O "VAN GOGH" PORTUGUÊS":


Fomos amigos e companheiros há muitos, muitos anos. Um grupo de amigos: o Xico Baião, o Toninho - Zapata, o Filipe, o Abreu, o Caincho, o Paulo Castanheira, entre outros. A última vez que estivemos juntos, foi na Parede, aquando lhe adquiri um dos seus quadros, que o guardo. Deixei de o ver. Não o sabia em Coimbra. Foi pena, pois vou lá regularmente.

Adeus Pedro. Um abraço e até sempre.


**************************************


Rui Villas-Boas Gomes deixou um novo comentário na sua mensagem "FALECEU PEDRO FREITAS, O "VAN GOGH" PORTUGUÊS":



Você é um ser Humano magnífico.



segunda-feira, 23 de maio de 2016

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...



Palavras Soltas deixou um novo comentário na sua mensagem "FALECEU PEDRO FREITAS, O "VAN GOGH" PORTUGUÊS":



De facto é uma triste realidade portuguesa. Os desprotegidos da sorte não têm quaisquer direitos, nem sequer aos da amizade. Esse hospital devia ser inquirido das razões que o levaram a recusar informações de uma pessoa que estava interessada em saber do doente e depois até da sua morte. Crueza, insensibilidade e até alguma maldade nos últimos momentos de uma vida.

FALECEU PEDRO FREITAS, O "VAN GOGH" PORTUGUÊS





Foi ao abrir o Diário as Beiras de hoje que tomei contacto com a triste realidade: o Pedro Freitas faleceu. Quase sem se dar por ele, morreu como sempre viveu. Homem de extraordinário talento, arrastando-se, andou pela Baixa de Coimbra nos últimos dois anos quase sempre aos caídos por opção própria. Algumas pessoas fizeram o que podiam para o ajudar mas ele denegou sempre auxílio. Só mesmo quando a sua condição física já não permitia continuar a percorrer os becos e ruelas do Centro Histórico foi então acolhido no Farol, uma instituição destinada aos sem-abrigo e desabrigados da sorte.
Internado nos HUC, Hospitais da Universidade de Coimbra, em estado bastante debilitado no início deste ano, viria a contrair a bactéria multi-resistente aos antibióticos e, presumivelmente, teria sido esta infecção que o teria levado desta vida.

A INSENSIBILIDADE DOS SERVIÇOS HOSPITALARES

A primeira vez que o fui visitar foi em Fevereiro aos serviços de infecto-contagiosas de Cirurgia, embora me dissesse que não ia escapar dali com vida, com aspecto frágil, parecia estar ainda para as curvas. Nos serviços da enfermaria deixei o meu número de contacto para o caso de acontecer alguma coisa de grave. Foi-me prometido que, se algo anómalo ocorresse, seria informado. À medida que o fui visitando, nos meses seguintes, fui notando a sua decrepitude notória, física e psíquica.
Em meados do mês de Abril, último, recebi um telefonema de uma assistente social dos HUC a solicitar-me que, para transferir o Pedro Freitas para uma unidade de trabalhos continuados, fosse assinar uns documentos –a alegação da técnica foi que a sua familiar não queria assumir e não respondia aos telefonemas. Fui, assinei e, em seguida, desloquei-me aos serviços da Segurança Social, na Loja do Cidadão, mas comecei a aperceber-me de algum abuso por parte da assistente social para com a minha pessoa e apresentei um pedido de inquérito à administração –que ainda não recebi qualquer conclusão.

REVANCHE?

Fosse ou não por ter reclamado um melhor tratamento humanitário para o Pedro Freitas, a verdade é que, estando nos serviços de cirurgia o meu contacto, não fui avisado do triste desenlace. É triste morrer sozinho.
Hoje, logo a seguir a ter lido a notícia no Diário as Beiras, liguei para os serviços de Cirurgia dos HUC, a interrogar a razão de não ter sido informado. Resposta de funcionário: “sabe que, mesmo tendo cá o seu contacto, primeiro é a família, e esta foi avisada”.
Perguntei então, por favor, se poderia informar-me da hora do funeral? “Não sabemos! Isso é com a família!”, respondeu a enfermeira. Continuei, e, agora que ele faleceu, pode dar-me o contacto da irmã, familiar do defunto? “Não, não podemos!”
Voltei a telefonar para o número geral do hospital e pedi que me ligassem à secretaria da Capela Mortuária. “Qual era o assunto?”, interrogaram do outro lado. Respondi que pretendia saber a que horas seria o funeral de um doente que faleceu no fim-de-semana no hospital. “Ai isso não damos!”, foi atirado de chofre. Insisti e apelei à humanidade e sensibilidade da senhora com quem falava que fizesse a transferência da chamada. Depois de alguns momentos de hesitação, lá me passou a chamada. Fiquei a saber que, hoje, o corpo de Pedro Freitas estará em câmara ardente na Capela Mortuária, dos HUC, por volta das 15h00. Em seguida, cerca das 16h30, o féretro seguirá para o crematório da Figueira da Foz.

sábado, 21 de maio de 2016

BAIXA: RUAS CHEIAS, RUAS SEMI-VAZIAS





Hoje, Sábado, está a realizar-se a Feira da Flor, no canal entre a Praça 8 de Maio, passando pela Rua Visconde da Luz e a terminar a meio da Rua Ferreira Borges. Talvez por ter sido adiada –era para ter acontecido há uma semana-, está mais diminuída na oferta de expositores. Normalmente, vai até ao Largo da Portagem, ocupando parte deste espaço já de si sobrecarregado com esplanadas.
Mesmo assim, apesar da menor oferta de vendedores, os visitantes acorreram em massa e, por volta do meio-dia, podia verificar-se que as pessoas quase se atropelavam nas ruas largas. À mesma hora, nas ruelas estreitas, a que muitos chamam baixinha, o movimento era ténue, o que até levou a uma comerciante amiga a comentar: “já viu, Luís, lá em cima tanta gente e aqui, mesmo havendo alguns transeuntes, não há negócio.”
Assim que bateram as 13 badaladas na Igreja de São Bartolomeu praticamente todas as lojas comerciais nesta zona velha encerraram e podia ver-se as ruas, ruelas e becos, completamente desertas. Já escrevi bastante sobre esta realidade. Ou seja, seguindo o mesmo exemplo dos anteriores, por que raio continua a actual vereadora da Cultura, Carina Gomes, da Câmara Municipal de Coimbra, a teimar em não dividir este e outros eventos pela Baixa ao invés de os centralizar apenas num local? Quando poderia contribuir para a revitalização desta zona, levando a que os comerciantes aderissem à abertura durante o Sábado de tarde, com esta medida está-se a concorrer para o situacionismo. Se faltarem exemplos, tome-se Aveiro como modelo e verifique-se o sucesso da Feira de Velharias, ao Domingo, espalhada pelo centro histórico. Esta questão, curiosamente despoletada por uma empresária da rua larga, já deu origem a um abaixo-assinado.
No limite até pode pensar-se que se o comércio, erradamente, encerra às 13h00 de Sábado é um problema de cada um. Na generalidade, de facto, é assim, mas já na especialidade não é. A alma da cidade, o espírito, só é viva, refulgente de vida, e agradável se os seus operadores económicos, para além do seu interesse egoísta, estiverem também dispostos a dar um pouco de si para a tornarem atractiva. Mas para isso acontecer, para despoletar essa “dação” pela colectividade, é preciso que se sintam apoiados pelo poder camarário, sentindo que o exemplo vem de cima, e que as suas dificuldades são compreendidas. E esta responsabilidade cabe por inteiro aos políticos eleitos. Ganharam o pleito eleitoral porque apresentavam nos seus programas ideias novas para uma cidade velha.
É curioso verificar que entre funcionários públicos e políticos eleitos existe um certo apriorismo entre eles e os operadores comerciais. Para estes, quando referem os comerciantes, tratam-nos como pacóvios, atávicos, que nunca evoluem, que são malandros. Que a crise que atravessa o comércio de rua é inteiramente por sua culpa –e desresponsabilizando-se dos licenciamentos em barda de grandes superfícies. Esquecem que os pequenos empresários são cidadãos que, por sua conta e risco, sem rede, arriscam tudo por uma independência –não dependente de subsídios estatais-, por uma dignidade que lhe advém do trabalho. Estão entregues a si mesmo. Não têm ordenado certo que lhes permita orientar a família. É uma falta de respeito ver alguns funcionários públicos, bem acomodados em almofadas de segurança, desancarem em lojistas ou outros operadores –o contrário também é válido, ou seja, tomar todos os funcionários públicos –e políticos- como maus prestadores do serviço público.
Era bom que os ocupantes do poder perdessem um pouco da sua áurea divina e fossem mais humildes. Até agora, e juntando os anteriores, ainda não tivemos um vereador da cultura que olhasse a Baixa com olhos de ver. Como Deus, olham de cima, têm uma visão holística, do todo, e despiciente dos pormenores. Pode ser que um dia a coisa mude. Vou esperar sentado para não ganhar caibras nas pernas.

A FEIRA DOS 23 AQUI TÃO PERTO

Mais uma vez a Praça 8 de Maio, terreiro em frente à Igreja de Santa Cruz e Panteão Nacional, que deveria ser sagrada e consagrada apenas a cerimónias de grande gabarito e de acordo com a história da Nação, hoje, parecia a feira dos 23. É uma pena os nossos governantes locais não verem mais e continuarem a faltar ao respeito ao nosso Fundador da Nacionalidade, Afonso Henriques, e seu filho, Dom Sancho I.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

O SORRISO CÂNDIDO DO PEQUENO DEMÓNIO

(Imagem de arquivo, de Leonardo Braga Pinheiro)



“A GNR retirou a custódia do filho aos pais que acorrentaram a criança de 10 anos no quintal, por causa do seu mau comportamento. Foram constituídos arguidos e o menino foi colocado numa instituição do estado.
O caso, que está a chocar o país, ocorreu no Montijo e foi denunciado às autoridades por vizinhos da família que contactaram a GNR quando viram o menino de 10 anos acorrentado, por um pé, no quintal da casa.
A criança “terá passado largas horas preso”, de acordo o Correio da Manhã, que reporta que os agentes da GNR que se deslocaram ao local a encontraram ainda acorrentada, enquanto os pais estavam dentro de casa a preparar o jantar. Contactaram o procurador do Ministério Público em serviço e retiraram-lhes a custódia do filho que foi colocado numa casa de apoio da Segurança Social.
Antes disso, o menino recebeu tratamento no hospital por causa dos ferimentos nas pernas, alegadamente provocados pelas correntes.” -retirado de aqui.

A notícia saltou assim, ontem para Portugal e para o Mundo. Ainda ontem, através da SIC em entrevista, ficámos a saber que estes pais detidos, “sequestrados”, pela GNR, alegadamente, teriam sido violentamente espancados por agentes encapuzados.
Esta semana, numa cidade próxima de Coimbra, um miúdo de 14 anos, a pedido da CPCJ, Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, foi retirado, temporariamente, à mãe e entregue aos avós paternos.
Se seguirmos a mesma linha da notícia acima plasmada, somos invadidos pelo clamor: “ai, coitadinha da criança!”. Mas se acrescentar que no dia anterior, na segunda-feira, este pequeno delinquente deu uma tareia à progenitora que a mandou para os HUC, Hospitais da Universidade de Coimbra, talvez a forma de avaliação do caso mude.
E não se pense que para esta mãe –vamos chamar-lhe Maria-, esta agressão foi caso isolado. Os traços de disfunção de personalidade do agora adolescente teriam começado em 2005 com o divórcio dos pais, tinha então a criança quatro anos. A partir do desquite, já que o pai nunca se importou com o seu herdeiro, o puto foi-se transformando num ser egoísta, manipulador e com manifestações de agressividade verbal.
Em 2009 faleceu a avó materna e, talvez porque esta familiar fosse o último esteio em substituição do pai, o rapaz passou a apresentar instabilidade na personalidade. Passou a ser acompanhado em Pedopsiquiatria.
A partir de aqui, sempre em crescendo, os diálogos com a mãe, Maria, passaram a ser em nota de insulto, desafio e provocação. Teria sido também por esta altura que a progenitora passou também a ser acompanhada em consultas de psicologia.
INVASÃO SEM CONSENTIMENTO
Há cerca de três anos, em 2013, Maria conheceu o seu actual companheiro. Mais uma vez, esta mãe percebeu alterações emocionais no seu filho, sobretudo, na recusa em aceitar o novo ocupante da casa. Presumivelmente, por se sentir ameaçado na partilha da progenitora que, supõe-se, considera sua propriedade.
Os insultos e provocações ao companheiro passaram a ser um hábito naquele lar em busca de uma paz inexistente. Desde “cabrão” a “filho de puta” o tratamento de pouca cordialidade passou a ser o prato diário.
Sempre com a desculpa de que o “menino estava doente”, Maria foi aguentando tudo e rogando ao companheiro que não reagisse ao desafio de violência.
Enquanto o pequeno ditador crescia na idade, na força e no incitamento, Maria ia ficando cada vez mais frágil, vulnerável e a encolher no peso, cada vez mais perdida e sem saber como conseguir controlar a situação.
SUBITAMENTE EM JANEIRO
Sem explicação plausível, ou talvez pelo contrário, no princípio deste ano, agora com 14 anos, o rapaz transformou-se para pior. Ora exigia um “Tablet”, ora impunha a compra de um telemóvel de preço elevado. Por vezes até eram umas sapatilhas de marca que, por dificuldades financeiras, não se poderiam adquirir.
Vieram as ameaças de morte. Desde afirmar que há-de matar quem o colocou no mundo até pegar numa chave de fendas e, com ela em riste e com sorriso tresloucado, dizer que um dia destes a mata, tudo tem feito para desequilibrar a já fraca estrutura psíquica de quem o criou. Já muitas vezes lhe enviou vários objectos, desde sapatos, a livros, e tudo o que tiver à mão contra o seu corpo e já por várias vezes lhe bateu.
Destrói coisas, declaradamente com cinismo, para provocar o caos. Chega a cortar fotografias a meio onde aparecer com aquela que o amamentou.
Quando Maria conduz é normal o seu filho, de repente, colocar a mão no volante e guiná-lo de modo a provocar um acidente rodoviário.
EPÍTETOS DE FAZER CORAR UM VELHO
Os impropérios que o pequeno malfeitor usa no rol são variados: “puta”, “cabra”, “ladra”, “vaca”, “chula”, “porca”, “filha de Puta”, e sublinhando “filha de uma grande puta”.
É comum mandar a mãe “ir vender o corpo na Rua Direita” ou receber velhos em casa” para arranjar dinheiro para o que ele precisa.
Várias vezes manda a sua protectora para o “caralho” e “que se vá foder”. Complementa que tem nojo de quem o ampara.
Para evitar que a mãe durma com o companheiro passou a fazer barulho ensurdecedor, desde bater no mobiliário até manter a televisão em som no máximo, tudo para fazer chantagem emocional. Só fica quieto quando a progenitora abandona o quarto do companheiro.
AGRESSÕES FÍSICAS A ESMO
No último 13 de Maio, com uma grande estalada, agrediu o companheiro de Maria. Aquele não respondeu na mesma moeda para não ser acusado de violência doméstica –tal como anteriormente foi chamada a GNR, que se limitou a tomar conta da ocorrência.
Manifestamente, por ter receio que o primogénito a mate, em cenário de grande violência, já por várias vezes chamou a GNR.
E QUEM ACREDITA NA MÃE?
O rapaz, no contacto escolar e com as pessoas da rua, algo introvertido, é um amor de pessoa.
Este anómalo caso está a ser seguido na CPCJ, Comissão de Proteção de Menores.
Maria tem dificuldade em fazer crer às técnicas da instituição de protecção o que verdadeiramente se passa em sua casa. Apercebe-se que o seu protegido consegue facilmente recorrer à manipulação e alterar a avaliação objectiva de quem o examina. De tal modo é convincente que chega a afirmar que é sovado em casa. Segundo Maria, acreditam nas suas declarações.
Perante este desnorte nos depoimentos, a mulher cada vez mais se sente perdida, a ponto de não saber o que fazer à vida. Nos últimos tempos, demasiadas vezes, tem pensado em colocar termo à sua existência de sofrimento e martírio.
A ANÁLISE
O diagnóstico médico e psicológico é taxativo: hiperactividade.
A medicação pouco vai além da “Ritalina”, um reconhecido fármaco aconselhado para a hiperactividade. Quando lhe é receitada outra qualquer medicação para tomar na escola não os ingere e vindo a gabar-se do feito.
A CONSEQUÊNCIA
O estado actual de Maria, físico e psicológico, é simplesmente preocupante. Nos últimos tempos perdeu muito peso e o seu discurso, por vezes desconexo, é interrompido por esquecimentos e lapsos de raciocínio.
Nesta última segunda-feira, Maria foi sovada pelo filho -de catorze anos, recorda-se- e foi parar aos HUC.
BENEFICIAR O INFRACTOR
Alegadamente, perante a denúncia de agressão no hospital, a CPCJ retirou o seu filho de sua casa e foi entregá-lo aos avós paternos –que nunca quiseram saber grande coisa no acompanhamento e na evolução do miúdo. Ou seja, pensa Maria, quando o caso já deveria ter sido remetido ao Ministério Público para internamento compulsivo, a CPCJ continua a beneficiar o pequeno bandido.
Como interrogação final, pergunta Maria: será que não se está a caminhar para um proteccionismo e um igualitarismo absolutistas às crianças –tratando todos como anjos- e num esvaziamento da autoridade paternal? Onde começam as obrigações e os direitos de uns e de outros?





TUDO IGUAL COMO DANTES




Largo da Freira, Sexta-feira, 10h30, 20 graus celsius, Sol esplendoroso a acariciar e, num assédio descarado, a lançar-se para cima dos transeuntes.
O prédio da sapataria Trinitá, com frente para o largo, –em processo de insolvência e encerrado há cerca de dois anos-, como em massacre de agonia, continua à espera de uma solução que tarda. O velho Quirino Adelino, que trabalhou toda a sua longa vida no comércio, merecia outro respeito por parte do poder judicial e do Estado.
O edifício em obras interrompidas e com tapume à frente há cerca de uma dezena de anos, agora em venda, como extensão dos moradores e comerciantes da praceta, parece suplicar a alguém que lhe pegue e lhe dê outra utilidade para além de gatil.
Para não variar e provar que vale mais um costume arreigado que uma ordenação social disciplinada, e que o lixo pode e deve fazer parte da paisagem urbana, esta pequena praceta apresenta-se hoje como habitualmente, como ontem, antes de ontem e mais e mais atrás –como quem diz, muito feliz por, pela omissão, merecer tanta distinção e, sem que se faça nada por ela,  poder fazer parte de nós, da Baixa.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

UM COMENTÁRIO RECEBIDO E UMA RESPOSTA DADA



Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "A BAIXA VISTA DA MINHA JANELA":


"Não domino a lei relativa a embargos"

Eu explico como é a lei dos embargos em qualquer lado do mundo: Constrói sem licença, a câmara manda parar as obras. Pronto, foi rápido.

O senhor proprietário resolveu, sem dar cavaco, construir até à cércea do prédio confinante. Foi isso? Ora, a câmara terá achado, e bem, que a configuração, incluindo cércea, dos edifícios da rua Visconde da Luz era para manter ou para alterar só com muito cuidadinho. É que essa rua não é uma rua de uma urbanização dos arredores, em que os prédios podem (e se calhar até devem) ficar todos à mesma altura, da mesma cor, etc.
O autor apenas fala em ele ter subido a altura do edificado. Mesmo que não haja mais nada, isso a mim basta-me para justificar um embargo.
Eu, que nem sou machadista, acho que desta vez quem está a tentar dar ou manter dignidade na zona e no prédio é a câmara. Qualquer câmara municipal no mundo, mas mesmas circunstâncias, faria o mesmo.


*************************************


NOTA DO EDITOR

Começo por lhe agradecer o seu comentário e esclarecimento. Porém, se voltar a ler, o texto não vai no sentido da legalidade mas antes na morosidade. Ou seja, autarquia ou proprietário, um deles, terá de desbloquear este processo inquinado. Quero dizer que um prédio não pode estar a conspurcar a via pública “ad eternum” apenas porque foi embargado, ou porque o proprietário, a seu bel-prazer, decidiu interromper as obras. Terá de haver um prazo razoável para desbloquear o caso. O proprietário é intimado a fazer as alterações, não fez? A edilidade manda demolir e envia a conta.
Repetindo, espero ter sido claro, o que está em causa não é a legitimidade de intervenção camarária mas sim o deixar correr durante anos e anos.
Como ressalva, aqui não se discute “istas” nem “ismos”. Escrevemos sobre o que nos parece menos bem. No caso de não saber, no “Anciem Regime”, do tempo do outro Encarnação, fazíamos a mesma coisa.


************************************

Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "UM COMENTÁRIO RECEBIDO E UMA RESPOSTA DADA":



Tem razão, a demora é inadmissível. Mas neste país é difícil mandar qualquer obra de um particular abaixo, como sabe. Isso não é demolir e mandar a conta, como diz. Se o proprietário, como parece, está convencidíssimo de ter razão, nem imagino o alarido que seria. Nem sabemos se a coisa foi entretanto para tribunal, e se for assim demora anos. Apenas queria dizer que, salvo prova em contrário, quem se terá portado mal foi o proprietário. É até fantástico que alguém ainda atualmente não saiba que é necessária uma licença para uma obra dessas. Estamos a falar de um prédio na Baixa de Coimbra, não de um pequeno barracão agrícola de tábuas ali em São João do Campo, feito por um pequeno agricultor analfabeto.


MARCHAS POPULARES NA BAIXA





Exmos. Senhores:

A Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC) promove novamente este ano o Desfile de Marchas Populares. Esta 7ª edição decorrerá no dia 17 de junho (sexta-feira) com a realização de um desfile noturno de adultos , entre as 20h e as 24h, no qual se esperam cerca de 600 marchantes, e um desfile de marchas populares infantis durante a tarde, a partir das 15h00, no qual participaram cerca de 300 crianças. Ambos os cortejos, adultos e infantis, tal como em anos anteriores, irão desfilar entre a Praça 8 de Maio e a Praça do Comércio, passando por algumas ruas da Baixinha.
Com estas iniciativas, de carácter popular, contamos atrair novamente milhares pessoas para a Baixa de Coimbra, na qual a restauração tem um papel fundamental. Desta forma, pensámos conjugar esforços propondo que tenham ao dispor nas ementas, a típica sardinha assada, referência deste tipo de festividades,  num período mais alargado com a realização do Festival da Sardinha,  de 14 a 18 de junho (terça-feira a Sábado), iniciativa que contará com o apoio da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP).
No dia 17 de junho pretendemos proporcionar aos nossos visitantes momentos muito agradáveis assistindo a esta festa enquanto desfrutam de uma típica refeição portuguesa. À semelhança dos anos anteriores informamos que o trânsito será encerrado na Rua da Sofia (entre as 20h00 e 24h00) e na Rua da Sota (entre as 18h00 e as 24h00) e “proibido” o estacionamento na Praça do Comércio.
Apelamos à criatividade de todos para decorar e animar a Baixa para este evento, iniciativa que é já uma referência junto dos visitantes da Baixa. Assim lançamos, mais uma vez, o desafio de “a minha rua é linda!” que consiste na decoração e animação das ruas do Centro Histórico. Estipulamos apenas dois requisitos: decoração alusiva aos festejos dos santos populares e muita animação!
Solicitamos  que caso estejam interessados em participar nos informem até ao próximo dia 20 de Maio de 2016, por telefone (239 842 164), telemóvel (914872418 Carina Alves), ou por email (apbcoimbra@gmail.com).
A Direção da APBC
--
APBC - Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra
Rua João de Ruão, 12 Arnado Business Center, piso 1, sala 3
3 000-229 Coimbra
Tel. 239 842 164  Fax. 239 840 242 Tel. 914872418

A BAIXA VISTA DA MINHA JANELA



TESTO ESCRITO A QUATRO MÃOS.
POR MÁRCIO RAMOS E LUÍS FERNANDES


Gosto de habitar em Coimbra, nesta zona histórica da Baixa. Em boa verdade, desde que tenho memória, não vivi noutro local, mas adoro o ambiente, do som, dos ruídos de fundo, do cheiro. A minha Rua Visconde da Luz, durante anos, foi sofrendo alterações, algumas bastante evidentes como a retirada de trânsito. No início e junto a Santa Cruz, há cerca de uma dezena, e meia de anos foi a requalificação da Praça 8 de Maio, implicando com esta alteração uma controversa rampa de acesso para rebaixamento do piso em frente ao terreiro da vetusta catedral. Outras houve, embora mais camufladas mas que alteraram a paisagem urbana, como o fecho e reabertura de lojas, e restauração de alguns prédios. Um deles imensamente belo e bem recuperado é o da Casa dos Enxovais. O espaço desta loja que abrange dois edifícios tem um deles com a fachada forrada a azulejo azul.
Sendo a minha rua um canal, uma passagem de constantes grupos de turistas, às vezes, é vê-los com as suas máquinas fotográficas a fazerem bonecos. E bom verificar que captam imagens a locais belos para ficar na memória colectiva –com este acto, sem o saberem, chamam-nos a atenção para cantos e recantos que, normalmente pela rotina, nos passam ao lado. A meu ver, alimenta-nos a alma e dá prestígio a cidade.
Noutros tempos e durante mais de meio-século, houve uma loja muito importante na minha artéria. Pequena no espaço mas grande pelo servir a cidade, a Sapataria Elegante foi muito apreciada e valorizada. Como tudo na vida, teve o seu tempo de glória, nasceu, cresceu, atingiu o apogeu, decresceu e morreu. Desapareceu a velha marca e a casa foi vendida.
Os novos proprietários quiseram fazer obras, recuperar o edifício, dar uma outra dignidade que outrora o prédio não teve. Alegadamente, começaram mal. Elevaram o prédio, até a altura do edificado que estava ao lado, segundo se consta sem licença camarária, e as obras foram embargadas há vários anos. Segundo os adquirentes, não havia nenhuma lei que não o permitisse. Segundo a edilidade, esta obra sem projecto desvirtuou o edifício. Resultado desta guerra? As obras foram abandonadas e a “Elegante”, perante a imperativa legalidade da autarquia e a aparente teimosia do novo proprietário, cheia de mazelas, parece fitar os transeuntes com uma tristeza de tocar o mundo.
Confesso, não domino a lei relativa a embargos, mas também não preciso de ser pintor de arte para saber se um quadro está ou não bem pintado. Ou seja, dá para ver que neste esticar de corda, com posições radicais, quem paga é a cidade, a Baixa, que sente e sofre a agressão de um problema paisagístico que deveria ter solução rápida e arrasta-se nas calendas.
O que sei é que, pela razoabilidade, pelo bem maior público, é urgente resolver esta situação, que não é única na Baixa, basta lembrar o Largo da Freiria –com um prédio em obras abandonado há cerca de uma década-, o Beco das Canivetas e a Rua da Louça  -com edifícios cuja propriedade está atribuída à Câmara Municipal e que se encontram desprezados e sem utilidade  há muitos anos.
É bom de ver que muitos “abortos” da Baixa que denigrem o ambiente, se houvesse interesse da edilidade em resolver o assunto, poderiam apresentar uma outra valência para o Centro Histórico.
Voltando ao prédio de “A Elegante”, a verdade é que se verifica ser já para os turistas um “ex libris”. No topo do, junto ao telhado, cresce uma planta já de alguma proporção que rivaliza com a torre da Universidade.
Como residente da Baixa, como habitante da cidade, tenho vergonha por este estado caótico de abandono. Sinto pena que o turista que visita Coimbra leve na memória não só o melhor da cidade, mas também o seu pior.

TUDO IGUAL COMO DANTES...



Largo da Freira, Quinta-feira, 10h30, 20 graus celsius, Sol radiante e encavalitado nos telhados e beirais. Para não variar e provar que vale mais um costume que uma ordenação social, e que o lixo pode e deve fazer parte da paisagem urbana, esta pequena praceta apresenta-se hoje como habitualmente, como ontem, antes de ontem e mais e mais atrás –como quem diz, feliz por fazer parte de nós, da cidade.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

VER O SOL ATRAVÉS DA MINHA JANELA




A SAGA DO COMÉRCIO NA BAIXA DE COIMBRA:
Hoje fui a 3 floristas na baixa de Coimbra para comprar um ramo de flores e não consegui.
Na primeira loja, cheguei às 12h37 e a porta estava fechada e tinha um papel colado na porta a dizer " fui fazer uma entrega, volto já", e tinha também um número de telefone. Esperei 5 minutos e liguei para ver se demorava muito ( esperava se fosse preciso). A senhora disse - me que tinha ido almoçar a casa e que só abria às três da tarde e pediu-me para voltar a essa hora.
Na segunda loja quando entrei a senhora estava sentada num banco a fazer umas cenas. Dei as boas tardes e disse que queria um ramo de flores. Calada, a senhora continuou o que estava a fazer e eu feita otária ainda esperei uns 5 minutos. Acabei por desistir e fui embora.
Na terceira, o mesmo pedido, mas agora não o podiam fazer porque a rapariga que os fazia não estava.
Desisti do ramo e de continuar à procura.
DEPOIS PONHAM AS CULPAS NAS GRANDES SUPERFÍCIES.



Hoje fui à Câmara Municipal para tratar de um assunto do meu interesse e não consegui.
No primeiro serviço cheguei às 12h37 e a porta estava fechada para almoço –não tinha qualquer aviso a dizer que, no direito legítimo dos funcionários, tinham ido exercer a obrigação de saciar o estômago. Demoradamente, olhei a porta de alto a baixo para verificar se havia alguma comunicação escrita. Como não havia, apeteceu-me escancará-la. Nem um número de telefone nem nada! Mentalmente, pensei para comigo que, com tantos funcionários públicos, com tanto desemprego, com tanta apregoada falta de produtividade, era absurdo os serviços não estarem abertos durante a hora do almoço. Enquanto olhava o tecto pintado do corredor, pensei também que, mesmo sendo uma promessa eleitoral do PS, era paradoxal, ou melhor, discriminatório perante os privados, os funcionários públicos virem proximamente a trabalhar 35 horas semanais. Chamei a mim também o facto de não laborarem ao Sábado. Por momentos, amaldiçoei António Costa, o actual Primeiro-ministro. Rapidamente afastei o esconjuro porque, apesar de não ser Socialista, até gosto do homem –e, acima de tudo, estou a torcer para que o seu projecto político dê certo para o país, que também é meu, como se sabe.
Sou um pequeno comerciante, estou sozinho na loja – porque o movimento de clientes não me justifica ter funcionários –antes tivesse. Quem me dera! Trabalho todos os dias, incluindo Sábados e Domingos. É durante a hora de almoço que, muitas vezes, vou ao banco, faço entregas ou resolvo pequenas questões de logística. Naturalmente que, como não tenho o dom da ubiquidade, sou obrigado a encerrar. Bem sei que perco negócio por ter a porta cerrada, mas tenho outra alternativa?
Foi então que me lembrei de arriscar outra porta no edifício da municipalidade. Quem sabe, apesar de ser hora de almoço, não tivesse mais sorte e estivesse de portas abertas. Azar danado! Estava igualmente fechado este serviço, dito público e que, sendo assim, deveria ter um horário alargado. Por que não ir até às 22h00? Estava a especular, está de ver. Um funcionário público tem família, tem direito ao descanso. Mas há um ponto que nunca esqueço: mesmo considerando que se entrega à causa de servir o outro de corpo e alma, tem o seu ordenadinho certo. É pouco? É muito? Não sei! O que sei é que a sua função permite-lhe planear a sua vida ao longo de um mês. E eu? Se não vender? E, por vezes, estou o dia inteiro e não abro a caixa. Onde vou pedir dinheiro? Ao Totta?
Entretanto passou a hora de almoço e fui a outro serviço da edilidade. Então não é que dei as boas tardes e não obtive resposta? A funcionária estava a falar ao telefone com uma colega de outro serviço. Confesso que já me estava a passar. Comecei a tamborilar os meus dedos na secretária para chamar a atenção. Deveriam ter passado cerca de três minutos quando, finalmente, ela, com olhar escanzorrado, olhou para mim com olhos de “come, e está calado e cala-te”. Apeteceu-me virar-lhe as costas, mas, pelo respeito que devo a quem me presta uma tarefa, não fiz isso. Costumo pensar que a sociedade está encadeada. Uma parte serve outra parte mais notoriamente mas, no final, todos servimos para ser servidos. O problema é, amiúde, esquecermos e pensar que, às vezes, somos superiores ao servidor. Por isso mesmo, achei que deveria usar de alguma paciência e compreensão. Afinal, falho todos os dias. Quem sou eu para me classificar na reserva moral da nação? Se outros motivos não existissem, lembrei-me de tantos casos excepcionais de funcionários públicos anónimos que, num momento de aperto, me ajudaram na hora em que eu desesperava.
Nunca até hoje desisti de acreditar que, por haver maus funcionários, não posso generalizar e classificar todos pela mesma bitola. É profundamente injusto fazer este exercício. Sei que ao longo da minha existência vou sempre cruzar-me com bons, razoáveis e maus humanos. É a lei da vida –e aqui, na forma de avaliar, entra muito a minha subjectividade. Tenho obrigação de não esquecer que a minha clientela é constituída por bons e maus funcionários públicos. E quando lhes estou a vender, no meu interesse egoísta, pouco me importa o seu desempenho profissional.
Por morrer uma andorinha acaba a Primavera? Claro que não. Por ter um dia menos bom na Câmara Municipal de Coimbra, vou culpar toda administração pública?

(Crónica ficcionada apenas para responder ao texto que serve de bandeira e colocado no Facebook por uma funcionária da edilidade conimbricense)