sexta-feira, 28 de novembro de 2014

POR ONDE ANDAS, MEU AMOR?




“Todas as manhãs, quando acordo, lembro-me de ti. Todos os momentos do meu dia, não consigo te esquecer. Diz, meu amor, o que é que eu faço para não me lembrar do teu abraço. Eu preciso de te esquecer. Entro no meu carro e ligo o rádio, uma canção traz-me a recordação. Tudo o que eu vejo de bonito é parecido contigo. Diz, meu amor, o que é que eu faço? Eu preciso de rebentar de vez os laços que me prendem a ti!” –extractos da letra da canção “todas as manhãs”, de Roberto Carlos.
Sempre que algum conhecido, que não me vê há muito tempo, insiste em querer saber de ti, por onde andas, sem entrar em grandes planos de pormenor, tento dizer que está tudo bem. Que estás bem. Penso para mim que, como no Outono, quando a folha se desprende e, lentamente, tocada pelo vento, esvoaçando no ar tépido a desenhar piruetas rugosas no vazio, até chegar à terra firme, a saudade de toda uma vida fica impressa na curta distância entre a árvore que fica mais pobre e envelhecida e o chão que a vai receber de braços abertos para lhe servir de tumba. Se a folha, agora amarelecida, pudesse voltar atrás será que voltaria? E mesmo que o fizesse nada seria como dantes. A árvore, mesmo debilitada, está pronta a receber uma outra folha. Não se pode alterar o curso do tempo. Como num ciclo, a queda contínua e eminente de um corpo é a razão directa para o nascimento de outro e base da revitalização perene da Natureza. Tudo o que se abate é sempre substituído.
Confesso, tenho muita saudade de ti. Contigo a envolver-me sentia-me pujante e nada me derrubava. Julgava-me um Átila, um conquistador do mundo, um cavalo selvagem a calcorrear a pradaria, uma onda do mar que teimosamente bate na rocha simplesmente para mostrar a sua força. Como um bilhete-postal escrito em brevidade, aos poucos, sem que eu fizesse nada para o evitar, foste anunciando a tua partida mas eu, tão distraído e embrenhado na minha eternidade, não ligava. Achava que, sendo tão belo, com músculos tão salientes, fazias parte de mim e que, num privilégio só teu, me darias valor e jamais me deixarias. 
Vendo a imagem reflectida no espelho e que, em traços sumidos de outra época, julgo vagamente conhecer, pergunto-me obsessivamente se serei mesmo eu. Agora, que já não estás comigo, olhando permanentemente para trás e recordando momentos tão íntimos e só nossos, sei que te deveria ter dado mais atenção. Fazer-te só minha. Viver-te, gozar-te e amar-te. Num grande egoísmo sem perdão, aproveitando-me de ti para labutar e satisfazer a minha ambição, para além de te cansar, não viajei, não saí do meu canto. E tu, concedendo-me uma oportunidade única que não soube aproveitar, por que não estavas para suportar a minha imbecilidade, naturalmente deixaste-me. De pouco vale chorar lágrimas sobre o meu envelhecido rosto.

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