sábado, 29 de novembro de 2014

LEIA O DESPERTAR...




LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "REFLEXÃO: A CONSPIRAÇÃO", deixo também as crónicas "BAIXA: UMA OPORTUNIDADE PERDIDA"; "ERGUE-TE DÁ UMA MÃO NESTE NATAL"; e "UMA VIRGEM DE LUZ NA RUA DO POETA MORTO".


REFLEXÃO: A CONSPIRAÇÃO

O país, nos últimos dias, sofreu dois abalos telúricos na escala de Richter –como se sabe, é o modo de quantificar e atribuir um número à energia libertada num sismo. Se o primeiro, constituído pela detenção de vários quadros de topo do Estado por corrupção, andou numa magnitude de grau 7, considerado médio, embora causasse apreensão não trouxesse pânico, o segundo terramoto, a retenção de José Sócrates, na mesma escala de 10, ocorrido na passada sexta-feira –já considerada de negra pelos Socialistas- está a revolver a Nação.
Na primeira avançada sobre a prisão de altas chefias, presumivelmente por serem funcionários e não políticos, entre eles o presidente do Instituto de Registos e Notariado (IRN) e o diretor do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), como se fosse um ato normal de investigação, ninguém questionou ou colocou em causa a legitimidade da justiça e a sua consequência não abalou a segurança nacional. Já a segunda investida, a detenção do ex-Primeiro Ministro José Sócrates, está a dividir o retângulo. As teses de conspiração, umas com Miguel Macedo, o caído em combate ministro da Administração Interna, e a cidade de Braga por um canudo, entre outras, estão aí à mão de semear nas redes sociais. Poucos são os que estão preocupados com a nua e crua verdade. Esta passou a ser uma mera convicção ao sabor da ideologia de cada um. A sua reação de massas é de grupo religioso. Como prosélitos, como seguidores cegos e fanáticos, estão apenas inquietados com a prisão do seu líder espiritual. Afinal, interrogo eu, que sou um bocado parvo: queremos ou não uma outra forma responsável de fazer política?


BAIXA: UMA OPORTUNIDADE PERDIDA

Nos próximos dias 27 e 28 vai decorrer no Centro Histórico a conferência sobre o mote “A BAIXA NO CENTRO DA CIDADE: TURISMO PELO PATRIMÓNIO E(M) SEGURANÇA”. É uma iniciativa conjunta da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC) e da Polícia de Segurança Pública (PSP). É um evento abrangido pelo programa “Mais Centro”, co-financiado pelo QREN, Quadro de Referência Estratégica Nacional.
A primeira jornada, quinta-feira 27, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Coimbra, começa pelas 9h00 com o “acolhimento” e seguido da entrega de um prémio. Pelas 11h00 o primeiro painel temático “Estratégias para a dinamização e promoção dos centros históricos” e seguido de debate. Na parte da tarde, pelas 14h30, inicia-se o segundo tema para discussão “Questões de segurança nos Centros históricos” e com o sucessivo debate. O terceiro assunto, anunciado para as 16h30, é “Centros históricos, reabilitação urbana e benefícios fiscais” com debate na subsequência pelas 17h30. A sessão de encerramento será pelas 18h00, com três palestrantes, e que, certamente chegará até às 19h00.
A segunda etapa, sexta-feira 28, no Edifício chiado, na Rua Ferreira Borges, inicia-se pelas 9h30 com vários “workshop’s”, reunião de várias pessoas interessadas num determinado assunto. O primeiro será “A exposição do produto como fator de atração”. O segundo, pelas 10h15, será “Medidas de Segurança”. O terceiro, pelas 11h30, será “Boas práticas no sector do turismo na componente digital”. E a quarta oficina será “Boas práticas para o conhecimento do património”.
Pelo anunciado, pela riqueza dos temas para discussão, estão de parabéns os promotores, a CMC, a APBC e a PSP.

MAS, Ó SENHOR?! NESTE HORÁRIO, A QUEM SERVE ISTO?

Se tivesse ficado pelo ponto final e parágrafo, porque seria apenas uma notícia, estas três entidades até me batiam palmas de contentes. Acontece que eu não sou jornalista, sou fazedor de opinião, treinador de bancada, como vulgarmente se diz. Sendo assim, indo muito mais para além do anúncio do evento, começo logo por partir a louça toda com interrogações: tendo em conta que ocupa completamente um dia e meio, a quem se dirige esta convenção ou se quiserem chamar-lhe conferência? Aos mesmos do costume? Àqueles que, de fora, têm uma ideia “formatada”, “plastificada”, da vivência e dos problemas da Baixa? Os organizadores deste importante –sublinho importante- congresso, por acaso, só mesmo por acaso, pensaram que estes trabalhos deveriam ser participados pelos pequenos comerciantes e industriais de hotelaria, residentes e moradores? Claro que não se preocuparam com o sucesso deste acontecimento. Em juízo de valor, estas ocorrências importantíssimas para se analisar o situacionismo das urbes antigas e visar o seu desenvolvimento não têm por objecto a discussão pública mas antes um falar para dentro, um cumprir de calendário. Em metáfora, fazer isto neste horário, é o mesmo que tentar pregar para surdos. É mandar dinheiro fora! É perder uma oportunidade vital. Sabendo os organizadores que a pequena loja do Centro Histórico está a funcionar apenas com uma pessoa, realizar um evento destes à quinta e sexta-feira é o mesmo que estabelecer uma rede invisível para certos extractos sociais. Foi intencional? Não acredito! Creio mais na idiotice que, como pandemia, infelizmente, grassa por aí. Uma pena! Continuarmos a estourar verbas em conversas para “boi dormir”!


ERGUE-TE  DÁ UMA MÃO NESTE NATAL

O projeto “ERGUE-TE”, um movimento que tem por missão ajudar mulheres em situação de risco, desestruturadas da família e em contexto “prostitucional”, que além de defender a sua dignidade e fomentar uma nova filosofia de vida, gratuitamente, presta apoio social, psicológico e jurídico a quem o solicitar.
Com sede no Edifício Azul, no Largo das Olarias, junto à Loja do Cidadão, desde a semana passada e até 16 de Dezembro, está a realizar uma venda de Natal no rés-do-chão do mesmo edifício onde está implantado. A funcionar entre as 10 da manhã e as 19h00, um sorriso espera quem transpõe a porta. Quer pela causa nobre que desencadeia fenómenos de partilha e solidariedade, quer por serem artigos muito baratinhos, a verdade é que a procura está a exceder a oferta. Até parece que a austeridade não existe para quem entra no salão de exposição. Mesmo com a crise que se vive é interessante verificar a afluência em busca de uma prendinha. Tentar justificar esta atração é o mesmo que acreditar que quem compra um pequeno artigo, por um ou dois euros, misturando egoísmo e alteridade num forte abraço, sente que está a colaborar para uma causa humanitária de largo espectro social.
Aproveitei a presença de uma senhora de meia-idade que estava a pagar. Sob anonimato, aceitou dar-me umas palavras. Pelas roupas simples, notava-se, era de origem humilde. Por cerca de 10 euros, levava para casa uma sacada de artigos, uns manufaturados pelos imensos voluntários, outros doados por gente que quer participar. Coloquei-lhe a seguinte questão: o que a levou a vir à loja da “ERGUE-TE” e adquirir esta mercadoria?
“Todos os anos venho cá e, embora tenha dificuldades, deixo o meu contributo. Sei que este projeto faz um bom trabalho de interajuda ao próximo. Uma pessoa sente-se bem a colaborar. O bem é um sentimento que nos transcende e se propaga até ao infinito. O bem traz o bem. Entende? Conheço uma rapariga que, há vários anos, andava aí na rua a prostituir-se. Começou a frequentar um dos vários cursos desta instituição de solidariedade, reconquistou a dignidade, e agora luta com uma força incrível. Só gostava que visse o brilho novo e intenso dos seus olhos!”



UMA VIRGEM DE LUZ NA RUA DO POETA MORTO

Há cerca de um mês, abriu a “Corina Sapataria”, na Rua Adelino Veiga. Sobre gerência de Ana Brito e apoio do marido Luís Brito, proprietários de um estabelecimento congénere, a sapataria “Low Cost”, na Rua Sargento Mor, esta nova sapataria promete dar que falar na nobre arte de aconchegar os pés. Tal como a casa-mãe, na “Corina Sapataria” há uma preocupação: ter qualidade a baixo preço. Segundo Ana Brito, “sinceramente, estamos muito satisfeitos. No princípio, confesso, estávamos com muito medo. Mas depois, entre o avançarmos ou estarmos quietos, pensámos: vamos em frente. Se não der, perdemos apenas o valor de uns meses de renda, já que o artigo existente volta para a nossa primeira loja. E valeu a pena! O aforismo de que “quem não arrisca não petisca” aplica-se completamente. Felizmente, estamos a petiscar!”
Há um pormenor muito interessante que ressalta na paisagem: quem passou anteriormente na Rua Adelino Veiga, quando esta antiga loja, que pertenceu à desaparecida Fetal, esteve encerrada, mais que certo, apercebeu-se do quanto contribuía para o apagamento da artéria do poeta morto. Agora, com este novo estabelecimento aberto, que dá pelo nome de “Corina” –que significa “virgem”, “imaculada”-, parece que uma nova luminosidade desceu naquele local. Não há dúvida de que as lojas comerciais, com a sua luz, cor e movimento, são o espírito que impede que as vias pedonais, outrora tão cheias de vida, caiam num silêncio sepulcral onde o fenecimento e a solidão são uma constante. É uma pena que quem manda não veja, não sinta a sensibilidade, e tenha de ser a iniciativa privada, sem apoio de espécie alguma, a desencadear a revitalização das cidades.

UM ROTEIRO MUITO INTERESSANTE PARA O COMÉRCIO




Há muitos anos que se fala na necessidade de articular o turismo religioso com o comércio da zona histórica. Pelo menos de uma forma clara, sem subterfúgios, e de modo a que todos, independentemente da sua grandiosidade comercial, possam, em condições iguais, receber nas suas lojas uma parte dos milhares de visitantes que todos os dias chegam à cidade.
Sensibilizada para o problema, a Aposenior, Universidade Sénior de Coimbra –com sede no Convento de Santa Clara-a-Nova, que tem por objectivo promover o envelhecimento activo, através do estímulo do exercício intelectual e cognitivo, e combatendo a solidão através da partilha de experiências-, decidiu contribuir para a dinamização da cidade e para a sua promoção através da atracção de público e que, na interacção, desenvolva movimento para o seu comércio local, sobretudo para a Baixa, e criou o “Roteiro monástico Coimbra”. Quem nos vai explicar este projecto é Diogo Teixeira Dias, coordenador do “Roteiro Monástico”: “por que vivemos intensamente os problemas da cidade, entendemos que havia uma lacuna na ligação entre os mosteiros e conventos das duas margens do Mondego e o comércio da Baixa. Percebemos que deveria ser estabelecido um circuito turístico, maioritariamente pedonal, que, para além das ruas largas, passasse também nas artérias estreitas da Baixa, e, sobretudo, que abrangesse os estabelecimentos comerciais, a sua história e os seu “modus vivendi” na urbe. Como se entende, o público-alvo a captar é não só o turista nacional e estrangeiro como também os utentes das universidades séniores do País, com quem a Aposenior mantém contacto privilegiado, que constituem um público mais disponível, quer a nível de tempo, quer a nível financeiro, para este tipo de circuitos -as universidades séniores inscritas na RUTIS (Rede das Universidades Séniores) são 254 - o que equivale a mais de 36 mil estudantes. Não pretendemos cobrar nada aos comerciantes aderentes. Apenas solicitamos que, no acto de inscrição –que através do preenchimento de uma ficha, pode ser enviado para rmonastico@gmail.com, ou por correio, ou para a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, onde a recolheremos- nos seja indicado um desconto para os turistas que acompanhamos. Aproveitando esta sua crónica, solicitamos aos senhores comerciantes que se inscrevam e todos juntos, Aposenior e lojistas, lutemos para uma vivência mais útil e feliz. Muito obrigado pela oportunidade.”





BOM DIA, PESSOAL...

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

BAIXA: INOVAR SEM NOVIDADE?



No âmbito da “Conferência A Baixa no Centro da Cidade: Turismo pelo Património e(m) Segurança”, realizada ontem, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Coimbra, e hoje, no Edifício Chiado, com “Workshop’s”, trabalhos oficinais de grupo, foi entregue, ontem, o prémio “Coimbra. Inovar o Tradicional no Centro Histórico”.
Segundo o Diário de Coimbra, de hoje, “Run, Coimbra, Run” é a ideia de negócio que venceu o concurso “Coimbra. Inovar o Tradicional no Centro Histórico”, promovido, em parceria, pela Câmara Municipal de Coimbra (CMC) e o Instituto Politécnico de Coimbra (IPC), no âmbito do Programa INOVC. Nádia Rodrigues (licenciada em Turismo pela Faculdade de Letras) e Cátia Martins (licenciada em Design Multimédia pela Escola Superior de Educação de Coimbra) desenvolveram uma ideia de negócio que propõe visitas turísticas personalizadas e com informações que, normalmente, não constam dos roteiros turísticos, a partir de um “postal original”, concebido pela “Run, Coimbra, Run”. (…) Ao conquistarem o prémio, Nádia Rodrigues e Cátia Martins ganham direito a receber consultadoria para transformar a ideia de negócio em empresa, além de um valor monetário de 2500 euros para aplicar no capital social da empresa que venha a ser criada na sequência do “Coimbra. Inovar o Tradicional no Centro Histórico”.

INOVAR SEM RENOVAR?

A Go,Leisure & Heritage é uma firma unipessoal, turística, com sede na “Casa Medieval”, uma construção classificada, na Rua Sargento Mor. Existe na Baixa há cerca de dois anos e, desde essa altura, alegadamente, faz exactamente o mesmo que foi agora premiado e qualificado como inovação por parte da CMC e do IPC. Sara Cruz, licenciada em turismo, lazer e património, perante este projecto que classifica como tomado a papel-químico do seu, sentindo-se indignada, desabafa: “o que foi agora proposto como novo é tudo o que fazemos há cerca de dois anos.”
À minha pergunta se considerava plágio respondeu: “não vou cair no facilitismo de o rotular assim. Não quero! Várias empresas oferecem serviços muito semelhantes em outras cidades por todo o Portugal e até pelo mundo. Mas estou profundamente triste. Isto é uma desconsideração por parte das entidades promotoras do concurso –a CMC e o IPC- ao entregarem um prémio a uma ideia que já existe. Eu não concorri porque o regulamento do concurso destinava-se a licenciados que tivessem concluído os seus cursos até cinco anos. Mas do mesmo modo, se estivesse abrangida, não iria propor-me uma vez que a minha ideia estava implantada e já em prática. Teria pensado que se procurava mesmo uma ideia nova.
O que mais me incomoda é que, em 2011, candidatei-me a um curso de empreendedorismo da CMC e nem sequer fiquei classificada em lugar elegível. Quando criei a firma não tive qualquer apoio da autarquia –no início do Verão deste ano tive uma reunião com a vereadora da Cultura, Carina Gomes, que apenas se limitou a remeter-me para o Gabinete de Apoio ao empreendedor para a autorização legal- e não foram resolvidos problemas tais como a sinalização da Casa Medieval no topo das escadas da Rua dos Gatos.  Para iniciar a empresa e desenvolver o projecto ninguém me ligou nenhuma. Foi tudo com capitais próprios e muita força de vontade, já que não beneficiei de quaisquer apoios ou financiamentos nesse sentido. Ainda hoje, e após dois anos de existência, me sinto invisível.”

E COMO VIU ESTA CONFERÊNCIA?

Começou logo mal pela calendarização e pela divulgação. No “timing”, ser feito a meio da semana foi muito prejudicial. Tive a porta fechada. Se fosse ao fim-de-semana haveria muito mais gente a participar. Aqui da minha rua, embora me transmitissem a vontade de estarem presentes, não foram por impossibilidade. O debate deveria ter sido feito com os operadores, comerciantes e pequenos hoteleiros, para se aproveitar as suas ideias e com debate –era bom que a edilidade se disponibilizasse a ouvir quem está no terreno. Muitas ideias seriam exequíveis. Tenho a certeza.
Na divulgação foi uma pena ter sido dado conhecimento com um dia de antecedência. Os hotéis não souberam desta conferência. Falei com pessoas de alguns e nenhuma tinha sido informada.
Embora achasse que faltou lá debate, mesmo assim, foi interessante. Gostei sobretudo da dissertação, hoje, de Filomena Pinheiro, da Turismo Centro de Portugal, sobre aplicações informáticas, e de Paulo Neves, sobre o trabalho dos guias turísticos.”

A APBC NÃO TEM RESPONSABILIDADE NA ATRIBUIÇÃO DO PRÉMIO

Vitor Marques, presidente da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, APBC, entidade que, juntamente com a PSP, colaborou na organização da “Conferência A Baixa no Centro da Cidade: Turismo pelo Património e(m) Segurança”, perante o facto de se atribuir um prémio de inovação a um projecto já visto e em execução nesta parte velha, declarou: “a APBC não tem qualquer responsabilidade na atribuição. Nem sequer tomámos conhecimento das ideias a concurso. A competência foi da responsabilidade da CMC e do IPC.”

O QUE DIZ QUEM VENCEU?

Cátia Martins, licenciada em Design Multimédia pela Escola Superior de Educação de Coimbra, e Nádia Rodrigues, formada em turismo pela Faculdade de Letras, com o projecto “Run, Coimbra, Run” foram as vencedoras da ideia de negócio que venceu o concurso “Coimbra. Inovar o Tradicional no Centro Histórico”. Para um justo equilíbrio entre as partes, e para que o leitor em ponderação possa aferir com justiça, é legítimo e de direito ouvir a parte vencedora.
Afinal a vossa ideia é ou não igual à de Sara Cruz? Interroguei. Respondeu Nádia Rodrigues: “Compreendo que a Sara esteja triste, sobretudo por que não foi apoiada, mas nós não temos culpa. Apresentámos um trabalho ao júri e, como gostou, contemplou-nos com o prémio. A partir daí não entramos em guerra com quem quer que seja. O turismo é uma área imensa que tem pano para mangas para explorar e dá para todos. Como me pede, sucintamente explico que a nossa concepção –uma vez que ainda não está em prática- assenta em visitas pedestres, tal como todas. O que torna a nossa ideia mais inédita é o facto de trabalharmos com turistas a partir de um “postal original”, criado pela Cátia, a minha comparte. Vou explicar melhor. Na sede da nossa futura empresa teremos postais temáticos individuais de monumentos ou ruas, entre outros. O visitante que se nos dirige escolhe a Igreja de Santa Cruz, por exemplo. Então, sem esquecer a área envolvente, com o nosso cliente, iremos visitar o Panteão Nacional e, fundamentalmente, contaremos toda a sua história. Qual é a diferença entre o que se faz e o que pretendemos iniciar? Vamos mostrar um olhar mais personalizado, mais profundo das coisas da nossa cidade e que tantas vezes passam ao lado. Como numa viagem, queremos ir à génese, ao âmago, à alma da matéria. Espero ter ajudado a clarear a questão.”





BOM DIA, PESSOAL...

POR ONDE ANDAS, MEU AMOR?




“Todas as manhãs, quando acordo, lembro-me de ti. Todos os momentos do meu dia, não consigo te esquecer. Diz, meu amor, o que é que eu faço para não me lembrar do teu abraço. Eu preciso de te esquecer. Entro no meu carro e ligo o rádio, uma canção traz-me a recordação. Tudo o que eu vejo de bonito é parecido contigo. Diz, meu amor, o que é que eu faço? Eu preciso de rebentar de vez os laços que me prendem a ti!” –extractos da letra da canção “todas as manhãs”, de Roberto Carlos.
Sempre que algum conhecido, que não me vê há muito tempo, insiste em querer saber de ti, por onde andas, sem entrar em grandes planos de pormenor, tento dizer que está tudo bem. Que estás bem. Penso para mim que, como no Outono, quando a folha se desprende e, lentamente, tocada pelo vento, esvoaçando no ar tépido a desenhar piruetas rugosas no vazio, até chegar à terra firme, a saudade de toda uma vida fica impressa na curta distância entre a árvore que fica mais pobre e envelhecida e o chão que a vai receber de braços abertos para lhe servir de tumba. Se a folha, agora amarelecida, pudesse voltar atrás será que voltaria? E mesmo que o fizesse nada seria como dantes. A árvore, mesmo debilitada, está pronta a receber uma outra folha. Não se pode alterar o curso do tempo. Como num ciclo, a queda contínua e eminente de um corpo é a razão directa para o nascimento de outro e base da revitalização perene da Natureza. Tudo o que se abate é sempre substituído.
Confesso, tenho muita saudade de ti. Contigo a envolver-me sentia-me pujante e nada me derrubava. Julgava-me um Átila, um conquistador do mundo, um cavalo selvagem a calcorrear a pradaria, uma onda do mar que teimosamente bate na rocha simplesmente para mostrar a sua força. Como um bilhete-postal escrito em brevidade, aos poucos, sem que eu fizesse nada para o evitar, foste anunciando a tua partida mas eu, tão distraído e embrenhado na minha eternidade, não ligava. Achava que, sendo tão belo, com músculos tão salientes, fazias parte de mim e que, num privilégio só teu, me darias valor e jamais me deixarias. 
Vendo a imagem reflectida no espelho e que, em traços sumidos de outra época, julgo vagamente conhecer, pergunto-me obsessivamente se serei mesmo eu. Agora, que já não estás comigo, olhando permanentemente para trás e recordando momentos tão íntimos e só nossos, sei que te deveria ter dado mais atenção. Fazer-te só minha. Viver-te, gozar-te e amar-te. Num grande egoísmo sem perdão, aproveitando-me de ti para labutar e satisfazer a minha ambição, para além de te cansar, não viajei, não saí do meu canto. E tu, concedendo-me uma oportunidade única que não soube aproveitar, por que não estavas para suportar a minha imbecilidade, naturalmente deixaste-me. De pouco vale chorar lágrimas sobre o meu envelhecido rosto.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

LEIA O CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS...





Leia aqui o CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS desta semana.

Na página "OLHARES... POR COIMBRA E PELO PAÍS, na rubrica "NÓS POR CÁ" escrevi "O ACESSO AO JARDIM DO ÉDEN". Na rubrica "OLHAR PARA SUL..." deixo o texto "ESTOU VELHO, EU SEI" 


NÓS POR CÁ...


O ACESSO AO JARDIM DO ÉDEN

Não se sabe muito bem a razão mas muitos dos turistas que saem do posto do turismo do Largo da Portagem e pretendem entrar para o Jardim Botânico, em vez de irem para a Alta, para os Arcos do Jardim, deslocam-se para o fundo da Rua da Alegria, junto às Águas de Coimbra –outrora houve ali um acesso direto ao grande jardim da Universidade de Coimbra, fundado pelo Marquês de Pombal, em 1772, desenvolvido por Domingos Vandelli e apoiado pelo naturalista e botânico Avelar Brotero. Hoje, junto às instalações da EDP, um grande portão em ferro trabalhado artisticamente permanece encerrado e veda um caminho largo até ao jardim dos Arcos. Segundo uma testemunha que pediu o anonimato e que trabalha ao lado do acesso, durante o Verão, diariamente, cerca de duas dezenas de visitantes dão de chofre e voltam para trás. Mesmo agora, no Outono, é normal ver miúdos a escalar, a subir e a descer, a grande porta negra. No turismo, no Largo da Portagem, sabem que é assim mas não têm explicação plausível. É provável que em antigos roteiros da cidade, e em posse de guias internacionais, ainda conste a entrada para o nosso importante jardim pela Baixa da cidade.
Em Dezembro, do ano passado, por alturas do Natal e aquando da reativação do elevador do Mercado, que liga o Mercado Dom Pedro V à Rua Padre António Vieira, Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, afirmou estar a estudar a hipótese de ligar a Alta à Baixa através de um funicular, um elevador elétrico, que funcionasse entre o Parque Verde e a Universidade, passando pelo Jardim Botânico.
Um ano passou e, aparentemente, tudo continua igual. Será assim? Ou haverá planos para abrir a entrada dentro em breve? Fui colocar a questão a Paulo Trincão, o diretor do Jardim Botânico há cerca de dois anos. Trincão, outrora diretor do desaparecido Museu da Ciência e da Técnica –que, sou testemunha, com muita mágoa assistiu ao desmembramento e divisão do seu acervo-, personalidade sobejamente conhecida na cidade e profundamente interessada no seu progresso, desenvolvimento e cultura, naturalmente que saberá o que se passa. Conte-nos, professor, o ingresso ao grande jardim pela Baixa alguma vez voltará a ser uma realidade?
“Vai sim! A comunicação pela Baixa será uma certeza! No último 4 de Julho foi assumido um protocolo entre a autarquia e a UC para a requalificação dos caminhos e iluminação pública do Jardim Botânico. Por fases, iremos encerrar o horto durante vários meses. Aproveitando os incentivos do QREN, Quadro de Referência Estratégica Nacional, penso que para finais do próximo ano, e depois de todos os melhoramentos, estará tudo concluído. Se tudo correr bem, ainda neste próximo mês de Dezembro iniciaremos as obras. Vamos modernizar sem alterar a essência, a matriz do jardim. Iremos criar um corredor de circulação que valorize o Jardim Botânico mas sem esquecer o Parque Verde e o Museu da Água, na Baixa, bem como toda a área envolvente, e a Alta com toda a sua monumentalidade. Dentro em breve teremos um segundo Anel Verde na cidade.
Este protocolo, para além de envolver a CMC e a UC, é uma parceria entre várias entidades como, por exemplo, as Águas de Coimbra. Posso garantir que este projeto vai agradar. Temos tido um espetacular relacionamento com a edilidade, sobretudo com este novo executivo. Não quero dizer que com o anterior, liderado por Barbosa de Melo, não tivesse havido entendimento. Houve sempre. Porém, faltou a vontade de o passar à prática. Com a administração de Manuel Machado, sem delongas, sem prorrogações, entrámos diretamente no protocolo. É um caso de modelo exemplar e de eficácia entre os vários parceiros. Sinto-me muito satisfeito por saber que, também, estou a contribuir para uma melhoria importante para Coimbra. Você conhece-me há muitos anos e sabe o quanto sinto o pulsar da Baixa. Estou muito empolgado, acredite!”

OLHAR PARA SUL...


ESTOU VELHO, EU SEI!

Tenho dias que creio não pertencer a esta época hodierna. Sinto que sou do passado, filho de um tempo que já não é o nosso. Tenho saudades desse período. Era uma época em que tudo rolava devagar. O vento soprava, a neve caía, o Sol brilhava e nós dávamos conta dos seus efeitos. Sabíamos que quando os raios solares batessem na esquina da sapataria do senhor “Manel” seria meio-dia. O astro-rei era o nosso relógio natural. As pessoas transitavam calmamente nas ruas com um sorriso colado no rosto. Íamos à mercearia da esquina e o senhor Salomão, o dono, de bata acinzentada, atendia-nos um quilo de açúcar a granel retirado da tulha e, às vezes, enganava-se no peso. As coisas não eram previsíveis. Para alcançar fosse o que fosse era preciso percorrer a pé uma longa estrada forrada a paralelepípedos, pedras acinzentadas em cubos. Em todos os largos floridos da cidade havia crianças a jogarem à bola.
Hoje é tudo muito rápido. Os dias, como mensageiro apressado em levar a boa-nova, passam por mim sem os ver. Não porque não tenha folga. Tenho muita; demasiada. Então porque passa o tempo a correr, como se quisesse fugir de mim? Sei lá! Provavelmente os meus olhos já não são os mesmos. Endureceram e deixaram de se fixar nas coisas simples, como, por exemplo, um louva-deus a pousar na soleira da porta. Se calhar noutro tempo, talvez por ser mais novo, ainda que sofregamente, queria somente viver. Agora, mais velho, no epílogo da vida, tento apenas sobreviver –não que o faça de qualquer forma e feitio. Isto é, que passe por cima de tudo para o conseguir. Por agora ainda não. Amanhã sei lá?! Ninguém sabe o que acontecerá daqui a um dia. Por enquanto consigo pensar. E ao refletir liberto-me. É como se me dividisse em dois e, pelas metades, ficasse mais aliviado. Atenuado sim, mas não com as preocupações resolvidas. Tento ir ao fundo das coisas e perguntar porque são assim e não são de outro modo? Andamos todos ao engano. Como náufragos perdidos na imensidão, agarramo-nos a tudo, sobretudo à paganística secular, para chegar a terra-firme, como quem diz, a amanhã. Fugimos a toda a pressa da jornada de hoje. À noite, quando nos deitamos na cama, cansados de tanta falta de perspectiva e sem vislumbrar a luz ao fundo do túnel, em vez de rezar como antigamente e agradecer a Deus a graça de mais um dia passado, respiramos fundo e pensamos: “ufa! Este já está! Vamos lá ver o próximo!”. A sensação é sempre de perda. É como se sentíssemos que os sonhos construídos ao longo da nossa vida são agora farrapos a esvoaçar ao vento. Sentimos que estamos todos a entrar pelo cano que leva ao lago da imundície. Entre todas, a maior tragédia que alguém pode suportar é o perder tudo o que foi conseguido com suspiros de amor e lágrimas de sangue. É sentir que se foi um mero passageiro sem história, uma nuvem sem corpo, um inútil que não serviu para nada. Tudo o que se fez, como pingos de chuva no areal, se esvaiu no vazio. Uma coisa é nunca ter alcançado um estado de conhecimento, mantendo-se na ignorância, outra é enxergar, vivê-lo e, como se apagasse tudo com uma esponja, ser obrigado a regressar ao ponto de origem como num eterno retorno probabilístico.
As notícias, ainda que pareçam de esperança, são cada vez mais tristes e desanimadoras. Em metáfora, estamos à beira de um abismo, à espera de acontecer qualquer coisa que, embora previsível, não se sabe bem o que é. Há cerca de uma semana foram presos altos quadros do Estado. Nesta última sexta-feira, também por suspeitas de corrupção foi detido para interrogatório um ex-Primeiro Ministro. Dando pulos, deveríamos exultar de alegria e gritar que, afinal, a justiça é para todos. Ai é? Como é imensa a nossa ingenuidade! Como poderemos acreditar que somos todos iguais quando intrinsecamente somos diferentes? Para alguns, quando os meios de defesa, na contratação de grandes advogados, são tão díspares como é a desigualdade entre a pulga e o elefante. Sabe-se, tudo reside numa questão de prova. Está bem! Está certo! Mas e o mal que nos fizeram, sobretudo, na última década? É difícil de vislumbrar o probatório? Onde estão os responsáveis pelo nosso empobrecimento? Em nós, claro! “Gastámos de mais!” –fazem-nos crer, desvalorizando a nossa inteligência.
O problema é que não sabemos para que lado cair na avaliação racional. Tomamos o todo, como global que está doente, cancerígeno? Ou, na dúvida que nos faz conter a irracionalidade e nos dá fé no futuro, apreendemos que é simplesmente uma parte que tem metástases e ainda se salva uma outra fatia maior do todo? E se nos andamos a enganar uns aos outros e isto, este Portugal onde nascemos e crescemos, não tiver salvação?
Sabemos que este Governo é fraco na convicção que transmite ao povo, não tem autoridade legitimada –não porque não ganhasse as eleições, mas porque os atentados contra os cidadãos são tantos que lhe retiram a autoridade moral para continuar a governar. Toda a cúpula do Estado está entregue a pessoas ora sem passado político, ora com passado demasiado ligado às patranhas e negociatas. Mas e o governo que vier a seguir? Será melhor? Claro que não. Para além da corrupção, há muita manipulação política por detrás e ficamos sem saber onde começa a verdade e acaba a mentira. Em teses de conspiração, há um movimento deliberado e direcionado para derrubar este executivo, mais de acordo para se substituir com as convicções partidárias de cada um –“porque não serve o povo”, diz-se e a maioria de nós concorda. Porém, poucos acreditam de que o interesse do País esteja em primeiro lugar. O Governo está transformado num Robim dos Bosques ao contrário: assalta os mais desfavorecidos, essencialmente os que estão no meio da tabela, para entregar de mão-beijada aos grandes grupos económicos. E o que vier a seguir? A mesma coisa, idem aspas, aspas. Este é o verdadeiro drama. É como se, de espada empunhada, se lutasse contra o vento. E o mais grave é que este sentimento de ditadura para a classe média perpassou para as autarquias. O comportamento é igual como papel mata-borrão. Buscam apenas o poder para, depois de o conseguir, manobrarem a máquina administrativa no oceano dos seus interesses, colocando os amigos nos pontos-chave, distribuindo empregos aos correligionários e sobrecarregando os munícipes com mais taxas –tantas vezes disfarçadas de impostos.
A ignorância é uma pandemia e maioria dos cidadãos já nem lê jornais. E muito menos está interessada na verdade factual que lhe permita pensar e retirar uma ilação própria, sua, livre e sem ser conspurcada em motivações políticas alheias. Em metáfora, é como se passássemos a emprenhar pelos olhos. Vivemos no meio de um universo de informação que, em vez de informar, desinforma e, sem grande subtileza, pode servir vários interesses, todos, menos o esclarecer o cidadão. A sensação que se tem é que andamos todos cada vez mais perdidos e sem saber para onde caminhamos. Que saudades que eu tenho de outros tempos! Estou velho, eu sei!



BAIXA: UM CONTRA-SENSO NO BOTA-ABAIXO



Desde há várias semanas, exceptuando o Sábado e Domingo e praticamente todos os dias, dois agentes da Polícia Municipal (PM) deslocam-se ao Largo das Olarias, em frente à Loja do Cidadão, e ali permanecem algum tempo. Embora seja perceptível o elevado trato respeitoso para com os automobilistas que chegam e pretendem parar, muitas viaturas particulares têm sido multadas nos últimos dias.
Por parte de alguns comerciantes, as queixas de “perseguição ao comércio da Baixa” têm sido mais do que muitas. Ainda ontem um lojista com estabelecimento junto à Praça do Comércio, que pediu o anonimato, aproveitava para desabafar comigo: “Já viu o que está acontecer no “Bota-abaixo” com a PM? Eles querem mesmo arrumar connosco. O que eles querem é que as pessoas não venham para aqui fazer compras e vão para os Centros Comerciais. Ou então estão a fazer o jogo dos parques de estacionamento em redor. É um escândalo! De quem será a (i)responsabilidade? As ordens virão do comandante da PM? Ou virão directamente da vereadora responsável pelo pelouro?”
Naturalmente que não sei responder. O que sei, porque vejo, é a constatação do facto da permanência diária dos agentes da PM no largo que alguns dizem ser de maldição. Para quem não conhecer, é uma praça central que, já desde os anos de 1960 aquando das primeiras demolições para a construção da futura Avenida Central, sempre foi uma espécie de ancoradouro onde tudo o que mexe atraca. Ainda no mandato do então presidente da Câmara Municipal de Coimbra -e actual-, Manuel Machado, no virar do novo milénio, após alienação do terreno em concurso público à empresa Bragaparques, SA, viu surgir um grande estacionamento na cave e sub-cave e edifícios à superfície com um projecto de vias largas e destinadas à passagem do Metro Ligeiro de Superfície. Catorze anos se esfumaram e o Metro, com toda a polémica associada que se conhece, nunca passou do papel. Porém, vá-se lá entender o motivo de se continuar a proibir a paragem de veículos no local como se estivesse sempre eminente o trânsito do trem fantasma. Ou seja, interrogando directamente: que razões superiores estão na base de proibir a paragem num local tão central? Penso que nenhum fundamento atinente se levanta a não ser o “sim por que sim”. Aliás estamos perante uma absurda atitude burocrática, lesiva para a colectividade e anti-económica. Ou seja, a lógica, o bom-senso, manda que se coloquem ali parquímetros com a primeira hora a pagar um valor irrisório –por exemplo 20 cêntimos- e as subsequentes com preços iguais a outros estacionamentos públicos, incluindo o espaço destinado à carga e descarga –que, por ser gratuito, nunca funcionou com eficácia.
Contrariamente ao que a maioria de comerciantes defende –a gratuitidade- é preciso desmitificar de uma vez por todas esta questão. O estacionamento na Baixa deve ser sempre onerado. Só sendo pago se consegue uma ordenação. Se for sem pagar é ocupado logo de manhã e todo dia se mantém. O seu custo terá é de ser muito baixo, sobretudo na primeira hora. Um dos maiores problemas da acessibilidade a esta zona velha é o elevado preço praticado pelos parques.
Talvez estivesse na altura do executivo camarário demonstrar que, sendo diferente do anterior, tem uma outra visão prática e clara de alguns problemas que impedem esta zona comercial de ser mais aberta para todos. Ficamos à espera.

BOM DIA, PESSOAL...

TRANSPARÊNCIA E INTEGRIDADE - ASSOCIAÇÃO CÍVICA




“Cara/o associada/o,

É com enorme prazer que lhe anuncio o lançamento oficial da Provedoria TIAC – Alerta Anticorrupção, um novo serviço da Transparência e Integridade, Associação Cívica que pretende dar informação e apoio a cidadãos empenhados em dar o alerta para suspeitas de corrupção de que tenham conhecimento.

Desde que fundámos a associação, em 2010, temos vindo a ser contactados por cidadãos à procura de apoio e aconselhamento para encaminhar suspeitas de corrupção e crimes relacionados. Aprendemos com esta experiência que a corrupção toca-nos a todos, diretamente, no dia-a-dia, e que muitos de nós nos sentimos desprotegidos na hora de reagir.

A Provedoria TIAC – Alerta Anticorrupção quer ouvir as suspeitas de corrupção e abuso que nos sejam trazidas pelos cidadãos e ajudar cada um a ser um agente pela integridade. Este projeto, integrado num programa europeu dinamizado pela Transparency International e cofinanciado pela Comissão Europeia, permite-nos dar um acompanhamento mais próximo àqueles que nos contactam e, ao mesmo tempo, agir sobre as autoridades competentes para garantir que estão atentas às queixas dos cidadãos e respondem de forma eficiente cada vez que há suspeitas válidas de irregularidades.

Não seremos uma polícia de investigação criminal, nem nos substituímos ao trabalho das autoridades competentes. Não queremos uma justiça de milícias, mas uma justiça de instituições capacitadas, diligentes e atentas ao interesse público. Queremos fazer chegar aos poderosos a voz dos cidadãos e usar a força da cidadania para melhorar o combate à corrupção em Portugal.

Fica desde já o convite para visitar a página da Provedoria no website da TIAC: http://transparencia.pt/#provedoria

E adianto já outro convite: junte-se a nós para as comemorações do Dia Internacional Contra a Corrupção! O ponto de encontro é no dia 9 de Dezembro, na Casa Independente, no Largo do Intendente em Lisboa, a partir das 19h30, para um evento que será um ponto de encontro entre cidadãos unidos nesta causa comum.

Será o nosso evento de lançamento da Provedoria TIAC – Alerta Anticorrupção, uma oportunidade para apresentarmos o serviço, conversarmos entre amigos e assistirmos à animação de um grupo de artistas amigos da TIAC, com uma intervenção teatral do ator Bruno dos Reis e um showcase da banda Fadomorse. Queremos que seja uma noite de diversão e celebração do papel que, todos juntos, vamos ter no combate à corrupção.
Espero contar consigo no dia 9.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

POR QUE NÃO TE CALAS, HOMEM DE DEUS?!



Quanto mais ouço Mário Soares a dizer disparates mais gosto do General Eanes. Porque será? 
Porque é que no aparelho Socialista não haverá alguém que, com coragem e frontalidade, lhe diga para estar calado e que, com a sua lengalenga xexé, se está a tornar ridículo? Assim uma espécie de metáfora de um ex-Presidente da República que granjeou alguma simpatia.

"Soares visita Sócrates: 'Isto é tudo uma malandrice, ele é um homem de dignidade'

VALHA-NOS SANTO AMBRÓSIO! ISTO É UM INFERNO! SÃO SÓ PECADORES!

Ex-ministro de Cavaco ganhou mais de 80 milhões ilegais



"BPN Ex-ministro de Cavaco ganhou mais de 80 milhões ilegais"

"O antigo ministro da Saúde de Cavaco Silva, Arlindo de Carvalho, está acusado de ter ficado ilegitimamente com mais de 80 milhões de euros do Banco Português de Negócios (BPN), noticia esta sexta-feira o jornal i."

UMA MEIA VERDADE QUE, SENDO INTEIRA, É MUITO BOA PARA A BAIXA





Segundo uma gaivota recentemente chegada à bacia do Mondego, em frente ao Hotel Astória, vinda de outras águas mais quentes, que sem se comprometer com “xim” nem “nhon”, parece que teremos em breve um MacDonald’s no centro do centro da Baixa –já existe um há cerca de dois anos junto à Rodoviária Nacional. Ao que parece, a sua localização irá ser numa das ruas largas, como quem diz, na Rua Visconde da Luz ou Ferreira Borges.
Como se sabe, encerrou o que existia na Praça da República, no antigo espaço do Café Mandarim. Será o mesmo concessionário que, farto daqueles ares, decidiu vir para o meio de outra gente? Eu gostava muito de saber mais coisas, mas a gaivota, raios a partam!, não respondeu às minhas dúvidas. Assim sendo, resta-me especular sobre esta vinda. É bom, muito bom para a Baixa! Pode ser o motor que vai fazer arrancar a movida da noite nesta zona velha. Podem vir! Vamos lá todos comer um hambúrguer, não vamos?

UMA COMUNICAÇÃO DE INTERESSE PARA OS COMERCIANTES





"Exmo Senhor
Dr. Paulo Núncio
Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais

Exmo Senhor Director-Geal
António Brigas Afonso
Autoridade Tributária e Aduaneira (AT)


Nova obrigação declarativa de comunicação dos Inventários


O Decreto-Lei nº 198/2012 de 24 de Agosto, entretanto alterado pela Lei nº 66-B/2012 de 31 de dezembro e pelo Decreto-Lei nº 71/2013 de 31 de Maio, veio estabelecer o controlo de facturas e outros documentos com relevância fiscal e definir a sua comunicação à AT.

No OE para 2015 está contemplada uma alteração a este diploma, com adição de um novo artigo, o terceiro-A, que passa a prever a obrigatoriedade de comunicação dos inventários por via eletrónica à AT.

Nos termos dos artigos 3 a 12 da lei geral tributária, as empresas com mais de 100 000€ de VAN – Volume Anual de Negócios, contabilidade organizada e que estejam obrigadas à elaboração de inventário, terão de comunicar por transmissão electrónica de dados até ao dia 31 de Janeiro de 2015, o inventário relativo ao último dia do exercício.

Entretanto estamos no fim do mês de Novembro e as normas e os ficheiros dos inventários, bem como a respectiva informação dos procedimentos para preenchimento ainda não foram publicados pela Autoridade Tributária. O tempo útil esgota-se!

Como se sabe, as Micro e Pequenas Empresas não têm funcionários em exclusivo para cumprir esta obrigação e poderão ter dezenas, centenas ou mesmo milhares de artigos para inventariar.

Neste contexto, a Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas (CPPME) solícita, a V. Exas, informação sobre a data prevista para a publicação das normas e ficheiros necessários ao preenchimento dos inventários.

Seixal, 25 de Novembro de 2014


O Executivo da Direcção da CPPME"

UM PAÍS IMPOSSÍVEL DE SOLVER




"Carlos Tavares: "Custos da electricidade em Portugal são 40% superiores aos de França"

(Embora esta notícia seja de Abril, último, está sempre actual e serve para pensar a política que serve as empresas e as famílias)

UM CONVITE À CIDADANIA ACTIVA: PARTICIPE NA "ONDA"




“Há em Portugal sinais muito claros de que parte das suas elites políticas e económicas colaboram entre si na criação de uma estrutura que sobreponha os seus interesses pessoais aos interesses do País. Se discorda e não quer ser cúmplice pelo silêncio, junte-se à ONDA e apareça no dia 30 de Novembro, Domingo, pelas 21h30, no Atrium Solum Centro Comercial em Coimbra. Todos, sem qualquer excepção, serão bem-vindos. Aqui não há esquerdas nem direitas: há pessoas. Pessoas que sofrem e se angustiam. Vamos olhar-nos olhos nos olhos. Essa disponibilidade cívica é o menos e o mais que poderemos fazer. Se assim pensar, também, apanhe a ONDA e venha tomar café connosco.”

Anfitrião: Lino Vinhal
Co-anfitrião: Isabel Anjinho

BOM DIA, PESSOAL...

terça-feira, 25 de novembro de 2014

COIMBRA COM GRAÇA

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...




SuperFebras deixou um novo comentário na sua mensagem "ESTOU VELHO, EU SEI!":


Amigo:

Nos meus tempos livres uso a fotografia para parar o tempo. No meu "hard drive" açambarco perto de noventa mil fracções de segundo, segundos e até películas com exposições de alguns minutos não só daquilo que me rodeia, como os eventos no seio da minha grande família da qual sou fotógrafo do dia e até mesmo quando para o ser não sou convidado. Mas em especial de momentos que procuro capturar para neles tentar reconhecer um pouco de mim e deixar registado o que aos meus olhos parece ter eterna venustidade.
Como imagina e sabe pois também retrata, fácil é focar, medir a luz, escolher a velocidade da cortina -especialmente nos dias de hoje, em que podemos de certo modo confiar nos computadores que integram as nossas chamadas câmaras fotográficas -e deprimir o obturador para registrar mais um ano de vida do nosso avô, o baptismo de um sobrinho, uma assada de sardinha com os amigos! Difícil é ao capturar um pequeno riacho no meio de um bosque transmitir o sossego do lugar, fazer quase ouvir o murmurar das águas rodopiando nas pedras, como música de fundo, até ao chilrear dos pardais, isto tudo, apenas num pequeno rectângulo de papel depois de queimado e banhado por alguns químicos.
A esse poder de transmitir algo mais, nas telas, nos livros, na música, nos palcos e até nas ruas eu chamo arte. E é à procura dessa arte que eu vou enchendo o meu álbum de fotografias. No dia em que a encontrar na minha fotografia ao nível que a encontro aqui neste artigo por si e sua arte escrito serei um homem bem mais feliz e finalmente poderei dizer: eu, Álvaro, fotógrafo.
Os meus parabéns.

Com um abraço

Álvaro José da Silva Pratas Leitão
Bradford, Ontário
Canadá

BAIXA: UMA OPORTUNIDADE PERDIDA



Nos próximos dias 27 e 28 vai decorrer no Centro Histórico a conferência sobre o mote “A BAIXA NO CENTRO DA CIDADE: TURISMO PELO PATRIMÓNIO E(M) SEGURANÇA”. É uma iniciativa conjunta da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC) e da Polícia de Segurança Pública (PSP). É um evento abrangido pelo programa “Mais Centro”, co-financiado pelo QREN, Quadro de Referência Estratégica Nacional.
A primeira jornada, quinta-feira 27, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Coimbra, começa pelas 9h00 com o “acolhimento” e seguido da entrega de um prémio. Pelas 11h00 o primeiro painel temático “Estratégias para a dinamização e promoção dos centros históricos” e seguido de debate. Na parte da tarde, pelas 14h30, inicia-se o segundo tema para discussão “Questões de segurança nos Centros históricos” e com o sucessivo debate. O terceiro assunto, anunciado para as 16h30, é “Centros históricos, reabilitação urbana e benefícios fiscais” com debate na subsequência pelas 17h30. A sessão de encerramento será pelas 18h00, com três palestrantes, e que, certamente chegará até às 19h00.
A segunda etapa, sexta-feira 28, no Edifício Chiado, na Rua Ferreira Borges, inicia-se pelas 9h30 com vários “workshop’s”, reunião de várias pessoas interessadas num determinado assunto. O primeiro será “A exposição do produto como fator de atração”. O segundo, pelas 10h15, será “Medidas de Segurança”. O terceiro, pelas 11h30, será “Boas práticas no sector do turismo na componente digital”. E a quarta oficina será “Boas práticas para o conhecimento do património”.
Pelo anunciado, pela riqueza dos temas para discussão, estão de parabéns os promotores, a CMC, a APBC e a PSP.

MAS, Ó SENHOR?! NESTE HORÁRIO, A QUEM SERVE ISTO?

Se tivesse ficado pelo ponto final e parágrafo, porque seria apenas uma notícia, estas três entidades até me batiam palmas de contentes. Acontece que eu não sou jornalista, sou fazedor de opinião, treinador de bancada, como vulgarmente se diz. Sendo assim, indo muito mais para além do anúncio do evento, começo logo por partir a louça toda com interrogações: tendo em conta que ocupa completamente um dia e meio, a quem se dirige esta convenção ou se quiserem chamar-lhe conferência? Aos mesmos do costume? Àqueles que, de fora, têm uma ideia “formatada”, “plastificada”, da vivência e dos problemas da Baixa? Os organizadores deste importante –sublinho importante- congresso, por acaso, só mesmo por acaso, pensaram que estes trabalhos deveriam ser participados pelos pequenos comerciantes e industriais de hotelaria, residentes e moradores? Claro que não se preocuparam com o sucesso deste acontecimento. Em juízo de valor, estas ocorrências importantíssimas para se analisar o situacionismo das urbes antigas e visar o seu desenvolvimento não têm por objecto a discussão pública mas antes um falar para dentro, um cumprir de calendário. Em metáfora, fazer isto neste horário, é o mesmo que tentar pregar para surdos. É mandar dinheiro fora! É perder uma oportunidade vital. Sabendo os organizadores que a pequena loja do Centro Histórico está a funcionar apenas com uma pessoa, realizar um evento destes à quinta e sexta-feira é o mesmo que estabelecer uma rede invisível para certos extractos sociais. Foi intencional? Não acredito! Creio mais na idiotice que, como pandemia, infelizmente, grassa por aí. Uma pena! Continuarmos a estourar verbas em conversas para “boi dormir”!

UMA VIRGEM DE LUZ NA RUA DO POETA MORTO



Há cerca de um mês, abriu a “Corina Sapataria”, na Rua Adelino Veiga. Sobre gerência de Ana Brito e apoio do marido Luís Brito, proprietários de um estabelecimento congénere, a sapataria “Low Cost”, na Rua Sargento Mor, esta nova sapataria promete dar que falar na nobre arte de aconchegar os pés. Tal como a casa-mãe, na “Corina Sapataria” há uma preocupação: ter qualidade a baixo preço. Segundo Ana Brito, “sinceramente, estamos muito satisfeitos. No princípio, confesso, estávamos com muito medo. Mas depois, entre o avançarmos ou estarmos quietos, pensámos: vamos em frente. Se não der, perdemos apenas o valor de uns meses de renda, já que o artigo existente volta para a nossa primeira loja. E valeu a pena! O aforismo de que “quem não arrisca não petisca” aplica-se completamente. Felizmente, estamos a petiscar!”
Há um pormenor muito interessante que ressalta na paisagem: quem passou anteriormente na Rua Adelino Veiga, quando esta antiga loja, que pertenceu à desaparecida Fetal, esteve encerrada, mais que certo, apercebeu-se do quanto contribuía para o apagamento da artéria do poeta morto. Agora, com este novo estabelecimento aberto, que dá pelo nome de "Corina" -que significa "virgem", "imaculada"-, parece que uma nova luminosidade desceu naquele local. Não há dúvida de que as lojas comerciais, com a sua luz, cor e movimento, são o espírito que impede que as vias pedonais, outrora tão cheias de vida, caiam num silêncio sepulcral onde o fenecimento e a solidão são uma constante. É uma pena que quem manda não veja, não sinta a sensibilidade, e tenha de ser a iniciativa privada, sem apoio de espécie alguma, a desencadear a revitalização das cidades.

BOM DIA, PESSOAL...

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

ESTOU VELHO, EU SEI!

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)



Tenho dias que creio não pertencer a esta época hodierna. Sinto que sou do passado, filho de um tempo que já não é o nosso. Tenho saudades desse período. Era uma época em que tudo rolava devagar. O vento soprava, a neve caía, o Sol brilhava e nós dávamos conta dos seus efeitos. Sabíamos que quando os raios solares batessem na esquina da sapataria do senhor “Manel” seria meio-dia. O astro-rei era o nosso relógio natural. As pessoas transitavam calmamente nas ruas com um sorriso colado no rosto. Íamos à mercearia da esquina e o senhor Salomão, o dono, de bata acinzentada, atendia-nos um quilo de açúcar a granel retirado da tulha e, às vezes, enganava-se no peso. As coisas não eram previsíveis. Para alcançar fosse o que fosse era preciso percorrer a pé uma longa estrada forrada a paralelepípedos, pedras acinzentadas em cubos. Em todos os largos floridos da cidade havia crianças a jogarem à bola.
Hoje é tudo muito rápido. Os dias, como mensageiro apressado em levar a boa-nova, passam por mim sem os ver. Não porque não tenha folga. Tenho muita; demasiada. Então porque passa o tempo a correr, como se quisesse fugir de mim? Sei lá! Provavelmente os meus olhos já não são os mesmos. Endureceram e deixaram de se fixar nas coisas simples, como, por exemplo, um louva-deus a pousar na soleira da porta. Se calhar noutro tempo, talvez por ser mais novo, ainda que sofregamente, queria somente viver. Agora, mais velho, no epílogo da vida, tento apenas sobreviver –não que o faça de qualquer forma e feitio. Isto é, que passe por cima de tudo para o conseguir. Por agora ainda não. Amanhã sei lá?! Ninguém sabe o que acontecerá daqui a um dia. Por enquanto consigo pensar. E ao reflectir liberto-me. É como se me dividisse em dois e, pelas metades, ficasse mais aliviado. Atenuado sim, mas não com as preocupações resolvidas. Tento ir ao fundo das coisas e perguntar porque são assim e não são de outro modo? Andamos todos ao engano. Como náufragos perdidos na imensidão, agarramo-nos a tudo, sobretudo à paganística secular, para chegar a terra-firme, como quem diz, a amanhã. Fugimos a toda a pressa da jornada de hoje. À noite, quando nos deitamos na cama, cansados de tanta falta de perspectiva e sem vislumbrar a luz ao fundo do túnel, em vez de rezar como antigamente e agradecer a Deus a graça de mais um dia passado, respiramos fundo e pensamos: “ufa! Este já está! Vamos lá ver o próximo!”. A sensação é sempre de perda. É como se sentíssemos que os sonhos construídos ao longo da nossa vida são agora farrapos a esvoaçar ao vento. Sentimos que estamos todos a entrar pelo cano que leva ao lago da imundície. Entre todas, a maior tragédia que alguém pode suportar é o perder tudo o que foi conseguido com suspiros de amor e lágrimas de sangue. É sentir que se foi um mero passageiro sem história, uma nuvem sem corpo, um inútil que não serviu para nada. Tudo o que se fez, como pingos de chuva no areal, se esvaiu no vazio. Uma coisa é nunca ter alcançado um estado de conhecimento, mantendo-se na ignorância, outra é enxergar, vivê-lo e, como se apagasse tudo com uma esponja, ser obrigado a regressar ao ponto de origem como num eterno retorno probabilístico.
As notícias, ainda que pareçam de esperança, são cada vez mais tristes e desanimadoras. Em metáfora, estamos à beira de um abismo, à espera de acontecer qualquer coisa que, embora previsível, não se sabe bem o que é. Há cerca de uma semana foram presos altos quadros do Estado. Nesta última sexta-feira, também por suspeitas de corrupção foi detido para interrogatório um ex-Primeiro Ministro. Dando pulos, deveríamos exultar de alegria e gritar que, afinal, a justiça é para todos. Ai é? Como é imensa a nossa ingenuidade! Como poderemos acreditar que somos todos iguais quando intrinsecamente somos diferentes? Para alguns, quando os meios de defesa, na contratação de grandes advogados, são tão díspares como é a desigualdade entre a pulga e o elefante. Sabe-se, tudo reside numa questão de prova. Está bem! Está certo! Mas e o mal que nos fizeram, sobretudo, na última década? É difícil de vislumbrar o probatório? Onde estão os responsáveis pelo nosso empobrecimento? Em nós, claro! “Gastámos de mais!” –fazem-nos crer, desvalorizando a nossa inteligência.
O problema é que não sabemos para que lado cair na avaliação racional. Tomamos o todo, como global que está doente, cancerígeno? Ou, na dúvida que nos faz conter a irracionalidade e nos dá fé no futuro, apreendemos que é simplesmente uma parte que tem metástases e ainda se salva uma outra fatia maior do todo? E se nos andamos a enganar uns aos outros e isto, este Portugal onde nascemos e crescemos, não tiver salvação?
Sabemos que este Governo é fraco na convicção que transmite ao povo, não tem autoridade legitimada –não porque não ganhasse as eleições, mas porque os atentados contra os cidadãos são tantos que lhe retiram a autoridade moral para continuar a governar. Toda a cúpula do Estado está entregue a pessoas ora sem passado político, ora com passado demasiado ligado às patranhas e negociatas. Mas e o governo que vier a seguir? Será melhor? Claro que não. Para além da corrupção, há muita manipulação política por detrás e ficamos sem saber onde começa a verdade e acaba a mentira. Em teses de conspiração, há um movimento deliberado e direcionado para derrubar este executivo, mais de acordo para se substituir com as convicções partidárias de cada um –“porque não serve o povo”, diz-se e a maioria de nós concorda. Porém, poucos acreditam de que o interesse do País esteja em primeiro lugar. O Governo está transformado num Robim dos Bosques ao contrário: assalta os mais desfavorecidos, essencialmente os que estão no meio da tabela, para entregar de mão-beijada aos grandes grupos económicos. E o que vier a seguir? A mesma coisa, idem aspas, aspas. Este é o verdadeiro drama. É como se, de espada empunhada, se lutasse contra o vento. E o mais grave é que este sentimento de ditadura para a classe média perpassou para as autarquias. O comportamento é igual como papel mata-borrão. Buscam apenas o poder para, depois de o conseguir, manobrarem a máquina administrativa no oceano dos seus interesses, colocando os amigos nos pontos-chave, distribuindo empregos aos correligionários e sobrecarregando os munícipes com mais taxas –tantas vezes disfarçadas de impostos.
A ignorância é uma pandemia e a maioria dos cidadãos já nem lê jornais. E muito menos está interessada na verdade factual que lhe permita pensar e retirar uma ilacção própria, sua, livre e sem ser conspurcada em motivações políticas alheias. Em metáfora, é como se passássemos a emprenhar pelos olhos. Vivemos no meio de um universo de informação que, em vez de informar, desinforma e, sem grande subtileza, pode servir vários interesses, todos, menos o esclarecer o cidadão. A sensação que se tem é que andamos todos cada vez mais perdidos e sem saber para onde caminhamos. Que saudades que eu tenho de outros tempos! Estou velho, eu sei!