quinta-feira, 10 de abril de 2014

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Esta semana deixo o textos "REFLEXÃO: ENCERROU A SAPATARIA TRINITÁ"; e "NOTÍCIAS CURTAS DO NOSSO BAIRRO"


REFLEXÃO: ENCERROU A SAPATARIA TRINITÁ

Há uma semana que a sapataria Trinitá, na Rua Eduardo Coelho, se mantém de portas cerradas –agora mais recentemente já com as montras forradas a papel pardo. Embora tenha feito vários telefonemas para o senhor Quirino, um estimado vizinho e reconhecido por todos, não tem sido possível chegar ao seu contacto para saber o que aconteceu. Por aqui, nos becos e ruelas, as perguntas, misturadas com respostas, repetem-se à exaustão: “o que aconteceu ao Quirino? É verdade que encerrou de vez? Nem é admirar, as coisas estão tão más!”
A sapataria Trinitá abriu portas, salvo erro, em 1970. Até aí, por essa década, todo o espaço que veio a ocupar esteve destinado a duas pequenas lojas. Do lado da Rua Eduardo Coelho, era a Casa das Amêndoas e do lado da Rua das Padeiras era uma velhinha sapataria. Nessa altura, o senhor Quirino foi empregado em várias sapatarias da Baixa, de grande nome, como A Elegante, por exemplo. Veio então a estabelecer-se por conta própria, agregando os dois comércios, e fazendo um belíssimo espaço comercial que muito contribuiu para manter a revitalização desta zona comercial. Para que se saiba, e para que muitos mais não escorreguem na mesma armadilha, foram os compromissos assumidos com o Procom, Programa de incentivos ao comércio, em 1999, que ajudou a mandar este reputado estabelecimento para o charco. Escrevo isto porque as ciladas com novos programas de ajuda à modernização do comércio continuam. “Façam obras! Modernizem-se! Mudem tudo!”, parecem dizer os governantes. Mas ninguém, a começar pelos edis locais, se preocupa com a desertificação, o extermínio e a capitulação dos Centros Históricos no seu todo, comercial e habitacional. O que interessa ter boas lojas renovadas se não há pessoas para comprar? De que vale vestir bem um cidadão se progressivamente, de forma deliberada, lhe é sugado o sangue que lhe corre nas veias? Foi isto mesmo que arrumou a sapataria Trinitá. Por um lado, convenceram-no a injetar-se com o soro da modernidade, por outro, com a desculpa de que estamos numa economia de livre concorrência, extraíram-lhe o plasma que lhe dava vida, ou seja, entregaram a cidade às grandes superfícies numa bandeja de prata. É isto mesmo, a desertificação acelerada -pelo desvio de pessoas para outras grandes áreas e a quebra abrupta de rendimentos nas famílias que provoca a queda do consumo interno- que, tal como outras no país, está a matar a Baixa de Coimbra diariamente. Só os cegos podem dizer que não veem. Está à vista de todos!
Foi o desleixo, a falta de política para a cidade que enterrou esta loja e muitas outras que se foram e outras que irão nos próximos tempos. Foi apenas e só e é um dó! Os governos dos últimos 20 anos e acompanhados pelos presidentes das autarquias locais são os coveiros dos centros das cidades. Que a terra lhes seja leve pelas tragédias familiares que causaram a milhares de famílias portuguesas. Só gentalha sem vergonha e sem coração, que apenas busca o voto e o tacho, sem consciência social, pode continuar a licenciar mais grandes superfícies e olhar sem sofrimento o que se está a passar nesta Baixa de Coimbra.
Durante mais de quarenta anos este estabelecimento serviu a Baixa, a Cidade, o País e o Mundo. O senhor Quirino tem mais de oitenta anos e passou toda a sua vida de trabalho agarrado ao balcão. No mínimo podemos interrogar: é justo acabar assim? É óbvio que não! Mas claro que ninguém se importa. É apenas mais um que se vai. Solidariedade, em caridade por quem está pior do que nós, é sentimento que não existe por aqui. Estamos numa guerra civil comercial onde a vida de cada um nada vale. Se ao menos pensássemos que estamos todos inseridos numa roda e mais tarde ou mais cedo vai chegar a nossa vez talvez nos tornássemos mais humanitários perante a dor de quem parte. Estou fartíssimo de escrever isto mesmo. Vale alguma coisa? Nada! Cada um, olhando para o seu umbigo, somente está preocupado consigo mesmo. Como é que fica o proprietário desta loja? Alguém se questiona? Enfim! É muito triste um estabelecimento cerrar portas assim, desta maneira. É um grande sopapo! Um homem, que lutou a vida inteira, ser obrigado a sair assim, por esta conjuntura económica, de capital selvagem e coadjuvado por comissários políticos sem escrúpulos, que tudo trituram, tudo esmagam sem qualquer ponta de sensibilidade pela sorte de cidadãos nacionais que deram a vida pela Nação. Nos últimos cinco anos foram tantos que até se me secam as palavras!
Não é isto que este velho comerciante precisa mas, pelo respeito que nos deve merecer, um baixar a cabeça e uma grande salvas de palmas para o Quirino Adelino!


NOTÍCIAS CURTAS DO NOSSO BAIRRO

Há cerca de um mês, na minha Rua Eduardo Coelho, depois de umas obras sumárias, abriu uma loja de roupas para infantes, dos 5 até aos 14 anos. Três semanas depois encerrou.

Uma reconhecida sapataria, a Trinitá, com cerca de quatro décadas de existência, subitamente encerrou há dois dias, na Rua Eduardo Coelho. Embora se presuma, ao certo, ao certo não se sabe o que aconteceu. A verdade é que não se consegue contactar o proprietário. Espera-se o pior para a vida futura do Quirino Adelino, um comerciante com mais de 80 anos.

É público e sabido que a Perfumaria Balvera, instalada na nossa rua há cerca de três décadas, a partir de Junho, próximo, deixará de perfumar os becos e ruelas em redor.

Embora não se saiba a fonte, presumindo-se a informação saída de uma andorinha provinda do Norte de África e recentemente chegada a um destes beirais, ao que parece, para além das acima enunciadas, mais três lojas estão na eminência de encerrar nesta antiga Rua dos Sapateiros.

Partiu para férias a “Lili”, a Liliana Rodrigues, o nosso candeeiro de luz, o ícone da alegria cujo grito estridente de exultação inundava toda a área circundante. Ao que parece, provavelmente, a “Lili”, que entretanto está a finalizar o seu contrato de trabalho, não voltará mais à sapataria onde durante quase dois anos prestou serviço. É pena, digo eu com a total certeza no que escrevo. Vai perder o seu ainda atual patrão, porque a “Lili” é, de facto, uma excelente funcionária, vai perder a nossa rua, porque, a ser verdade a sua partida, esta calçada vai ficar mais triste e mais ensimesmada. Vai ganhar o novo patrão que contratar a “Lili” –sei bem do que falo, é uma vendedora como já não há.

Presumivelmente irá abrir uma loja de tatuagens no Largo da Freiria, no antigo espaço da Boutique Romy. Dentro de pouco tempo, se for mesmo verdade, iremos constatar.

Por recente acordo com o seu senhorio, o Carlos Jorge Monteiro, mais conhecido por “Cajó”, reconhecido fotojornalista do Diário as Beiras, está de malas aviadas para outras paragens e, dentro de dias, deixará de vez as suas instalações no Largo da Freiria. Foi uma honra para quem cá ainda vai resistindo ter privado com o “Cajó” nos últimos vinte anos. Mais uma perda comercial e de boa vizinhança para todos nós.

Depois de três meses em funcionamento encerrou há dias uma frutaria na Rua das Padeiras.

Nas antigas instalações da Materna –que depois de quatro décadas ao serviço da Baixa encerrou no último Dezembro- abriu recentemente, com novas instalações, a sapataria Veludo Carmim. Esta reconhecida marca de sapatos, para além de um estabelecimento na Rua Eduardo Coelho, tinha também uma pequena loja ao lado desta agora nova instalação. Tratou-se, como se confirma pelo encerramento, de uma troca uma vez que a anterior era de pequenas dimensões e não estaria à altura da dimensão necessária da marca “Veludo Carmim”.

Abriu a semana passada, na Rua Ferreira Borges e número 100, uma espetacular loja de artesanato. Dá pelo nome de “Coimbra na Bagagem”. Não deve surpreender ninguém o facto de estar tão agradável. Quem está à frente deste projeto sabe da poda e, para além de ter outro estabelecimento na mesma rua, a arte de comprar e vender, está-lhe no sangue. Ou não fosse o velho Moura, dos carimbos, um conquistador de ventos e paragens comerciais. Um dia destes conto a história com mais pormenores.


A semana passada, de segunda para terça-feira, a horas indeterminadas, pelo presumível caudal de águas da chuva e consequente entupimento de uma conduta de saneamento por trás do Banco de Portugal, o Empório Gourmet, um estabelecimento comercial com sede na Rua Sargento-Mor, foi parcialmente inundado. Segundo Janette Baracho, a gerente e proprietária da bonita loja de produtos gourmet, em declarações no próprio dia, “deparei-me com esta situação anómala. A esta hora, 15h00, ainda estamos a limpar a água, a ligar e desligar os fios de comunicações e a contabilizar os prejuízos. Ainda não sabemos bem o alcance deste desastre e muito menos quem vamos responsabilizar. O computador estava no chão e outros artigos, todos juntos, ficaram cheios de água.”
Segundo um dos trabalhadores dos SMASC, Serviço Municipal de Águas e Saneamento de Coimbra, presente na reparação, “ainda não sabemos o que aconteceu. Presumimos que teria havido problemas com o coletor. Como esta noite choveu muito, com grande intensidade, pode ter sido essa a origem desta anormalidade.”


Abriu esta semana a Sportino, Ld.ª, na Rua Visconde da Luz, nas antigas instalações dos supermercados Colmeia e mais recentemente o Armazém Americano. Com uma decoração revivalista, a fazer lembrar as grandes lojas americanas, da Flórida, onde não falta o vinil de Elvis, ao Fiat 600 e ao monomotor de outras grandes estrelas da pop-art desaparecidas, este estabelecimento está simplesmente fantástico. Sem dúvida nenhuma de que constitui uma boia de esperança na recuperação anímica e comercial da Baixa da cidade. Muita felicidade para a Sportino, Ld.ª. O ambicionado sucesso deste empreendimento será também a nossa esperança futura, de todos quantos ainda acreditam que a esta zona terá futuro. Muitos parabéns pela coragem!



 ADEUS COMÉRCIO DE RUA

Com o terramoto legislativo governamental previsto para breve, e anunciado na comunicação social de total liberalização da atividade mercantil, está em marcha a destruição absoluta do comércio tradicional. Do pequeno estabelecimento de tecidos a metro, ao pronto-a-vestir, à sapataria, à pequena loja de ferragens, à perfumaria, não restará pedra sobre pedra. A partir do momento em que entre em vigor o diploma, depois de passar pela Assembleia da República, o comércio generalista entra em contagem decrescente em direção à tumba. A partir daqui os centros históricos, a braços com uma desertificação acelerada de moradores, estarão apenas destinados à hotelaria.
A ser verdade que se vai liberalizar a época de saldos durante todo o ano, abrir-se novas superfícies comerciais com mais de 2000 metros quadrados através de uma simples declaração, abertura de esplanadas com diferimento tácito –aprovadas se não houver resposta da entidade municipal no prazo de 20 dias- e a liberalização total de horários para cafés, cervejarias, discotecas e casas de fado –que até agora só podiam estar abertas até às quatro da manhã, está em marcha uma revolução com consequências imprevisíveis. Com esta medida, ao dar-se plena liberdade empresarial à iniciativa privada, totalmente sem regras e saindo da tutela do Estado, está a dar-se aos grandes grupos económicos a possibilidade de assistirem ao completo aniquilamento dos mais pequenos. Guerreando-se entre si, com margens praticadas abaixo de custo e apenas para a sobrevivência, numa política de preços de terra-queimada, os pequeníssimos vendedores estarão a autodestruir-se e a fazer o jogo dos grandes hipermercados.
Se havia dúvidas de que a pequena loja de bairro tinha os dias contados, a partir de agora é oficial. Vai desaparecer completamente dos centros das cidades. Se até aqui as diretrizes governamentais deste Governo e anteriores eram subtis, agora caiu a máscara da pouca-vergonha. Este extermínio é um escândalo. É uma afronta à dignidade de tantos e tantos comerciantes que deram a vida na prossecução da revitalização harmoniosa das urbes, no último século. De aqui para a frente está em marcha a desvalorização completa do edificado nas zonas velhas. Será o fim destas áreas como zonas residenciais. Em face do ruído previsto durante toda a noite, ninguém ousará vir morar para o centro de um vulcão.
Ressalve-se a manutenção da boa moral e dos bons costumes ao continuar-se a proibir a abertura de sex-shops a menos de 300 metros de escolas ou igrejas. Se isto não fosse trágico dava vontade de rir até escancarar.
É o golpe fatal na classe média e nos pequenos artesãos, comerciantes e lojistas. É bom lembrar que foi uma ofensiva assim, da escravidão ao despotismo, que esteve na origem da Revolução Francesa de 1789 e que deu origem ao iluminismo. Convém também recordar que o mesmo se passou no império germânico, na Alemanha, com a revolução entre 1830 e 1848, pelo domínio absoluto da Prússia, e que, para além de originar várias crises em países europeus como a França, daria o germinar crescente do nacionalismo até à 1.ª Grande Guerra. Por cá, em Portugal, também pelo descontentamento popular, a descambar na violência, esteve o fim da Monarquia e ascensão da 1.ª República, em 1910, e o nacionalismo institucional liderado por Salazar com a implantação do Estado Novo, em 1933.
Estou em acreditar que, no último meio-século e por parte da hegemonia capitalista selvagem, estamos em face da maior ofensiva perpetrada alguma vez contra os pequenos proprietários, artesãos e negociantes. Estamos perante uma agressão aviltante, aberrante, uma pilhagem neoliberal visando o descarado empobrecimento e a miséria dos mais pequenos.
É muito triste o que está acontecer. Todo o comércio tradicional está de luto. Vamos esperar a resposta da população.







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