quarta-feira, 30 de abril de 2014

O OUTRO LADO DO 25

(Imagem da Web)



Comemorámos há dias 40 anos sobre o 25 de Abri de 1974. Penso que talvez valesse a pena pensar nas conquistas que conseguimos ao longo destas quatro décadas. Confesso que, a redigir as primeiras frases deste texto, não sei muito bem por onde começar. Tenho uma angústia que me persegue, uma ideia, mas não sei se conseguirei expor o que me vai no pensamento. À medida que vou escrevendo vou tentar mostrar o que me move. Como ressalva, declaro que não pretendo branquear o Antigo Regime. Nada disso! Quero apenas especular sobre singularidades do antigamente e algumas que assistimos na actualidade. Quando se deu o golpe eu tinha 17 anos de idade e trabalhava desde os 10. Tenho saudades dessa época? Não. Ou, no limite, só se for pela minha jovialidade que, com muita pena, não voltará mais!
Visto pelos meus olhos e pelo que vivi, comecemos por mostrar o que foi o Estado Novo nos últimos anos de 1970. No que toca à parte económica a população, no geral, vivia melhor na cidade do que na aldeia. Entre as duas convivências existia uma assimetria descomunal. Como amostra de bem-estar aqui em Coimbra, exceptuando as zonas velhas da Alta e da Baixa, praticamente todas as construções, relativamente recentes, tinham casa-de-banho. Eram raras as edificações que tivessem este essencial símbolo de boa vivência nas povoações do interior e mesmo junto ao litoral –de tal modo que a primeira vez que tomei contacto com uma sanita e um bidé foi aqui e depois de abandonar a minha aldeia.
No que toca a electrodomésticos fundamentais como frigorífico, rádio e televisão eram mais comuns no burgo e escassos nos lugarejos –no meu lugar de menino havia apenas uma televisão na mercearia.
Os urbanos, porque tinham mais possibilidades de aceder aos estudos superiores, presumivelmente, tinham uma consciência política e seriam muito mais cultos do que os rurais. Lembro-me que, no lugarejo onde passei a infância, de um total de uma centena de habitantes, somente meia dúzia de residentes teriam tido acesso à Universidade –destes só três teriam concluído a licenciatura –se bem que talvez por parte dos pais não houvesse uma grande sensibilidade para a formação intelectual como ferramenta futura para os filhos. Ou seja, era uma cultura negativa, um costume de apostar mais no trabalho físico e continuado, facilitista, no sentido de que implicava custos enormes para uma bolsa de riqueza residual.
Não havia reformas para os trabalhadores rurais e domésticas. Nos últimos dias, nesta comemoração, muito se falou sobre isto mas, recordo, o aumento do ordenado mínimo para 3.300$00, promulgado por Vasco Gonçalves, desencadeou o disparo do consumo interno –e com isto não estou  a fazer análise e a dizer que foi bom ou mau do ponto de vista económico. Refiro apenas o facto. O que sei é que, nessa época e aqui na cidade, de repente parecia que todos tinham enriquecido subitamente. As lojas comerciais, literalmente, passaram a ser invadidas, assaltadas, pelos consumidores. Tudo se vendia sem importar o quê. As pessoas pareciam esfomeadas pelo comprar –não escrevo de cor, eu estava a trabalhar no comércio e vi com os meus olhos. Na parte que me toca de consumidor, lembro-me que, em 1977 e a prestações, comprei a minha primeira televisão e frigorífico na desaparecida loja Bruma, na Rua Adelino Veiga, e estive semanas à espera. Não havia para entrega.
Fomos subindo, subindo no conforto até que chegámos aos nossos dias com vários frigoríficos e televisões em casa e vários automóveis encostados e sem saber o que lhes havemos de fazer por, devido à quebra de rendimentos e aumento de custos energéticos, não termos possibilidades para os manter activos.
Também no acesso à Universidade aconteceu a mesma coisa. Democratizou-se o ensino superior. Sem dúvida e foi bom, mas exagerou-se e hoje um curso universitário, salvo excepções, vale pouco e de tal modo que, muitas vezes, para se conseguir um emprego médio tem de se ocultar a formação adquirida. Talvez o erro foi ter-se desvalorizado completamente o ensino técnico. E, nos nossos dias, o trabalho, tal como o conhecemos até aqui, é cada vez mais solúvel e precário. A busca incessante pelo retirar esforço, no paradoxal, está a matar o homem e a destruir completamente a sua ocupação física no labor. A informática e a digitalização se, por um lado, elevam a comodidade ao máximo, por outro, estão a aniquilar os seus rendimentos. Hoje um desempregado sem meios de subsistência é um desenraizado, um ser errante perdido, um pária, que, no fio da navalha, busca simplesmente a salvação e agarra-se a qualquer coisa. O que, em face da sua sobrevivência premente, torna justificável a acção directa, isto é, o roubo –não sei se será o caso, mas o furto de dezenas largas de tampas de saneamento em ferro em toda a área urbana pode indiciar isto mesmo.
Então, na mesma linha de resistência, assistimos a uma horda de pessoas na rua, sobretudo jovens, a tentarem vender qualquer coisa, desde perfumes, bugigangas, angariação de novos contratos para telecomunicações. É um dó o que se está a passar. E o grave é o respeito que nos devem merecer e darmos por nós, sem paciência nenhuma para os escutar, quase a empurra-los das nossas vistas. É triste! Muito triste!
Embora não saiba se fui claro, o que parece é que, num retorno impossível de fugir, numa velocidade estonteante, estamos a recuar para um tempo que os mais velhos se recordam bem. Para além disso, embora constatemos que a abastança não é sinónimo de felicidade, reparamos que nos sentimos empurrados para uma espiral impossível de suster.
Depois desta volta em busca de algum sentido nestas quatro décadas, o que resta de uma grande utopia? Pensemos… pensemos! O que ficou foi a liberdade. Mas, se olharmos à volta, dá para ver que também se está a exagerar. Perdeu-se o Norte. A liberdade, sem responsabilidade colectiva, descambou em libertinagem, em cada um fazer o que lhe dá na real gana. Tal como aconteceu com os bens tão necessários no nosso dia-a-dia, também a demasiada autonomia individual para algumas permissões dá para verificar que cada vez mais está a entrar pelo cano da sanita. O que nos permite antever que, de facto, só se valoriza o que implica sacrifício na sua obtenção. O que é fácil, porque não deixa história, perde valor rapidamente. Talvez seja por isto mesmo que os tempos que vivemos sejam apenas uma passagem efémera. Saber para onde é que reside a questão!

A ARTE (2)



Eu vi umas imagens sacras numa capelinha de Oliveira do Hospital, pareceram-me tão bem restauradas que até disse bestial, mas eu não percebo nada de arte e por isso logo sou parte a colocar de lado nesta minha opinião já que sou observador como simples cidadão mas dá para perceber que estamos no centro da Criação e que se entende de santos e santinhas como a Senhora do Ó que se retratada em tela é com certeza um Miró mas o engenho não se engole como qualquer cozinhado tomando o palavreado como sendo ou não de agrado, a arte toca os sentidos como uma bela mulher deixa impressionado o homem mais atrasado, é toda a sensibilidade numa pedra de calçada que mostra a saudade e pode parecer ilusão mas é a recordação que entra no coração por cruzamentos de olhares, divagando no sim e no não, como se entre a afirmação e a negação não houvesse outra razão e fosse tudo abstrato em torno de uma obsessão, como se a verdade não fosse apenas uma convicção sem porta nesta nação que só convive bem em torno de uma praxe mas por mais que se ache isto não tem concerto, deviam eram todos orar e só se preocupar com as Finanças Públicas e deixarem de serem virgens púdicas a discutir o sexo dos anjos quando há tantos marmanjos a ver o que podem roubar, penso que há mesmo um acordo nas coisas fúteis como a partida do Tordo, que foi para o Brasil e é mais uma tourada entre os que o amam e detestam por ser um cantador de Abril como se isto fosse defeito e ao país não tivesse dado qualquer proveito, tratam o cantor como moléstia, sem jeito, com fedor a ideologia é mesmo uma grande mania, porque há no ar uma revolução nova que se anseia mas ninguém acende a candeia ou ao menos o pavio para que, como desejo de génio, surgisse um navio que levasse este inverno depressivo de frio tão intensivo que nos escarnece a alma da esperança e na volta nos trouxesse as andorinhas com a boa aventurança embrulhada em flores para distribuir ao povo tão carecente de amores, bem sei que este texto é patético, sem valor, até parece analfabético, mas a culpa não é minha, é de alguém que não conheço e faz de mim um burgesso.


(Texto original de participação na 2.ª jornada do Campeonato Nacional de Escrita Criativa e sobre o mote “Um texto com 40 vírgulas…”)


TEXTO RELACIONADO

"A carta" (1)

BOM DIA, PESSOAL....

TRÊS ANOS DE AUSTERIDADE

terça-feira, 29 de abril de 2014

A CARTA (1)

(Imagem da Web)



Não é verdade que… goste de ti, apenas, pelo teu dinheiro –como me acusaste na última vez em que estivemos juntos e rompemos. Ou é? Num raro intervalo em que a tua imagem não me ocupe completamente a cabeça, às vezes, em catarse, dou por mim a interrogar-me se, de facto, esse não teria sido mesmo o motivo primeiro que me levou até ti. Sim! Admito! Talvez fosse. Quando comecei a arrastar a asa tu eras os dois em um. O sonho de qualquer homem, na meia-idade, como eu. Eras linda! -E continuas a ser, meu amor! Tinhas uma figura de manequim com rosto de boneca de porcelana. Quando recordo a tua imagem, nesse teu andar ligeiro sobre a calçada... “toc… toc… toc”, no barulho dos saltos altos, dos teus sapatos vermelhos, a martelar o chão como sinfonia perfeita num caos de ruídos naturais, sinto-me elevar como se fosse uma folha seca tocada pelo vento e ao sabor do acaso.
Confesso, o teu dinheiro, a tua robusta conta bancária por mim imaginada, atraiu-me como abelha correndo em busca do pólen. Mas, depois, quando te senti minha e vi que eras um passarinho desamparado em busca de colo, progressivamente comecei a amar-te simplesmente por seres pessoa. Esse teu jeito de me abraçar, envolvendo o meu peito, acabou por me pegar a alma. O estranho é que estava convencido que não me deixaria tocar por mulher nenhuma. Eu já tivera a minha conta. Estava ressabiado, profundamente magoado com as mulheres. Afinal tinha sido despedido sem aparente justa causa num contrato de casamento de 35 anos. Eu só queria passar o tempo, um bom bocado, como sói dizer-se. Precisava somente de um placebo que ajudasse a encontrar-me. Que curasse as mágoas que me atropelavam o espírito, me deixavam sem alento, e me mandava a auto-estima para os interstícios labirínticos da depressão. Quando dei por mim, numa completa reviravolta, reparei que deixara de ser o caçador para ser a presa. Estava apaixonado por ti.
Não é verdade que… veja em ti a minha reforma dourada. Ou é? Se calhar é! Mas que importa isso? Se te amar honestamente e só viver para ti? Se fores o Sol da minha vida e eu para ti a Lua cheia de uma noite de luar de Agosto, terão importância os teus milhões? É verdade que… gosto de ti. Amo-te!


(Texto original de participação na 1.ª jornada do Campeonato Nacional de Escrita Criativa e sobre o mote “Não é verdade que…”)

BOM DIA, PESSOAL...

LEIA O DESPERTAR


LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Esta semana deixo o textos "REFLEXÃO: A SACRALIZAÇÃO DO ANIMAL"; e "SEXTA-FEIRA SANTA"



REFLEXÃO: A SACRALIZAÇÃO DO ANIMAL

Nesta última semana, alguns cafés da Alta da cidade foram inundados com um papel com uma fotografia de um cão ostentando o título: “Procura-se!!”. Ali estava indicado um número de telefone e o pedido premente de contacto. Até aqui tudo normal e só por isto não seria notícia. Mas se eu escrever que este homem bate na sua mulher forte e feio então o caso muda de figura –e não se pense que não está referenciado na polícia por violência doméstica. É certo que os humanos são uma carga de problemas e, pela sua imprevisibilidade nos comportamentos, por mais que se tente, nunca serão completamente entendidos.
Não é a primeira vez que escrevo sobre esta obsessão pelos animais que, progressivamente, está a dominar a sociedade contemporânea, nacional e internacional –basta abrir uma qualquer página do Facebook. Como exemplos, basta lembrar, aqui em Coimbra, a deliberação camarária do anterior executivo de coligação em subsidiar uma associação de proteção aos gatos com 600 euros mensais e durante quatro anos. Há cerca de um mês este novo executivo não só veio ratificar o precedente como ainda ponderou aumentar a verba proximamente. A nível internacional, lembro a recente decisão do governo francês de classificar os cães e gatos no Código Civil como “seres vivos com sentimentos”. O que quer isto dizer? Pura e simplesmente que estamos a caminhar a passos largos para a sacralização dos animais. Saliento que não haveria mal nenhum neste ato se ainda não houvesse legislação que protegesse os irracionais. A meu ver, o que se assiste é, por um lado, a uma ofensiva política no sentido de mostrar aos eleitores que os mandantes são muito suscetíveis a esta questão e, com esta hipocrisia mascarada de ternura, captar votos à esquerda e à direita. Por outro, e ainda pior, numa manipulação de sentimentos, estamos em face da maior investida da indústria de apoio ao comércio animal.
Já há muito que se verifica uma transferência de afetos do homem para o animal. Basta verificar a quebra de natalidade, no nascimento de cada vez menos bebés, e o abandono de velhos, por exemplos. Ora a produção não dorme em serviço. Morre o homem eleva-se o cão e o gato. O grave é que nesta intentona de deslocalização de sentimentos, fenece também a sensibilidade que existe em cada um de nós pelo próximo e plasmados nos Evangelho e Constituição. Numa relação de igualdade pessoa-animal eleva-se o segundo e cai o primeiro, o humano. Ou seja, num planeamento global busca-se um igualitarismo deliberado. Pelo exagero, é de supor que não trará nada de bom para a humanidade. Talvez valha a pena pensar nisto!


SEXTA-FEIRA SANTA

Faltam poucos minutos para as 14h00, nesta Sexta-feira Santa, na Baixa de Coimbra. O dia está acinzentado. Mais que certo, durante a tarde, ainda vai cair aquela morrinha de molha-tolos. Acabei de almoçar numa pequena tasquinha ali para os lados e a meio da Rua da Sofia. Éramos dois ou três clientes sentados ao balcão. Não mais. Agora faço o percurso inverso, de regresso, em direção à Praça 8 de Maio. Enquanto troco os passos, vou apreciando todos os estabelecimentos abertos. As casas de hotelaria estão a meio-gás, as lojas de comércio estão completamente sem ninguém.

Ao lado da Pastelaria Palmeira um homem de cinquenta e muitos está sentado no chão com as pernas cruzadas e mostra umas pequenas cicatrizes nas canelas. De rosto fechado e cara de suplício, com a mão aberta com moedas, ostenta um pequeno cartaz aos seus pés, na calçada: “Pela Nossa Senhora de Fátima me ajudem por favor. Eu tenho um aparelho de oxigénio e estou sujeito a ficar sem casa porque a minha reforma não chega. Por Deus e Virgem Maria me ajudem”. Rebusco os meus bolsos e nem uma moeda para amostra. Na minha tolerância, falo com ele. Aceita comer alguma coisa na pastelaria Palmeira, ali ao lado? Interrogo. “Não senhor! Já almocei! Uma moedita é que dava jeito”, respondeu.
Continuei a andar. Em frente à Câmara Municipal de Coimbra –hoje encerrada, por ser Dia Santo-, meio-deitado no corrimão de pedra, está o “escurinho”, numa posição de abandono, de pernas estendidas, olhos semicerrados e apoiado num dos cotovelos parece pensar. Um pouco ao lado, em grupo, vários romenos falam sobre a sua vida -quem sabe sobre a crise que se abateu sobre a venda do “bord’água”?

A Praça 8 de Maio está semivazia, com as esplanadas cheias de cadeiras vazias. No patim da Igreja de Santa Cruz, a dona Rosa Maria, vendedora de bolos de Ançã, com o açafaite ornamentado e em posição, está junto do Luís Cortês, músico de rua, e, no conjunto, fazem um lindo par de jarras

Entro na Rua Visconde da Luz, reparo que há poucos transeuntes. Aqui e ali ouve-se a língua de Cervantes, mas é uma pequena réplica de anos passados. A descer, apoiada em duas bengalas e sustentada nos seus 90 anos, vem a dona Adelaide. Quando me viu, atira logo: “olhe lá, quando é que você vem tocar para a rua? Gostava tanto de vos ouvir!”. Tiro-lhe uma foto e ela atira de supetão: “toda a gente me tira retratos, carvalho! Se me pagassem, estava rica, fosca-se!?!”. E muda logo para a conjuntura: “ isto está “fornicado”, não está?”. E eu rio-me –valha-me esta graça de mulher para, por momentos, me tirar do meu ensimesmamento. 



Continuo a andar na direção do Largo da Portagem. Estou agora na Rua Ferreira Borges. Reparo que as lojas comerciais praticamente não têm ninguém. Olho para o chão e vejo o estado do piso que já conheceu melhores dias. Os cafés nesta rua larga estão bem compostos, quer nas esplanadas, quer no interior. Ouve-se a pronúncia espanhola intensamente. E chego ao largo do senhor Joaquim António de Aguiar, que lá do cimo do pedestal, de caneta na mão, continua a apontar tudo sem mexer um músculo. Aqui as esplanadas também levam um suficiente na ocupação.

UM COELHO CONTRA O TÉDIO



E desço as escadas do Gato. Começa a chover –que mania o São Pedro estar sempre a provocar o pessoal! De certeza que o senhor de todas as águas do mundo tem problemas de afirmação –penso para mim. Os estabelecimentos comerciais neste perímetro envolvente estão às moscas. Vou em frente e entro na loja da Lena – a minha correspondente exterior para as questões noticiosas do interior da Rua Sargento-Mor. Começo por cumprimentar e perguntar: novidades, Lena? Não há? Está acompanhada pela Teresinha Pena, a minha diva e que já contei a sua história aqui. Como já é hábito, a Helena Gomes, a Lena, está sentada, de agulha na mão, a fazer coelhos de pano e que vende a 1,50 €. Interrogo esta minha prezada amiga da razão de fabricar os bonecos e os vender muito abaixo do custo e nem pagar o seu trabalho. Claramente que está a fazer “dumping”. Tens noção, Lena? Interrogo no meio de um sorriso irónico. Estás a substituir os chineses, que, segundo se consta, trabalham por uma tigela de arroz? Responde assim: “faço estes bonecos por ternura. É uma forma de me manter ocupada. O seu efeito, para mim, é tão relaxante como uma droga, ou comprimido para a ansiedade.”

HÁ FOGUEIRAS NO ROMAL?



Continuo a andar no sentido da Praça do Comércio que, como já é hábito, está parcialmente ocupada com automóveis irregularmente estacionados. As esplanadas estão a meia-tarimba. Uma vendedora de almoços, de um dos restaurantes da praça, atira-se a mim para me vender uma refeição, mas eu não posso. Para além de estar gordo, e também devido à minha carência financeira, devo comer cada vez menos –e trabalhar cada vez mais para aguentar o peso do corpo. Olho para o chão, para as lajetas de pedra e apercebo-me que estão em muito mau estado. Reparo num arranjo recente às três pancadas. Um qualquer habilidoso –se calhar serralheiro armado em calceteiro- colocou uma muito mal-amanhada laje na via –muito mais clara do que as que estão- e ao lado deixou uma solta e que poderá originar quedas em cadeia.


Nestes entrementes encontro um amigo que sabe mais da Baixa a dormir do que eu acordado. Falamos do desleixo a que está votada esta área velha, sobretudo depois da agregação das freguesias, cuja sede é junto aos Arcos do Jardim, no Bairro de Sousa Pinto. Comentamos o facto de alguns fregueses desta zona, maioritariamente idosos, terem de lá se deslocarem várias vezes pelo mesmo assunto. Pergunta ele: “porque não abrem ao público a antiga sede da ex-junta de Freguesia de São Bartolomeu, na Avenida Fernão de Magalhães?”. Naturalmente que eu não sei, mas fica a interrogação. Continuamos a especular sobre o futuro breve desta zona histórica. Agora que a freguesia foi extinta, associada a outras, quem vai assegurar a realização dos Santos Populares no Largo do Romal? É que o último presidente, Carlos Clemente, deixou uma marca de água muito acentuada aqui na Baixa. Era ele que dava o toque. Quem vai dar continuidade ao trabalho feito até aqui? Quem responde? Interroga o meu amigo. E eu sei lá? O que sei é que, apesar de entender o princípio da agregação das freguesias, o modelo seguido é um logro, uma farsa para quem vive nas áreas envolventes. Se aqui, na cidade, é assim, o que não será no interior do território?



E entro na Rua Eduardo Coelho, o último afluente navegável antes de chegar ao meu porto de abrigo. E dei a volta ao quarteirão. Nesta artéria, tal como as que descrevi, o otimismo dos comerciantes, com quem falei, não vai além de dois respiros. As lojas estão como as outras, vazias e à espera de quem não prometeu vir. Valerá a pena o comércio continuar a substituir este Dia Santo pela segunda-feira, sobretudo, quando os serviços públicos estão encerrados -e os transportes públicos são residuais- neste dia feriado e abertos no primeiro dia da semana? Fará sentido, isso sim, estar aberto nos dois dias. Estamos em crise, não estamos?



Tal como o cartaz do pedinte na Rua da Sofia, vamos todos implorar a Nossa Senhora de Fátima que nos ajude -nem que seja a vislumbrar o caminho da luz. Estamos todos a ficar sem oxigénio e com a nossa casa para pagar; sem esperança; sem reforma -esta que nunca mais chega-, e, por tudo isto e mais alguma coisa que não vai no rol, pedimos a Deus e à Virgem que nos ajudem. Pode ser?

 


"PATRIMÓNIO COM VIDA"

[Imagem+3505.jpg]




“Caríssimas/os amigas/os:

Convido-vos para a 4ª sessão do "Património com Vida", Ciclo de Conferências comemorativo do 355º aniversário da fundação da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco, que terá lugar na sede da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco, rua da Sofia, n.º 114 – Coimbra, no dia 30 Abril 2014.

Conto com a vossa presença!
Cordialmente,
Margarida


15 h - "S. Francisco de Assis, padroeiro dos Ecologistas, e a Criação"
Prof. Doutor Adelino Marques, Ministro da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco.

15.30 - "Biodiversidade, Água e Vida"
Prof. Doutor Jorge Paiva, Centro de Ecologia Funcional, Universidade Coimbra.

Entrada livre. Certificado de presença.”

VISITE O "IN"DEPENDENTE DE COIMBRA A PENACOVA

(Imagem da Web)


"Foi com muito prazer que estive presente nas Comemorações do 25 de Abril em Penacova na manhã de hoje". CONTINUE A LER AQUI.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

EDITORIAL: POR QUEM OS CRAVOS MURCHAM?

(Imagem da Web)



Passaram 40 anos sobre o 25 de Abril e festejados na sexta-feira passada com vários milhares de manifestantes nas ruas. Para uns foi uma jornada de protesto contra o governo, para outros foi a comemoração da revolução dos cravos e de que o projeto está vivo e recomenda-se.
Tenho muita pena de não ter participado nem no contesto nem na celebração da data. E quando escrevo que tenho pena não digo que foi por impossibilidade. Não! Nada disso! Não fui porque não me identifico com qualquer das duas motivações. Tenho pena! Com toda a sinceridade o 25 de Abril trouxe muitas coisas boas mas, como a onda do mar, está levar de volta tudo o que deu. Por um lado, não alinho nesta forma de protesto partidário, com os partidos políticos sempre a manipularem a opinião pública e para daí retirarem dividendos no futuro. Por outro, olhando à minha volta, não me revejo na recordação para enaltecer seja lá o que for nesta democracia que nos rege, quando o desemprego, a miséria, a fome, está a invadir a casa de muitos nossos vizinhos. O que vejo é que os que se encostaram à revolução, os ao tempo capitães, políticos da época e outros herdeiros em linha recta destes estão todos muito bem de vida. Reclamam de barriga cheia. Apesar disso, como actores de um teatro encerrado há muito tempo, continuam a barafustar contra o actual estado de coisas. Sem ponta de dignidade, buscam apenas os interesses ideológicos das agremiações a que sempre estiveram ligados. O que me admira é estas pessoas, estas caras sem-vergonha, que ao longo destas quatro décadas estiveram sempre a defender os seus interesses pessoais, continuarem a ter eco na sociedade hodierna e conseguirem fazer-se ouvir. Com um despudor escandaloso, chegam a pedir para que se derrube o Governo através da força das armas. Mais grave ainda é que esta instigação à violência sendo crime, pela importância destes revoltosos, o Ministério Público faz de conta que não lê, não ouve, não sabe de nada. Se for um qualquer anónimo está feito! Quem mais deveria indignar-se é o que está calado e sofre na pele as agruras deste movimento que ainda não se sabe muito bem ao que vai dar.
Este sistema em que vivemos, e a que chamam democracia, é um processo continuado, totalitário de controlo da sociedade, que visa apenas o esbulhar do contribuinte. Cada vez mais somos o resultado daquilo a que alguns querem que sejamos. O Estado está transformado numa entidade opressora que, segundo a segundo, vigia o cidadão e desrespeita os seus direitos constitucionais. Num pasmar de sarcófago ainda se fala e defende esta liberdade. O valor liberdade, nestas condições, tem alguma importância?
O que é triste é este entorpecimento colectivo. Só se reage em massa, como rebanhos de ovelhas. Por outro lado é a alienação. É o futebol em toda a sua força de massificação embrutecida e o cada vez mais correr atrás do outro sem pensar na razão que move o primeiro da fila.
Ainda agora neste fim-de-semana último, na cidade, cerca de doze mil pessoas, pagando 15 euros cada um, novos e velhos, aceitaram pintar-se de mil cores e participaram numa corrida colectiva de cinco quilómetros, a “Color Run”. É óbvio que a decisão de cada um em participar só ao próprio diz respeito, é da esfera da sua liberdade, mas uma pergunta subjaz: o que é que este tipo de iniciativa traz de positivo para a sociedade? Mostrar a alegria? Mas nos dias seguintes já andam a lamentar-se e com cara de enterro! Quem percebe?

sábado, 26 de abril de 2014

sexta-feira, 25 de abril de 2014

QUEM RESPONDE? QUEM TEM A HOMBRIDADE DE RESPONDER? QUEM OBRIGA A CUMPRIR A LEI?


Sé-Velha-23
(Foto de Denúncia Coimbrã)





"Caiu o telhado do prédio da minha mãe???? Não!!!!!! Segundo os "entendidos" caiu apenas um bocado do beiral, nada de grave! O que é certo é que chove imenso em casa da minha mãe. Mas não é grave! Não pode aceder às botijas de gás para cozinhar. Mas não é grave! Com fortes chuvas, pode o telhado abater. Mas não é grave! Grave seria se isto acontecesse na casa de um qualquer engenheiro... Mas como neste prédio não moram engenheiros, não é grave!" -Luísa Silva, no Facebook. Veja aqui a notícia da derrocada.


(Subscrevo inteiramente este grito de aflição. Haja decoro. Haja vergonha de quem detém o poder de obrigar o senhorio a repor a legalidade. Arminda Silva, a mãe de Luísa -esta que subscreve este grito de revolta- é inquilina do prédio atingido pela calamidade. Poder-se-ia até aventar que o proprietário do edifício não tivesse meios mas, pelo que conheço, não será o caso -e se fosse a Câmara Municipal de Coimbra tinha obrigação de o substituir e, depois, remeter-lhe a conta. Estamos perante uma inqualificável arbitrariedade e, em conluio pela omissão, a ser alimentada pelas autoridades competentes. Atente-se também na chamada de atenção de um italiano e namorada, feridos neste acidente. Aqui. Que lindo postal ilustrado do nosso país levarão para Itália! Estamos na Comunidade Europeia, não estamos? Hoje é o dia 25 de Abril, não é? Já agora, comemora-se o quê? -Mas isso é outra questão.
Por tudo isto e pela indignidade presente neste desleixo. Tenham dó e não nos transformem em mais parvos do que já somos. Façam alguma coisa pelo respeito desta Arminda e outras "Armindas" que sofrem o desprezo alheio. Não se pode admitir uma barbaridade destas!)



António José Seguro, hoje no discurso sobre o 25 de Abril:

"Liberdade só existe quando se dá às pessoas a sua dignidade social"

 

quinta-feira, 24 de abril de 2014

PARA PENSAR...

(Foto de António Crespo)

A MULHER QUE JÁ NÃO SONHA

(Imagem da Web)



Passa por nós na rua, segura de si, com uma graciosidade que nos toca e a fazer lembrar o filme “mulher de vermelho”, com Kelly leBrock, de 1984. Em passo cadenciado, toc, toc, toc, deixa no ar uma envolvência perfumada e libidinosa. Já passou a fronteira dos “cinquentas”, mas o seu corpo é modelado em formas como saído de um barrista de grande nomeada. Quando ela passa, leva os olhares de todos pregados ao seu corpo esbelto e belo. Olha o novo, o de meia-idade assobia e o velho, de olhos a ameaçarem saltar das órbitras, sem amarras, e sem conseguir suster o desejo materializado nas palavras, atira: “ai ó filha, que és tão boa!”.
É divorciada há mais de uma década, ou, se for menos, já está separada de facto há muitos anos. Os seus filhos, já crescidos, estão na faixa etária entre os vinte e os trinta anos e, na maioria dos casos, já abandonaram o lar. Tem em casa um cão e um gato, cujos latidos e miados, em correria por entre salas e corredores, substituem as outrora vozes humanas. Ambos têm nome de pessoa. Se for macho terá nomenclatura de homem, se for fêmea será apelido de mulher. Apesar da rivalidade natural, canino e felino são felizes e se dão como irmãos da mesma espécie. Estes animais são a sua companhia, no sofá, na cama e ocupam a sua mente em preocupações variadas. Esta mulher solitária fala com eles como de pessoas vivas se tratasse. Quando algum dos filhos telefona leva horas a ouvir, em desabafo, tudo o que eles têm para dizer. É muito natural que eles liguem para pedir dinheiro. Aqueles, os filhos, para além de não terem tempo para a escutar, nunca lhe perguntam: “estás bem, mamã? Como vai a tua vida? És Feliz?”. Pode acontecer esta mãe sozinha ter também de ouvir as suas críticas acerca da forma dela vestir: “essa camisola vermelha não te fica bem -é demasiado ousada para a tua idade. Essa saia está muito curta! Qual é a tua mãezinha?!”
Quando bate a porta de saída não gastou muito tempo do seu dia a mirar-se ao espelho. Aliás, não gosta da imagem reflectida. Aquelas rugas malditas que teimam em nublar a sua fronte preocupam-na mas não lhe tiram o sono. A seguir em rotina de campanha, o trajecto de vida desta dama independente divide-se entre o emprego e a casa –aqui tem sempre trabalho, ora limpa o pó, ora arruma o que está mais que arrumado, ora cuida das roupas dos filhos que, mesmo a morarem fora, virão recolher mais tarde. Se tiver quintal, para além do cão e gato, pode ter também galinhas, patos e até coelhos. Quando está reformada as suas voltas são sempre iguais: casa, café, passando pela rua principal no seu andar ondulante e voluptuoso, ginásio ou passeios pedestres, e retorno ao lar-doce-lar. Uma e outra tornaram-se escravas da sua própria limitação e prisioneiras de grilhetas invisíveis. Apesar de continuarem à espera do seu príncipe encantado –que mesmo que apareça duvidará das suas intenções e fugirá dele como o diabo da cruz- há muito que deixaram de sonhar com uma vida prazenteira e diferente. Passaram a gostar de viver só. Fizeram da solidão a sua droga e viciaram-se no seu próprio círculo de entediamento.
Uma grande parte  foi vítima de violência doméstica. Por isso, é uma mulher medrosa, assustada, retraída  nos afectos, desconfiada e de auto-estima balouçante como cana no canavial. Passou a ver todo o homem como potencial agressor e a ter medo de tudo, de todos e até da sua própria sombra. Só o imaginar que possam supor que ela namore com alguém das redondezas dá-lhe suores frios e faz-lhe tremer as canetas. E os filhos? O que irão dizer os filhos? “Ai, Senhora! Nossa Senhora de Fátima me valha!” –exclama em dois suspiros e antes de se atirar ao colchão já a madrugada vai a trote e entradota. Por isso mesmo, à noite, rumo ao silêncio de conluio convergente, navega na Internet, no Facebook ou num qualquer site de namoros. Ao menos ali, duvidando de tudo e de todos, estará sempre protegida da vigilância dos herdeiros, das vistas curtas da vizinhança e da crítica acintosa da maioria.
É hipocondríaca. No entanto, no paradoxal, cuida mal da sua saúde e não teme o fim. Apregoa aos sete ventos que vai desaparecer cedo deste mundo, talvez para justificar a si mesma a sua própria inutilidade, impotência e incapacidade de amar. Ao desvalorizar a morte, a intenção é, em grito surdo, chamar a atenção para os mais próximos. Apesar de distante do coração mas tão perto da memória, o ex-marido continuará a considerá-la como uma propriedade perdida e prosseguirá o desejo doentio de controlar a sua vida amorosa. Aquele, em manipulação sentimental, usará os filhos como instrumentos de influência para a sua concretização.
Quem a vê a dar esmola ao pobre no recanto da viela é levado a pensar que é muito generosa. Acontece que nem por isso. Envolvida numa secura como defesa pessoal, tornou-se egocêntrica, fria e fechada na sua concha. “E porque pratica o esmolar?”, interroga um dos seus admiradores. “Porque sou muito temente a Deus! E fazer o bem é próprio de um bom cristão!”, responderá em surdina, sem o olhar nos olhos, e continuando a caminhar rumo a um destino que não escolheu mas que lhe calhou em sorte.
Qual teria sido a razão desta mulher, tão bela e graciosa, ter deixado de sonhar? O receio de falhar! O medo de não conseguir ser feliz!




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BOM DIA, PESSOAL...

quarta-feira, 23 de abril de 2014

UM COMENTÁRIO RECEBIDO E RESPOSTA NA HORA

(Imagem da Web)



Alferes Malheiro deixou um novo comentário na sua mensagem "EDITORIAL: A SACRALIZAÇÃO DO ANIMAL":


Cada um dedica-se às causas que acha mais nobres.
E cada um sabe de si. Se eu quiser dedicar-me aos animais o problema é meu. Se vir maus tratos a animais, o problema deixa de ser apenas meu.
Prefere dedicar-se a outras causas?
Força!
Mas não tente limitar quem não concorda consigo.


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JPG deixou um novo comentário na sua mensagem "UM COMENTÁRIO RECEBIDO E RESPOSTA NA HORA":


O problema de alguns defensores dos animais é precisamente extremarem posições e terem por adquirido que quem não cuidar da mesma forma de um cão ou de um gato como de um ser humano... é um insensível!

Perdoai-lhes senhor "blogger"!

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Alferes Malheiro deixou um novo comentário na sua mensagem "UM COMENTÁRIO RECEBIDO E RESPOSTA NA HORA":


A questão não é essa.
Alguns partem do princípio que o valor da vida humana está acima de tudo. Que o ser humano, devido a essa suposta superioridade, pode por e dispor do nosso planeta a seu bel-prazer.
Façamos um exercício meramente teórico: imagine que no universo existem formas de vida bem mais avançadas do que a nossa. Imagine que um dia nos visitam. Qual passa a ser o nosso lugar na natureza?
A suposta superioridade foi-se.
Para a cúpula da nova ordem natural, somos apenas mais uns animais, um bocadito mais espertos que o cão. Talvez eles nos adoptem como animais de estimação, ou talvez não, porque rapidamente se apercebem que a maior parte de nós não vale nada. Somos uns parasitas.

Um abraço para os supostos "seres superiores" dotados de uma superioridade insofismável.


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RESPOSTA DO EDITOR


Meu caro Alferes Malheiro, volte a ler o texto. O que penso estar suficientemente claro é que não procuro limitar a opinião de quem quer que seja. Aliás, como constata, até coloco o seu comentário em primeira página. O que mostro na crónica, ou pelo menos tenho essa presunção, é de que se está a deslocalizar os afectos das pessoas para os animais. O senhor pode dizer que não, é verdade! Mas eu tenho o direito de pensar o contrário. E, por esse facto, dentro da minha liberdade de expressão, estou a limitar alguém?
O que tento mostrar –admito não ter conseguido- é que hoje é uma moda quase viral. E pior, é que, em manipulação crescente, está a ser muito bem aproveitada por alguns. É óbvio que não pretendi ofender quem quer que seja e pretender coartar o seu direito de se dedicar aos animais. Não é isso que está em questão. Se porventura se sentiu ofendido, meu caro, só me resta pedir-lhe desculpa. Não pense que não gosto de animais. Gosto muito e, acredite, sou incapaz de matar uma simples lagartixa apenas pelo prazer sádico de o fazer. Tenho muito respeito pela vida de todos, incluindo os irracionais. O que quis dizer é que não se pode radicalizar as coisas, ou pelo que se assiste, perder-se de vista o valor vida da pessoa humana e, em contraposição, elevar ou colocar no mesmo plano de igualdade os animais. Cada um deve ocupar o seu plano de importância na Natureza. E com isto não estou a dizer que se desrespeite os animais –como, por exemplo, as touradas. Lamento não ter sido claro para si. Muito obrigado.

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE....




SuperFebras deixou um novo comentário na sua mensagem "CURIOSIDADES DE ABRIL (1) - PARTIDO SOCIALISTA":


Amigo:

E tudo o vento levou... E pouco (ficou)! É que os vampiros comeram tudo e como facilmente se testemunha, quase nada restou.
Só de pensar que me convenceram que o povo é que ordenava e que construiriam um novo Portugal, egualitário e justo...! Eu ainda não tinha treze anos e o sonho que me entregavam, para mim era a realidade. Como em Coimbra o milagre das rosas, este, da revolução, p'ra mim era o milagre dos cravos em Portugal. Não dádiva de uma Princesa húngara feita Rainha de Portugal, mas sim de jovens soldados que com o povo ao seu lado abriam o avental da liberdade, pleno de esperança, promessas de pão e justiça para todos. Cinco anos depois, emigrei e, com isso, muito ganhei mas também tanto perdi. Perdi Coimbra anfiteatral; perdi o Mondego, ora forte e transvergente das margens, ora manso, sereno e ribeirinho com as suas, ofuscadas agora, ilhas e penínsulas de prateado areal. Perdi também o bom povo da minha aldeia, que me criou e educou com o seu exemplo e bairrismo. Porém, o que mais essencial há para viver e realizar sonhos, já eu o tinha perdido. Com o passar do tempo, perdi a inocência e o acreditar nos homens. Nos Onze de Março, os Vinte e cincos de Novembro, os malabaristas aldrabões retornados (não os nossos familiares de África, não, aqueles que pela boreal Europa se exilavam) e o fedor da estagnada e pervertida Revolução de Abril. Esvaeceu-se em mim o ideal de um mundo melhor.
Bem, o meu Avô Carlos dizia: "Tristezas não pagam dívidas". Com as que tenho pouco me apetece celebrar Abril.

Um abraço
Álvaro José da Silva Pratas Leitão
Bradfor, Ontário
Canadá

terça-feira, 22 de abril de 2014

BOM DIA, PESSOAL...

UM COMENTÁRIO RECEBIDO - QUE MERECE REFLEXÃO!



Antonio deixou um novo comentário na sua mensagem "ALTA: BEIRAL CAI SOBRE O EMPEDRADO":


y yo que soy el italiano que estaba alli abajo, pasando el dia en Coimbra, que me pasa? Quien me paga? El susto, para mi y mi enamorada, he perdido mis oculos de sol, contusao mas una herida, me duele todavia el brazo, medicamientos, riabilitacion!!! Esto no es normal, seguro que no tendré un buen recuerdo de Coimbra... como para mi ha sido la ciudad de la "casi muerte"....



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Em princípio quem pagará será o proprietário do prédio, se entretanto aparecer. O proprietário nem se preocupou com os seus inquilinos... Ainda não deu sinais de vida.... Que a justiça seja feita!

EDITORIAL: A SACRALIZAÇÃO DO ANIMAL

(Imagem da Web)

Nesta última semana, alguns cafés da Alta da cidade foram inundados com um papel com uma fotografia de um cão ostentando o título: “Procura-se!!”. Ali estava indicado um número de telefone e o pedido premente de contacto. Até aqui tudo normal e só por isto não seria notícia. Mas se eu escrever que este homem bate na sua mulher forte e feio então o caso muda de figura –e não se pense que não está referenciado na polícia por violência doméstica. É certo que os humanos são uma carga de problemas e, pela sua imprevisibilidade nos comportamentos, por mais que se tente, nunca serão completamente entendidos.
Não é a primeira vez que escrevo sobre esta obsessão pelos animais que, progressivamente, está a dominar a sociedade contemporânea, nacional e internacional –basta abrir uma qualquer página do Facebook. Como exemplos, basta lembrar, aqui em Coimbra, a deliberação camarária do anterior executivo de coligação em subsidiar uma associação de protecção aos gatos com 600 euros mensais e durante quatro anos. Há cerca de um mês este novo executivo não só veio ratificar o precedente como ainda ponderou aumentar a verba proximamente. A nível internacional, lembro a recente decisão do governo francês de classificar os cães e gatos no Código Civil como “seres vivos com sentimentos”. O que quer isto dizer? Pura e simplesmente que estamos a caminhar a passos largos para a sacralização dos animais. Saliento que não haveria mal nenhum neste acto se ainda não houvesse legislação que protegesse os irracionais. A meu ver, o que se assiste é, por um lado, a uma ofensiva política no sentido de mostrar aos eleitores que os mandantes são muito susceptíveis a esta questão e, com esta hipocrisia mascarada de ternura, captar votos à esquerda e à direita. Por outro, e ainda pior, numa manipulação de sentimentos, estamos em face da maior investida da indústria de apoio ao comércio animal.
Já há muito que se verifica uma transferência de afectos do homem para o animal. Basta verificar a quebra de natalidade, no nascimento de cada vez menos bebés, e o abandono de velhos, por exemplos. Ora a produção não dorme em serviço. Morre o homem eleva-se o cão e o gato. O grave é que nesta intentona de deslocalização de sentimentos, fenece também a sensibilidade que existe em cada um de nós pelo próximo e plasmados nos Evangelho e Constituição. Numa relação de igualdade pessoa-animal eleva-se o segundo e cai o primeiro, o humano. Ou seja, num planeamento global busca-se um igualitarismo deliberado. Pelo exagero, é de supor que não trará nada de bom para a humanidade. Talvez valha a pena pensar nisto!

sábado, 19 de abril de 2014

O EXTERMÍNIO DO COMÉRCIO TRADICIONAL


Visando uma crónica acerca de um texto que escrevi, em que o autor, sobre o mesmo assunto, retrata como Portugal, sem planos de sustentação se estatela e quebra em mil bocados, elaborei a seguinte resposta:

O país está transformado numa enorme pira em que, diária e paulatinamente, e como se estivessem numa passadeira rolante vão ardendo imensas, muitas, pequenas actividades industriais e mercantis –e com elas, por arrastamento, vidas humanas que lhes estão subjacentes, porque ainda não se inventou nenhuma outra forma de rendimento directo, e digno, que não seja o trabalho. É um processo maquiavélico de terror, cujos métodos bárbaros e sanguinolentos –não tão desconhecidos como isso- são simplesmente para alimentar a fogueira. De certo modo, com alguma simplicidade, faz lembrar o malandro que, em vez de procurar lenha no pinhal, começa a queimar as suas próprias mobílias para se aquecer no inverno. Claro que este extermínio é muito mais do que um acto individual. É um sistema -já sistémico e nosso conhecido de outras épocas- em que as grandes áreas comerciais lideradas pelo capitalismo selvagem e um consumidor interesseiro, manipulável e estúpido, ávido de sangue e sofrimento alheios, sentados à volta da fogueira, gozam o prazer de quem está a ser incinerado. De certo modo, até parece que regressámos ao início do século XVI e princípios de XIX, à Inquisição –e também ao início do século XX, com a revolução Bolchevique, ascensão de Hitler ao poder e troar dos canhões nas Primeira e Segunda Guerra Mundial, em que, pela luz de iluminados pensadores sem escrúpulos, morreram largas dezenas de milhões de pessoas. Se repararmos, os métodos são idênticos: o panfletário estratagema de convencimento de uma entidade (Estado) dirigido às massas. A argumentação é sempre a mesma e apontada sobre dois tópicos: a ideologia e o interesse. A ideologia, neste caso, sabemos muito bem qual é: uma nova ordem mundial assente no ultraliberalismo e na transformação do cidadão em submisso ao opressor. O interesse é o velhinho método da cenoura dirigido ao povo: é preciso provocar uma razia, uma purga necessária, e acabar com os contra-revolucionários, aqueles que, mesmo sem grande força, com outras ideias –mais inovadoras ou conservadoras, para aqui não interessa a definição- fazem sombra à ocupação plena das hordas invasivas planetárias. O que se propaga às mentes ansiosas pelo Carp Diem é que para se alcançar um futuro melhor -onde basta estalar os dedos para adquirir qualquer bem ao preço da uva mijona, onde o esforço para obter qualquer coisa é residual ou não existe-, assente na beleza e no carregar do comando, estes “pacóvios”, “atrasados”, os pequenos comerciantes que continuam a laborar numa certa linha ancestral, são inimigos da modernidade.
O que me faz impressão –ou talvez nem tanto quanto isso, uma vez que é da sociologia- é a indiferença de todos. Dos primeiros, Estado e organização capitalista, nem é de admirar, porque ambos estão transformados em aves de rapina que comem tudo, até os ossos, para não deixar rasto. Agora, e os outros? Os que vão caindo e outros que estão na fila? Como é que se pode entender que ninguém levante um braço para fazer parar esta chacina? Ainda há dias escrevi um texto em que defendia que estamos em plena guerra civil comercial. As mortes (o desaparecimento de estabelecimentos tradicionais) são tantas, ao virar da esquina, que passaram a fazer parte da paisagem e olha-se para a sua imagem da mesma forma que se olha para uma árvore derrubada –mas atenção, e isto é também muito curioso, se se tratar de um animal que esteja em perigo ou morto na estrada, cão ou gato, acciona-se todos os meios ao alcance, bombeiros, protecção civil e até exército, se preciso for.
Com a minha completa estranheza, deixo uma constatação e uma interrogação: alcançámos um nível de sociedade, mais culta, mais inteligente, mais sensível, mais responsável, como nunca tivemos até agora. O que se passa?

FELIZ DIA DE PÁSCOA


CURIOSIDADES DE ABRIL (6) - MDP/CDE

(Imagem da Web)

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CURIOSIDADES DE ABRIL (5) - MRPP

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CURIOSIDADES DE ABRIL (4)



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CURIOSIDADES DE ABRIL (3) - PCP


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CURIOSIDADES DE ABRIL (2) - PPD (PSD)



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