sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...




Daniel deixou um novo comentário na sua mensagem "A TRUPE":



Excelente texto.
Só quero esclarecer uma questão, esse caso das alunas brasileira que se dizem vítimas de xenofobia e discriminação, foi mais um caso de política barata sem qualquer fundo de verdade; trata-se apenas de uma campanha protagonizada por uma lista candidata à AAC que procurava mediatismo.
A reitoria investigou e não houve nenhuma denúncia oficial relacionada com estes casos.

BOM DIA, PESSOAL...

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A TRUPE



 De tempos a tempos somos acometidos de uma nuvem tóxica que nos invade, ocupando todos os nossos espaços, visual, mental, sociológico e político, e tudo, o que anteriormente era o epicentro das nossas preocupações, deixa de ter importância. De repente este país de velhos, de meia-idade e de novos acorda de uma modorra recorrente e, em metáfora, como viesse à janela, grita a plenos pulmões: “Acudam! Que os homens estão a bater nas mulheres!”. Este grito de Ipiranga, que em vez de libertação carrega frustração, parece mesmo uma súplica, como se acontecesse pela primeira vez, mas não é. Desde o lugar mais recôndito até à cidade grande não se fala em outra coisa. Os ecos de indignação chegam a São Bento e a tudo quanto for poder, desde o bispo até ao presidente da junta de freguesia. O Governo convoca o conselho de ministros e realiza uma reunião extraordinária. O ministro da pasta dá um murro na mesa: “é preciso criar mais uma lei agravada!”. Num ápice, bater na patroa passa a ser crime público e sai legislação em barda para salvaguardar a mulher da ira do mastodonte abrutalhado. Como se se varresse o pó para debaixo do tapete sem verificar a causa e sem tratar do caruncho que lhe dava origem, entra-se aparentemente num mundo novo sem educar, sem ensinar para alterar a mentalidade dos sujeitos. O que muda é a coercitiva obrigação de tratamento. Mas a cultura e os costumes não se convertem de um dia para o outro e apenas por decreto. Ninguém se lembra que, sem uma pinga de indignação durante todas as gerações hodiernas, contemporâneas e ancestrais, foi normalíssimo ouvir gritos de dor na vizinha mas não se intervinha porque “entre marido e mulher ninguém deveria meter a colher”. O resultado destas correrias e alterações legislativas traduziu-se, só no ano passado, em cerca de três dezenas de mortes por violência doméstica.
Agora o que está na moda – e até surgir outro tema que abafe este- são as praxes académicas. As conversas são recorrentes entre todos os becos e esquinas, passando pela tasca mais remelosa, jornais e revistas e até a RTP1, com os Prós e Contras a ser realizado em Coimbra para a semana, sai de Lisboa para se apresentar na cidade dos estudantes a discutir a prática estudantil.
Num piscar de olho, os estudantes passam de bestiais a bestas. De inocentes almas de capas pretas e futuro da nação, passam a corvos negros e a ser piores que um “serial killer”, assassino em série –dixit, Filomena Martins, no Diário de Notícias (DN) de 25 de Janeiro. Continuando a citar esta jornalista no artigo com título “O que é uma praxe?”, “são idiotas, humilhantes e animalescas. São crime”. Também Catarina Martins, professora universitária e que há vários anos se insurge contra esta prática académica, diz que “são o aviltamento, com inegáveis contornos sexistas. São meros ritos de passagem, sado-masoquistas, de chefes, com veia ditadora de feira, com o fim de criar círculos de conivência e redes de compadrio de potencial utilidade no futuro. (…) É chocante verificar que os estudantes universitários e também a Academia continuam, através de todos os seus componentes, a ignorar do alto do Olimpo o que se passa”.
No mesmo DN, do dia 25, Duarte Marques, deputado do PSD, em resposta a uma pergunta, afirma: “Repare que não vê relatos de abusos em Coimbra”. 
Mas o que vemos na Internet? Alunas brasileiras a ostentarem cartazes com frases discriminatórias proferidas por professores e alguns alunos na Universidade. Como até agora não se viu grande reacção de quem a deveria remeter, presume-se que isto se passa numa outra Coimbra, que não a Lusa Atenas.

SIM OU NÃO?

Como ressalva, gostaria de dizer que não tenho uma posição muito definida assente no patológico maniqueísmo, sim ou não, que teima em enevoar esta questão. Não sei se se deve proibir porque não –como já li e ouvi a tantos comentadores-, não sei se deve continuar porque sim. Na minha forma tosca de ver este problema, como em tudo, há sempre um campo neutro entre os radicais “sim” e “não”. É nesta terra de ninguém, entre nim e o talvez que não se discute, que residem os pormenores, a essência das coisas, a motivação para os actos. A meu ver, é aqui, partindo pedra a desbravar o conhecimento, que se deve procurar a origem de todos os males. Acho que a sociedade portuguesa enferma de um problema endémico, talvez herança do Antigo Regime autoritário do Estado Novo, resolve tudo -sem resolver nada- com a proibição. A solução para todos os males, na óptica de quem tem poder, está na legislação agravada e na coima –a propósito, ainda hoje verifiquei um facto incrível: quem for apanhado sem bilhete num autocarro dos SMTUC, em Coimbra, terá uma multa única de 160 €. Saliento que o preço do título de uma viagem, se adquirido no motorista, é de 1,60 €. Uma coima destas, para além de ser anti-pedagógico, eivada de ódio à prevaricação –como se a perversão e o subterfúgio fossem transcendentais, não humano, e não estivesse dentro de nós- e desrespeitosa pelo utente, está carregada de iniquidade e imoralidade. Só juristas que não têm o mínimo de conhecimento da antropologia e psicologia de massas podem legislar assim.
Em vez de se procurar a razão na nascente, na causa comportamental, para chegar à foz, à consequência de todos os desmandos, faz-se o contrário, começa-se pelos estragos a jusante, proibindo ou penalizando fortemente o infractor, como se esta ilusória construção de diques para evitar futuras repetições levasse a qualquer lado, e daí lavando as mãos como Pilatos. Dos resultados nem é preciso escrever, basta lembrar as mortes por violência doméstica.

MAS E POR QUE NÃO? E POR QUE SIM?

Começo por dizer que cumpri o serviço militar. Ora para quem lá andou, sabe-se que a tropa assenta fortemente no tradicionalismo da praxe. Deve-se também acabar com este ritual? Ou, como está acontecer com os exageros da Academia Militar, porque já existe normatividade no Código Penal, levar a juízo aqueles que, em posição de domínio, abusam? Aproveito para contar o quanto a tropa me fez bem e ajudou a desenrascar-me na vida. Até ir para a vida militar, porque era muito tímido, nunca tinha pedido boleia porque tinha vergonha. Curiosamente, assentei praça em Estremoz e também para poupar o dinheiro da viagem, juntamente com outro amigo, fazia todo o trajecto, de mais de 300 quilómetros, até Coimbra de polegar içado e mão estendida na estrada.
Mais ainda, pegando nos considerandos de tantos articulistas que encaram a praxe como um cerimonial de humilhação e submissão, será que a colectividade, na sua hierarquia de poder, não assenta fortemente numa práxis –tentando manter as pessoas ocupadas fisicamente para não pensarem-, numa prática vertical de cima para baixo? Será que esta declarada humilhação e submissão, quando não atente à liberdade e ao valor vida, perante o mais forte não será de todo saudável, no sentido de que faz libertar o rugir do leão que está dentro de cada um? Ou pelo contrário, os mais velhos e tomando em conta o que somos, a dureza fez de nós animais amestrados? Continuando a escrever por escrever, poderemos especular: será que os nossos filhos, os jovens de hoje, que não vão à tropa, não passaram nem uma ínfima parte das nossas dificuldades, serão e estarão mais disciplinados e preparados para o grande combate que é a vida, nesta crise que vivemos?
Mais ainda, vivemos numa sociedade polarizada em dois extremos, ou bipolar. Nesta questão avaliaram-se sempre os estudantes como o resultado da educação dos pais –cá está a bipolaridade: pais/educandos. Daí a célebre geração rasca, baptizada por Vicente Jorge Silva, em 1994, enquanto director do jornal Público. Mas esquecemos todos que nesta questão da educação a formação –através dos formadores- também conta. Neste caso a colectividade deixa de ser bipolar para ser tripolar. E, naturalmente, devemos chamar à colação os professores. Achei sempre muita graça, desde o início do mandato de Sócrates em 2005, avaliarem-se os professores do ensino básico e do Secundário mas colocarem sempre os do ensino superior de fora. Acontece que, na minha forma de ver, nesta questão das praxes académicas alguns professores universitários, pela sua postura arrogante e de constante humilhação e submissão do aluno, também contribuem muito para o que se passa fora de aulas. Eu andei lá há poucos anos e posso escrever sobre o que vi. Saliento que felizmente há excepções e muitas mas as ovelhas negras, como diabretes a espalhar o vírus do mal entre uma geração recentemente tomada como maior de idade, estão lá. Quantos alunos se suicidaram por falta de enquadramento nas matérias e sem que o regente da cadeira movesse uma palha para lhe acudir? Ninguém sabe, porque também não haverá muitos estudos sobre esta causa-efeito destruidora de sonhos. Quantos alunos ficaram traumatizados pela vida fora e apanharam esgotamentos pela forma como foram tratados em exames de orais? Ninguém sabe, porque também não interessa esgravatar no fundo da estrumeira. O que está na moda, agora, é mesmo discutir a praxe. Ponto e parágrafo.


TEXTO RELACIONADO

"Uma lei deficiente mental"
"Vidas errantes"

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...





João Ramos deixou um novo comentário na sua mensagem "EDITORIAL: OS INTERESSEIROS DO METRO":


Já vi muita gente a falar e a escrever sobre estas questões mas tenho de me render às evidências, foi o melhor e mais bem elaborado que já li, porque conheço bem a realidade das desventuras do Metro Mondego. Só posso dizer que está, neste texto, tudo e toda a verdade. Já não me iludo, de facto, não é nos pasquins locais que se lê a verdade, pois muitos dos nomes citados, influenciam os editores, em particular uma certa família de Miranda do Corvo. Por aqui se vê, e lê, no seu texto, que a verdade vem da voz do povo.
Muitos parabéns pela escrita e pelas verdades que na maioria dos seus textos, nos dá.
Um bem-haja.

BOM DIA, PESSOAL...

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

BOM DIA, PESSOAL...

MUSEU ACADÉMICO: UMA RECUPERAÇÃO MAL CONTADA

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)

Foi notícia de caixa alta ontem no Diário as Beiras: “Museu Académico recupera objectos furtados e suspende funcionário suspeito”. No caderno interior, na página 3, em desenvolvimento, poderia ler-se: “Um funcionário do Museu Académico, em Coimbra, terá furtado diversos objectos naquele espaço. Os crimes remontam ao verão passado e só agora as autoridades estão a recuperar algumas dessas peças museológicas. (…) Helena Freitas adianta que tomou conhecimento dos furtos no “verão passado” e desde aí as autoridades têm estado a investigar na tentativa de encontrar todas as peças furtadas no museu. (…) “É uma situação desagradável”, disse, indicando que “o valor das peças é relativo” e enfatizando “mais o valor afetivo e histórico”. Ao que o DIÁRIO AS BEIRAS apurou, alguns dos objectos furtados foram recuperados na passada sexta-feira pelas autoridades quando estes estavam prestes a serem vendidos num antiquário da cidade de Coimbra.”
Quando li a notícia, ontem, não sei bem explicar por quê mas algo, assim como um sexto sentido, me dizia que as coisas não foram bem assim. Antes de prosseguir, e como ressalva, eu também vendo velharias e antiguidades. Ao ler a informação sumária sobre o antiquário, uma vez que sou do ramo, senti-me incomodado. É que, do texto, uma pessoa apreendia facilmente que ali havia dois vilões, o suspeito e o comerciante que adquiriu os bens. Como é que os adquiriu? Foi pela porta esconsa da clandestinidade? Cumpriu os requisitos legais? É que nenhuma resposta se extrai do texto. Antes pelo contrário. Num tempo em que se toma a árvore pela floresta, numa época em que a sociedade vive mergulhada no legalismo onde desaguam todas as frustrações individuais e, numa avaliação iníqua sem o mínimo de preocupação pela verdade e defesa do bom nome, se procede como no Coliseu Romano, há dois milhares de anos. Em metáfora, alguém foi apanhado na curva da estrada, onde já ocorreram tantos assaltos, na noite escura com um capuz na cabeça? “Condene-se o gatuno à pena máxima!”, diz o povo, em molhe, no meio de uma imprecação. Uma criança pergunta ao pai: “e se não for este homem o salteador? E se ocorreram uma série de coincidências, que aos olhos cegos de um justicialismo feroz que não quer ver, vamos deixar passar a procissão?”. Responde o progenitor: “cala-te! Sabes lá tu de alguma coisa, fedelho? Deixa essas especulações para os adultos!”. E o homem tomado como criminoso no lugar e na hora errados, se calhar inocente, inculpado de um facto de que nada tem a ver, no meio de um corredor de polícias, segue agrilhoado, intimidado, vexado e sem poder evitar levar um sopapo de um espectador mais afoito e acometido pela heroicidade do ódio.
Encerrei o estaminé e fui para a rua. Não posso deixar-me ficar apenas pelos pensamentos esconsos e furtuitos. Tenho de ir saber o que se passou com o furto do Museu Académico. E até é muito fácil, afinal na cidade até se contam pelos dedos os vendedores de antiguidades. Falei com um, com outro e mais outro. E, eureka, descobri! É o meu amigo Idalécio –nome truncado porque ele só aceitou falar se a sua identidade não fosse divulgada. Está nervoso. Anda de trás para a frente, como se tivesse ingerido, de uma vez só, três latas energéticas de Red Bull. Calma, Idalécio! Tento contemporizar no meu ar de pacificador das moitas agrestes. Conta lá o que se passou:
“Estou chateado à bruta, Luís! Ainda bem que apareces e me escutas; assim sempre serve para eu desabafar e não ter mais logo que embirrar com a patroa, lá em casa. Quando li a notícia no Diário as Beiras até as minhas partes suspensas iam indo ao chão. Isto não foi nada como se conta na notícia do diário. Como sabes sou comerciante há várias décadas e já não embarco no canto do cisne. Ou seja, não compro artigos a qualquer pessoa nem a qualquer preço. Se alguém se me dirigir para vender, miro de alto a baixo o comprador e, como máquina fotográfica polaroid, capto logo ali a primeira imagem de impressão rápida. A seguir, faço as tradicionais perguntas “como obteve as peças? De onde vieram”, para tentar um diagnóstico rápido e para não cair no conto da carochinha –como sabes tão bem como eu, todos procuramos salvar-nos. Não termos problemas com ninguém, e muito menos com a polícia. O nosso nome limpo vale por todos os esforços. Isto para te dizer de que não me julgo santo. Nada disso! Sem demagogias, julgando-me melhor do que qualquer um, cumpro o que a lei prescreve e tento andar de cabeça erguida. Nada de santidades no meu procedimento.
Mas vou então ao caso em concreto. Em 22 de Fevereiro do ano passado, de 2013 portanto, entrou-me pela loja dentro um fulano, que conheço há mais de três décadas, para me vender duas peças antigas em mau estado. Sabia que era filho de famílias com posses e que, sem vislumbrar o serviço em que se ocupava, trabalhava na Universidade. À pergunta tradicional de onde vieram, respondeu que eram de família. Eu comprei.
No dia 5 de Março, um mês depois da primeira transacção, trouxe-me mais duas peças, também velhas. Respondeu o mesmo: “é de família!”. Eu comprei.
No dia 8 de Março apareceu com mais duas velharias indiscriminadas. Eu comprei.
No dia 11 de Março voltou com mais quatro unidades sem grande valor transacionável. Eu comprei.
No dia 18 de Março vendeu dois pratos em louça, um deles com o logótipo da Universidade. Eu comprei.
No dia 22 de Março voltou com um prato, igual ao anterior do logótipo da Universidade. Foi aí que comecei a duvidar da proveniência. Mesmo assim adquiri-o. Mas, com a pulga atrás da orelha, questionei-o directamente acerca do seu local de trabalho. Ele respondeu: “trabalho no Museu Académico!”. Suspeitei imediatamente que ali havia marosca e ia sobrar para mim. Voltei a interrogar como é que os pratos lhe vieram parar às mãos e ele respondeu: “sabes, faço horas extraordinárias e como não há pilim para me pagar deram-me os pratos. Ó pá, não me digas que estás a desconfiar de mim?! Conheces-me há mais de 30 anos!”. Torcendo o nariz, disse-lhe na cara que não acreditava nesta história, mas enfim!
Mal ele virou costas enviei um e-mail à senhora vice-reitora, Helena Freitas, a contar o que se estava a passar, que suspeitava que o sujeito andava a desviar acervo do museu. Que investigasse que, da minha parte comprometia-me a guardar todas as peças adquiridas até se chegar a uma conclusão.
Na semana seguinte, tal como fiz com as peças anteriores e como a lei obriga, enviei o relatório de compras para a Polícia Judiciária (PJ) e referente ao movimento da semana anterior. No mapa remetido à PJ seguiu a nota de que tinha contactado a senhora vice-reitora para que indagasse da possibilidade de estarem a ser desviadas peças do museu.
Por e-mail, no dia seguinte, respondeu-me a senhora de que se iria desencadear um processo de averiguações. Mais tarde, creio, informou-me de que tudo indicava ser verdade.
Passados dias, talvez um mês, não sei ao certo, recebi um telefonema de uma senhora jurista da Universidade de Coimbra a convocar-me para ir prestar declarações ao seu departamento com vista ao apuramento de factos alusivos ao Museu. Tive de explicar à senhora manuseadora de leis que nem ela nem a Universidade tinham legitimidade para me convocar. Só as polícias, o Ministério Público, ou os tribunais podem intimar cidadãos para prestar declarações. Embora contrariada lá aceitou e passados não sei mais quantos dias lá vieram à minha tenda. Ouviram-me, fotografaram as peças e, na paz dos anjos, passou um, três, seis meses, e fiquei à espera de mais desenvolvimentos. Nunca mais me disseram nada. Até este mês de janeiro, quando recebi um ofício da PSP para prestar declarações no dia 15. Ou seja, este processo, não se sabe por alma de quem, arrastou-se durante 9 meses sem que houvesse uma palavra para mim. Os artigos estiveram sempre à minha guarda mas sem o correspondente auto de apreensão –como é normal nestes casos similares.
Foi portanto com algum desgosto e desassossego que li no Diário as Beiras que “ alguns dos objectos furtados foram recuperados na passada sexta-feira pelas autoridades quando estes estavam prestes a serem vendidos num antiquário da cidade de Coimbra.”. Com a sonegação da realidade, isto é um falsear completo sobre realmente o que aconteceu. Não sei se me entendes, Luís, não procuro publicidade para o meu acto. Quero apenas a reposição da verdade. É que sem se contar tudo como foi, para quem lê, parece que os antiquários da cidade são uns ladrões. É preciso mostrar as coisas tal como elas são. Fui claro, Luís? Obrigado por me escutares!”

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS: O FABULOSO CIDADÃO (2)



 Depois de uma pausa para um café e um bolinho de coco no Mui Chocolate, na Rua da Gala, tão saborosos que até nos deixou assarapantados, vou então prosseguir a minha conversa com o nosso arguto e carismáticoCidadão José Dias”, como se apresenta oficialmente à comunidade coimbrã. Para me poupar, e não vá eu cometer umas calinadas, quem vai desfiar o rol da sua vida, na primeira pessoa, é o próprio. Fala “Cidadão”:
“Lá no teu boteco, contava eu que, em 1965, entrei para o curso de Engenharia Electrotécnica, na Universidade do Porto. Disse-te também que estes cursos estavam alinhados na célebre alínea F –inicial de Fadista, como deves calcular- e que era para onde iam parar todos os futuros Enstein’s –a propósito, Luisinho, sabias que este mais famoso físico teórico alemão foi um grande cábula nos estudos liceais? Não sabias? Pois! É para veres que a teoria da relatividade, desenvolvida por ele, já era antes de o ser.
Prosseguindo, como te disse anteriormente, o meu pai era dirigente da Acção Católica, Rural e Operária. Como era natural, também tive formação religiosa, e era também praticante apostólico-romano. Disse-te também que desde o liceu que era dirigente da JOC, Juventude Operária Católica –claro que os meus pais sabiam. Então, na universidade acontecia uma coisa interessante: eu era o único católico no meio de comunistas –talvez por isso, creio, nunca fui convidado para integrar o partido. Mas o cerco ao meu segredo no seio da família começou a apertar-se. Apesar de não pertencer ao Partido Comunista comecei a receber o Avante, o jornal da foice e martelo. Ora o meu pai, que já deveria andar desconfiado que o filho mais velho era a ovelha negra da prole, foi chamado pelo director da Faculdade, Jaime Rios de Sousa, e confrontado com a verdade nua e crua: o seu filho-varão andava no meio de comunistas. Imagino que, dito assim de chofre, teria sido um choque. Sei lá quantas vezes o meu progenitor teria feito o sinal da cruz. A partir da verdade descoberta, lá em casa, começou o confronto directo e a intimação: “ou mudas de amigos ou mudas de casa!”.
Em 1968 vim para Coimbra. Como era dirigente da Associação Académica e católico, fui acolhido sobre o manto do CADC, Centro Académico da Democracia Cristã, e fui morar para a Rua Antero de Quental, no 83 e em frente ao Quartel General. Vivi intensamente a crise académica de 1969 e em 1970, na pós-crise, fui prevenido pela vice-reitora, Helena da Rocha Pereira, de que a PIDE andava à minha procura. Agarrei na trouxa, fui para Lisboa e matriculei-me no Instituto Superior Técnico, em Engenharia Civil. Aqui passei a integrar o Movimento Católico Progressista. Em 1970, no escritório de Jorge Sampaio, conjuntamente com outros camaradas, fiz parte da criação embrionária do MES –embora, contrariamente à verdade, se afirme que este movimento de militantes do catolicismo progressista só nasceu depois da Revolução dos Cravos. O tempo foi passando e comecei a trabalhar no Ministério da Educação. Em 1973 a PIDE prendeu alguns membros do MES. Um deles, sobre tortura, confessou que o Dias (eu) era o responsável pela distribuição da propaganda e a Polícia Internacional e Defesa do Estado tenta caçar-me. Entrei na clandestinidade e passei a não permanecer muito tempo no mesmo sítio, entre Braga, Porto, Coimbra e Lisboa, e até ao 25 de Abril de 1974. Reunia na clandestinidade com militares como Melo Antunes. Foram eles que, na iminência do golpe militar correr mal, me recomendaram que saísse do país. Fui a salto para Espanha, enquanto a minha mulher foi a Bruxelas arranjar um passaporte falso. Já com o documento, fui para Genebra, onde estavam à minha espera Medeiros Ferreira, o António Barreto e outros, e pedi asilo político às autoridades suíças. Como, felizmente, correu bem a intentona militar, regressei a Portugal. Fui funcionário e dirigente do MES até 1977.
Em 1978 retornei a Braga e fui trabalhar para o Sindicato das Costureiras e Alfaiates –como curiosidade, tinha 12 mil associados, onde só um milhar eram homens filiados- exercendo a função de técnico sindical –fazia formação nas empresas para delegados sindicais. Nesta cidade fui dirigente de vários movimentos cívicos. Em 1982, na cidade dos arcebispos, fui para funcionário da Agência Abreu como técnico de turismo. Em 1996 voltei a Coimbra e fui trabalhar para o INATEL. Para além de técnico de turismo na ex-FNAT –Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, de 1935 a 1974-, em programas para seniores, fui dirigente da Organização Mundial de Turismo Social. Na cidade dos estudantes integrei vários movimentos cívicos. Na comemoração do 25 de Abril de 2004, juntamente com António Arnaut, Gomes Canotilho, Almeida Santos e outros, fui agraciado com a Ordem da Liberdade pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio. Neste mesmo ano fui convidado para seu assessor político. No final do seu mandato, em 2006, fui condecorado com a comenda da Ordem do Infante D. Henrique –a mesma distinção que foi concedida a Ronaldo, o C7, estás a ver? Com duas diferenças, vivo com uma pensão de pouco mais de mil euros e a minha Irina quando olha para mim já só vê um homem cansado. Não achas que já chega, Luisinho? Ai, é verdade, queres que te conte por que comecei a juntar “Cidadão” ao meu nome? Eu conto. Sempre que, em Coimbra, entrava numa livraria, porque me conheciam ou me apresentava como José Dias, era logo tratado por Doutor José Dias. Outras vezes por professor. Tanto fazia eu alertar que não era licenciado como não. Então, por causa das confusões, passei a assinar “Cidadão José Dias”. Queres saber também para onde vou? Continuarei a lutar por uma sociedade mais justa e equilibrada. Vai ser assim até não poder mais. Estás a agradecer-me? Por gentileza, meu bom amigo! Foi um prazer!” –e leva os dois dedos, em gancho, ao boné.

BOM DIA, PESSOAL...

A VIDA POR UM MOMENTO

(Imagem da Web)


A VIDA POR UM MOMENTO


A vida é tão, tão, paradoxal,
acusamos sempre em lamentos,
repudiamos tantas vezes o trivial
e acabamos amarrados a momentos.

Queremos ser o que não somos,
queremos ter  só por não termos,
queremos voltar a ser o que fomos,
para acabar por nada sermos.

Somos animais muito esquisitos,
falamos muito e diferentes dialectos,
faltam-nos muitos requisitos
para sermos humanos completos.

Proclamamos a falta de carinhos
como um pecado da humanidade,
mas só quando estamos sozinhos
somos tomados dessa vontade.

Pedimos um abraço ao mundo,
como se o mundo o pudesse dar,
fosse senhor de enlace profundo,
e nos conseguisse abraçar.

Um dia quando eu morrer,
sei que se vai um insolente,
quero voltar a nascer
com outro espírito diferente.

Quero partir consolado,
livre de qualquer dor,
quero levar ao meu lado
a imagem do meu amor.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A PROPÓSITO DE PRAXES, VALE A PENA VER ESTE VÍDEO

BOM DIA, PESSOAL...





"OUÇA AS SIRENES..."

ROSTOS NOSSOS DESCONHECIDOS: O FABULOSO CIDADÃO (1)


Foi há cerca de oito anos quando mais repetidamente nos passámos a cruzar nestas ruas estreitas da Baixa. Depois, em 2008, a editora Edições Afrontamento tinha dado ao prelo o livro da sua vida: “Memórias do Cidadão José Dias”. Tinha já lido algures que fora condecorado com a Ordem da Liberdade, uma comenda honorífica concedida a quem se distingue por serviços relevantes na vida portuguesa e em prol da dignificação do homem e à causa da Liberdade, e outras condecorações. Sobre o pouco que sabia a seu respeito e sobretudo sustentado na imprensa, imaginava-o um homem alto, erecto, em jeito de torre de marfim, garboso, todo apessoado e embrulhado numa máscara social de sorrisos distribuídos à esquerda e à direita.
Ora a pessoa que diariamente calcorreava as pedras da calçada em passo ligeiro e se confundia com os outros pedestres não tinha nada a ver com o retrato por mim imaginado. Numa absoluta contradição e no paradigma do português médio, era baixo, com um metro e sessenta e poucos, com um rosto fino, onde se salientavam dois olhos pequeninos, sagazes e perscrutadores, de íris azulada e emoldurados por uns óculos de armação simples. Na cabeça, provavelmente para disfarçar uma testa larga e alta que precocemente começou a ser abandonada pelos cabelos, uma tradicional boina portuguesa, ou boné, de pala sobreposta. Perante esta decomposição da pré-formatada imagem, dei por mim a pensar que, afinal, Deus pode perfeitamente estar encorpado no homem mais comum que se possa imaginar.
Até que, nestes anos mais chegados, nos começámos a encontrar em debates políticos multipartidários sobre a cidade e acabámos a conhecer-nos melhor. Reparei que começou a assinar os convites para as suas iniciativas como “Cidadão José Dias”. Porquê? Sei lá! Não faço a mínima ideia! Recentemente esteve por detrás da criação, foi a génese, do movimento Cidadãos por Coimbra. Senhor de uma amabilidade indescritível no trato, não é difícil gostar do “Cidadão José Dias”, como se auto-proclama –das razões falaremos lá mais para a frente. Para quem esteve presente no Auditório da Reitoria –e se não esteve viu nos jornais e televisão-, há duas semanas realizou e foi interventor na sessão Cívica “Em Defesa da Constituição, da Democracia e do Estado Social”. Numa mesa de oradores de excelência, de peixe graúdo como sói dizer-se, onde constavam, entre outros, desde António Arnault e Manuel Alegre até Catarina Martins, apercebi-me do sorriso de nervoso miudinho do Dias. Sabendo todos nós que Coimbra, salvo raríssimas excepções à norma, quase nunca dá bola -no sentido literal de passar confiança e numa descarada discriminação- e escorraça pessoas sem canudo, ali naquele painel do anfiteatro universitário, dei por mim a classificar aquele homem simples e não licenciado, sonhador, guerreiro e defensor de uma sociedade melhor, como um cordeiro entre os lobos. Daí, pela sua coragem em tentar partir esta cortina de vidro que divide a sociedade coimbrinha numa descarada bipolaridade em eruditos e plebeus, eu ter pensado em entrevistar o nosso mais extraordinário Cidadão. E nada melhor do que ser o próprio a contar. De onde vens? Onde estás? Para onde vais? Fala, Cidadão “Zé” Dias:
Nasci em Braga, no Minho, por alturas das vindimas, em 1948. A minha querida mãe era da Póvoa do Lanhoso, terra da Maria da Fonte –sabes quem foi esta sublevada, não sabes, Luisinho? Foi a mulher que, em 1846, chefiou a revolta popular contra várias alterações fiscais e essencialmente sobre a proibição de realizar enterros dentro das igrejas. Sou filho, mais velho de um rancho de oito, de pai funcionário público e mãe telefonista dos CTT. Família modesta e com tudo de bom. Como era normal à época por ser funcionário do Estado, o meu progenitor era filiado na União Nacional –e dirigente da Acção Católica, Rural e Operária.
Em 1952 fomos viver para o Porto e por lá, na Cidade Invicta, comecei a minha formação humana, política e académica. Com 15 anos, em 1963, estava no último ano do liceu, fui convidado para ser dirigente da Juventude Operária Católica (JOC). Em 1965 entrei na Universidade do Porto, no curso de Engenharia Electrotécnica, na alínea F. Sabes o que era esta alínea, Luisinho? Já vi que não. Vou-te contar. A alínea F era a rubrica onde desaguavam todos os maus alunos. Assim uma espécie de vazadouro, a posta-restante do ensino. Estás a ver? –olha lá, antes de continuarmos esta conversa, e se fôssemos beber um café? Sugeres algum local? Não? Então vamos à “Mui Chocolate”, na Rua da Gala. Vamos lá! (leva dois dedos em gancho ao boné). Por gentileza, meu bom amigo! Faz favor! E cede-me a passagem.

(Em actualização. Aguarde, sem ansiedade, que o final desta história virá)

sábado, 25 de janeiro de 2014

LEIA O DESPERTAR...


LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Esta semana deixo o textos "UM AVIÃO NA CALÇADA""REFLEXÃO: OS INTERESSEIROS DO METRO"; e "AS ÁGUAS DE COIMBRA E O MEU MAU-FEITIO".


UM AVIÃO NA CALÇADA


 Como me deito muito tarde, já a noite vai jubilada, estava eu no segundo sono e ainda antes das 9h00, quando o telemóvel retiniu. Era o João Cardoso, “está lá? Ó pá, vai à Rua Visconde da Luz que está lá um avião!”. Ainda meio ensonado, repliquei: um avião? Como? Caiu lá um avião? Do outro lado só ouvi: “vai lá ver, que estou com pressa!”
E lá me vesti a correr e rumei às ruas largas da calçada, a Ferreira Borges e Visconde da Luz. Algumas pessoas, de máquina fotográfica em riste e pronta a disparar, assomavam às janelas, aos varandins e aos patins das portas dos estabelecimentos, cujos donos estavam de esperanças para um novo dia que se abalançava. Os transeuntes, que rumavam com destino certo, paravam e ficavam a olhar o aparato. Compreensível, até. Em cima de um grande camião estava um Cessna, um monomotor. Afinal não é todos os dias que um avião “aterra” –salvo seja- na Baixa de Coimbra. A questão que se colocava era saber o que raio fazia ali a aeronave. Cá para os meus botões ainda semeei a hipótese de transportar o Pai Natal mas lembrei-me imediatamente que não podia ser. Foi então que associei este facto a um novo estabelecimento que proximamente irá abrir no espaço do desaparecido “Armazém Americano”. Seria isso? Sei lá! Interroguei-me em solilóquio. Vamos mas é investigar! Venham daí! Vamos falar com Miguel Faustino, um dos responsáveis por este projeto.


Bom dia, Senhor Miguel. O que é isto? Não me diga que vai colocar a máquina voadora dentro da loja? “É verdade, sim! Vamos mesmo pendurá-lo no teto, por cima e a afocinhar para baixo, nesta antecâmara, com um aspeto lindíssimo, e que o senhor vê. Esta loja é fantástica, olhe aqui esta sala com luz natural. São espaços como estes, entre os 400 e os 800 metros quadrados que procuramos nos centros das cidades. Somos uma empresa familiar, a Sportino, L.ª, com 30 anos e constituída por mim, pelos meus irmãos e o meu pai –sabe como é que o meu criador começou? Ele era sapateiro no Bombarral e depois principiou a andar pelas aldeias de bicicleta. A seguir abriu uma sapataria nesta vila. A partir daí foi sempre a caminhar em direção ao futuro. Hoje temos lojas em Setúbal, Torres Vedras, Caldas da Rainha, Leiria, Bombarral e agora aqui em Coimbra. A nossa empresa abarca modas de roupa, calçado, passando pelo desporto. Representamos grandes marcas internacionais. Apesar da crise que vivemos, não temos medo. Para além de termos loja online, procuramos que os espaços que abrimos, sempre nos centros históricos, sejam locais de culto, irreverentes na decoração, diferentes na oferta de produtos e na imagem de marca. Daí você verificar a colocação do avião dentro deste espetacular anfiteatro. É lindo, não é?
Não temos receio deste tempo de recessão. O futuro está nos centros das cidades. Em Lisboa já está a começar a verificar-se uma alteração, por parte do consumidor, na procura. As pessoas já estão abandonar as grandes superfícies comerciais. Só primando pela diferença conseguimos inverter esta tendência e combater os grandes grupos económicos. Se tudo correr conforme desejamos, lá para Março, próximo, este nosso mais recente bebé dará à luz nesta encantadora cidade dos estudantes. Contamos criar entre 6 a 8 postos de trabalho. Estou muito entusiasmado. Enquanto representante do grupo Sportino, L.ª, posso afirmar que estamos muito felizes por poder contribuir para a revitalização desta parte nobre e fazer parte desta grande família comercial da Baixa de Coimbra. Posso dizer-lhe que, para além do monomotor, temos outras surpresas, mas não posso divulgar tudo agora. Concorda, não concorda?”


REFLEXÃO: OS INTERESSEIROS DO METRO (1)

Neste último Domingo, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, foi recebido na Rua Pedro Monteiro, em Coimbra, com mais uma manifestação de cerca de três centenas de pessoas oriundas dos concelhos de Lousã, Miranda do Corvo, Poiares e Góis para defenderem a concretização do prometido projeto do Metro Ligeiro de Superfície. Segundo o Diário de Coimbra, Passos Coelho, no Instituto Português da Juventude, disse o seguinte: “Acho incrível como o Estado conseguiu gastar uma pipa de dinheiro a desmantelar a linha que funcionava, vendeu os materiais todos e deixou lá um buraco. (…) Assumi um compromisso com a linha da Lousã e gostava de cumprir. Sobre o Metro não assumi nenhum compromisso.”
Antes de prosseguir, para melhor se entender, vamos recuar no tempo. A empresa Metro Mondego foi constituída em 1996 com a seguinte representatividade: Estado Português 53%, município de Coimbra 14%, município da Lousã 14%, Miranda do Corvo 14%, REFER 2,5% e CP 2,5%. Nesta altura era Manuel Machado presidente da edilidade coimbrã. Com um nomeado presidente da Metro Mondego a auferir um salário mensal de cerca de 800 contos, hoje 4000 euros, este plano manteve-se quase no anonimato até 2002 e ganhou velocidade quando Carlos da Encarnação ganhou a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) a Manuel Machado e se estreou a negociação e expropriação de parcelas para a futura avenida central. Em 2005, com grande encenação política por parte de Encarnação que –tal como Fernando Carvalho, na Lousã, e Fátima Ramos, em Miranda- visava a reeleição, deu-se início à desconstrução do casario no Bota-abaixo –mesmo sem estar concluída a demolição já foram gastos 14,5 milhões de euros, noticiava o Diário as Beiras e acrescentava: “em 29 de dezembro de 2006, existiam 36 atividades comerciais ou serviços e 33 habitações neste corredor parcialmente desmantelado.”
Sob a égide do Governo de Sócrates e com a promessa de substituição por um comboio mais moderno, em Dezembro de 2009 começou o levantamento dos carris na linha da Lousã. Segundo o jornal Público de 19 de Janeiro de 2010, o Secretário de Estado dos Transportes, Carlos Correia da Fonseca, afirmou que a construção da 2ª fase do projeto Metro Mondego (MM), que ligava a Baixa aos Hospitais da Universidade dependia do estudo custo-benefício para demonstrar a sua viabilidade.
Em finais do ano de 2010, Jaime Ramos, irmão de Fátima Ramos, nesta altura presidente da edilidade mirandense, cria o Movimento Cívico de Lousã e Miranda. Nos primeiros meses de 2011, algumas centenas de pessoas seguiram este líder em várias manifestações locais e em Lisboa contra o Governo de Sócrates –hoje em 2014, apesar de ter mudado o governo, continuam as manifestações.
Em Janeiro daquele ano de 2011 realizou-se as eleições para a presidência da República, vindo a sair vencedor o até aí presidente Cavaco Silva. Antes do sufrágio, em reunião do Movimento Cívico Lousã Miranda ficou acordado que, em solidariedade para com todos os prejudicados pela falta do comboio e num ato de indignação e protesto, não se votaria nas eleições presidenciais. Fátima Ramos, fazendo constar que estava solidária com todos mas rompendo o acordado, votou.
Com as eleições legislativas à porta, em 5 de Junho deste ano de 2011, em campanha eleitoral o PSD prometeu fazer a reposição da linha. Já depois de nomeado ministro da economia, Álvaro Santos Pereira vinculou o Governo de Coligação PSD/CDS. (Continua na próxima edição)


AS ÁGUAS DE COIMBRA E O MEU MAU FEITIO

Desta vez, e na mesma linha de outros casos que, como denúncia, dou aqui à estampa, a meu ver também na esfera do surreal, fui acometido de mais um coice. No bom sentido, é claro! Como quem diz mais um beijinho de Judas. Antes de contar, o curioso é notar que factos destes estão sempre a cair-me no regaço. Até parece que é o destino a dar-me matéria para eu escrever e alertar outros incautos como eu. Antes de prosseguir, como ressalva e para que não me tomem com outro estatuto, confesso já que sou uma espécie de fidalgote da realeza que aparenta ser rico mas, virado ao contrário, nem um cêntimo toca o chão.
Agora sim, vamos à narração. Tenho vários contratos celebrados com a empresa Águas de Coimbra (AC). Então, como o dinheiro no meu bolso é uma espécie de andorinha que só de tempos-a-tempos regressa, tenho por hábito juntar todas as faturas e, no prazo limite, vou pagar à Loja do Cidadão. Tenho por costume recomendar à funcionária: veja se está tudo, se não fica nada pendurado! Na semana passada, como é hábito, fui liquidar o débito em atraso, mas que pago juros. Desta vez, porque não levei as notificações comigo, sei lá se por achar pouco, fui enumerando as moradas dos contadores. Foi então que a funcionária das AC me transmitiu que um dos contratos estava com interrupção de fornecimento, como se diz na gíria, estava cortado. E portanto, em consequência, teria de pagar 45,34 € para repor o anterior. Acontece que nem tinha um corte no fornecimento nem recebi qualquer comunicação de que tal iria acontecer. E expliquei isto mesmo à senhora. E a funcionária, muito simpática e prestável, atirou logo: “ótimo, nesse caso o senhor só paga metade, mas tem de se dirigir ao outro extremo das cidade, à sede das AC”. Regressei ao meu ninho e constatei que as faturas referentes ao contrato em falta foram colocadas pelo carteiro numa caixa de correio marginal. Verifiquei também que não havia lá nenhum aviso de corte, nem nenhuma informação de que por lá passou um qualquer trabalhador das AC com intenção de bloquear o calculador e, por qualquer impossibilidade, não conseguira.
Sendo assim, já que não me restava outra hipótese e também porque, apesar de ter mais defeitos que buracos numa rede, tenho pelo menos uma qualidade: sou bem-mandado. E lá fui para a Rua da Alegria –quer dizer, alegria só se for para as AC que, com este repetido catar o bolso até já está roto, eu ando triste como a noite. E lá na casa do senhor de todas as águas de Coimbra, mais uma vez, agora perante uma representante da empresa –que, por acaso até é minha conhecida- lá expliquei o que tinha acontecido. Ou seja, não tive interrupção de fornecimento nem qualquer comunicação prévia ou a posteriori a informar-me da impossibilidade de efetuar o bloqueamento no contador –que está à vista e de aceso fácil. Diz-me a minha conhecida aquilo que eu já sabia: “Melhor! Então só desembolsas 22,67 €”! Perante o meu manifesto descontentamento, ainda atirou: “bolas, pagas metade e ainda reclamas?”. Perante a sua compreensão, ali à sua frente estava alguém que ela julgava conhecer mas não passava de um sujeito mal-agradecido. Isto é, por um serviço que não me foi prestado, de facto, eu deveria estar grato, pagar e não bufar. Mas eu não sou flor que se cheire, paguei mas bufei. E lá ficou o registo no Livro de Reclamações. Salvo melhor opinião, porque há outras naturalmente, no meu entendimento bacoco, as AC não podem cobrar uma intenção. Podem exigir um pagamento pelo cumprimento de uma prestação de facto e não por um propósito pensado na secretaria. Mesmo se o funcionário se deslocou ao locado e não cumpriu a obrigação –que não será o caso porque não foi deixada qualquer prova da sua passagem.  No meu sentido de justiça, as AC só podem cobrar este serviço se efetivamente provarem que houve impossibilidade de concretizar o ato. Sei por linhas travessas que as AC são useiras e vezeiras a arrecadar neste género de serviço não consumado de facto e partindo do intuito. Era bom que os senhores administradores, muito bem pagos -e que lhes faça bom proveito que eu por cá, teso mas alegre, fico bem graças a Deus-, descessem à terra e verificassem que o consumidor, como eu e mais liso que uma mó, não pode continuar a ser espoliado de uma maneira infame, só com o argumento de que “é assim porque tem de ser”. Não é não! Digo eu!


CRIATIVIDADE

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CANÇÃO PARA UM AMOR DISTANTE

(IMAGEM DA WEB)



CANÇÃO PARA UM AMOR DISTANTE


Talvez tu nunca sonhasses
o quanto foste para mim,
se soubesses, e acreditasses
no quanto me entreguei a ti.

Tantas noites sem dormir
às voltas com o meu pensar,
queria despejar o sentir
nas mágoas do recordar.

Queria-te longe, na Lua,
até ao amanhecer,
quando te via na rua
esquecia o meu desquerer.

Desviava o meu olhar
para não me cruzar no teu,
eu não queria atraiçoar
um princípio que era meu.

Descobri que um valor
nunca se cumpre de verdade
quando entra um grande amor
perde toda a validade.

Sinto no peito um tormento
pela falta do teu abraço,
relembro cada momento
nos filmes que às vezes faço.

No silêncio atroador
da minha cama  vazia,
penso em ti, meu amor,
que te irei ter qualquer dia.

BOM DIA, PESSOAL...

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

PARTIU UM NOSSO VIZINHO

(Foi neste agora remodelado espaço que funcionou a loja do "Chico")

 Foi ontem a enterrar, no Cemitério de Santa Clara, o Francisco dos Santos. O “Chico”, como era conhecido entre nós, aqui na Rua Eduardo Coelho, durante muitos anos, talvez mais de uma década, foi comerciante, com loja de artigos têxteis. Encerrou há cerca de três anos o seu espaço comercial. Para memória futura, neste mesmo local funcionou anteriormente ao “Chico” a Sapataria Antunes.
Voltando ao Francisco, era um tipo muito popular. De voz grossa e bem vincada, gostava de se fazer ouvir. Se a memória não me falha, até se implantar na nossa rua, o “Chico” foi feirante, daí a sua voz bem timbrada. Haveria muito mais para escrever, mas para quê? Tudo se acaba aqui. Somos todos tão frágeis. Não passamos de meros passageiros no tempo. Por isso mesmo, para que a memória não se perca, cá ficam umas linhas sobre o agora nosso vizinho desaparecido. 
À sua família, nesta hora de luto e dor, um apertado abraço de solidariedade. Se posso escrever assim, em nome de todos os comerciantes da Baixa de Coimbra os nossos sentidos pêsames.

O CARLITOS "ANDA MUITO EM BAIXO"




 Há dias passei pelo Bruno Morais, junto ao Café Angola, e vi o “Carlitos popó” dentro do seu carro –o Bruno é o protector deste último “cromo” que calcorreia a Baixa de Coimbra. Disse-me então o Morais que estava para ir ao hospital com o seu protegido já que nos últimos dias o “Carlitos” se tem sentido mal do “grilo”, como quem diz do coração. Hoje encontrei-o, logo de manhã, no Largo das Ameias, junto à Estação Nova. Aparentando um ar frágil e uma tez esbranquiçada no rosto, acompanhando as palavras com o gesto de levar a mão ao peito, lá me foi dizendo o seu coração está muito cansado. Do alto dos seus 67 anos, feitinhos em Outubro último, pressinto que assim seja. Não por ter amado de mais, mas, calculo, por ser acarinhado de menos. Todos nós, a começar por mim, gostamos muito de, quando passamos por estas pessoas especiais, fazer-lhe uma festa e nada mais. Mas e nos outros dias? Como vivem? Quem se encarrega de velar pela sua saúde e bem-estar? Não podemos esquecer que, devido a deficiência mental, sujeitos como o “Carlitos” não têm autonomia a cem por cento. Por isso mesmo, parabéns ao Bruno Morais por se ocupar do “popó”.

BOM DIA, PESSOAL...

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

EDITORIAL: OS INTERESSEIROS DO METRO




Neste último Domingo, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, foi recebido na Rua Pedro Monteiro, em Coimbra, com mais uma manifestação de cerca de três centenas de pessoas oriundas dos concelhos de Lousã, Miranda do Corvo, Poiares e Góis para defenderem a concretização do prometido projecto do Metro Ligeiro de Superfície. Segundo o Diário de Coimbra, Passos Coelho, no Instituto Português da Juventude, disse o seguinte: “Acho incrível como o Estado conseguiu gastar uma pipa de dinheiro a desmantelar a linha que funcionava, vendeu os materiais todos e deixou lá um buraco. (…) Assumi um compromisso com a linha da Lousã e gostava de cumprir. Sobre o Metro não assumi nenhum compromisso.”
Antes de prosseguir, para melhor se entender, vamos recuar no tempo. A empresa Metro Mondego foi constituída em 1996 com a seguinte representatividade: Estado Português 53%, município de Coimbra 14%, município da Lousã 14%, Miranda do Corvo 14%, REFER 2,5% e CP 2,5%. Nesta altura era Manuel Machado presidente da edilidade coimbrã. Com um nomeado presidente da Metro Mondego a auferir um salário mensal de cerca de 800 contos, hoje 4000 euros, este plano manteve-se quase no anonimato até 2002 e ganhou velocidade quando Carlos da Encarnação ganhou a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) a Manuel Machado e se estreou a negociação e expropriação de parcelas para a futura avenida central. Em 2005, com grande encenação política por parte de Encarnação que –tal como Fernando Carvalho, na Lousã, e Fátima Ramos, em Miranda- visava a reeleição, deu-se início à desconstrução do casario no Bota-abaixo –mesmo sem estar concluída a demolição já foram gastos 14,5 milhões de euros, noticiava o Diário as Beiras e acrescentava: “em 29 de dezembro de 2006, existiam 36 atividades comerciais ou serviços e 33 habitações neste corredor parcialmente desmantelado.”
Sob a égide do Governo de Sócrates e com a promessa de substituição por um comboio mais moderno, em Dezembro de 2009 começou o levantamento dos carris na linha da Lousã. Segundo o jornal Público de 19 de Janeiro de 2010, o Secretário de Estado dos Transportes, Carlos Correia da Fonseca, afirmou que a construção da 2ª fase do projecto Metro Mondego (MM), que ligava a Baixa aos Hospitais da Universidade dependia do estudo custo-benefício para demonstrar a sua viabilidade.
Em finais do ano de 2010, Jaime Ramos, irmão de Fátima Ramos, nesta altura presidente da edilidade mirandense, cria o Movimento Cívico de Lousão e Miranda. Nos primeiros meses de 2011, algumas centenas de pessoas seguiram este líder em várias manifestações locais e em Lisboa contra o Governo de Sócrates –hoje em 2014, apesar de ter mudado o governo, continuam as manifestações.
Em Janeiro daquele ano de 2011 realizou-se as eleições para a presidência da República, vindo a sair vencedor o até aí presidente Cavaco Silva. Antes do sufrágio, em reunião do Movimento Cívico Lousã Miranda ficou acordado que, em solidariedade para com todos os prejudicados pela falta do comboio e num acto de indignação e protesto, não se votaria nas eleições presidenciais. Fátima Ramos, fazendo constar que estava solidária com todos mas rompendo o acordado, votou.
Com as eleições legislativas à porta, em 5 de Junho deste ano de 2011, em campanha eleitoral o PSD prometeu fazer a reposição da linha. Já depois de nomeado ministro da economia, Álvaro Santos Pereira vinculou o Governo de Coligação PSD/CDS.
Em Outubro de 2010, pelo governo socialista, foi anunciada a pretensão de extinguir a Sociedade Metro Mondego.
Em Dezembro de 2010, Carlos Encarnação resigna e cede o seu lugar de presidente da CMC a Barbosa de Melo.
Em 21 de janeiro de 2011, com o PSD na oposição, foi votada na Assembleia da República uma petição pública para a concretização do Metro Mondego, iniciativa do cidadão Bruno Ferreira e apadrinhada pelo Diário de Coimbra.
Em 29 de Outubro de 2011 –retirado das redes sociais-, aqui“o então ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, afirmou que o projecto do Metro Mondego iria terminar por ser “perfeitamente inexequível”; calculava que o Metro, como estava planeado, teria um prejuízo anual de 38 milhões de euros, e devia ter um número de passageiros 15 vezes maior para ser sustentável.”
Em 16 de Janeiro de 2012, Carlos Encarnação, presidente da CMC durante quase uma década, e João Rebelo, seu vice-presidente durante cerca de 5 anos, lançam o livro “Como não decidir uma obra pública – Um metro da Razão ao Erro”.
Em Maio de 2012, por este Governo PSD, Carlos Encarnação é nomeado para presidir à Comissão para Reprogramar Obras do Metro.
Em Julho de 2012, depois de já ser administrador executivo, João Rebelo é nomeado presidente executivo da MM. Neste mesmo ano passa nas redes sociais que 7 administradores gerem 5 funcionários na empresa Metro.
Em Novembro de 2012, “Carlos Ferreira, chefe de gabinete e marido de Fátima Ramos, voltou a integrar a gestão da MM, alguns meses depois de ter renunciado ao cargo de administrador não executivo, demarcando-se da suspensão das obras na ferrovia, iniciadas em 2009.” –retirado da revista Visão.
Em Janeiro de 2014 Manuel Machado, presidente da CMC, propõe integrar a MM nos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos (SMTUC). Um dia depois deste anúncio público, Jaime Ramos, líder e defensor da reposição do Ramal, apoia a proposta de Machado.

GOSTO TANTO DE TI, METRO

Segundo o Diário de Notícias, o Relatório e Contas de 2009 da MM “mostra que os encargos totais com recursos humanos foram de 733 mil euros nesse ano. Num quadro de pessoal que, de acordo com o Diário de Notícias, é de 19 funcionários, isto dá uma média mensal de 2.756 euros por pessoas a que acrescem os subsídios de férias e de Natal.
Todavia, uns ganham mais que outros. Maia Seco aufere uma remuneração ilíquida de 58.865 euros por ano, a que se juntam 17.665 euros para despesas de representação e três mil euros de telemóvel e subsídio de alimentação.
Salienta-se ainda outros recortes na imprensa, Jipe BMW para o presidente do Conselho de Administração, o demissionário Álvaro Maia Seco, e dois outros BMW (série 5) para os vogais executivos Carlos Picado e João Rebelo, são uma parte dos custos que a Sociedade Metro Mondego (MM) está a suportar em “regalias e compensações” atribuídas aos seus dirigentes.
Só estas três viaturas custam cerca de 40 mil euros por ano ao erário público em prestações pagas à instituição financeira, combustíveis, seguro e reparações”.
Mais ainda, “Os dois vogais executivos, Carlos Picado e João Rebelo, recebem cada um 51.188 euros e mais 13.663 euros de despesas de representação por ano.
Acrescem custos com segurança social e seguros de vida que, para os sete membros do conselho de administração, incluindo não executivos, é de 30 mil euros anuais.”
Segundo o anunciado nas redes sociais, no Relatório do Tribunal de Contas, “os custos passaram de uma estimativa de 122 milhões de euros, feita em 1997, para 512 milhões em 2011. Chamava ainda a atenção para o despesismo da administração da MM que –todos eles desempenhavam funções remuneradas noutras instituições ou empresas- segundo o relatório, entre 1997 e 2010, despendeu 95% do orçamento com os seus 12 funcionários, cerca de 3,4 milhões de euros.”
Fala-se hoje que a factura Metro Mondego já vai em 150 milhões.

CONCLUSÕES

É fácil concluir que esta ideia de ter um metro ligeiro na cidade partiu de um novo-riquismo que atravessou toda a última década do passado século e que teve o seu paradigma em Mirandela com o seu metro ligeiro nascido em 1995 e criado para fazer um percurso de quatro quilómetros. Hoje, segundo a imprensa, o seu custo é insustentável.
Em Coimbra, até hoje, e sabendo todos os envolvidos que a linha da Lousã dava um prejuízo mensal de 25 mil euros, ainda ninguém demonstrou a viabilidade económica, entre custos e proveitos, da implantação do “tran-tran” entre Serpins e a Estação Velha e a Baixa e o Hospital.

PARA QUE SERVIU?

Conforme se extrai do que é aqui enumerado, salvo melhor opinião e certamente com algumas excepções, este intento serviu para o PS e o PSD colocarem os seus correlegionários em lugares bem remunerados;
Serviu para os presidentes das Câmaras Municipais de Coimbra, Miranda do Corvo e Lousã, respectivamente, Carlos Encarnação, Fátima Ramos e Fernando Carvalho ganharem as consecutivas eleições ao longo da primeira década deste novo milénio;
Serviu para esventrar a Baixa, no seu miolo histórico, e destruir habitações antigas, expulsando para a periferia, quem aqui nasceu e encerrando pequenos negócios industriais e comerciais, e inscrever Coimbra no dicionário da demagogia.

PARA QUE SERVE AGORA?

Num “déjà vu” nosso conhecido, visto e revisto, vai continuar a ser a muleta das três autarquias, Miranda, Lousã e Coimbra, para os seus presidentes, pendurados no comboio, se afirmarem junto dos seus eleitores. Os dois primeiros, Miranda e Lousã, como sabem que só atrelados ao famigerado Metro Ligeiro de Superfície da cidade conseguem inscrever este projecto no próximo QCA, Quadro Comunitário de Apoio, mesmo sabendo que estão a hipotecar o futuro dos nossos filhos e netos e num egoísmo sem igual, continuam a bater-se pela vida de um projecto-defunto que está morto e enterrado;
Se não se parar o plano de Manuel Machado, na intenção de agregar o metro aos SMTUC, é previsível a destruição futura desta empresa municipal.

O QUE DEVERIA SER FEITO?

Tal como afirmou Passos Coelho, havendo possibilidades financeiras, apenas a linha da Lousã deve ser reposta. Sobretudo, pela dívida moral que o Estado deve às gentes além-Ceira;
Se vivêssemos num Estado de direito, onde a responsabilidade civil estivesse acima da política, todos os implicados directamente neste esbanjamento público e que deles beneficiaram, todos, deveriam ser julgados por gestão danosa da coisa pública.








BOM DIA, PESSOAL...

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

BOM DIA, PESSOAL...

UM HOMEM NU A PASSEAR NA BAIXA

(Imagem da Web)

 Ontem, Domingo, cerca das 21h00, sob uma chuva copiosa, um homem de meia-idade corria por estas ruas estreitas. Diz quem viu que não sabe o que o motivava. Se seria uma outra forma de se manifestar a favor do Metro Ligeiro de Superfície e contra o Primeiro-ministro, Passos Coelho, que ontem passou por Coimbra; se seria para mostrar o estado actual dos comerciantes da Baixa da cidade, ou, sendo mais abrangente, para representar a classe média do país.
Na impossibilidade de saber mais acerca deste caso “sui generis”, consegui ainda umas informações de que o personagem interpelou um casal, homem e mulher –agora é imperiosa a definição, que deixou de ser como era. À mulher, empurrando-a, disse: “contigo não quero nada!”. Ao homem, ao mesmo tempo que lhe levava a mão às partes pudibundas, sentenciou: “fazia-te um bico, meu cabrão!”. O que, em silogismo, nos leva a supor que seria homossexual. Se teria a ver com a aprovação do futuro, que pode nunca chegar a ser, Referendo sobre a co-adopção e adopção também não sei.
Por que veio assim para a rua? Não faço a mínima ideia! Será que tinha calor? Ou, se calhar, podia estar chateado. Sei lá?!! Se você souber mais alguma coisa acerca deste assunto, faça chegar a sua informação à nossa redacção. Obrigado!

sábado, 18 de janeiro de 2014

BOM DIA, PESSOAL...

A PSP E A TÁCTICA DO ASSALTANTE DE ESTRADA

(Imagem da Web)

Pouco passa das duas e meia da manhã desta noite de já Sábado, dia 18 e a entrar no fim-de-semana, quando cheguei ao cruzamento da Casa do Sal, em Coimbra. A conduzir a minha viatura com 13 anos de idade –se fosse pessoa, diria que está na pré-adolescência e será daqui para a frente que, nos problemas a emergir, me vai pôr os cabelos em pé-, calmamente parei no semáforo que entretanto passou a vermelho. Olhando em redor, reparei que não se via vivalma, aliás, como todos os dias que ali passo por volta desta mesma hora. Enquanto esperava pelo verde, naqueles momentos de introspecção, pensava na minha vida. Naquele bem-estar que já tive e perdi e na existência estúpida, agora, que me atropela e todos os dias me dá rugas de consumição. Com máquina de uma qualquer fábrica da era industrial, quase sem paragem, como tantos portugueses, trabalho durante o dia e, como se não tivesse destino, à noite continuo na labuta para fazer face a compromissos. Antes do semáforo passar para verde, ainda tive um pensamento breve para o meu carro, o companheiro leal que me transporta diariamente: espero que não me deixes mal, que não te dê uma qualquer solipampa, que preciso muito de ti, meu amor!
O verde surgiu no lusco-fusco e eu continuei sozinho. Isto é, sem outros automóveis ao meu lado ou no horizonte visual. Engrenei a primeira velocidade e avancei. Foi então que vi um homem a correr, presumivelmente, saído de um agacho fora de vistas e seguido de outro. Trazia um colete amarelo e um bastão sinalizador e fez-me sinal para entrar para o lado direito, debaixo do aqueduto. Num segundo olhar às suas vestes, verifiquei que envergavam uma farda e seriam agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP). Acatei a ordem e entrei numa espécie de teatro de guerra –num espaço que durante o dia será estacionamento público-, onde eram mais as viaturas policiais e agentes da PSP que viaturas a serem inspecionadas, e senti-me uma espécie de partícula minúscula sem existência física. Era tal o ambiente carregado de tensão –na minha opinião quase a parecer uma caça ao assassino ou terrorista que naquela noite consumara um terrível atentado de consequências trágicas para a comunidade. Não os contei mas, se calhar mais de meia dúzia de carros da força e mais de uma dúzia de agentes masculinos e femininos a verificarem tudo o que diz respeito à condução. Carta, identificação, seguro, inspecção e teste de alcoolemia.
Num tempo, e numa medida que não compreendo, em que a PSP publicita previamente nas redes sociais os locais onde vai instalar os radares fiscalizadores de velocidade –como a dar a entender que se trata de uma medida profilática e que está mais interessada na prevenção social-, como entender que esta força de polícia pública, de Coimbra, utilize a táctica do vulgar assaltante de estrada para fiscalizar quem conduz? A PSP, ao longo da sua história recente e como outros corpos de polícia nacional, desde o Estado Novo passou de um quadro negro onde era um dos braços armados, e arregimentado, do Antigo Regime, onde grassavam cívicos sem formação e, muitas vezes, o álcool corria a jorros, para uma polícia especializada no trato com o cidadão. Nas últimas quatro décadas o respeito pela lei, na igualdade e na equidade, impera aos olhos do homem comum. Mesmo com manchas que borram a pintura, aliás igual a todas as classes profissionais, contrariamente a tempos ainda recentes, salienta-se a elevada estatura moral e formação cívica dos seus agentes que desagua numa competência de nível superior. Sem favor, como cidadão minimamente atento, pelo exemplo de alguns polícias que conheço, considero a PSP uma polícia necessária à comunidade e muito digna.
Ora o que assisti ontem na Casa do Sal, no procedimento do escondidinho, é um acto que diminui o cidadão comum e retira dignidade à PSP. A obrigação desta ordem, mesmo correndo o risco de desvio e fuga de muitos automobilistas, é apresentar-se garbosamente na via pública à vista de todos e não esconder-se atrás de uma moita numa descarada e vergonhosa caça à multa. A meu ver, no que assisti esta noite, foi uma indignidade que retira valor a este corpo de agentes. Não contesto o fim, no caso a fiscalização, mas sim a forma como foi organizada –que, ressalvo, comigo estava tudo bem.
Embora não por culpa da PSP que se limita a cumprir a prerrogativas legais, poderia escrever também que, por força das leis vigentes que não leva em conta as desigualdades crescentes nos utilizadores que conduzem, actualmente assistimos a uma espécie de Eugeniabusca de uma classe social orientada para a depuração física ou mental e onde os mais débeis, pobres ou ineficazes, são arredados e discriminados- e cujos desempregados ou pessoas sem rendimentos sofrem uma escandalosa discriminação negativa. Nesta obsessão igualitária, que atravessa esta nossa sociedade hodierna sem levar em conta as fragilidades de cada um, estamos num regresso ao Positivismo Jurídico que cruzou quase todo o século XX. Num manto de propaganda perniciosa, em que o securatismo assentou arraiais e passou a ser uma religião, se apregoa que todos somos iguais perante a lei, está-se a espezinhar e a trucidar o direito individual à posse e utilização, no caso a ser condutor de um automóvel. Se não fosse cá por coisas, diria que há uma intenção deliberada em empurrar uma parte da nossa população para o transporte de carroça e burro. Um regresso às origens e que nem foi há tanto tempo como isso, acrescentaria. Onde só alguns têm direito a carro com motor.