segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O ACERVO DE VASCO BERARDO NO EXECUTIVO MUNICIPAL

(Foto do Blogue Sexo e a cidade, com a devida vénia, obviamente)


  Hoje apresentei-me na reunião pública do executivo para levar ao conhecimento do Presidente da Câmara, João Paulo Barbosa de Melo e de toda a vereação um assunto que, para a Cultura da cidade, considero muito importante.
Em introdução, comecei por dizer que ia falar na obra do artista conimbricense multidisciplinar, desde a cerâmica, à azulejaria, tapeçaria, pintura, medalhística, etc., Vasco Berardo. A sua criação está espalhada por toda a cidade, pelo distrito e pelo mundo. O Vasco para além de ser um reconhecido artista foi sempre armazenando espólio. Para além da sua obra produzida, ao longo da sua vida de trabalho –começou a labutar com 11 anos- foi sempre adquirindo peças de arte. Hoje, contrariando o aforismo de que os artistas não têm nada e são uns “coitadinhos” porque venderam tudo ao desbarato, este grande notável artístico terá, porventura, uma das maiores acumulações de arte da cidade. As suas colecções vão desde a estatuária, medalhistica de sua autoria, obras pictóricas, estatuária representativa de Coimbra, tendo em conta que sempre fomos uma cidade de oleiros, desde António Vitorino até peças da Nova Decorativa de Coimbra, Estatuária e outras que desapareceram há muitas décadas. Este artista, no tocante à pintura, tem de tudo desde Contente a António Vitorino a Fausto Gonçalves. Continuei a dizer que conheço o Vasco há mais de uma dezena de anos. Cheguei a vender-lhe algumas peças ainda ele e a família moravam junto à Rua Antero de Quental. Já nessa altura era detentor de um vasto espólio que me deixou "aparvalhado".
Como se sabe o Vasco, de 79 anos, está doente. Há pouco tempo, em sua honra, foi feita uma homenagem no Centro Cultural D. Dinis.
Há cerca de duas semanas fui contactado pela esposa do Vasco para avaliar e dar opinião sobre o seu acervo. Perante o que vi, pela extensa diversidade, fiquei espantado. Falei com o pintor e a esposa e perguntei-lhes directamente se a minha visita se relacionava com intenção de, a curto prazo, ser vendido. Foi-me dito que, felizmente no tocante ao lado financeiro, estava tudo bem, mas que, devido à doença do Vasco seria bem possível. Perguntei ao criador de tantos murais na cidade o que gostaria de ver acontecer ao seu ajuntamento. Respondeu que o seu maior sonho seria ver tudo num museu com o seu nome. Evidentemente que, a seu ver legítima, com uma contra-prestação que poderia ser mensal.
Ora, tendo em conta que a obra de Vasco Berardo é vastíssima e o município está em “dívida”, entre aspas, salientei, uma vez que os artistas contribuem para enriquecer o espaço cultural das cidades e estas, na reciprocidade, devem-lhe a preservação da sua obra e a manifestação do reconhecimento público. Prossegui, entendo que, harmonizando os interesses de todos, do artista, da apreensão do município e da urbe para que esta não veja espartilhado um espólio desta categoria, a Câmara, na pessoa da senhora vice-presidente e vereadora da Cultura, Manuela Azevedo, deveriam ir apreciar e falar com a família Berardo. Por outro lado, tenho noção de que a cultura é sempre o parente pobre das Finanças Públicas, porque não há dinheiro, mas ao vir aqui é para que a autarquia tome conhecimento e fique ratificado em acta do que está mesmo à frente dos nossos olhos. Estou aqui na qualidade de cidadão, tal como já estive em outras ocasiões aquando do desmantelamento do Museu Nacional da Ciência e da Técnica, há cerca de 4 anos, e cujo legado acabou por ser dividido por alguns museus nacionais. Nessa altura, vim aqui ao Executivo duas vezes, se a memória não me falha, e outras duas à Assembleia Municipal. Não valeu de nada. Sem querer pressionar o executivo, espero que desta vez não aconteça o mesmo e, no mínimo, vão ver o que o artista detém.

E O QUE DISSE O PRESIDENTE?

 Barbosa de Melo salientou que tendo em conta que já subsistia uma situação parecida com o Museu Municipal do Chiado, e em que existia um acordo entre o cedente e a edilidade, no entanto, do ponto de vista jurídico, parecia-lhe, há dúvidas quanto à sua legalidade. É certo que aquela situação, do Chiado, foi há cerca de 15 anos e hoje já há outra legislação para estes efeitos. Claro que se o pintor quisesse doar toda a sua obra isso já seria diferente, embora também com algumas condições. Por esse país fora estão casos desse género em que o acervo foi cedido e depois o dador exigia um projecto de arquitectura que custava milhares ou milhões e acabava por ficar mais caro que o espólio. Poder-se-ia avaliar no sentido de adquirir algumas obras mais emblemáticas. Apesar disso, a senhora vereadora da Cultura certamente se iria debruçar sobre o assunto. Agradeceu a minha ida ao plenário para, mais uma vez, levar questões de cidadania.

E O VEREADOR CARLOS CIDADE?

 Que o artista Vasco Berardo merecia a consideração e a estima de toda a cidade. No entanto, já no tocante a levar este assunto ao executivo público, parecia-lhe que deveria ter havido algum pudor em tratar deste caso. Deveria ser tratado particularmente. Não expor o assunto assim publicamente –para mim, não foi claro no que quis transmitir. Poderia querer dizer que os artistas não podem declarar publicamente que vão vender a sua obra, porque precisam, ou, por exemplo, que o artista poderia vir a ser assaltado. Por alguns membros do executivo lhe terem dado razão, presumo, pelos vistos, foi claro para todos menos para mim.

E  A SENHORA VEREADORA DA CULTURA?

 Começou por desfolhar o portefólio genealógico de Vasco Berardo, que, disse ela, provém de uma família do século XV, “os Berardi”, que sempre estiveram ligados à arte em Portugal. Disse também que tem acompanhado muito de perto a situação e a doença do Vasco e até está programada uma exposição, proximamente, na Casa da Cultura. Disse também desconhecer, porque não lhe disseram nada, que o artista tencionava alienar a sua colecção de arte. Disse também que concordava que este tema deveria ter sido tratado particularmente e com algum pudor –confesso que, tal como o verberado por Carlos Cidade, não sei o que queria dizer, mas isto deve ter a ver com a minha ignorância, é que só falo e escrevo português. De linguagem “politiquês” não entendo nada. Portanto para que fique escrito, o lapso não será da senhora vice-presidente mas meu, que sou disfuncional.
Disse ainda que os artistas na cidade são muito bem acarinhados por todos. Por exemplo, o Vasco Berardo tem obras em muitas casas de Coimbra. Todos conhecem o Vasco. Mas que o assunto iria ser encaminhado e que, aproveitando a minha disponibilidade, todos juntos iríamos avaliar o espólio do artista e depois se decidiria.

E A MINHA REFUTAÇÃO FOI?

 Virando-me para Carlos Cidade, vereador da oposição, disse-lhe que não entendia o seu argumento de que este assunto deveria ser tratado com pudor e particularmente. Lá, no plenário, reiterei que estava ali como cidadão apenas interessado para que esta vasta panóplia de arte não se espartilhasse e, na minha subjectividade, no interesse da cidade. Repeti que não entendia o termo “pudor”. Se era pelo facto de levar ao conhecimento público da intenção futura de vender, estava ali por minha própria iniciativa mas com conhecimento da família Berardo. Se o “pudor” era por poder parecer que o artista precisará de vender, salientei que, por três vezes, repeti que não era essa a intenção.
Virando-me para o presidente, Barbosa de Melo, e a senhora vereadora da Cultura, Maria Manuela Azevedo, perguntei-lhes como é que esta questão poderia ser tratada em particular se não tenho meios para lhes chegar próximo? Por exemplo, a senhora vice-presidente, apesar de me cansar de lhe enviar e-mail’s de assuntos de cidadania para o seu departamento nunca me deu resposta. Respondeu a vereadora que não tem recebido nenhuma comunicação minha. Lembrei-a então de que há pouco, sobre a Feira de Velharias, lhe enviei uma exposição de que se deveria debruçar e, no mínimo, dar-me uma satisfação. E nunca o fez. Não são os senhores que apelam constantemente à cidadania activa? Interroguei. Refutou a senhora vereadora de que não tem recebido os meus e-mail’s. “Se calhar não está a fazer o envio para o endereço certo”, argumentou. Interroguei: e o jornal, a senhora vice-presidente lê? Retorquiu a senhora: “ai, eu a notícias de jornais nunca respondo!”. Como a dialéctica estava a alongar-se e as coisas não estavam a correr bem à promotora da cultura, Barbosa de Melo, indo em auxílio da sua correligionária, admoesto-me: “como deve entender estamos a seguir um assunto não inscrito na agenda.
Pedi desculpa pelo extravasar, mas o recado lá ficou e a senhora vereadora estava salva das garras de um aventureiro macaco.
Era bom que todos, mas todos os agentes políticos eleitos, de uma vez por todas, ficassem a saber que se querem a comparticipação pública do cidadão terão de mostrar vontade de participar na discussão. Por este desleixo e falta de consideração, talvez se entenda a razão de haver poucas pessoas no executivo municipal.
Quanto ao assunto que ali me levou e respeitante a Vasco Berardo. Aguardo com serenidade o evoluir do meu desencadeamento. Sentado, obviamente, por causa dos malditos bicos de papagaio que, para além de me picarem a coluna, corroem-me a alma.




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