segunda-feira, 2 de maio de 2011

O SISMÓLOGO





 A informação chegou-me em forma de apelo pelo dono do café Puri, aqui próximo, na Rua das Padeiras e um dos muitos correspondentes deste blogue. Dizia-me o senhor Jorge: “você tem de entrevistar o nosso grande sismólogo Francisco Machado!”.
É claro que, perante esta informação, fiquei em pulgas. Para quem não sabe, a Baixa é assim uma espécie de incubadora Pedro Nunes. Com uma diferença, este instituto faz nascer empresas como cogumelos. A Baixa, como ninho multiplicador de espécie, faz nascer talentos. Há ainda outra diferença, no Pedro Nunes tudo o que mexe tem direito à informação pública, aqui, no Centro Histórico, só graças a este fora de série, extraordinário, invulgar, singular, estranho blogue é que o mundo conhece esta grande multiplicidade de obreiros desconhecidos da grande plateia mundial. Só graças ao altruísmo e desligamento do jornalista desta página –que por acaso sou eu, obrigado- é que o Universo pode enxergar histórias como o “O dia do Armagedon”; “O Euleutério ensandeceu e ninguém sabe”; “O Furamundos”; “O Anjo Cinzento de Deus”; “O Onzeiro”; “Perdido entre a Carneirada; “Um amor para toda a vida”; “O Homem que papava livros”; “O velho café do Teatro Avenida”, e tantas outras que, por agora, não quero mais maçá-lo. 
Como nada acontece por acaso, é de supor que este serviço será um desígnio do sobrenatural, assim um instrumento a utilizar por algo metafísico. Mesmo que não seja, e, antes pelo contrário, se for resultado não de coincidências mas meramente de uma decisão racional, tendo em conta que isto é uma “fábrica de escrita”, não acha que deveria ser subsidiada? Não pense que me estou a bater, nada disso, mas tendo em conta que a minha profissão de comerciante já foi, agora é mais de mendicante…não sei se me consigo fazer entender.
Assim sendo, seja pelo casco, seja pelo produtor do vinho, você, que é cliente deste jornaleco, considere-se um eleito. Para ler literatura desta, você só pode ser, aliás, você é especial… só pode ser… alma de Deus!
Bom, continuando, perante o alerta do nosso correspondente na Rua das Padeiras, como caçador de insólitos, competia-me ir à procura do grande sismólogo do Centro Histórico, Francisco Machado. Tal como Sherlock, enfiei a carapuça, ajustei as lunetas, e toca de ir para o interior da selva urbana. Como quem diz, para a barriga destes becos e ruelas em formato de interstícios, onde o Sol raramente lambe o chão, ficando apenas pelos preliminares dos telhados e beirais.
Afinal nem foi preciso correr mundos e fundos, ou melhor, calçadas e pracetas esconsas, para dar de caras com o nosso futuro entrevistado. Estava ele a segui as pisadas de um aranhão, que se preparava para fazer uma teia ali na ombreira da “Telha Amiga, na Rua Velha. Parece que não tem utentes velhinhos e a porta abre raramente.
-Bom dia, senhor Chico. Como vai? Então está a observar o aranhiço?
-Pois estou! Saberá o amigo que através da teia de um aranhão é possível prever um tremor de terra?
-Não, por acaso não sabia, senhor Francisco. Aliás, com toda a franqueza, sou ignorante de mais. Até irrito uma simples formiga. Mas conte-me como é que consegue prever?
-São muitos anos de experiência, meu amigo…
-Que idade tem o senhor?
-72 anos… nasci em 1939. … É só mesmo fazer as contas…
-O senhor nasceu cá em Coimbra?
-Sim, nasci em São Martinho do Bispo.
-E desde sempre, que se conhece, deu conta desse seu talento de prever sismos?
-Sim, desde sempre. Estudei em Lisboa, no Laranjeiro, numa cooperativa de ensino, e tive lá um bom professor, o José Ernesto, que é presidente da Câmara de Évora… conhece?
-Não, não conheço, senhor Chico. E então, diga-me, estudou até que ano?
-Até ao 10º…
-E o que fez ao longo da sua vida?
-Trabalhei sempre como pintor da construção civil. Estive em França na década de 1970…
-E como é que se apercebe que vai haver um tremor de terra? Quais são os sinais?
-Há muitas maneiras, mas a mais comum é quando sinto comichão nas partes baixas…
-E mais? Que outros sintomas conhece?
-Olhe, por exemplo, se a minha cabeça começar a latejar como um relógio… assim a fazer “tic… tac”… já sei que vai acontecer um sismo no estrangeiro…
-Isso quer dizer que o senhor previu antecipadamente o grande sismo do Japão?!
-Claro…claro que sim…
-E então não alertou as autoridades?
-Como é que eu ia fazer isso? Eu até previ o da Indonésia  em 2007…
Este do Japão estava tudo previsto…
-Interessante…
-O ser humano dá sinal através do iodo da atmosfera. Os animais passam os sinais através das ondas sonoras…fazem uma algazarra que até arrepia; as aves também prevêem tempestades.
Quando vejo os humanos a enervarem-se muito, olho para Júpiter, faço uma relação com o “mapa-mundi” e sei logo qual é a placa no centro da terra que se vai mover e o país que vai sofrer o abalo…
-E vai haver proximamente algum sismo?
-Vai vai, já este mês…
-E onde? Em que país?
-No estrangeiro…ainda não sei bem. Tenho de fazer uns cálculos.
O inverno vai ser muito rigoroso em Portugal. Vai haver muita chuva. Lisboa e Porto vão ter chuvas torrenciais e ventos fortes.
Morre muita gente antes de se dar os tremores de terra…
-Ai é? Conte-me, como é que acontece?
-É assim, há seres humanos que não aguentam uma picada forte no coração, por isso dá-se a morte súbita. Quando se está para dar um sismo, um tremor de terra, um terramoto destrutivo ou um maremoto…
-Mas isso não é tudo a mesma coisa?
-Não senhor. Depende da picada no coração do ser humano…
-Sou mesmo ignorante, senhor Chico. E quem se pode aperceber dessas picadas?
-Muitos… até o médico, através das doenças, pode prever sismos, tremores de terra ou terramotos destrutivos…
-Ai sim? Como?
-Através das doenças crónicas, que é doente mental, do paciente cardíaco, do doente nervoso, o médico pode prever que se vai dar um sismo, um terramoto, um tremor de terra destrutivo, ou um maremoto…
-Interessante…
-A lua no Quarto-Crescente é a fase mais perigosa…dá origem a terramotos destrutivos…
As luas são lunares; as montanhas na Lua são lunares…
-Interessante…
-Pela caliça que cai das paredes também é possível saber se vai dar um sismo, um terramoto, um tremor de terra destrutivo, ou um maremoto, ou um tsunami…
-Muito obrigado, pela entrevista, senhor Francisco João Machado…
Já agora pode dizer-me se nos próximos dias iremos ter, por aqui, algum terramoto?
-Olhe, vou ver o rio Mondego. Se a água tiver manchas… é limpinho. Depois lhe digo…


(HISTÓRIA REAL E BASEADA NAS DECLARAÇÕES DO RETRATADO)

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