quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

EDITORIAL: O QUE FAZER COM A PM?

(IMAGEM DA WEB)



 Hoje o jornal Campeão das Províncias, na página 16, na rubrica “Opinião”, publica uma carta da autoria de Mónica Santos com o título: “A Polícia Municipal (PM) e a engenharia das multas e/ou do multar”.
Sendo um texto de opinião, em princípio, pressupõem-se que deveria ser conciso, directo e proactivo, isto é, que fosse de relevância social.
 No meu entender, há uma diferença entre um texto opinativo e a carta de um leitor. A primeira, por norma, será de alguém que sabe do que escreve e é aceite pelo jornal como um contributo para ajudar a clarificar um qualquer assunto. A segunda, uma carta de um leitor, trata-se apenas de um desabafo do autor e dentro do legítimo direito de liberdade de expressão. Por outras palavras, tentando ser o mais claro possível, se ao primeiro se exige alguma responsabilidade e conhecimento profundo sobre o que escreve, ao segundo nem tanto. Pode até divagar sobre determinado tema passado ou futuro.
Ora, na minha inocência subjectiva, neste texto do “Campeão” estamos perante tudo o que é contrário às normas seguidas pelo jornalismo dito de sério –saliento que não estou a escrever que o jornal e o texto não o sejam. Quero dizer é que fogem ao modelo universalizado nos restantes jornais. Trata-se de uma crónica longa, praticamente de uma página inteira, e de um conteúdo pouco objectivo e de seriedade duvidosa do ponto de vista narrativo. Ou seja, a autora –que não conheço-, ao longo de uma página inteira, despeja, sem conseguir disfarçar, um certo “odiozinho” de estimação contra a PM. De tal modo que certos parágrafos, salvo melhor opinião, caem no ridículo.
Na minha modesta forma de ver, a redacção do jornal, talvez sem se dar conta, ao publicar esta carta, longa, maçadora e de intenções pouco claras, colocou-se ao serviço da autora. A um jornal com a responsabilidade social do “Campeão” exige-se muito mais. Um jornal dito de sério está obrigado a não se deixar manipular por intenções menos claras de um qualquer correspondente. Um jornal de largo espectro local como o “Campeão”, perante os leitores, está compelido à independência, à missão de informar com objectividade sem cair na tentação persecutória e judicialista.
Antes de continuar, gostaria de dizer que sou assinante deste jornal há vários anos e aprecio o seu trabalho até hoje. Ainda como ressalva, gostaria de escrever que nada me liga à PM, e que, aliás, nos últimos anos, já escrevi vários textos no “Fala o Leitor” do Diário de Coimbra contra a actuação de alguns agentes e que, na altura, achei, contraditórias e conflituantes com a minha apreciação. Devo dizer também que, por ter publicado neste blogue um texto, tive, inclusive, uma ameaça de uma acção judicial por difamação, pelo anterior comandante António Leão. Graças ao bom senso que imperou de parte-a-parte, com uma conversa, acabámos com a questiúncula. Confesso que fiquei a apreciar este Leão de sobrenome.
Depois destas salvaguardas vou continuar. A Polícia Municipal de Coimbra nasceu de parto difícil em Outubro de 2003. Por imprecisão legislativa do pai (governo) foi crescendo um pouco ao deus-dará. Como era uma menina nova na família, e tendo em conta o que a mãe (Câmara Municipal) sofreu para a parir, sem cultivar a simpatia entre a população, foi aplicando o seu poder discricionário sem alguma contenção e medida. Resultado: tornou-se mal-amada por quase todos os automobilistas da cidade. Pior, criou um estigma associado e gerou anticorpos. O que também, convenhamos, nem é muito difícil não se gostar de uma força fiscalizadora que volta e meia nos aplica a pastilha. Há quem diga que esta força municipal emergiu exactamente para desonerar a PSP desse trabalho “maléfico” e pouco simpático de multar os automobilistas.
Então perante o desassossego causado pela entrada a matar na população, o que fez o presidente da edilidade coimbrã, Carlos Encarnação? Também fruto da imprecisão legal –que ainda hoje está a dar confusão entre esta guarda e a PSP-, emendou a mão, embora sem salvar o espírito desta força, e substituiu o primeiro comandante Manuel Lobão, agente da PSP, pelo advogado civil António Leão. Depois de um longo folhetim em tribunal, entre este e vários agentes e que ainda está decorrer, veio a ser substituído pelo actual Euclides Santos. Por graça, até parece que perante a ineficácia de um Lobão e de um Leão só um Santos pode ajudar a corporação.
Já no mandato de António Leão, e retirando as questões internas entre comandante e agentes, a verdade é que esta polícia, progressivamente, foi tomando um rosto mais humanitário. Aqui na Baixa, fui testemunha de alguns agradecimentos de cidadãos perante a compreensão e tolerância de alguns agentes. Aos poucos esta polícia municipal, nascendo torta, e contrariando o aforismo, foi-se endireitando e ganhando respeitabilidade.
De alguns tempos a esta parte o que se verifica? A meu ver, muitas vezes injustamente, criou-se novamente uma onda de repúdio pela acção deste corpo de intervenção civil.
E então, chegados aqui, podemos intentar uma pergunta: a PM é necessária ou não? Se não é, acabe-se com ela. Liquide-se de vez. Se, pelo contrário, é útil ao município, ao cidadão, de uma vez por todas, RESPEITE-SE. E quando escrevo “RESPEITE-SE”, implica que todos o deveremos fazer, começando pelas instituições similares, como a PSP, tendo o apoio de todos os jornais locais e terminando nos cidadãos.
Quanto a mim, acho que é uma polícia que deve continuar o seu bom trabalho. Embora seja necessário clarificar o seu âmbito de acção e incluindo a segurança nocturna da cidade. Com algum campo de condescendência pelo seu trabalho, teremos sempre de levar em conta que nunca agradará a todos.
Se há queixas individuais do seu policiamento, há instrumentos legais para reclamar. Repetindo o apelo detrás, pede-se à imprensa local alguma contenção na cobertura de certos factos que, no mínimo, acabam por fragilizar e criar um certo movimento colectivo de anomia dentro da própria instituição policial e, na rua, um sentimento de não-aceitação dos cidadãos. A continuar assim, não haverá comandante, que por mais Santos que seja, que aguente.


Post Scriptum: Já depois de ter publicado o texto aqui reparei que a crónica do jornal Campeão das Províncias encimada por título OPINIÃO no cabeçalho da página, mais abaixo, em letra miúda, tinha uma pequena legenda de "Tribuna do Leitor". O que quer dizer que o artigo foi publicado dentro espírito da liberdade de expressão de um leitor, isto é, sem o tal conhecimento profundo que aludo. O que quer dizer que se, por um lado, esvazia a minha argumentação na introdução, por outro, no essencial, de que é preciso, todos, defendermos a PM, mantém a tese que lhe está subjacente.

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