quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O ESPÍRITO DO CARVALHO VAGUEIA ENTRE NÓS





(IMAGEM DA WEB)



 Bem sei que não me conhecem. Nunca me viram, nem mais gordo nem mais magro. Aliás, isto é “La Palisse”…ah…ah…ah! Se não tenho existência corpórea, se sou espírito, é evidente que nunca me viram nem verão. Mas eu vejo-vos! Ah, pois não! Eu sou como o Santana Lopes: “eu vou andar por aí!”.
Certamente –penso, porque os espíritos também pensam-, devem estar curiosos, como é que vim cá parar. Isto é, quem me cá chamou? Sim, porque, convenhamos, ninguém gosta de almas penadas. E, como ainda não me conhecem, devo confessar que a minha (alma) é negra, mais negra que o estado anímico do Carlos Queiroz.
Mas eu vou contar tudo, ah pois conto. Começo por me apresentar: Carvalho, um espírito que sofreu muito enquanto andou por cá, quando era vivo, e que fez uma série de tropelias, que só tem lugar no paraíso de Dante.
E como é que vim cá parar, a esta vida terrena que é cem vezes pior que o meu Inferno? Olhe, foi assim: estava eu muito “desassossegadinho” lá nos confins do fogo ardente, volta e meia, ouvia chamar o meu nome, aqui no blogue, era o director Luís Fernandes: “olha o Carvalho do gajo! Vá para o Carvalho! Meta o Carvalho onde lhe apetecer! Olha o filha da puta do Carvalho!”. Ora, perante isto, tinha de reagir, é ou não é? Pois é! Ora se eu estava lá nos ardentes desassossegado, sem chatear ninguém, e este “cabroni” estava sempre a invocar o meu nome? Fui ouvindo…fui ouvindo, até que me passei. Ah, pois! Quando se me chega os azeites, venha lá Deus ou o Diabo…nem um nem outro me detêm! Sou assim, pronto, que hei-de fazer? É certo que, apesar de ter residência fixa lá no meio das chamas vermelhuscas, eu andei sempre por aqui a “cuscar”. Porra! Como se diz por aqui, um espírito, mesmo não sendo matéria, não é de pau! De vez em quando, para não perder a actualidade, eu dava cá uma saltadinha.
 Foi então que perante a invocação permanente do meu nome, pegando num grande tição, comecei a foguear: “ó pá, este caramelo do Luís Fernandes precisa de uma lição! Então, vai daí, arrimei para cima da minha bicicleta supersónica do tempo, e apresentei-me no gabinete do blogue Questões Nacionais. Só queria que vissem, foi um espectáculo! O gajo estava todo entretido a apalpar a Rosete –é uma gaja assombradamente de boa, acho que é estagiária de jornalismo, não devem conhecer. Então o marmanjo, naquela marmelada toda, estava de “pau-feito”. Como gosto de chatear gajos como este, que são como os comunistas, papam meninas a todas as horas do dia, utilizei a minha táctica 37 B, é assim muito parecida com uma do seleccionador nacional. Comecei por lhe fazer umas cócegas atrás da orelha…só queria que vissem: o malfeitor não parava de se rir. Quer dizer, não sei se estão a acompanhar, em vez de se vir, começou a rir.
Tive pena foi da rapariga, a Rosete, quando viu que o cavalo não parava de se rir, às tantas, começou a pensar que o seu amante tinha “flipado”. Isto numa primeira fase. Numa segunda, tomou-o como possuído, em encosto, pelo demónio e, coitadinha da fresquinha, desandou a correr que parecia o Alberto João a fugir do Passos Coelho.
 Foi então que o traste, num golpe de rins mental, olhando para um grande cartaz na parede que dizia: “Não estamos sós!”, se apercebeu mesmo que não estava só. Quer dizer, eu que o queria apanhar, acabei por ser apanhado lá na sua artimanha e vilania. Sentámo-nos os dois na mesa de pé de galo e o “fulanote” começa a falar comigo como se me conhecesse de longa data. O pior de tudo é que, puxando de um crucifixo carunchoso, começou a ameaçar-me: “Ó espírito, vai para o carvalho, desampara-me o blogue!... Ou então, espera aí, pensando melhor, como isto por aqui está tudo nas lonas, não tenho dinheiro para pagar ao pessoal, se gostas tanto disto, começas mas é a trabalhar. Ninguém te vê…Hum! Uma óptima ideia!”. Já viram o cabrão? Aproveita-se de todos, até de um pobre espírito desencostado de amor e carinho.
E é claro, acabei por aceitar. Oficiosamente, sem ser oficial, sou jornalista do “Questões Nacionais”. Isto é um bocado aparvalhado, não é? Pois é! Eu também acho!
Então ontem fiz o meu primeiro serviço invisível. Andava eu a vaguear, como alma penada, pela ruas da calçada, quando, às tantas, vejo sair da “Brasileira” o novo dono daquele bonito café com história. Fez-me uma impressão danada como estava o homem. Eu seja ceguinho, como qualquer espírito! Só queria que vissem, tomado pelo desânimo, assim de ombros caídos, parecia uma andorinha que acabou de perder o ninho, estão a ver? Vai daí, quando vi o empresário assim, pensei cá com outra existência passada: “ó Carvalho, aqui há coisa grave! Vai para o carvalho que te lixe. Tens de seguir na peugada desta pessoa sofredora, para saber o que se passa. Alguma coisa grave preocupa este homem para sofrer assim”. E eu fui. Zenim…zenim…(é o ruído do vento), fui atrás dele. Parou junto à loja do presidente da APBC, da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra.
 Ouvi então uma conversa de profundo desânimo do novo dono da Brasileira: “olhe, tenho tudo pronto e não consigo abrir o estabelecimento. Estou esgotado. Estou farto de gastar dinheiro. Estou profundamente desanimado. Ora falta isto lá na câmara, ora falta aquilo para aprovar o projecto, e não sei o que hei-de fazer. Se continua assim, acredite, não chego a abrir e ninguém lá tomará café!”.
Depois vi o presidente da APBC, colocando-lhe uma mão no ombro, dizer-lhe: “calma, temos de ter calma! Não desanime, homem! Vou ver se consigo que o vice-presidente da câmara nos receba. Eu vou lá consigo. Olhe que ele é um tipo muito sensível para as questões da Baixa. Gosto muito dele!”. A seguir puxou do telemóvel e discou um número.
Enquanto ele esperava para ser atendido, eu ia pensando, e comparando com um grande estabelecimento que abriu há cerca de três meses ali junto aos Arcos do Jardim. Lembro-me de ter visto, com grande pompa, cortarem passeios, chamarem a PSP e a Polícia Municipal para controlarem o trânsito. E mais: por causa do fogo de artifício, até o tráfego foi desviado. Não pude evitar uma imprecação, e chamar por mim: “ó carvalho!”. Pensava eu que a discriminação era um feudo do meu Inferno, do meu senhor todo-poderoso Diabo. Afinal, aqui na Terra, reino de Deus, a injustiça e a falta de tratamento equitativo, ainda é maior.
Vi então os dois, o dono da “Brasileira” e o presidente da APBC seguirem em direcção à autarquia de Coimbra.
Não os pude seguir mais, com muita pena minha. Então não é que se me deu uma grande dor nos intestinos? Azar do “caraças”! Tive de correr para o Café Santa Cruz…

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