sábado, 30 de maio de 2009

ESCREVER POR ESCREVER...




Eu escrevo da mesma forma que um alcoólico bebe um copo. Ele bebe qualquer “zurrapa”. Eu escrevo sobre qualquer merda. Ele, desde que dê pancada na tola, bebe. Eu, desde que ocupe os dedos e a mente, escrevo. Onde, naquela forma de vida, vai conduzir aquele viciado? Sei lá, provavelmente ao cemitério. E a mim, esta forma de adictício, onde me leva? Sei lá! Provavelmente a uma qualquer consulta de psiquiatria.
Pode ser, in extreminis, que alguém próximo do alcoólatra, ou, pelo contrário de longe, repare nele, e, num simples pormenor, que até aí nunca ninguém houvera notado, diz para si: “o que se passará com este tipo? Ele é diferente. O que o teria empurrado para o cano?”
Vai daí, fazendo um contrato com o seu alter-ego, resolve fazer a acção da sua vida e tenta salvar aquela pobre alma errante que vagueia pelas margens da humanidade.
E eu, para me salvar desta consumição, o que preciso? Primeiro entender a minha necessidade de escrever. O que me move? Necessidade de notoriedade? Será como aquele estudante que, no meio da multidão, lança um cartaz no ar a dizer “mamã, estou aqui!". O que quero dizer, é que, no meio dos imbecis, eu quero ser um imbecil notado. Será isso? Ou será que, julgando-me mensageiro, interiorizando que tenho algo a transmitir aos vindouros, escrevo como missão? Talvez julgando-me um novo Moisés, pense que tenho de escrever os cinco livros do apocalipse e tenha de conduzir o meu povo (que povo?) até ao limiar da Terra Prometida –mas que Terra Prometida?-, e, se preciso for, dividir um mar ao meio. Bom se não conseguir um mar –o ideal era ser vermelho, para seguir as pisadas do Mestre-, pode até ser um pequeno lago. Tem é de ser qualquer coisa com água. Noutra impossibilidade, pode ser, por exemplo, de um balde com água, conseguir dividir o mesmo líquido por dois. É difícil, não é? Pois é. Lá isso é. Mas pode ser que eu consiga. Eu sou muito esforçado. Tem de ser qualquer coisa que possa, no futuro, vir a ser encarado como um feito extraordinário, um possível milagre.
Agora que estou a reflectir no meu caso, acho que não tenho mesmo salvação. Tenho mesmo de ir a correr para um psiquiatra. Mas qual? Se eu não acredito em nenhum? Ai! Acho que estou mesmo nas últimas. Ai, estou mesmo! Ou não estarei? Ainda consigo rir-me de mim próprio, se calhar ainda tenho uma pontita de salvação. Vou mas é falar com o alcoólico, e saber com o é que vai a sua vida…

THE WINNER IS....?








(O DESCANSO DO GUERREIRO -MÁRIO NUNES POSA PARA O "FOTÓGRAFO" DO QUESTÕES NACIONAIS. COMO JÁ VIRAM ESTE "FOTÓGRAFO" PARECE UM TALHANTE, CORTA CABEÇAS, MEMBROS, CARAS ÀS PESSOAS RETRATADAS, METADE DO CORPO. VAI TUDO A EITO. É UMA FALTA DE RESPEITO. COMO A DIRECÇÃO DO BLOGUE TEM RECEBIDO MUITAS RECLAMAÇÕES, POSSO INFORMAR, EM PRIMEIRA MÃO, QUE ESTÁ EM CURSO, E MUITO BEM ENCAMINHADA, A NEGOCIAÇÃO COM O CAJÓ (CARLOS JORGE) DO DIÁRIO AS BEIRAS. SÓ ESTAMOS PRESOS NOS NÚMEROS. É QUE ELE QUER PAGAR POUCO PARA VIR TRABALHAR PARA ESTE BLOGUE.)

***********************************

...E O VENCEDOR DOS ARRANJOS FLORAIS É?!...(TRAN-TAN-TAN)...O RANCHO FOLCLÓRICO DE TORRE DE BERA!
NESTE "MERCADO DE FLORES E PLANTAS", PROMOVIDO PELO DEPARTAMENTO DE CULTURA DA CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA (CMC), HAVIA UM CONCURSO DE ARRANJOS FLORAIS. PARA ALÉM DO PRIMEIRO PRÉMIO, SEGUNDO E TERCEIRO, AINDA HOUVE UMA MENÇÃO HONROSA.
MÁRIO NUNES, EM NOME DO PRESIDENTE DA CMC, FEZ AS HONRAS DA CASA.

UMA IMAGEM CAPTADA AO ACASO...



(ESTA MONTRA MUITO BEM CONSEGUIDA É NA RUA VISCONDE DA LUZ. É A "CASA DOS ENXOVAIS". É DO SPORTING? TEM A VER COM O AMBIENTALISTA PARTIDO DE "OS VERDES"? NADA DISSO! SIMBOLIZA A NOVA ESPERANÇA DE UM AMANHÃ MELHOR NUMA BAIXA QUE SE QUER NA MODA E NUM COMÉRCIO TRADICIONAL QUE SE COMEÇA A IMPÔR)

HOJE HÁ MERCADO DE FLORES E PLANTAS (E DOCES)














 Está a decorrer, desde a manhã na Baixa, mais concretamente na Praça 8 de Maio, Ruas de Visconde da Luz e Ferreira Borges, o “Mercado de Flores e Plantas”, organizado pelo Departamento de Cultura da Câmara Municipal de Coimbra (CMC). É um espectáculo de perfume e colorido para a zona histórica.
Perante um oceano de gente, Mário Nunes, o vereador do pelouro da cultura da CMC, com o seu sorriso alargado, era um homem satisfeito. “Estou contente com esta iniciativa, sim. Sinto que a CMC, através desta alegoria às flores e outras que virão, está a colaborar com a APBC e a ACIC, e vocês, comerciantes interessados na revitalização da Baixa. É pena que nem todos pensem assim, mas enfim!”, diz-me o vereador, referindo-se a dois ou três comerciantes, naquelas ruas centrais, que, com alguma intolerância, fizeram deslocar as tendas dos vendedores de flores da frente das suas lojas, não levando em conta o superior interesse e a elevação do Centro Histórico. Apenas e só olhando ao seu narcisista interesse.
Está linda esta parte da Baixa. Claro que, em iniciativas próximas, considerando que seja o mesmo vereador –o que duvido. Mário Nunes, diga-se o que se disser, é um homem com provas dadas em Coimbra na área da cultura. E, quanto a mim, injustamente, foi enxovalhado, quase por todos os agentes culturais. Só os que beneficiaram de subsídios -porque não podiam- não disseram mal do seu trabalho. Fez tudo bem? Creio que não, mas quem faria? Os pelouros de cultura municipais são como a pasta da educação nos governos, nunca contentam toda a gente. Estou a ser parcial? Se calhar estou mesmo. Conheço Mário Nunes há 25 anos e, tendo conhecimento do seu interesse no levantamento de problemas da Alta e da Baixa, tenho muita admiração por este homem. Digam lá o que disserem. Em resumo, estou completamente céptico em relação a que irá manter-se à frente deste pelouro na equipa de Carlos Encarnação.
Dizia eu, porque entretanto dispersei-me, que, em iniciativas próximas na Baixa, é preciso descentralizar. Ou seja, a todo o custo é preciso espalhar toda esta ambiência colorida pelas outras ruas do Centro Histórico. Os comerciantes das ruas estreitas continuam a queixar-se de discriminação. E têm razão. Hoje, durante todo o dia mal se podia romper nas ruas da calçada. Em contrapartida, os becos e vielas mais estreitas, incluindo a Praça do Comércio, estavam completamente vazias. Por que razão não se há-de fazer um perímetro em volta do centro histórico? Apesar de tudo a fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Brasfemes, durante a manhã, percorreu as ruelas medievais da cidade, mas é pouco. Convenhamos. É apenas preciso acertar as agulhas. Mas, vamos com calma! Sinceramente, acho que devagar, devagarinho, a autarquia começa a entender que tem de se abrir da casca e vir ao encontro dos comerciantes mais motivados. E são muitos, felizmente. A coisa promete…

O SALÃO BRAZIL ESTÁ EM GRANDE

(ONTEM À NOITE FOI MAIS UMA ENCHENTE NO SALÃO BRASIL)

(AS IMAGENS ESTÃO TÃO MÁS QUE SE OS "ANGELS" SABEM, AINDA ME PEDEM INDEMNIZAÇÃO. NÃO LHES DIGA NADA, NÃO? E JÁ AGORA, JÁ QUE CORTEI METADE DO ROSTO AO PEDRO ROCHA SANTOS, OMITA LÁ ISSO TAMBÉM, CASO CONTRÁRIO, O QUE GANHO A ORGANIZAR ESTE BLOGUE NÃO CHEGA PARA LHES PAGAR -ESTÁ BEM! JÁ ESTOU A TRATAR DE UM CURSO DE FOTOGRAFIA, TENHA CALMA!)






Como tem sido amplamente anunciado, está a decorrer, desde quinta-feira até hoje sábado, no Salão Brazil, numa realização do “Jazz ao Centro”, a partir das 23 horas, a actuação dos “Angels”, conjunto de jazz do norte da Europa. Posso garantir que são um espanto, sobretudo o saxofonista e o trompetista. Sei do que falo. Estive lá ontem.
Para além de vos convidar a irem lá hoje, que é o último dia para ouvirem os “Angels” e, sobretudo, apreciarem a ambiência “revivalista” deste extraordinário espaço da Baixa de Coimbra –este salão parece feito de encomenda para eventos jazzísticos-, gostaria de falar num assunto que, quem não conhece, passa ao lado. Como sabe, este bonito primeiro-andar funciona como restaurante. Este antigo salão de bilhares, com as paredes carregadas de história, que durante mais de cinquenta anos foi um pólo nuclear de atractividade de todos os operadores de comércio, patrões e empregados, está agora transformado. Relembrando as minhas memórias, não posso deixar de falar no velho Juvenal, que, durante mais de trinta anos, foi o amigo, o confessor e tudo o que se possa imaginar num tempo em que faltava tudo, e da senhora Maria de Lurdes, ambos os únicos funcionários daquela “instituição”, que sempre deram a cara pelo patrão –que, aliás, nunca conheci.
Dizia eu, então, que o Salão Brazil, agora, e desde há alguns anos, deixou os bilhares e dedica-se à restauração. Como você não conhece, certamente está a pensar: “está bem, e que tem isso de especial? Olha, é mais um na Baixa”. Acontece que não é mais um, é completamente diferente. Para além da ambiência “retro”, tem uma cozinha espectacular.
Experimente ir lá e pedir ao Bruno Duarte –um simpático empregado de mesa, com formação na área através do centro de formação do IEFP- uma “Tibornada de bacalhau” para entrada. A seguir peça uma “Posta Maronesa” –com a carne do Marão, mal passada, da altura de um dedo, a convidar a ser comida. Experimente e depois diga se o enganei. Um espectáculo pantagruélico para os nossos estômagos -eu sei do que falo, já comi.
A cozinha deste bom restaurante está a cargo do chefe Daniel Cardoso. Um artista nas artes de cozinhar e “empartar”. Tem 23 anos e é um dos muitos bons profissionais saídos da Escola de Hotelaria de Coimbra. O Telmo, o proprietário do salão, está de parabéns.
E agora, desculpe lá, mas já passa das 13 horas –veja na entrada do "post" se estou a enganá-lo- e tenho de ir almoçar. Onde é que vou? Onde havia de ser, alma de Deus? Ao Salão Brazil, claro. “Xauzinho…que a minha barriga reclama pelo bacalhau…

A BAIXA ESTÁ NA MODA?



(CARLOS CLEMENTE, SOZINHO, TEM FEITO MAIS PELA BAIXA DO QUE TODOS OS PROJECTOS TURÍSTICOS ACTUAIS E PASSADOS)



Ontem à noite, nas escadas da Igreja de São Tiago, numa organização da Junta de Freguesia de São Bartolomeu, entre as 22,30 e quase até à meia noite, decorreu uma sessão de fados de Coimbra.
Quem lá esteve pode verificar que estiveram centenas de pessoas a assistir a este bem sucedido evento, levado a efeito pelo executivo de Carlos Clemente. Este autarca de uma das duas juntas de freguesia desta zona monumental também não semeia créditos em mãos alheias. A meio da representação da canção Coimbrã foi gostoso vê-lo a pugnar pelo centro histórico, “a Baixa está viva e recomenda-se”, espalhava Clemente à numerosa assistência presente.
Um êxito, sem dúvida nenhuma. Carlos Clemente está de parabéns. As suas iniciativas em prol da Baixa –como ontem ficou demonstrado- mostra, por A mais B, que havendo ideias, e colocando-as em prática, as pessoas vêm à ao centro histórico. Porque, uma coisa ficou clarificada, a maioria da assistência de ontem eram pessoas que vieram de propósito para assistir ao espectáculo. Infelizmente, como se sabe, esta zona monumental tem poucas pessoas a residir aqui –tive o cuidado de, durante o espectáculo, olhar para os andares cimeiros dos prédios em redor da Igreja de São Tiago e vi apenas um espectador idoso “pendurado” numa janela a assistir. Por agora há poucos residentes, mas, pelo movimento de procura, tudo indica que, muito em breve, tudo o que nos rodeia vai mudar. Tenho a certeza.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

O BECO DOS PRAZERES




Dizem que em tempos recuados
aqui morou dama de mil afazeres,
era bela, cheia de mui cuidados,
uma ninfa, a rainha dos prazeres;
Contam-se mil histórias sofridas,
embrulhadas em resenhas de cordel,
personagens de almas compridas,
onde se perdia tudo, até mais o anel;
Parece que na rua era senhora prendada,
dentro de quatro paredes uma prostituta,
na cama e na vida, em tudo, era desregrada,
no amor, era uma serviçal sem conduta;
Há quem lembre aquele beco de luxúria
como o último reduto de um céu na terra,
embora um pouco decrépito, a cair na penúria,
simples aparência nos prazeres que ele encerra;
Chamava-se a diva libidinosa, Conceição,
na alma, em carnes, era em tudo generosa,
conta a história que era frívola de coração,
disfarçando bem, era imensamente charmosa;
Meia cidade e mais meia, ali fez baptismo de amor,
num catre, simples, com cheiro intenso a jasmim,
fosse inverno, fosse verão, fizesse frio ou calor,
milhares perderam a virgindade em lençol de cetim.

OS MOVIMENTOS DE IMPROVISAÇÃO DA BAIXA









É meia-noite de quinta para sexta-feira. No Café Santa Cruz, o senhor Costa, o empregado de mesa e pintor, não tem mãos a medir. Por entre um sorriso simpático, dividido pelos pedidos das muitas dezenas de clientes que ouvem atentamente a belíssima tuna de estudantes que, de sua livre vontade, entenderam actuar neste mítico café da Baixa. Cá fora, na esplanada, não há uma cadeira livre. As pessoas, umas em pé outras sentadas no varandim de pedra que rodeia o espaço, ora conversam em tertúlia ora tentam sintonizar a música do agrupamento universitário.
Uma hora antes, na Praça 8 de Maio, em frente ao estabelecimento de hotelaria, actuou uma banda de metais e instrumentos de sopro, provavelmente estrangeira, composta por quase uma vintena de executantes, que deixou, quem passou por ali, todos de “cara à banda”. Apesar de já passar das zero horas, seja pela cálida noite de um verão que ainda tarda ou não, esta encantadora praça e as ruas confluentes apresentam um anormal movimento. Há uma saudável troca de comunicação entre várias línguas europeias.
A cem metros desta praça, no Salão Brazil, provém uns sons harmónicos de trompete em estilo livre de improvisação de Jazz. Por muito surdo que algum passante noctívago seja, é impossível ficar alheio. Por um lado é o intenso barulho da trompete, intervalado com clarinete, por outro, o som melódico é extraordinário, a fazer lembrar Neil Amstrong. Só anjos tocam assim.
À entrada deste salão-restaurante, na pequena esplanada, cerca de uma vintena de pessoas estão em amena cavaqueira. Numa heterogeneidade de idades, entre o cabelo com rastas, os vários “entas” e os sexagenários, todos parecem felizes. Subimos as escadas de acesso ao Salão Brazil. Na entrada, temos de afastar pessoas, como se nadássemos num oceano humano, para conseguir mergulhar no interior. A sala está repleta. Numa miscelânea de melómanos de jazz, com pinceladas de cabelos brancos, “afros-rastados”, bonés na cabeça, e “rabo-de-cavalo”, o ambiente, quase indescritível, à “luz-que-fusca”, faz lembrar New Orleans, por volta de 1920.
Passa cerca de um quarto de hora da meia-noite. Chega um carro da PSP com três agentes. Entram a “matar”, como quem diz, um pouco ríspidos, talvez para marcar terreno, para mostrar quem manda, e chamam o responsável. Tinham recebido queixas de vizinhos por causa do barulho. Alguém tira uma fotografia. O flash da máquina alerta os polícias. Um deles reage bruscamente: “se sair a nossa imagem em qualquer jornal, cá estamos. Temos direito à nossa privacidade”.
Os cerca de trinta degraus de acesso ao Salão Brazil despejam um homem magro e aparentemente fragilizado. É o Pedro Rocha Santos que vem falar com os três agentes. Ele é o mentor e o homem que dá a transpiração e a cara pelo “Jazz ao Centro”. Nota-se que faz um esforço hercúleo para se conter. Em arremedos, vai-se explicando. “Tenho licenças passadas pela Câmara Municipal. É uma realização conjunta com a autarquia. Esta situação não pode continuar. Estou farto”, desabafa Rocha Santos. Aos poucos os cívicos, talvez condoídos com este homem, vão perdendo o ar agressivo inicial e tornam-se mais compreensivos. Ambos, polícia e cidadão interpelado, começam a desabafar. Diz um dos agentes: “pois é, isto é serviço da Polícia Municipal, mas como é amargo, chama-nos a nós. Tudo o que é duro é à nossa força que cabe responder”. Pedro Santos, perante o ar humano que provém dos agentes, aumenta a investida verbal: “que diabo!, porque não vão os senhores falar com o presidente da Câmara? Sabem onde mora, não sabem? Fartei-me de trabalhar para realizar este evento. Eu andei a colar posters durante a madrugada. Saberão os senhores o trabalho que isto dá? Isto é frustrante! Isto é de terceiro-mundo. Que diabo, ainda há pouco passou aí a Queima das Fitas. Foi uma semana de barulho intenso. O que faço é importante ou não para a cidade? Se não é. Acabe-se com isto. Estou farto. Não aguento mais”, repete, em desabafo o mentor dos encontros de Jazz, com a complacência dos agentes da PSP.
Agora sou eu em discurso directo. É preciso garantir bom-senso de todas as partes envolvidas. Todos têm razão: os residentes da zona histórica, a polícia envolvida e o Pedro Rocha Santos.
É preciso harmonizar os interesses. Para os residentes –que têm razão, repito- é preciso interrogar: querem uma Baixa sem barulho, amorfa, sem pessoas e sujeita a assaltos nocturnos? Ou, pelo contrário, dando um pouco do seu legítimo direito ao sossego, querem uma zona histórica rejuvenescida, movimentada, plena de vida, com gente de todas as idades, em que todos possam andar em segurança?
Para o Jazz ao Centro, tudo o que fizer, que é em prol da Baixa, deverá ter em conta quem trabalha no dia seguinte. É preciso apostar na insonorização dos espaços, na sensibilização residencial. Às vezes, caso-a-caso, uma palavra resolve muita coisa.

Não deveria tomar partido neste conflito, mas como tenho conhecimento dos suores transpirados e o tamanho esforço que foi necessário para trazer o jazz para Coimbra, vou mesmo ser parcial. Por uma questão de honestidade intelectual, coloco-me sem reservas ao lado de Pedro Rocha Santos –juntamente com outros, por volta do ano de 2000, entre outras “demarches”, pelo menos uma vez, acompanhei o presidente do Jazz de Coimbra a Lisboa ao Hot Club Portugal. O mérito é todo dele. Pessoalmente, estou-lhe muito grato pelo que conseguiu concretizar. Claro que, naturalmente, se deve também ao apoio incondicional de Mário Nunes, Vereador da CMC, apoio que em 2000 foi negado por Manuel Machado, então presidente da autarquia.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

A PEQUENA SIMONE




Esta pequena mulher de que vou falar trabalha num café, de uma ruela próxima do meu trabalho. Tipo “mignon”, muito bem torneada, talvez com metro e meio de altura, é uma simpatia. Sempre alegre, ou pelo menos quase sempre de sorriso nos lábios. É brasileira! Diz tudo? Se calhar diz mesmo. “Somos completamente diferentes do povo português. Para um qualquer natural da terra descoberta por Cabral, só o simples facto de estar vivo e ter saúde é motivo para comemorar e estar feliz", diz-me enfaticamente. “ O “qui maiis mi incomoodda é o lado triisste de voccêiis (portugueses). “Euu seii do qui fallo. Sou casada com um "portugueeis". "Pareci qui carregam a morti em ciima dos ombroos”, diz-me a Simone, enquanto bebo um café.
“Há “várius annos", quando cheguei ao "paíís", fiquei "abissmada com essta trissteza" toda. "Dissi" para mim: ai meu "Deuss", meu Salvador, como é que vou conseguirr viver nessta nação tão cinzenta? “Boom, a verdadii, é que mi fui habituando, mas qui foi díficili, lá isso foii!, confessa-me esta bela mulher saída das Américas para a Europa para conquistar um mundo melhor.
“Sinceramentte”, nunca vi “gentee” tão choramingas. Ora dói a cabeça, uma perna, um braço, quando, na maioria “dass vezees”, não pensam estar para morrer de uma qualquer “doençaa” maligna. “Mii respoonde”, senhor Luís, “vocêes”, com a construção do Cristo-Rei, em Lisboa, quiseram imitar o Brasil. Porque não imitam também a nossa boa disposição?, interroga-me a americana, agora lusa, no meio de um sorriso sarcástico que não me deixou espaço para qualquer argumentação.

BAIXA: UMA PALMADA COM CORRIDA




Nos dias que correm, os comerciantes têm que ser cada vez mais psicólogos e dotados de presciência. Nunca se sabe se o cliente, vestido de fato de bom corte, Rolex de ouro no pulso, de boas falas, finas e doces, estará pronto para nos vigarizar ou roubar.
Foi o que aconteceu hoje, pouco passava das 18 horas na Ourivesaria Rogério, na Rua Eduardo Coelho. Um cliente bem vestido, de bom aspecto, que em nada fez retrair a funcionária da casa, pediu para ver anéis em ouro.
Aparentemente, era um cliente perfeitamente normal. A empregada, colocando o tabuleiro dos anéis em cima do balcão, foi mostrando e o cliente ensaiando no dedo anelar. Quando já tinha cerca de meia-dúzia de lado, pediu para ver alianças. Mal a funcionária se voltou, o sujeito, levando consigo o ouro escolhido previamente, abalou em grande correria, mais rápido que o Carlos Lopes nos seus velhos tempos de maratonista.
Mesmo a pouca experiência que a empregada pudesse ter, se fosse com o patrão, provavelmente, teria acontecido do mesmo modo. Cada vez mais o comerciante terá de ter mais cuidado com aquele cliente desconhecido, e sobretudo se promete “mundos e fundos”, numa compra que parece salvar o mês.
Foi chamada a PSP para tomar conta da ocorrência. Evidentemente que onde quer que esteja o meliante, “ladrãozeco” de ocasião, deve estar a rir-se a bandeiras desfraldadas da facilidade com que, certamente, mais uma vez, deu a palmada em quem trabalha para viver. Ele não tem culpa dos outros terem escolhido uma profissão errada. Em pensamento, promete votar neste governo, ou noutro qualquer, que continue a assegurar a sua impunidade.
Neste acto, talvez dê para ver a falta que fazem as câmaras de videovigilância na Baixa. Deveria fazer pensar a autarquia, e o seu gabinete jurídico, no atraso que vai ter, para esta zona histórica, um outro lançamento de concurso por erros crassos, e os custos para o comércio tradicional, como bem dizia, ontem, Carlos Clemente, presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu, no Diário de Coimbra: “Câmara está a brincar com pessoas e bens”.

UMA PERFUMADA CASA NOVA ABRIU NA BAIXA








 Lembra-se do filme “Chocolate”, que passou nos cinemas há cerca de cinco anos? Se não se lembra, eu conto a sinopse. A história gira em torno de uma recém-aberta loja de chocolates, que, apesar do cepticismo da população da cidade, aos poucos, através da simpatia da dona da loja (Juliette Binoche), da inovação na apresentação dos produtos, e sobretudo do cheiro, esta, consegue conquistar e persuadir os seus habitantes a desfrutarem os seus deliciosos produtos.
Pois hoje, ao passar ao lado do centro comercial Visconde, na Rua Visconde da Luz, como Johnny Depp no filme, fui atraído pelo intenso cheiro a essências. Imaginem-me de nariz no ar a aspirar e a seguir o perturbador pecado tentador do meu ingénuo olfacto.
Dentro da loja, a representar a Vianne, uma senhora ainda mais simpática, a Andreia Lobo. Há menos de um mês abriu a loja “Enjabonarte” porque acredita com extrema convicção de que vai mesmo vencer. “É um “franshising” espanhol. Os produtos que vendo são todos certificados pelo Infarmed, e são feitos artesanalmente com produtos naturais. Felizmente, está tudo a correr muito bem. As pessoas elogiam muito. Dizem-me, com contentamento, que ainda bem que apostámos num ramo diferente. Compram uma vez, para experimentar, e no dia seguinte voltam para comprar mais”, confidencia-me a simpática vendedora de sorriso nos lábios.
A Andreia é assistente Social. “Estava a exercer, mas pedi uma licença sem vencimento. Desde que vi estes meus artigos em Espanha nunca mais descansei até abrir uma loja aqui na Baixa –gosto muito do Centro Histórico, sabe?!”
A “Enjabonarte” vende sabonetes de morango, coco, chá-verde, etc. Para além disso, tem shampoos para todos os tipos de cabelos. Tem também creme de corpo e mãos e sais de banho. Mas a coqueluche da sua loja vai para as bolas (bombas). Estão a ser um sucesso. Trata-se de uma bola que quando abre liberta óleos de essências de hidratação e relaxamento e pequenas pétalas de rosa. Cada bola, ou bomba, tem seu aroma.
Ai que cheirinho! Tenho imensa pena, leitor, de não lhe poder dar um pouco deste encantamento olfactivo. É indescritível. Não acredita? Vá lá ver. Verá que não estou a pecar por excesso. Estou simplesmente encantado. Desculpe-me, mas vou ter de ficar por aqui. Vou voltar lá para comprar mais um sabonete de limão…hum…snif…snif…

UMA ALMA A CHORAR




Ao passar naquela rua,
ouvi um grito de dor,
não sei se seria a lua,
desgostosa, sem amor;
Um gato ouvi miar,
lá no canto da ruela,
uma guitarra a trinar,
lágrimas sofridas dela;
A noite estava tão escura,
era inverno de esfriar,
só pensava na ventura,
na sorte de a encontrar;
A calçada estava deserta,
as flores mudas de tristeza,
as pedrinhas bem alerta,
à espera de ti, beleza;
Passou um cão a vadiar,
só, sem eira, nem beira,
éramos dois a sonhar,
na solidão companheira;
Comecei então a cantar,
rimas de ocasião,
uma velha veio espreitar,
era feia como um canhão;
Porque é que um choro de mulher,
esmaga um homem e faz sonhar,
explique lá quem souber,
mas todos precisam de amar.

AMANHÃ HÁ FADOS NA PRAÇA VELHA





Amanhã, dia 29 de Maio, nas escadas da Igreja de São Tiago, na Praça do Comércio, e numa realização da Junta de freguesia de São Bartolomeu e apoio da Câmara Municipal de Coimbra, pelas 22 horas, vamos ter fados de Coimbra.
Venha até cá. Não é você que, quando lhe perguntam por que não vem à Baixa, responde: “eu até ia, mas nunca fazem nada, que me motive a ir lá! Eu até gosto muito da zona histórica, palavra de honra, pela alma da minha avozinha, que Deus a guarde muitos anos e que não se lembre de me chamar.”

VISITE A EXPOSIÇÃO DE LEONARDO BRAGA











Não se esqueça de vir visitar ao Café Santa Cruz a exposição “Pintar com Luz”, a partir de hoje e até ao próximo dia 31. Trata-se de uma homenagem póstuma a um grande fotógrafo, Leonardo Braga Pinheiro, natural dos Açores, que passou por Coimbra, e que infelizmente o destino, num daqueles acasos que ninguém pode explicar, nos roubou um promissor artista. São 21 belas fotografias que vale a pena apreciar.
Visite mesmo. Acredite que vale a pena. Aproveite e tome um café no nosso “magestic” coimbrão, falo, evidentemente, do Café Santa Cruz, o mais lindo espaço de tertúlia da cidade.