terça-feira, 13 de janeiro de 2009

QUEM AJUDA A SALVAR O SPORTING NACIONAL?





(MANUEL MAGALHÃES, O ÚLTIMO ATLETA VIVO DE UM GRANDE CLUBE)

  Estou certo que, ao ler o título, poucos saberão que este antigo clube é de Coimbra. E mais: ainda tem sede. Ainda que em mau estado, ainda resiste no Largo da Freiria, mesmo no coração da Baixa da cidade. Por analogia, tendo em conta o esboroar do edificado, e seguindo um pouco o estado decrépito desta zona histórica, do mesmo modo, tanto a sede como o Clube Sporting Nacional estão em coma profundo.
Este clube foi fundado em 1919. Tinha um grande salão, que ia do Largo da Freiria até à Rua Visconde da Luz, em cujos bailes, muito bem frequentados pelas mais belas mulheres, eram famosas as suas matinés de domingo à tarde. Tinha uma forte equipa de futebol e outra de natação –estes extractos são-me contados pelo Manuel Magalhães, um conhecido comerciante da Baixa, que, por volta da década de 1950 foi atleta no Sporting Nacional. Segundo o seu testemunho, por essa altura, tinha dois ranchos folclóricos, o “Flores da Mocidade”, de seniores, ensaiado pelo professor Raul Mesquita, e um infantil, o “Rainha Santa”.
O Sporting Nacional, à medida que foram desaparecendo os associados mais interessados, por impossibilidade de gerir um tão grande espaço, há várias décadas encurtou a sua sede. Actualmente possui, no Largo da Freiria, duas salas sobrepostas, com cerca de quarenta metros quadrados cada uma. Progressivamente, à medida em que iam morrendo os mais velhos, foram ficando os mais idosos e sendo cada vez menos os sócios. Actualmente, que se saiba, para além do Manuel Magalhães, existe o Armando Margalho, o Fernando Ferreira e o José Correia, estes três homens faziam parte da última direcção que existiu até há dois anos e que, pelas leis da natureza, a morte se encarregou de desmembrar.
Entrar neste clube, onde o abandono é notório pelas infiltrações da água das chuvas, mirando os muitos troféus conquistados, dentro de uma vitrina, e olhando as muitas fotografias penduradas nas paredes, certamente dos muitos presidentes que por ali passaram, é transpor a porta do tempo, entrar na história da cidade, na “movida”, nas vivências de uma Baixa empobrecida, povoada de trabalhadores esforçados, da indústria e do comércio, que, para além de labutarem de sol-a-sol, ainda davam um pouco do seu pouco tempo restante ao clube da sua cidade.
Quando interrogo o Manuel Magalhães e o Armando Margalho, acerca do que sentem, ao ver o seu clube no estado em que se encontra, quase em coro, respondem: “este clube não pode morrer! Gostávamos tanto de o ver recuperado. Para além de fazer parte integrante da sua história, dava mais alegria à Baixa. Parece impossível ver desaparecer este património riquíssimo em toda a sua vivência”.
Quando interrogo o Armando Margalho acerca da renda mensal, diz-me: pagamos cem escudos (50 cêntimos) ao Banco (BPI). Embora não se pague a renda já há um certo tempo, é um bom senhorio. Nunca nos incomodou. Estou convencido que, pela função social do Sporting Nacional, até gostavam de ver o “nosso” clube revitalizado.
Em conversa com o presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu, Carlos Clemente, senti da sua parte plena abertura e, como já é habitual, uma disponibilidade total e um entusiasmo crescente, como se interrogasse: “Embora, vamos a isso! Se é da Baixa, pela Baixa faço tudo!".

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