quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

COIMBRA: DEBATE DA CULTURA, O FLOP E O FIASCO

(IMAGEM DA WEB)



 Como foi amplamente divulgado, reuniram ontem, 20 de Fevereiro, no Teatro de Gil Vicente, cerca de 400 pessoas –segundo o Jornal de Notícias- cujo objectivo era (e foi) um debate sobre a cultura em Coimbra. Tudo partiu de um texto, como o título “Pelo direito à cultura e pelo dever de cultura!”, postado num blogue na Internet, em que se pedia a sua subscrição online, apelidado de “Amigos da Cultura”. Este texto assinado essencialmente por professores universitários ligados à cultura, entre eles, Abílio Hernandes, Adília Alarcão, António Sousa Ribeiro, Boaventura Sousa Santos, Carlos Fiolhais, Carlos Fortuna, Carlos Reis, Elísio Estanque, Vital Moreira, entre outros. Assim como nomes importantes ligados ao teatro, à advocacia, à fotografia, à arquitectura, deputados municipais, sindicalistas, etc., entre eles, cito apenas alguns nomes, como por exemplo, António Augusto Barros, Francisco Paz e Isabel Craveiro; António Arnaut, Ferreira da Silva e Marinho e Pinto; Alexandre Ramires, Albano da Silva Pereira e Paulo Abrantes; Alexandre Alves Costa, Luís de Sousa e José António Bandeirinha; Catarina Martins e Serafim Duarte (bloco de Esquerda), João Silva (PS); Fátima Carvalho e Mário Nogueira.
Para começar (mal), em vez das 17 horas, como fora previamente anunciado, começou eram 17h25. Se este é um pormenor de somenos importância, embora, saliente-se, que se se tratava de um debate de cultura, começar com vinte e cinco minutos de atraso é, a meu ver… incultura. Pode até argumentar-se que esta derrogação advém dos 15 minutos de tolerância académica, mas invocar esse mau costume arreigado aos portugueses num debate sobre cultura é, quanto a mim, uma (in)cultura que urge banir da sociedade.
Continuando a descrever o azarento começo, Manuel Maria Carrilho, ex-ministro da Cultura e deputado Socialista, que estava anunciado como participante na mesa do debate, não veio de Lisboa porque estava… doente. Outra personalidade anunciada também para estar presente na mesa, o Director Regional da Cultura do Centro, António Pedro Pita, também esteve ausente, devido a uma reunião em… Lisboa. Muitos azares num debate de extrema importância para a cidade, segundo os organizadores.
Abílio Hernandes, ex-presidente da “Coimbra Capital da Cultura 2003”, moderador neste debate, a abrir, começou por referir “estamos aqui em defesa dos que fazem cultura em Coimbra”. Defendeu que existe oferta cultural na cidade, mas acusou a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) de não desenvolver uma política na área. “A autarquia tem mesmo uma política anti-cultural. Gostaríamos que a câmara estivesse aqui, mas não está, e não é fácil manter um diálogo com uma parede”, referiu – talvez em resposta, hoje, no dia a seguir ao debate, Carlos Encarnação, presidente da CMC, em entrevista à Antena 1, na rubrica “Portugal em directo” afirmou que "não estive presente porque não me foram garantidas condições de igualdade aos restantes oradores. Se me tivessem sido garantidas eu teria muito gosto em ter estado (…) nunca faltei a um evento em que estivesse em causa a cidade”.
Várias pessoas intervieram numa espécie de catarse, na procura de uma cultura fantasma. Todos falaram de cultura, mas sem especificarem exactamente nem o que pretendiam nem o que entendiam por cultura. Um ponto era comum, a CMC e nomeadamente o vereador do pelouro da cultura eram os visados, como se fossem um alvo em que todos deviam espetar um dardo.
Como estive presente, e por uma inexplicável “dependência” psicológica de interferir, à qual sou incapaz de fugir, chegou a minha vez de intervir. Comecei por explicar que, como ressalva de interesses, sou um “não alinhado”. Sou um cidadão anónimo de Coimbra. Não defendo qualquer associação, nem sou "advogado" de defesa de qualquer instituição. Não subscrevi e não concordo com o texto apresentado na Internet, sob o lema “Pelo direito à cultura e pelo dever de cultura”. É um texto profundamente ideológico, carregado de uma “esquerda” retinta e exacerbada. É manipulador cujo interesse único é apontar baterias à CMC. Parece quase um manifesto político-partidário, e a cultura deve transcender a “partidarite”.
Depois de ler o referido texto na Internet dos "amigos da cultura" apetece-me parafrasear Kennedy, “não procurem a Coimbra e à CMC o que podem fazer pela cultura, procurem antes o que podemos todos fazer pela cidade”.
A cultura de Coimbra, quanto a mim, parece que gira, unicamente, em torno de dois pólos: a academia com o fado –ainda por cima enfeudado- ou a Queima das Fitas e o teatro. E absolutamente mais nada!
Coimbra não tem uma cultura "underground", uma cultura de risco, que seja marginal e criativa. Parece que apenas funciona se tiver o motor oleado pelo subsídio. Citando o aforismo, acontece que em casa que não tem pão todos ralham e ninguém tem razão.
Parece que tudo se resume ao teatro, que com todo o respeito por quem nele emprega o seu esforço, mas os conimbricenses aderem mal. E aqui é necessário pensar se o problema, de não adesão, estará nos urbanos ou nas peças apresentadas –muitas vezes demasiado longas e de percepção difícil para a maioria. E aqui louvo uma pessoa que muito estimo, ligada à direcção de uma reconhecida companhia –Isabel Craveiro, do Teatrão-, que em entrevista ao Diário de Coimbra (DC), há cerca de três meses, dizia exactamente isso mesmo: “temos de avaliar o nosso trabalho e inferir da razão de o público vir pouco ao teatro. Se calhar temos de mudar de estratégia” –citado de memória.
Porque não se aposta no teatro de revista? Porque é “pimba”, como era classificado, também em entrevista ao DC, há cerca de um mês, um reconhecido encenador?
Dá impressão que a cultura dita “alta ou erudita” se quer impor ditatorialmente à que vem do povo, classificando esta de pacóvia e parola. Esquecendo que todos contribuímos e somos fazedores de cultura. Repare-se aí na mesa, os oradores (5) são todos professores universitários. Será que não faltarão aí outros intervenientes? E nomeadamente -e porque não?- um qualquer “Zé da Esquina”, que até escreve umas coisas e, além de mais, até soletra uns versos maravilhosos?!
Depois deste extenso preâmbulo, devo confessar que vim a este debate com uma intenção. Ou seja, falar dum caso escandaloso, que no seu abandono é criminoso, refiro-me ao ex-Museu Nacional da Ciência e da Técnica. Este museu, nascido em 1971, por obra de um dos maiores físicos portugueses: Mário Augusto da Silva. Está em “coma” profundo desde 2005 –por força do Dec. Lei 10, de 2005- em que o museu foi integrado no futuro museu do conhecimento.
Praticamente, desde essa data que o museu em Coimbra, na Rua dos Coutinhos e no Antigo Colégio das Artes, se encontra encerrado ao público. Agora pasme-se: desde essa altura, há cerca de dois anos, estão 7 funcionários sem trabalho atribuído, sem saberem o que fazer, o labor que individualmente desenvolvem, desde catalogação e fotografias do espólio do museu, é da sua inteira iniciativa e sem que lhes seja dada qualquer satisfação quanto ao seu futuro. Lembro também que o seu acervo é fabuloso. É constituido por milhares de peças, algumas únicas no mundo.
Sem entrar em acusações fáceis, lembro que apesar da promessa do magnífico Reitor, do vereador da Cultura, e do presidente da Câmara Municipal de Coimbra, em lançarem as bases para a criação de um futuro museu -in Jornal das Beiras 21NOV2004- tudo continua na mesma.
Lembro aos senhores, organizadores este debate sobre a cultura em Coimbra, que a Baixa de Coimbra, para além do Museu do Chiado, não tem mais nenhum museu. E, quanto a mim, tem condições para o ter. Não um museu “morto”, mas um museu “vivo”, interactivo, que dê vida a uma zona histórica moribunda. E até existe um grande espaço que se enquadra perfeitamente: o antigo DRM, o quartel militar na Rua da Sofia. Mas conto, oportunamente, entregar um anteprojecto, em forma de ideia, ao executivo camarário, e na próxima Assembleia Municipal estarei presente para lhe pedir apoio e levar esta ideia ao seu conhecimento.
Seguidamente falaram outros intervenientes no debate. Quanto a mim, foi uma pena. Por falta de outros participantes, nomeadamente a CMC, INATEL, Juntas de Freguesias, Associações Cívicas e outros agentes envolvidos na cultura, este encontro foi um profundo fiasco. Como diria o meu amigo Paulo Abrantes: “a montanha pariu um rato”.

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