segunda-feira, 29 de outubro de 2007

COIMBRA: UM CONSELHO DA CIDADE

Está a decorrer em Coimbra, entre 22 e 31 de Outubro, uma iniciativa da Pró Urbe, Associação Cívica da Cidade, e da Plataforma artigo 65, movimento de defesa do direito à habitação, cujo tema é: “Vamos falar de habitação (em Coimbra)?”.
Segundo a Pro Urbe, no prospecto de divulgação do evento -de muito boa qualidade, diga-se a propósito- esta acção pretende ser “uma iniciativa de reflexão e cidadania sobre o tema vasto da habitação.(…) enquanto acto elementar e fundamental da vida humana (…) consagrado no art.º 21, da Declaração Universal dos Direitos do Homem e no art.º 65, da Constituição da República Portuguesa. Contudo, entre o reconhecimento dos direitos e deveres dos cidadãos e do Estado (…) existe um abismo de silêncio e perplexidades que nos propomos reflectir e denunciar.”
Desloquei-me e participei, na sexta-feira, dia 26, ao Gil Vicente, onde foi projectado um excelente filme de João Dias, inserido nas “operações SAAL” –Serviço Ambulatório de Apoio Local, programa de apoio à habitação, lançado em Portugal logo após a Revolução de 25 de Abril de 1974, durante o 1º governo provisório, em que participaram arquitectos, engenheiros, juristas, geógrafos e moradores de bairros degradados, associados em comissões, animados numa luta por habitação condigna para todos. Ao abrigo deste programa foram construídos diversos conjuntos de habitação, em todo o país, muitos dos quais estão hoje degradados. –extracto retirado do folheto de apresentação, “As Operações SAAL”.
Depois da projecção do filme, seguiu-se um debate em mesa-“rectangular” com António Bandeirinha, arquitecto, Alexandre Alves costa, arquitecto, João Dias, realizador do filme, João Afonso, arquitecto e Samuel Fernandes. A moderação foi de Elísio Estanque, sociólogo. O público, cerca de três dezenas de pessoas, dividiam-se entre estudantes de arquitectura, cidadãos anónimos e saudosistas do espírito do 25 de Abril, onde se ouviu o recorrente grito: “25 de Abril, sempre”.
Talvez fruto do tema do filme, que achei isento e desprovido de doutrina, o clima do debate foi carregado de uma ideologia de esquerda. Não é que o não devesse ser, e nem isso me preocupa ou interessa, simplesmente, notei no painel um exagerado alinhamento em conceitos socialistas, faltando ali, quanto a mim, na mesa, um equilíbrio, que nestes debates é saudável e salutar.
No sábado, dia 27, durante a manhã, estive presente no Salão Brazil, onde, numa mesa-“rectangular”, foram oradores, durante a manhã, Helena Roseta, ex-bastonária da ordem dos arquitectos, Teresa Craveiro, Valentim Gonçalves, padre, e José Reis, professor universitário, como moderador. Seguido de debate com o público presente, que mais uma vez, cerca de três dezenas, se dividia entre estudantes de arquitectura, associados da Pró Urbe e Plataforma artigo 65, e pessoas ligadas ao espírito do 25 de Abril.
Na parte da tarde, depois da pausa para o almoço, cujo programa indicava recomeçar às 14 horas, recomeçou cerca das 15 e 30. Foram pedidas desculpas pelo atraso, mas essas explicações, quanto a mim, não desoneram este programa de algum amadorismo e falta de respeito pelo público presente, cerca de uma trintena de pessoas. Estiveram presentes alguns vereadores da Câmara Municipal, como João Rebelo, e professores universitários, como, por exemplo, Sá Furtado.
Num primeiro painel, foram interpelantes, Guilherme Vilaverde, Maria João Freitas, ligada ao IHRU, Pedro Bingre, arquitecto, Jorge Carvalho, engenheiro, e Ana Pires, como moderadora.
Logo a seguir, num segundo painel, Gustavo Cunha, responsável pelo plano estratégico de Coimbra, Elísio Estanque, sociólogo, Gouveia Monteiro, vereador da habitação, Paulo Craveiro, presidente da Sociedade de Reabilitação Urbana de Coimbra , e Rui Avelar, jornalista, como moderador.
Olhando para a composição dos painéis, e levando à letra o consignado no folheto de apresentação, pela Pró Urbe, facilmente se chega à conclusão de que existiu uma lacuna, um vício de forma. Ou seja, como se pode discutir habitação sem que estejam presentes representantes de proprietários e de Inquilinos? Foram convidados, não foram?
Também nestes painéis foi notório a falta de equilíbrio ideológico, onde prevaleceu uma cultura de esquerda. Foi acerrimamente defendido o recurso à coercibilidade para estabilidade do mercado, por parte do Estado, quando se sabe que este, antes da sanção, deve incentivar os operadores a funcionarem naturalmente, através de leis equitativas, numa concórdia e assertividade, numa pedagogia necessária, através de um instrumento fundamental como é o (Novo) Regime de Arrendamento Urbano –como muito bem foi defendido por um membro da assistência. Ora acontece que as leis de arrendamento, desde a 1ªRepública foram sempre instrumentos panfletários, injustos e demagogicamente mal utilizados, na mão do poder partidário, tentando aliciar o voto fácil a um maioritário leque de inquilinos. Os resultados estão hoje bem à vista. No entanto, apesar de ser aflorado que há realmente casas a mais –em média uma e meia por família- nunca foi defendido o arrendamento como única solução possível e viável.
Nestes painéis, pelos membros, o proprietário foi sempre apresentado como um especulador. Nunca foi dito que muitas das casas fechadas e em mau estado se devem ao continuado empobrecimento dos proprietários e aos iníquos e subsequentes processos de despejo arrastados no tempo, que faz com que os senhorios prefiram tê-las desocupadas. Nunca foi aflorado as muitas rendas de miséria, de pouco mais de 5 euros, existentes nos centros históricos e que, contraproducentemente, implica as autarquias em longos processos de negociação e revitalização do edificado, com custos exacerbados para o erário público.
Por outro lado, coisa estranha, porque se alhearam os proprietários deste debate? Deixaram de lutar pelos seus interesses? Deliberadamente, ignoraram-no por não acreditarem na isenção dos promotores da iniciativa? Se alguém quiser ou souber que responda.
Se a cidade, sendo uma entidade abstracta, fosse uma pessoa e lhe fosse pedido um conselho, certamente diria: “cuidem-se filhos, se não houver cuidado, o futuro na habitação é pouco auspicioso e convosco, com esta forma de o discutir, também não iremos longe”.

sábado, 27 de outubro de 2007

A DEGRADAÇÃO DOS CENTROS HISTÓRICOS-2




 No anterior apontamento falava no sustentáculo dos centros históricos: o comércio e a habitação. Considerava que só através da sua plena pujança é possível retirar estas velhas zonas inquinadas das cidades da anemia em que se encontram.
No tocante ao arrendamento e ao inquilinato, tinha feito uma resenha histórica a partir de 1910, data da implantação da República e tinha chegado até 1990, período áureo do “Cavaquismo”, o tal “oásis” que nos impingiram, e, para o caso em apreço, o início dos juros bonificados, que tornaria o país no maior proprietário, per capita, da Europa. Tudo estaria bem se hoje não estivéssemos todos a pagar com juros essa explosão na construção de novas centralidades. De entre muitos, talvez o maior, a meu ver, seja o abandono dos centros históricos, com centenas de edifícios, em cada cidade, abandonados e a parecerem cenários de um campo de batalha.
Depois de duas maiorias absolutas, em 1987 e 1991, o “Cavaquismo” estatela-se ao comprido e perde as eleições para o “Guterrismo” em 1995. Este segue a mesma política respeitante à habitação, embora se escutassem boatos de que o Regime de Arrendamento Urbano seria revisto e os centros históricos iriam ser revitalizados.
Em 2002 perde as eleições e segue-se-lhe o “Barrosismo” a prometer, antes do pleito eleitoral, “mundos e fundos”, e, nomeadamente, uma revolução no urbanismo. Com a fuga de Barroso para Bruxelas, voou também as suas promessas eleitorais e tudo continuou na mesma, para pior.
Segue-lhe, em 2004, Santana Lopes que vem prometer uma menor intervenção do Estado, transformando o contrato de arrendamento de um velho navio ultrapassado e anacrónico, num veleiro moderno, mareando ao sabor dos ventos liberais, prometendo actualizar as rendas antigas num prazo máximo de 10 anos, tal como se fez em Espanha.
É demitido por Jorge Sampaio, Presidente da República na altura, e segue-lhe, em 12 de Março de 2005, o actual primeiro ministro, José Sócrates. Mais uma vez nas suas promessas eleitorais era prometida uma reviravolta no arrendamento urbano.
Em 28 de Junho de 2006 entra em vigor o NOVO REGIME DE ARRENDAMENTO URBANO. Mais uma vez a montanha pariu um rato e estas novas alterações traduziram-se numa profunda decepção e grandessíssimo fiasco para os proprietários. Depressa, estes, verificaram que o governo estava muito mais interessado em actualizar as matrizes do que verdadeiramente em revitalizar os centros históricos. Como condição "sine qua non" para aumentar os locados foi implantado neste novo Regime de Arrendamento a figura das Comissões Arbitrais Municipais (CAM), o que na prática significa que só é possível actualizar as rendas antigas recorrendo as estas CAM, que irão aferir o nível de conservação dos locados e de uma nova avaliação fiscal. O que no caso de rendas antigas, o que se vai pagar de IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis), só por esse aumento, não é compensatório, quanto mais, que em quase todos os casos de avaliação é recorrente a necessidade de os senhorios fazerem obras. De salientar que passados seis meses da lei ter entrado em vigor só uma CAM estava constituída, a de Lisboa, que integra representantes da câmara municipal, que preside, da Direcção Geral dos Impostos, dos Senhorios, dos Arrendatários. –Jornal Público, de 28 de Dezembro de 2006.
Devido à complexidade do Diploma e à morosidade da instalação das CAM, hoje, escassas centenas de contratos foram actualizados. Tudo continua na mesma como a lesma.No caso de rendas antigas, de pouco mais de uma dúzia de euros, com um tecto máximo de 50 euros no primeiro ano e 75 euros no segundo, quem é o proprietário que se atira às necessárias benfeitorias, além de mais sendo-lhe actualizado o IMI? É evidente, neste cenário, que os centros históricos, caso não se considere um SOS de emergência, irão continuar a parecer escombros de um teatro de guerra… (continua)

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

A DEGRADAÇÃO DOS CENTROS HISTÓRICOS-1





  Organizada pela Pro Urbe, Associação Cívica de Coimbra, em colaboração com a Plataforma Artigo 65, movimento de defesa do direito à habitação, está a decorrer na Lusa Atenas uma iniciativa, cujo lema para discussão é: “Vamos falar sobre habitação (em Coimbra)?”.
Pegando neste tema, vou falar, como quem diz escrever, sobre a (sobre)vivência dos centros históricos das cidades, que, como todos julgamos saber, os seus problemas estruturais são comuns e atravessam transversalmente todo o país.
Como se sabe, o COMÉRCIO de rua, dito de tradição, e a HABITAÇÃO são o sustentáculo destas zonas de antanho. Metaforicamente, imaginando um corpo humano, são as suas pernas que o fazem locomover-se. E, uma depende da outra, são o garante de estabilidade do tronco. Se uma, anemicamente, estiver debilitada, essa fraqueza, por simpatia, transmite-se à outra e, inevitavelmente fará ruir o corpo. O grave e até incompreensível é saber-se que ambas estão debilitadas e, administrativamente, nada se fazer –a não ser aflorar-se ao de leve. Não se vislumbram soluções radicais, mas antes um injectar, aqui e acolá, de pequenos analgésicos, que, sem irem ao fundo da doença, apenas protelam e adiam a dor do moribundo em estado vegetativo.
No tocante à HABITAÇÃO, o problema já vem muito de trás. Começou há muitas décadas, no início da 1ª República . – Atente-se, a título de curiosidade, que o Código de Seabra -primeiro Código Civil Português que veio reunir num só livro toda a legislação esparsa que existia no reino, nomeadamente algumas regras do "Corpus Iuris Civilis" e nas Ordenações do Reino- era muito mais claro e liberal do que os subsequentes, que se viriam a tornar no cancro social das sociedades vindouras.
Como disse em cima, os verdadeiros problemas começaram com a Implantação da República. Aí nasceu a vontade política, em proveito partidário, para captar facilmente simpatias e votos, o vício demagógico de se conseguir efeitos imediatos junto das populações paupérrimas e empobrecidas por uma monarquia nobiliárquica e insensível à distribuição da riqueza entre a população.
Com a implantação da bandeira Republicana veio logo a seguir, em 11 de Novembro de 1910, o congelamento das rendas, no domínio urbano, pelo prazo de um ano, assim como artigos, em diarreia, no sentido de garantias absurdas aos inquilinos e retirando, na prática, aos proprietários o seu legítimo direito de propriedade, espírito consignado na Revolução Francesa de 1789.
A Grande Guerra de 1914-1918 viria a constituir o motor fundamental nas intervenções legislativas do arrendamento e mais uma vez com novos congelamentos.
Embora com uma grande reforma em Junho de 1948, todo o espírito subjacente numa série de preceitos, nomeadamente a transmissão por morte e a caducidade do contrato, transitaram para o “novo” Código Civil de 1966. Neste Código manteve-se a suspensão das avaliações fiscais prescritas em 1948 para Lisboa e para o Porto. O que em consequência, nas vésperas da Revolução de 1974, havia numerosas rendas, em Lisboa e no Porto, que não eram actualizadas desde o imediato pós-guerra.
“A evolução do arrendamento urbano que acompanhou e seguiu a Revolução de 1974-1975 retomou muitos dos caminhos trilhados durante a Guerra de 1914-1918 sem deles retirar as devidas lições”. – Extracto retirado, bem como outras notas insertas nesta crónica, no livro de Jorge Alberto Aragão Seia, “ARRENDAMENTO URBANO”, de 1995.
Saliente-se –ainda com a devida vénia a Aragão Seia- em 14 de Abril de 1975, a legalização das ocupações de fogos levados a efeito para fins habitacionais mediante contratos de arrendamento compulsivamente celebrados. Isto é, em que uma das partes era obrigado por força de lei a celebrar um contrato. “Este diploma, que levou mais longe do que nunca o pendor expropriativo de certas medidas de protecção aos arrendatários, visou, na época, travar o fenómeno incontrolável das ocupações”.
Chegamos então a 1985, Lei 46/85, de 20 de Setembro. “Este diploma aperfeiçoou a ideia de contratos celebrados no regime de renda livre e no de renda condicionada, tal como já vinha do Decreto-Lei 148/81, de 4 de Junho. Para evitar, porém novos desfasamentos e uma subida incontrolável das rendas exigidas às pessoas que chegassem de novo ao mercado de arrendamento, proclamou o princípio da actualização anual de todas as rendas, de acordo com os coeficientes a aprovar pelo governo. Ao mesmo tempo, permitiu-se a correcção extraordinária das rendas fixadas antes de 1980, segundo coeficientes que variavam de acordo com a condição do prédio e a data da última actualização (…). Foi ainda, regulado o tema das obras de conservação e beneficiação, as quais podem (podiam), em certos casos, reflectir-se nas rendas. Para compensar os aumentos de rendas foi instituído o subsídio de renda para os arrendatários de baixo rendimento”, extracto de Aragão Seia.
Acontece que a promulgação deste diploma, Lei 46/85, poucas melhoras veio trazer ao mercado de arrendamento, pelo menos no concernente às rendas antigas. Por um lado pela descapitalização crescente dos proprietários, que sem possibilidades financeiras de revitalizar a sua propriedade, optaram por manterem as rendas tal como estavam. Por outro lado também a confusão instalada na classificação de obras de conservação e de beneficiação. Assim como uma legislação continuadamente anacrónica e iníqua, mais uma vez a proteger mais os inquilinos que os senhorios, tudo isso redundou, esta lei, num tremendo fracasso para as rendas antigas.
Veio a década de 90, e o “Cavaquismo”, panfletariamente, leva à letra o demagógico artigo 65º, da Constituição da República, que considera a habitação como um direito consignado a todos os portugueses e instaura o juro bonificado, cuja consequência directa foi o “boom” na construção civil e com o erigir de novas centralidades. Aos poucos, o mercado de arrendamento foi sendo abandonado e, deliberadamente, por questões de opção financeira, tornado o parente desprotegido e pobre das relações contratuais das cidades. Estas, aos poucos, foram ficando como resquícios de guerra. Só permaneceram a viver nestes centros os mais idosos e os mais carenciados… (continua)

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

COIMBRA: O CULTO HIPÓCRITA DA MORTE

“Há não uma mas duas Coimbras, uma do sonho e outra da tradição” –assim se referia Carlos Fiolhais, professor universitário, no Jornal Público, em 11 de Maio de 2007, numa sua rubrica assinada com o título: “COIMBRA É UMA LIÇÃO”.
Com a minha natural modéstia intelectual acrescentaria mais uma: a da hipocrisia. E refiro mais esta premissa divisória de uma Coimbra que nunca foi homogénea comportamentalmente, não como se eu tivesse descoberto a pólvora, mas porque ao longo dos últimos séculos foi profusamente referida, lembro-me, por exemplo, Trindade Coelho, no seu livro, “In Illo Tempore”, quando se refere a João de Deus, por volta de 1850, em que mostra Coimbra e a sua Universidade “como tendo uma vida aborrecida, não sabendo para que serve aquilo –livros, lições, professores, actos, banalidades!”. Um “tudo faz de conta”,onde o que interessava era o parecer e pouco o ser.
Vem isto a propósito do recente desaparecimento de Fausto Correia –que sentidamente aproveito para expressar à sua família as minhas mais sentidas condolências e que não vejam nesta minha crítica uma ofensa ao extinto nem à dor provocada pela sua precoce partida desta vida - eurodeputado do PS, desde 2004, em Bruxelas.
Foi um corrupio de lamentos lacrimantes de crocodilo, desde a esquerda até à direita, quer no seu féretro, com a vinda de personalidades ligadas ao actual governo e outras de ex-governantes da oposição, como se tratasse de uma passagem de celebridades, todos com ar pesado e condolente, que o momento assim o exigia. Também nos depoimentos neste jornal (Diário de Coimbra) foi um descarregar de más consciências, como se com esses elogios algo duvidoso na sinceridade, os encómios pudessem branquear e redimir as invejas e a guerrilha e o “espetar de facas nas costas”, enquanto o homem foi vivo.
Coimbra ficará conhecida pelo seu passo gigantesco no avanço da filosofia da Ciência Social, ao transformar o negro manto diáfano da morte numa impoluta alvura e cândida resplandecente áurea mística. A Igreja Católica já o tinha feito com a canonização de seres terrenos, transformando-os, após a morte, em Santos. Mas com pessoas comuns, normalmente hereges, ateus assumidos, é um fenómenos recente, que só graças ao avanço de Coimbra nas ciências sociais é possível esta extraordinária maravilha invulgar e digna de registo nos anais da história que só uma grande cidade como esta comporta.
Claro que, naturalmente, as autarquias também participam. Primeiro foi a de Miranda do Corvo e agora a de Coimbra na atribuição de uma rua com o seu nome. Claro que neste estado sintomático de psicastenia em atribuir os seus topónimos às ruas, neste nivelamento por baixo, talvez explique a obsessiva construção de novas centralidades. Percebe-se agora que eram necessárias muito mais ruas para ser possível encaixar todos os nomes de políticos, pintores, artistas, fotógrafos e outros biscateiros. Começa a ser necessário explicar os critérios de atribuição, pela Comissão Toponímica. Qual o grau de atribuição para figurar numa rua, numa alameda ou numa avenida? Todas estas artérias têm uma relevância igual para o nomeado? Assim, a atribuir em “barda”, o melhor é construir um panteão local, onde possam figurar todos os políticos, os artistas, os beneméritos e, já agora, sem esquecer as figuras típicas da cidade: o “Taxeira”, o Daniel “Tatonas”.
A psicologia, facilmente, explicará este branqueamento da vida através da morte e mostrará o comportamento polarizado dos “Coimbrinhas” entre “sacanas” em vida e um “tipo porreiro” depois de morto. Viva a morte! Morra a vida!

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA ACIC

(IMAGEM DA WEB)



Exm.º Dr. Paulo Mendes:


  Começo por lhe desejar felicidades para o cargo que recentemente assumiu.
Em seguida, começo por analisar o seu discurso de tomada de posse perante o Secretário de Estado adjunto, da Indústria e Inovação. Referiu a nova lei dos saldos, a diminuição das verbas do PIDDAC (Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central), inseridas à região no Orçamento Geral do Estado para 2008, focou também as acessibilidades ao interior do distrito.
Citando o Diário de Coimbra, “aproveitando a presença do Secretário de Estado, Castro Guerra, Paulo Mendes disse que a ACIC irá lutar pela diminuição da carga fiscal e pela recolocação do IVA nos 17% e pela eliminação do pagamento especial por conta. O calendário político deve ser acertado pelo exclusivo interesse comum, pelo interesse nacional e não de acordo com o calendário eleitoral, cíclico, repetitivo e às vezes mau conselheiro”. Prometeu também uma postura interventiva na defesa dos interesses dos empresários e empresas da região.
Este tipo de discurso, “dejá vù”, de pedir o abaixamento de impostos, a taxa do IVA a nova lei dos saldos, fica sempre bem a quem o profere, é uma espécie de gravata social, e compõe extraordinariamente a “toillette”. Porém, lembro-lhe, essa não é a sua função. Esse desempenho cabe, por inteiro, à Confederação do Comércio Português, de que a ACIC é vice-presidente. A si cabe-lhe, por inerência, como referiu, apenas e só, defender os interesses dos empresários e das empresas do distrito, perante a administração local. E, sublinho, a ACIC não o tem feito. Esta instituição centenária, de interesse público, que no seu código genético é e deverá ser sempre naturalmente antipoder, é um gigante tolhido de pés e mãos, subserviente ao poder autárquico, que devendo ser um lobby de pressão na defesa dos seus associados, essencialmente os comerciantes, o que tem feito, sobretudo a partir de 2002 é estar, tacitamente, ao lado do executivo camarário.
A ACIC é (tem sido) um trampolim político que tem servido só os interesses particulares dos seus presidentes, sobretudo a partir de 1998. Com gestão a raiar o danoso. Como se pode entender que empresários de sucesso na sua vida particular, naquela Associação, enquanto presidentes, tivessem acarretado prejuízos de vários milhares de euros em contratos mal negociados para a ACIC?
O que espero de V.Exª é que sendo comerciante na Baixa, tenha a sensibilidade de verificar como vivem ou sobrevivem os comerciantes de rua. Entre no interior das lojas e aperceba-se da sua tristeza e falta de confiança no futuro. Lá dentro, olhe à sua volta e verifique as prateleiras vazias de artigos e fale com eles e veja o seus estados de espírito, as suas almas cheias de nada.
O que espero de V. Exª é que não alinhe ao lado do poder autárquico, sendo uma sua caixa de ressonância, mas reivindique o impossível para conseguir conquistar alguma coisa e, o mais importante, conquistar a estima dos comerciantes, para que estes sintam, através da sua abnegação, que o senhor é um dos nossos e não dos “outros”.
O que anseio de V.Exª é que depois deste seu mandato, que, sinceramente, espero profícuo, não vá ocupar um lugar de gestão num qualquer serviço semipúblico ou de vereador na autarquia, em representação partidária. Para mal já basta assim e chega o que tivemos até à sua nomeação.
Aguardo a sua prestação.
Felicidades.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

OLHA EM FRENTE, MULHER!

Põe a tua mão na minha,
juntos vamos correr,
olha bem aquela linha,
juntos vamos morrer;
Deixa-te ser criança,
sorri e volta a brincar,
vê o futuro com temperança,
ama e deixa-te amar;
Vive, deixa a recordação,
arruma-a no fundo do teu baú,
faz dela a letra de uma canção,
soletra, e canta-a mesmo só tu;
Sozinha não podes caminhar,
precisas que eu seja o teu guia,
acabarás, mesmo, por valorizar,
a luz que ilumina o teu dia;
Posso até ser um sol apagado,
ou uma lua pouco especial,
mas serei sempre o teu amado,
o teu ponto fraco, o teu mal;
Quero ser a tua praia,
o sítio da rebentação,
tu serás a minha aia,
eu a tua imaginação;
deixa brotar o teu amor,
saindo da fonte do pecado,
quero apagar o teu calor,
ser o teu bombeiro amado;
Deixa correr o teu desejo,
como rio corre para o mar,
quero ser o teu ensejo,
dar-te um poema, versejar;
Lembras as noites de solidão?
passava uma hora, duas e três,
refugiavas-te na oração,
se era assim, foi Deus que fez.

SERÁ QUE É A LUZ AO FIM DO TÚNEL?

"Há cinco ou seis anos, não sei ao certo, ou será desde sempre que dura esta nossa guerra sem precedentes?
Desde sempre, eu sei que há qualquer coisa em mim, algo me diz que não fomos feitos um para o outro, mas o que nos leva a continuar? Habituação, falta de coragem, amor? Não sabemos, e não sei se alguma vez teremos as respostas certas a estas perguntas. Eu gosto do preto, tu do branco; eu do Inverno, tu do verão; eu de peixe, tu de carne. Até onde nos levou tamanha (in)diferença? Não serão mais as coisas que nos separam do que as que nos unem?
Senti ontem, mais do que nunca, a certeza de que não dá para continuar este calvário.
Depois de alguns dias de separação, e porque a saudade aperta, lá voltamos nós a um novo encontro, esperançados num futuro melhor.
Comecei por te dizer que não dava para continuarmos assim; ora juntos… ora separados. Esta situação deveria ser resolvida. Notei em ti uma expressão que me dizias: “finalmente ela cedeu”. Gostaria muito de ir ao teu encontro. Tenho pena, mas não posso. Tínhamos tudo para dar certo e ambos gostaríamos que desse, mas o destino ou nós mesmos assim quisemos. Senti que a nossa história, mais uma vez, não chegava a lado nenhum. Continuamos a puxar a corda para lados opostos. Cada um estica o máximo para seu lado. Amamo-nos certamente, mas sentimo-nos incapazes de resolver este dilema. Será teimosia apenas? Incapacidade? Não sei, o tempo o dirá. Sei também que a teu lado, forçada por ti, nunca serei eu mesma. Continuas a querer a teu lado alguém que ceda a todos os teus caprichos, mesmo que saibas o quanto isso me faz sofrer. Dizes que me amas, e eu acredito que sim, mas que estranha forma de me amar é essa se nem tu próprio a entendes? Pareces-me um adolescente muito confuso e pouco feliz. Só o tempo se vai encarregar de te dizer que não escolheste o melhor caminho. E eu terei escolhido o melhor? E quem poderá responder? Não há certezas de nada nesta vida.
Falei aqui no dia de ontem, porque, em poucos minutos, eu revi, nesta cena, o que era o nosso casamento: começámos por ter uma pequena discussão sem resolução à vista. Fomos ao cinema; escolheste o filme convencido que era bom, segundo disseste, até já tinhas visto a apresentação, portanto não havia dúvidas, e eu lá fui, como sempre, confiante. Pela primeira vez na minha vida, reparei que éramos os únicos espectadores daquele famoso filme, naquela noite e naquela sala. Quando me deparei com algumas cenas ridículas, comentei que aquela fita era uma desgraça, mas continuei esperançada. Sim, porque sou uma mulher de esperança. Continuei a ver e com a certeza de que aquela fita maluca melhoraria, e esperei pacientemente. Ouvi-te dizer, apesar da sua má qualidade, que gostavas da abordagem que o autor fazia acerca do sexo. Como sempre, fiz um grande esforço para entender mas não consegui; paciência, aquilo, certamente, destinava-se só para… inteligentes. Aguentei mais algum tempo à espera que as cenas viessem a melhorar, mas em vão, aquilo não melhorava mesmo. Dito de outro modo, foram ficando cada vez pior. O filme era intragável. Depois de pensar bastante, optei por sair de cena. Respeitei o teu gosto duvidoso e decidi esperar, por ti, noutro sítio mais agradável.
Afectada pelo filme, ou não, a verdade é que o meu humor caiu no zero. Se estava mal piorou. Rebobinei toda aquela noite e, facilmente, cheguei à conclusão de que terminara da pior forma. Quando o filme acabou, notei o teu semblante muito carregado. Estavas tão mal humorado como eu. Seria do filme? Ou seria pelo facto de eu te ter abandonado a meio da fita “mal enjorcada”? A nossa noite acabara ali. E o nosso casamento? Naquelas horas, minutos, segundos, sei lá, deu para eu sentir que foram trinta anos de relacionamento difícil e muito tumultuoso. Foi mais um filme, mal realizado, com cenas lamentáveis, e, como se fosse pouco, com um triste fim…”

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

CAROLINA É UMA MENINA...

Para onde vais Carolina?
cheia de força e de ardor,
não te falte a "gasolina",
e encontres esse amor;
Porque gostas tanto do mar?
e te perdes no horizonte,
pareces tanto sonhar,
fazes do sonho uma ponte;
Porque olhas o céu Carolina?
e nas estrelas a contemplar,
a tua alma é de menina,
que apetece consolar;
Nesta vida sempre acorrer,
como um rio para o mar,
mesmo sabendo que vais morrer,
não desistes de encontrar;
Sei que vais mesmo achar,
esse teu príncipe encantado,
podes continuar a sonhar,
ele já está enamorado;
Continua Carolina,
não te deixes abater,
nem que te chamem espertina,
eu sei que vais vencer.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

LIBERDADE, LIBERDADE, QUEM A TEM MUITO SUA

“O homem deveria ter há volta de 30 anos, de passo decidido, dirigiu-se-me. Com voz grave e bem timbrada, exclamou: “senhor agente, eu roubei um telemóvel na rua ali ao lado e já o vendi a um fulano, que lhe darei a sua identificação. Quero que o senhor faça a participação e respectivo auto…”
Eu sou polícia de segurança pública (PSP) e estava de serviço nesta noite. Tenho 48 anos e mais de vinte como cívico. Ao longo destas mais de duas décadas de serviço, nunca ninguém me pediu para ser privado da liberdade. Como é de calcular, já vi de tudo, já passei por tudo. Já andei nas brigadas à civil, e isso marca um homem para a vida toda. Ver miúdos no “cavalo” e na “branquinha”, a ejectarem-se num qualquer recanto obscuro ou casa abandonada. Alguém sabe o que isso custa? Pensam que por trás deste rosto aparentemente duro, não está um homem, com todas as suas fragilidades e vulnerabilidades? Acho giro a populaça, em refrão, cantarolar que um homem nunca chora. Nunca chora, como? Só não chora quem é insensível. Só as pedras não choram…porque são insensíveis? Claro que não, não choram porque não têm coração. Pelo silogismo, a meu ver, quem possuir essa máquina pulsante de amor, quer seja animal racional ou irracional, inevitavelmente chora. Os primeiros poderão expressar a dor em lágrimas, os segundos em sofrimento, que os primeiros ainda não identificaram os sinais exteriores.
Por aqui, já vêem como sou. Ora, perante este estranho pedido, evidentemente que senti um baque no coração. O que pode levar um rapaz de cerca de 30 anos, na flor da idade, a, voluntariamente auto-acusar-se e a pedir para ir “lá para dentro”? Lentamente, enquanto ia pegando na folha de participação e na caneta, ia fazendo um exercício de análise introspectiva e de dúvida metódica. Eu conhecia-o, ele estava referenciado nos cadastros da minha Esquadra. Há cerca de cinco anos, ajudei, conjuntamente com os meus camaradas, a prendê-lo, por estar envolvido em vários assaltos a casas comerciais, com recurso a violência. Mais tarde, como testemunha, estive no seu julgamento e soube que, depois da tremenda admoestação do juiz, apesar da sua dureza verbal, este fora complacente, tendo em conta a sua pouca idade, e sentenciara-o em 8 anos de cadeia efectiva. Tivera também em conta o facto de estar sozinho no mundo, não ter pai, mãe ou namorada. Ora, assim sendo, ele saíra há pouco em liberdade condicional.
Seria o facto de estar sozinho? Pensando bem, realmente, hoje, estar preso nem é muito mau. Ter comidinha, dormida e roupa lavada gratuitamente até é bom. As instalações são boas, televisão…hum…só pode ser isso! Para se gozar a liberdade muito tem de se transpirar de suor e de muita inspiração para ver como esticar um ordenado –quem o tiver- até ao fim do mês. Seria esse o propósito que o levou a, intencionalmente, prevaricar e a pretender, com esse acto, quase de forma provocatória, a criar um motivo para o prendermos outra vez? Saberá ele que, nestes cinco anos passados, tudo mudou, na área jurídica do direito penal? Saberá ele que, com a entrada em vigor das novas alterações ao Código Penal, quase que temos de pedir permissão para deter alguém? E, valerá isso de alguma coisa? Se não for em “flagras” (flagrante) o Juiz liberta-o imediatamente. Então, alguém entende que isto é profundamente desmotivador? Por um lado o cidadão exige mais segurança, -e é legítimo que o faça, a segurança de pessoas e bens é um direito constitucional -por outro, nós polícias, estamos atados de pés e mãos. É justo interrogar os políticos para onde querem eles levar este barco, que parece navegar à deriva, saberão eles o porto de ancoragem? Penso que não. Há um excessivo respeito pela salvaguarda de direitos, liberdades e garantias do delinquente e um profundíssimo desrespeito pelo acto lesivo causado e respeitante à vítima.
Mas o cidadão também é muito injusto. Quando precisa de nós lança-se completamente nos nossos braços, entregando a alma e o corpo. Quando não precisa, nós somos os verdugos, a máquina repressiva do sistema, vejam, por exemplo, aquele vídeo editado no You Tube, respeitante a uma agressão perpetrada no Parque das Nações contra um salteador, que, no mesmo dia, tinha feito vários assaltos. Foi excessiva a carga policial? No limite até podia ter sido. Mas não podemos esquecer que se tratava de um meliante que tinha causado vários prejuízos patrimoniais a vários cidadãos. Mas eu até entendo, as pessoas reagem emotivamente, na maioria dos casos, sem pensarem nos antecedentes. Reflexivamente, colocam-se sempre do lado do mais fraco, mesmo que essa aparente vulnerabilidade seja causadora de muita infelicidade.
Bom, mas com estes pensamentos, quase que me esqueci do rapaz. Vou fazer a participação… para nada. Mas tenho de cumprir e cumprirei…"

(HISTÓRIA VERÍDICA NO TOCANTE AO ACTO PARTICIPATIVO)

terça-feira, 9 de outubro de 2007

A CARTA BENFEITORA DE GARCIA

Afonso Garcia é um simpático velhote de 91 anos. Mora em Coimbra. Ágil no andar e mais lesto no pensar, este médico-poeta, naturalmente utópico,de uma sensibilidade à flor da pele, uma versão de João semana –até porque conviveu e conheceu muito bem Fernando Namora- tem uma história de vida que se perde nas linhas do fantástico. Ouvi-lo é um gosto. Quando começa, o difícil é parar, e nós, quem o escuta, enleados, a reviver com ele o seu extenso rol de acontecimentos, perdemos a noção de tempo, enquanto contado num qualquer relógio.
Licenciou-se, conta, em Julho de 1945. Estava a 2ª Guerra a terminar no seu armistício, assinado em 2 de Setembro. Poucos anos depois de ter acabado o curso, por volta de 1947, foi colocado em Évora Monte, freguesia do concelho de Estremoz. Esta linda terra alentejana, foi sede do concelho até ao século XIX. Teve foral em 1248. Em 1801 tinha 2 661 habitantes. Em 1849 tinha 3030. Actualmente, tem 724 habitantes (último censo de 2001). Aqui se assinou, em 26 de Maio de 1834 a Convenção de Évora Monte, que pôs termo à guerra civil de 1832-34, travada entre absolutistas e liberais.
Já casado, nos primeiros tempos, deixa a mulher em Coimbra e parte rumo aos confins do mundo, que nesse tempo as distâncias não eram medidas pelos quilómetros percorridos, mas pelas dificuldades em aceder a um determinado lugar de Portugal, com caminhos de picada, em terra batida e com imensos buracos. Basta lembrar que os 17 quilómetros que distavam de Évora Monte A Estremoz eram percorridos em 2 horas e 30 minutos, de carro. Era um caminho picado e sulcado por imensas crateras. Andava 100 metros, aparecia um grande buraco, tinha de se fazer marcha-atrás para o poder contornar. Não haviam nem estradas nem camionetas.
Com o seu Vauxhall usado, oferecido pelo sogro, depois de um dia de viagem, chega então a Évora Monte. Corria então o ano de 1947, esta terra, que se viria a tornar tão querida para Garcia, nesta altura do pós-guerra, era paupérrima do ponto de vista maioritariamente social. Todas aquelas imensas terras, a desaparecerem no horizonte, eram propriedade de meia dúzia de abastados proprietários latifundiários. Garcia lembra-se de alguns nomes. Eram o Fernandes, mais conhecido por menino d’oiro, o José Castelo Branco, o inglês Reynolds e do homem mais rico de toda aquela pradaria: o senhor Coelho. Lembra-se de muitos bons amigos; do presidente da Junta, o Isidoro Chia e do talhante, que esqueceu o nome, mas não olvidou da memória, por ser um bom amigo e dono do único açougue daquela terra abandonada por Deus e pelos homens que comandavam os destinos de Portugal, nomeadamente, Salazar e Óscar Carmona.
Sendo médico, depressa constatou que aqui o que soçobrava era a miséria e a carência de tudo. Não havia posto médico e os próprios instrumentos médicos eram dele. Foi viver para uma casa cedida por aquele que viria a ser o seu grande amigo, Isidoro Chia, o Presidente da Junta. Era aí que dava as consultas. Sim, “dava”, porque praticamente eram dadas. Exceptuando os proprietários abastados, as pessoas não tinham dinheiro. Nem sequer para os medicamentos. Garcia ganhava 5 contos por mês. Como cedo se apercebesse que as pessoas não aviavam os medicamentos, na única farmácia da terra, por falta de liquidez, fez um contrato com o farmacêutico: este serviria os medicamentos aos doentes e, no fim do mês, este médico acertaria contas. Porém, uma cláusula obrigatória: ninguém deveria saber quem era o benemérito. Houve meses que o seu ordenado mensal não chegava para pagar os medicamentos. Algumas vezes teve de transitar, em débito, para o mês seguinte. Mas toda a gente passou a ter aceso a medicamentos.
As consultas eram pagas em géneros. Os mais pobres davam se podiam. Os mais abastados pagavam obrigatoriamente, pela Páscoa e pelo natal, com cabritos, vitelos e porcos. O único modo que Garcia vislumbrou para fazer algum dinheiro foi fazer um contrato com o talhante da terra: ele aceitaria os animais, matá-los-ia, e depois venderia a carne e só então, depois, pagaria ao médico o resultado da venda.
Era uma pobreza impressionante. Este médico lembra-se de fazer imensos serviços de obstetrícia no domicílio das parturientes. Quando era chamado, lá carregava ele a mala com os seus bisturis e fórceps. Era médico para todas as doenças: ginecologia, oftalmologia, obstetrícia, cirurgião e clínica geral.
As crianças andavam quase todas descalças e expostas às intempéries do tempo.
A qualquer simples dádiva faziam fila e esperavam longas horas expostas ao frio ou ao calor. Garcia recorda o latifundiário inglês Reynolds: todos os meses, num determinado dia, em hora imprecisa, passava no seu Rolls-Royce. Quando circulava na praça principal, afrouxava e atirava montes de rebuçados aos miúdos da terra. Os putos, sabendo o dia, chegavam a estar na praça, em magotes, horas a fio à espera do abastado agrário.
Das poucas que iam à escola, muitas delas percorrendo cerca de 15 quilómetros para cada lado, de casa ao estabelecimento de ensino, era comum este médico notar que a maioria levava, como alimentação, para todo o dia, uma fatia de pão, meia-dúzia de azeitonas e um marmelo assado. Este pequeno-almoço “alancharado” era comido debaixo de uma qualquer árvore, fizesse sol ou chuva.
Então uma ideia começou a germinar na cabeça deste clínico: iria fundar uma cantina. Falou com o seu amigo Isidoro Chia, presidente da Junta e este logo abraçou a ideia. Cedeu-lhe imediatamente um pardieiro abandonado. Em seguida, escreveu uma carta ao Ministério da Instrução a solicitar uma verba para iniciar o processo de fundação da cantina…que lhe veio negado. Mas não cruzou os braços. Falou com os grandes e abastados agricultores e estes comprometeram-se a abastecerem a cantina com sacos e sacos de arroz, batatas e carne para todo o mês. O latifundiário Fernandes, o menino d’oiro, de dois em dois meses, entregava um envelope com 5 contos de reis, para as despesas correntes da cantina, como por exemplo, pagar à única funcionária, a cozinheira, que ganhava muito pouco, cerca de 100 escudos por mês, diz Garcia, a propósito. O restante serviço era feito pelos professores e voluntários. Os panelões para cozinhar, na cantina foram oferecidos por um oficial do exército. O mais forreta de todos os latifundiários, curiosamente era o mais rico do grupo de beneméritos: o senhor Coelho. Não tinha filhos. Quando morreu deixou uma fortuna e um imbróglio jurídico in testato aos seus sobrinhos.
Lutando contra ventos e marés, Garcia abriu a cantina com 25 alunos a tomarem o pequeno-almoço e a almoçarem. Chegando mais tarde a ter 120 crianças. Aos mais necessitados continuava a dar alimentação mesmo durante as férias. Todos os aniversários de qualquer criança eram comemorados nas cantinas.
Fundou uma biblioteca pública com centenas de títulos doados, em que as crianças e adultos podiam levar para casa os livros. Aquando da devolução do livro, a pessoa, criança ou adulto, era interrogada, para saber quantas pessoas na sua casa, em serão, assistiram à leitura do livro.
Garcia, durante os 10 anos que permaneceu em Évora Monte, ainda fundou e orientou um rancho folclórico, que viria a ganhar um 1º prémio entre grupos concorrentes. O orientador musical era o senhor Cardoso.
Ao fim de 10 anos transferiu-se, de armas e bagagens para Avis, onde permaneceu até poucos meses antes do 25 de Abril de 1974.
Hoje, mora e vive em Coimbra, onde, com uma agilidade de cinquentão, percorre as ruas estreitas da Baixinha e, quando pode, troca umas impressões com o autor destas linhas, a quem foi cedendo parte da sua história, contada por ele próprio e, sem possibilidades de investigação probatória pelo segundo. Se você, que teve paciência de Jó, chegou até aqui e é da zona de Évora Monte, se souber alguma coisa que possa corroborar esta história, escreva aqui o seu testemunho de conhecimento.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

VERÓNICA NÃO QUER MORRER

Para onde vais Verónica?
Caminhas adormecida,
pareces meia biónica,
mas vais ficar restabelecida;
Corres atrás de um sentimento,
como se para esquecer,
queres viver todo o momento,
Verónica não quer morrer;
"Estou viva", gritas ao vento,
para te fazer escutar,
sabes que tens pouco tempo,
e neste pouco, queres amar;
Todo o passado queres olvidar,
fazer dele recordação,
num baú queres arrumar,
sem mexer no coração;
Ai Verónica, o teu olhar,
tão mortiço de solidão,
eu sei que vais amar,
por que esperas tu então?;
és neflibata e pareces sonhar,
com o teu príncipe, que há-de aparecer,
procura que vais encontrar,
luta Verónica, não te deixes morrer;
E custa tão pouco desejar,
mas tens de ter muita firmeza,
escolher, desbravar, e até lutar,
como se fosses uma Alteza;
Viver é fácil, sobreviver, uma dificuldade,
mas até respirar exige um entregar,
por isso, não te fiques na saudade,
parte rumo ao desconhecido e vai procurar;
Sei que vais encontrar,
e partes cheia de ardor,
tu precisas de amar,
e, podes crer, vais ter o teu amor.

UM SORRISO INESQUECÍVEL

Quando eu te vi,
o meu peito palpitou,
uma dor senti em mim,
a angústia se instalou;
Olhei os teus olhos,
entrei neles a sonhar,
adivinhei escolhos,
um canhão a ribombar;
Olhei os teus lábios,
pareceram-me tremer,
como velhos alfarrábios,
que não se devia mexer;
Vi as tuas mãos,
quase que as escondias,
sei que eram, mas não são,
as mesmas de todos os dias;
Olhei o teu coração.
senti o seu pulsar,
como estertor de paixão,
a morrer por não amar;
Quase gritei por ti,
num grito rouco sem jeito,
apeteceu-me beijar-te,
apertar-te contra o peito;
Ficámos ali parados,
sem saber o que dizer,
parecíamos espantados,
por saber e não querer ter;
Quando me lembro de ti,
recordo esse teu sorriso,
um oceano dentro de mim,
a turbular-me o juízo.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

BAIXA: A DESGRAÇA DA GRAÇA

Dona graça tem um pequeno estabelecimento de hotelaria na Rua Velha, ali na baixa de Coimbra. É dali que, diariamente, extrai o seu sustento e o da sua família. Com muitos suores transpirados, muitos “sapos engolidos”, tantos bêbados aturados, quantas vezes a emprestar o ombro para ouvir dramas, quantas vezes a dar gratuitamente uma sandes à criança romena, assim é o dia-a-dia desta mulher com “M”grande, ao longo de mais de 15 horas diárias passadas no seu pequeno café.
Graça é daquelas heroínas que a história não regista, mas que o povo, na sua memória não esquece. É uma pessoa simpatiquíssima, calma, de trato afável e agradável. Na Baixa todos a conhecem e todos gostam muito dela. Sem o saber, tornou-se numa das muitas árvores-mães desta floresta selvagem em que, no seu impiedoso individualismo, se tornaram as cidades. Cada um olha para o seu umbigo e pouco mais. O que me interessa se o meu vizinho precisa de ajuda? "O que é que eu ganho com isso? Se ele morrer melhor. Eu quero lá saber! Antes ele que eu!" –Pensa cada um para si mesmo.
Graça é inquilina da Câmara Municipal de Coimbra (CMC). Por um pequeno cubículo, paga cerca de 350euros. A Rua Velha, de três metros de largura, é uma transversal da Rua Eduardo Coelho. Um beco sem saída para quem lá entra e um túnel sem luz para aquela mulher.
Há um ano e meio, com o propósito de iniciar as obras no edifício, a CMC, proprietária do imóvel, que em princípio, se destinará a albergar carenciados, entaipou quase completamente a Rua. Deixou uma nesga de cerca de 80 centímetros, para que Graça acedesse ao seu estabelecimento. Resultado deste acto modelo de completa insensibilidade, o seu pequeno estabelecimento tornou-se um istmo, ligado à Rua dos Sapateiros por uma faixa de calçada onde só pode passar uma pessoa de cada vez. Fruto de estar escondida à força, os prejuízos, para esta mulher, têm-se somado ao longo deste ano e meio. De tantas vezes caminhar para a autarquia, as pedras da calçada já conhecem de cor e salteado o seu andar ligeiro e decidido. De engenheira em director de serviços, Graça, sente ser uma bola de pingue-pongue. Ninguém a escuta e sente-se completamente ostracizada por uma administração que ao invés de ser sensível aos problemas de quem trabalha, num completo autoritarismo, assobia para o lado. Mas Graça não desiste e vai vencer; escrevam nos seus livros negros os burocratas autistas e incompetentes
Devido a este entaipamento forçado, durante o último mês de Setembro, o estabelecimento de Graça foi assaltado 3 vezes durante a noite e uma vez durante o dia com recurso a violência espelhado nos hematomas deixados no seu pescoço. Este mês de Outubro, que vai no princípio, já voltou a ser assaltada, mais uma vez .
Como se toda esta desgraça fosse insuficiente para esta graça de mulher, no feriado do 5 de Outubro, a coberto de estar encerrado o estabelecimento, o empreiteiro da obra, certamente a mando de quem lhe paga, ou seja a CMC, tratou de tornar ainda menor o espaço visual da Rua velha. Começou a prolongar o entaipamento para a frente e a passagem, que era já estreita de 80 centímetros, ia passá-la para 60. Ia –disse bem- só que não contava que Graça, por ser feriado, estivesse no estabelecimento. Quando ela se apercebe daquele acto cobarde e de má fé, desata aos gritos e toda agente acorreu. Porém, o empreiteiro, pago para cumprir e não para pensar no prejuízo que pode causar aos outros, continuou como se nada fosse com ele. Até que viu a sua integridade em perigo. Podia ter perdido ontem ali a vida. Graça, uma mulher habitualmente serena e calma, pegou numa rebarbadora, com ela ligada e em riste dispôs-se a limpar um ou dois verdugos. Só então todos pararam. E se tivesse acontecido uma desgraça? A autarquia é uma entidade abstracta, mas constituída por pessoas. Se tivesse acontecido uma desgraça poderiam dormir descansados? Claro que podiam porque não têm consciência e, nos seus actos, são irresponsáveis…até um destes dias.
O que aborrece Graça é pensar que o seu senhorio, a CMC, usa estratagemas de má fé, porque parece querer a obrigá-la a desistir através de meios condenatórios e pouco éticos. Mas se pensam nisso, tirem o cavalinho da chuva. Hão-de mudar de residência muito antes do que ela.
E tem razões de sobejo para pensar assim: A CMC, nas obras particulares, no seu Regulamento, prevê que todos os andaimes montados no Centro Histórico devem ser aéreos, de modo a não obstruir os prédios ao nível do Rés-do-chão. Ora, sendo assim, nas suas obras, porque não cumpre a Câmara o seu próprio Regulamento?

terça-feira, 2 de outubro de 2007

BAIXA DE COIMBRA: ESCOLHER O MAL MENOR



  Na 2ª feira, dia 1 de Outubro, um comerciante da Baixa, com o coração ao pé da boca, emotivamente, de improviso, denunciou o que, a seu ver, constitui uma profunda e descarada omissão das instituições responsáveis pela segurança dos seus munícipes, na prevenção e no combate ao crime contra o património. Sendo ele também uma vítima, referia-se, nomeadamente, aos assaltos constantes e diários, durante a noite, a lojas e a residências. Perante os autarcas, e, em particular o Presidente da Câmara e alguns vereadores, em tom acusatório, referiu a insensibilidade e o pouco empenho no desempenho para que foram legitimamente eleitos.
Uns dias antes, este comerciante falou pessoalmente com um dirigente de uma entidade ligada aos comerciantes a dar-lhe conta de que iria desenvolver “demarches” no sentido de abanar as consciências adormecidas dos políticos partidários, com assento parlamentar na autarquia. Deu-lhe conta de que a situação era insustentável. Humildemente, tentou mostrar-lhe a necessidade de ser a sua organização a liderar o processo, uma vez que aparecendo alguém, fora do sistema, a reivindicar segurança, tal acto, perante os comerciantes, mostraria, a nu, mesmo que sendo injustos no seu juízo de valor, a ineficácia de um ente vocacionado para o “lobing” perante a administração.
Este dirigente declinou tal convite, assim como mostrou profunda aversão ao facto de se darem a conhecer os assaltos na Baixa ao público em geral e, em particular, na imprensa. Referiu que tais anomalias, quando “escarrapachadas” nos jornais eram muito prejudiciais ao Centro Histórico. “Afastava ainda mais as pessoas, pelo sentimento de insegurança que causava nos leitores”. Ao ser-lhe perguntado se, a seu ver, se deveria estar calado, aquele dirigente enumerou as várias reuniões havidas com a administração encarregue da segurança da urbe e ainda outras que estavam programadas proximamente.
No mesmo dia, o tal comerciante orador de improviso na Assembleia, contactou o presidente da Junta de Freguesia de S. Bartolomeu, ao qual expôs o mesmo assunto. Deste, recebeu total apoio, bem como ainda alguns conselhos na melhor forma de fazer passar a mensagem.
Depois destas duas tomadas de posição tão diferentes entre si, nomeadamente a posição de um dirigente de uma organização ligada à defesa do comércio e do Presidente da Junta de Freguesia de S. Bartolomeu, tentemos, por momentos analisar o procedimento de um e de outro. Ou seja, no caso do dirigente, deverão ser postos, imaginariamente, nos pratos de uma balança, os dois males – o prejuízo causado à Baixa pela divulgação das notícias, por um lado, e, por outro, os repetidos assaltos aos comerciantes. Assim sendo, qual destes males, não sendo nenhum deles de estimação, qual se deve optar? Qual é o menos gravoso? Penso que isso é evidente. Menos para o dirigente. Para ele e outros, deve-se enterrar a cabeça na areia, no buraco do politicamente correcto e fazer o jogo do “faz de conta” de que “no lo passa nada”. Afinal o que é que são umas dezenas de lojas assaltadas? Pouca coisa. O que interessa é que pareça que está tudo bem. Afinal sempre existiram mártires. E os comerciantes assaltados, em nome da nomenclatura deveriam estar calados. "Estafermos! A porem o interesse individual acima do bem comum. Por aqui se vê a crise do patriotismo e, neste caso, da cidadania". Na óptica deste dirigente, cidadania não é denunciar. Nada disso. É precisamente o contrário: calar. Mesmo que sacrifique a maioria em prol de uma minoria. Isto quer dizer que é preciso, com urgência rever o Direito Constitucional. Está tudo mal.
Para o Presidente da Junta de Freguesia de S. Bartolomeu, uma salva de palmas. Esteve e está muito bem, sempre ao lado dos mais prejudicados.

ABAIXO O CHORADINHO

Quando eu morrer, qualquer dia,
não quero gente a chorar,
quero sentir alegria,
de ninguém se lamentar;
Quero uma grande festa,
com cantares que eu cantei,
quero partir desta,
da mesma forma que entrei;
Quero um bolo muito grande,
vinho tinto a jorrar,
quero ter gente feliz,
para me acompanhar;
Para tristeza já me basta,
a vida que eu levei,
agora que já estou livre,
quero dar o que não dei;
A vida é uma passagem,
entre o nascimento e a morte,
é um vento, é uma aragem,
um virar de página, um corte.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

CARTA A UM ROSTO CONHECIDO

Esse teu sorriso encantador,
desconcerta-me, faz-me voar,
diz-me algo, fala-me, por favor,
uma frase tua e irei sonhar;
Esses teus olhos marotos,
são imensos como o mar,
sejam direitos ou canhotos,
gostaria de te amar;
Essa tua boca prometedora,
parece a entrada do paraíso,
tens uma alma eternecedora,
faz-me perder o juízo;
O teu rosto é belo demais,
para um qualquer jardim,
tão diferente entre os tais,
que me faz pensar assim;
Se é tão belo porque sem dono?
Eu sei, não abdicas da tua liberdade,
és generosa, trabalhas p'ro bono,
porquê esse olhar de saudade?
Aposto que muito amaste,
um ingrato, não te mereceu,
por ele tanto choraste,
afinal, uma pena, tudo morreu;
Eu sei que és especial,
basta-me olhar para ti,
és incapaz de fazer mal,
muito menos para mim;
Não percas a esperança lindinha,
o mundo é imenso e variado,
vai haver um qualquer perninha,
que ficará embeiçado;
Mas se estás só porque sorris?
è dos outros ou é de mim?
Não sei porque te ris,
se é para mim, se é de ti;
Eu sei que rir é tão bom,
viver uma felicidade,
é música num certo tom,
é reviver a saudade;
Todos vivemos "aquela" recordação,
tão esquecida pelo tempo gastador,
mesmo assim, não queres voltar atrás, não,
tu procuras um grande amor;
Sei que o vais encontrar,
mesmo não sendo eu presciente,
basta começares a olhar,
é ele estará presente.