quarta-feira, 3 de maio de 2017

A SORTE DE VIVERMOS NUMA CIDADE DE PAZ

(Imagem de arquivo)




CENA I

Ontem, terça-feira, pouco passava das 21h00 na Praça 8 de Maio. O tempo estava ameno, sem brisa fria a correr, fazia lembrar uma noite de verão. O antigo Largo de Sansão estava composto com algumas pessoas sentadas no lancil do lago central e instalado em frente ao Panteão Nacional. A esplanada do Café Santa Cruz tinha vários pares de estrangeiros a tomar uma bebida e à sua volta, em moldura humana, algumas pessoas, entretidas a ver a paisagem, estavam acomodadas no corrimão de pedra que serpenteia o espaço ocupado com mesas e cadeiras.
Um casal de estrangeiros já curvados sob o peso dos anos, com ar molengão e despreocupados, em passo lento de passeata, quando passava em frente à Igreja de Santa Cruz foi abordado por um indivíduo novo, esguio e de cerca de uma trintena de anos, cabelo rapado e com aspecto de toxicodependente. Em inglês pedia uma moeda ao par de turistas. No percurso de vinte metros, entre o patim da igreja e a rampa que dá acesso à Rua Visconde da Luz, o assédio foi subindo de tom. Quando os três chegaram ao prédio do desaparecido BES, perante a calma dos ingleses, o energúmeno, inclinado e muito irado, já gritava a plenos pulmões: “give me a coin... CARALHO!”. E prosseguia: “CARALHO... CARALHO!, estão a ouvir ingleses de merda?
Ao lado, no banco de pedra onde costuma estar sentada a Adelaide a vender pistáchios, um grupo de de três malfeitores iguais e com o mesmo tipo de rosto façanhudo, talvez a darem cobertura à besta, gozavam a cena. Encolhidos sobre si mesmo, mais que certo tentando fazer do medo forças hercúleas, caminhando na direcção do Café Santa Cruz em busca de ilusória protecção pela molhe humana, as únicas palavras que se ouviram dos viajantes em trânsito pela cidade foi: “we do not speak English” (não falamos inglês).
Com a 2.ª Esquadra escondida pelo edifício da Câmara Municipal, a pouco mais de cinquenta metros, nem um agente da PSP se avistava nas redondezas.

CENA II

Ontem, em Coimbra, realizou-se a comemoração do 139.º aniversário da PSP . Segundo o Diário de Coimbra, “A cerimónia solene, que decorreu no Convento São Francisco, foi encerrada por Isabel Oneto, com a governanta a centrar atenções nos desafios que se colocam às forças policiais.
Continuando a citar o jornal, “A melhoria de condições passa, notou o superintendente Pedro Teles, “pelo reforço e qualidade dos equipamentos e também, de uma forma especial, por conferir funcionalidade e dignidade às instalações, quer em Coimbra (2ª Esquadra e Esquadra de Trânsito), quer na Figueira da Foz.
E ainda no desenvolvimento da notícia, Manuel Machado, presidente da autarquia, “assinalou uma acção policial “que tem contribuído para caracterizar Coimbra como uma cidade de paz -o que motiva a visita, a actividade económica, a cidadania, e conforta a vida aos cidadãos”.

CENA III

Imagina-se o casal de turistas incomodado pelo pedinte malfeitor a chegar ao Reino Unido, todo feliz e contente, a espalhar na sua comunidade as poderosas palavras securitárias do superintendente Pedro Teles e Manuel Machado, o presidente da Câmara Municipal.

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