quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

EDITORIAL: O FORROBODÓ DAS NOMEAÇÕES NA EMPRESA ÁGUAS DE COIMBRA

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)





O Diário de Coimbra (DC) de hoje, na página 06, titula: “PSD repudia nomeação de José Ferreira Nunes para as Águas de Coimbra”. Continuando a citar o jornal, “A nomeação de Ferreira Nunes para o Conselho de Administração da empresa municipal Águas de Coimbra, divulgada anteontem em reunião da Câmara, está a ser questionada e mesmo repudiada pelo PSD, que coloca em causa a legalidade da indigitação da autarquia. (…) o PSD de Coimbra manifestou “repúdio pela nomeação do Sr. Ferreira Nunes, por este não possuir a devida formação, currículo e experiência para a função de administrador”, querendo ainda saber se o nomeado “teve, tem ou mantém negócios ou qualquer outra relação contratual com a empresa Águas de Coimbra.

SALAZAR, ESTÁ QUIETINHO...

Para a formação da consciência pública, para a criação de determinado ambiente, dada a ausência de espírito crítico ou a dificuldade de averiguação individual, a aparência vale a realidade, ou seja, a aparência é uma realidade política. E este errado conhecimento das coisas é pior que a ignorância delas -Discursos (1940), Salazar


Antes de entrar na análise do corpo da notícia do DC e da citação de António Oliveira Salazar, estadista nacionalista português -que aqui se aflora pelo seu lugar na história contemporânea de Portugal e não por qualquer saudosismo exacerbado, eleito em 2007, pela RTP, o maior português de sempre-, sem querer tomar partido entre o PS e o PSD, como cidadão, mais ou menos atento ao que se passa à sua volta, que gosta de ver as coisas com olhos de ver, era bom contar um pouco da história da empresa Águas de Coimbra.
A empresa Águas de Coimbra (AC) nasceu em 2003 na vigência de Carlos Encarnação, eleito pelo PSD, presidente da Câmara Municipal de Coimbra entre 2001 e finais de 2010, quando renunciou, nesta altura, a favor do seu-vice-presidente Barbosa de Melo. Logo em 2003 foi nomeado presidente do conselho de Administração da AC o então vice-presidente de Encarnação, Pina Prata e ex-aequo presidente da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, extinta por processo de falência no ano passado. Como é sabido, por quem se lembra, Prata, por dissidências internas, entrou em rotura com Carlos Encarnação. Foi substituído na gestão das águas por Paulo Canha, já falecido e o subsequente seguidor na presidência da ACIC de Pina. Canha seria transferido para as Águas do Mondego e entraria Jorge Temido. A seguir a Temido entraram outros gestores, todos na linha ideológica do PSD. O que é histórico e gostava de relevar é que numa década os processos em tribunal investigados pelo DCIAP aos administradores foram mais que muitos -e, com a prevalência da presunção de inocência, não estou a escrever que foram todos inculpados, lembro-me que alguns foram absolvidos. Sobre o ponto de vista documental, gostava apenas de ressalvar o monte de problemas e o aproveitamento político-partidário que foi sempre esta empresa municipal de Coimbra -e que, pelos vistos, agora com a edilidade sobre gerência do PS continua a ser.

MAS, NÃO HÁ VERGONHA?

Prosseguindo no pensamento de Salazar, que dizia: “é apenas verdade que se pode fazer administração fora de toda a política partidária, mas neste sentido estrito não se há-de dizer ”pode-se”, há-de dizer-se “deve-se”. Quando, porém, se tem em mente a verdadeira, a alta acepção da palavra “política”, julgo impossível fazer-se, sem esta, administração que se imponha e valha” -extractos de discursos, 1930.
Em face do que os cidadãos em Coimbra, e no restante Portugal, assistem nesta "ResPública das Bananas", o que se espera para acabar com este regabofe das nomeações? O que falta para separar a “administração da Coisa Pública” da “administração política”? Porque razão é que sempre que mudam os eleitos os gestores de empresas municipais e da administração pública são substituídos? Dá jeito, sabemos, para colocar os prosélitos, mas, ao menos façam a coisa de modo mais subliminar e decente. O cidadão é estúpido? Valha-os Deus! Depois queixam-se de Trump ter sido eleito nos Estados Unidos e a Europa estar a virar à direita? Quem são os estúpidos aqui?
(Escusado será dizer que o pensamento de Salazar não é para levar em conta)

1 comentário:

Anónimo disse...

"Escusado será dizer que o pensamento de Salazar não é para levar em conta"

Tem toda a razão e aprecio o toque de ironia na citação do Salazar. Como se sabe, quando a velha raposa hipócrita dizia que “é apenas verdade que se pode fazer administração fora de toda a política partidária", sabia bem que quem não pertencia à União Nacional (depois ANP), o único partido autorizado, não tinha lugares de topo na Administração Pública. A inscrição na UN era até feita nos próprios governos civis. Já para não falar na acumulação com as grandes empresas privadas. Boa malha, Luís Fernandes. Citar o Salazar, só mesmo por brincadeira.