quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS: O HOMEM DA CATATUA





Ontem, dei de chofre com ele a passear na Baixa. Altivo, cheio de galhardia, com a sua catatua no ombro, mais que certo, sabia que no meio de tantos transeuntes onde a singularidade escasseia a sua pose era peculiar e chamava a atenção. De vez em quando afagava a cabeça do pássaro com ternura e, num diálogo a uma só voz, trocava impressões com a ave.
Dá pelo nome de Jorge Cunha. É natural de Monte Redondo, próximo de Pombal. Embora se encontre a trabalhar em França, na construção civil, como gosta muito de Coimbra, sempre que vem a Portugal dá um saltinho à nossa santa padroeira dos estudantes.
Embora o animal estivesse preso com um fino cordel perguntei-lhe se, para o manter perto de si, tem de estar amarrado. Disse que não. Alegou que o mantinha assim porque o bicho estranhava o bulício da cidade. Lá em casa, em Monte Redondo, andava sempre solto e voltava sempre ao seu ombro ao toque de um assobio. Gosta muito de pássaros. Este é já o décimo-segundo. “São uns amores! Você sabe lá?!?”. Constata e interroga-me em pergunta de retórica.

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