quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

QUEM AJUDA O FERREIRA DA COSTA? É NATAL, NÃO É?





No dia 1 de Outubro, último, descrevi aqui em palavras a angústia do José António Ferreira da Costa. Durante décadas foi arrumador de automóveis na margem esquerda. Estou convencido que é conhecido por mais de dois terços dos habitantes da cidade de Coimbra. Durante mais de vinte anos, a troco de uma moeda doada voluntariamente, ajudou muitas pessoas a encaixar a sua viatura num lugar seguro e à sua guarda.
Relembrando o artigo que escrevi, no ano passado, em Setembro de 2015, quando as folhas começavam a amarelecer e a se desprenderem das árvores, numa das vezes que nos encontrámos, contou-me que, através do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), se tinha candidatado a um concurso para técnico de profundidade, vulgo coveiro, promovido pela Câmara Municipal de Coimbra, que tinha sido seleccionado, e já estava a trabalhar no Cemitério da Conchada. Parecia irradiar felicidade. Pensei para comigo como, contrariando a precariedade e a insegurança do rendimento, um trabalho garantido pode constituir o fermento para uma boa cozedura no futuro de cada um de nós.
Então em Outubro, último, o Ferreira, trémulo e ansioso, carregando no rosto o desespero de desempregado, veio pedir auxílio: “Depois de um ano a trabalhar no Cemitério da Conchada, por conta de um contrato estabelecido entre os Recursos Humanos, da Câmara Municipal, e o IEFP, sem que nada o fizesse prever, mandaram-me embora. O meu vínculo contratual era através de um POC, Programa Ocupacional, do desemprego. Anteriormente ouvi o engenheiro dizer ao encarregado que o contrato era para revalidar se eu me portasse bem. Como eu precisava deste trabalho como pão para a boca, é claro que fiz tudo para cumprir. Estava convencido que era para continuar. Sem uma palavra de despedida, no dia 31 de Agosto, no último dia do contrato, o encarregado ordenou apenas que deixasse o fardamento, e mais nada! À minha pergunta se o que estavam a fazer estava correcto, o mestre respondeu que, embora não entendesse a medida do superior hierárquico, estava a cumprir ordens. Tinham falta de pessoal. Este despedimento não fazia sentido, disse-me o encarregado à laia de despedida, sem abraços nem palavras de incentivo. Não lhe disse mais nada. Valia de alguma coisa? Que lhe importava a ele ou ao superior se eu, sem aquele ordenado de 508,00 euros, ficava literalmente na miséria? Se eu lhes dissesse que sem a minha mensalidade o único rendimento que passa a entrar no meu lar é o da minha mulher, que ganha cerca de 450 euros, iriam perder o sono? Se eu mostrasse o meu recibo da renda de 300,00 euros, quereriam eles saber disso? Se eu contasse que agora não tenho direito a qualquer subsídio e estou a passar mal?
De pouco valeu eu ter escrito este texto. Até hoje o Ferreira da Costa, como náufrago, continua à procura de um apoio que lhe permita sobreviver e viver com dignidade neste mar encapelado. De lágrimas nos olhos, muito mais tristonho e acinzentado, hoje veio novamente pedir ajuda. Já foi a dezenas de empresas, já foi a recursos humanos de várias instituições e em todas lhe é transmitido o seguinte: “como o senhor não está a receber pelo IEFP, Instituto de Emprego e Formação Profissional, não o poderemos admitir”.
Faz sentido esta prerrogativa? Se o Costa está inscrito não deveria bastar? Quer dizer, ele, que nada tem -nem sequer dinheiro para ir de autocarro a uma entrevista nos arrabaldes da cidade- fica atrás dos que têm alguma coisa? Não recebendo subsídio de desemprego ou Rendimento Mínimo Garantido (RSI) não deveria ser colocado à frente?
O que roga o José António? Pede bens alimentares? Pede roupa? Pede uma casa à Câmara Municipal? Não! O Costa pede trabalho. O Costa quer trabalhar para poder manter a família -nas entrelinhas entendi que se não conseguir emprego a desunião está em marcha.
Nesta quadra de Natal, como em anos anteriores, onde a hipocrisia reina em dádivas de sacola que servem para humilhar quem recebe e lavar a alma de quem dá, para quem precisa e quer trabalhar não há benevolência nem humanidade. Em silogismo, é como se a sociedade estivesse mais interessada em manter os pobres “ad eternum” no mesmo patamar de miséria.
Retirando as minhas bacocas análises de circunstância, e escrevo para si, leitor, que me lê neste momento: se você pode, de algum modo nem que seja com informação, ajudar o José Costa, por que não o faz? O que é que fez de solidário neste Natal? Que tipo de humanismo carrega você nesse seu coração? Ajude o Costa, porra!

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