quarta-feira, 7 de setembro de 2016

UM PENSAMENTO DE VEZ EM QUANDO: O BOM CIDADÃO

Resultado de imagem para não ver, não ouvir, não falar
(Retirado da Web, de aqui)




No quotidiano dos dias, acerca de um conhecido, é vulgar ouvir, ou ler na imprensa acerca de alguém que se finou frases comuns lapidares: “vivia a sua vida, não se envolvia com ninguém e todos o/a tínhamos em grande consideração. Era uma óptima pessoa. ”
A colectividade adora gente amestrada, que nunca reclama de nada nem de ninguém. Este género de pessoas, que sempre nos lembra alguém próximo, são a antítese, a anti-tese, da cidadania. Este modelo de vizinho poderia ser representado com as três imagens do “não ouço nada”, “não vejo nada”, “não falo nada”.
Nunca solicitem a estas pessoas que sejam testemunhas de um facto ocasional, mesmo que o seu depoimento seja fundamental para que não se pratique uma injustiça. Em face do pedido, a resposta é sempre a mesma: “sabe, eu dou-me bem com todos (os envolvidos) e não quero arranjar quezília”.
Jamais se espere uma opinião sobre qualquer assunto, mesmo que o mundo esteja a desabar. Invariavelmente, a resposta será: “não me meto nisso. Não me meto nessas coisas!
São seres de convivência apática, onde a indiferença, muitas vezes fria e interesseira, marca o seu percurso de vida. De pose altiva e marcante, em contraste, são criaturas sem convicção, onde o medo estende o seu manto até às coisas mais simples. A raiar o niilista, onde o pessimismo e o cepticismo são paralelos extremos em qualquer situação de realidade factual. Perseguindo esta escola filosófica negam a prática política -nunca exercem o direito de votar-, repudiam o princípio associativo que conduza ao bem-comum -raramente praticam um acto de caridade-, não acreditam que a economia é o motor de desenvolvimento social que emancipa os povos e torna mais igual a desigualdade.
Embora não acreditando, pelo calculismo crescente, também não renegam a existência de um ente superior, Deus, e é vê-los ao Domingo a caminhar para a igreja mais próxima. Será de supor que as suas orações serão sempre reivindicativas e a marcar a ameaça velada ao Senhor. Nas suas cabeças, aparentemente bem arrumadas, voam teses de conspiração contra a sua pessoa. A sua vida privada constitui segredo de Estado. Nada se sabe dos seus gostos, desvios, ou desvarios.
No estertor da Monarquia, Rafael Bordalo Pinheiro, através do “boneco” do “Zé Povinho”, soube caricaturar muito bem este sofredor do silêncio.
Como não podia deixar de ser, a doutrina do Estado Novo, no anterior regime, espalhava ao vento este modelo de sujeito indiferente, não interventivo na colectividade, como a maior virtude entre as virtudes. Os que versavam a discussão e punham em dúvida o pensamento aglutinador eram classificados como comunistas.
Hoje os governos, ditos democráticos, semeiam e apregoam a participação popular como o décimo primeiro mandamento, mas, no fundo, odeiam quem a pratica.
Os tempos mudaram mas o homem, em sentido literal, mantém-se igual a si mesmo.

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