sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

A APBC REUNIU E CHOVEU NO MOLHADO (1)




Cerca das 20h00 de ontem, perante o espírito invisível do velho Juvenal e cerca de uma trintena de comerciantes, no antigo Salão Brazil, Vitor Marques, presidente da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, deu as boas-vindas aos presentes. Começou por regozijar-se pelo facto de, contrariamente ao último encontro em que estiveram cerca de uma dezena de comerciantes, estarem ali mais de trinta profissionais do comércio. Lamentando a falta de dinheiro e pedindo a colaboração de todos, mostrou o plano de actividades para o ano em curso. Foi dizendo que, com a conta bancária caucionada a descoberto, as despesas correntes da agência calculam para o ano em curso um montante de 25 mil euros e as previsões cabimentadas em quotas de associados, cerca de 70, chegam apenas aos 8 mil euros. “Foi deliberado um subsídio de 35 mil euros”, mas pela insuficiência, “neste momento, não temos nenhum projecto aprovado”, enfatizou.

QUANTOS SÃO? QUANTOS SÃO?

Alfredo Borges, proprietário da Adega Paço do Conde, lançando a primeira acha para a fogueira, começou por interrogar o orador: “qual é o sector que mais beneficia com os eventos da APBC? Quantos hoteleiros, para além de mim, estão aqui?” –atrás de Alfredo quatro vozinhas doces, femininas, em coro, disseram: “nós estamos aqui!”
Mas Alfredo, homem sem peias na língua, que estava ali para pôr os pratos limpos na mesa, cheio de pica, continuou: “quem representa a Câmara aqui, hoje?”
Vitor Marques, economista e sócio do Café Santa Cruz, lá ia tentando fazer frente como podia ao torpedo Alfredo e à questão da falta de representatividade autárquica disse: “nós tínhamos um representante na agência a representar a Câmara e foi ocupar outras funções. Hoje não temos representação”, aduziu.

Salvo melhor opinião, por força das alterações da Lei 50/2012, que levou à extinção da Empresa Municipal de Turismo de Coimbra, embora a legislação permita a participação dos municípios em associações de direito privado –a APBC é uma associação de direito privado ou público? Ou é uma grande caldeirada?- obrigou a adaptações. Sem saber ler nem escrever sobre questões de direito, avoco que o levantamento do quadro camarário não foi inocente. Confesso totalmente a ignorância, mas creio que esta ausência será definitiva, o que leva a interrogar: sem a comparticipação camarária e com as alterações dos programas do Quadro Comunitário de Apoio que futuro para esta entidade?

Prosseguiu Alfredo, “o que faz a Câmara por nós, pela hotelaria que também não está cá hoje?”. Retorquiu Marques: “temos o problema das esplanadas. Sabem lá a conta que, para pagar em cinco dias, recebi da Câmara?”
Alguém do público pergunta: qual a verba? Marques titubeia e não disse qual o montante.
A mesma pessoa da assistência, virando-se para António Madeira, dono do Hotel Oslo, em Coimbra, e membro da direcção da AHRESP, Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, disse lamentar que a associação representativa dos hoteleiros não tivesse marcado uma posição na cidade em defesa dos profissionais do sector.
Ao repto respondeu Madeira que em Setembro de 2015 houve uma reunião entre a AHRESP e o presidente da Câmara Municipal, Manuel Machado, e, por este, foi dito que haveria isenções desde que fossem solicitadas. Segundo alegou, em janeiro deste ano foram surpreendidos pelos elevados pagamentos pedidos pela autarquia e para serem liquidados em cinco dias, sobre pena de multas elevadas. “Estamos convencidos que haverá isenções para quem a pedir”, enfatizou o director da AHRESP.
Vitor Marques aproveita a boleia e diz: “eu pedi isenção!”

REGRAS CLARAS E EQUITATIVAS PARA TODOS PRECISAM-SE

Salvo melhor interpretação, ficou ali a balouçar um esquisito cheiro a terra queimada. Pela adjectivação, quero dizer que quem pagou antecipadamente, inevitavelmente, vai queixar-se ao Totta. Em nome do princípio da transparência, que deve acompanhar todos os actos públicos, a oposição no executivo municipal deve clarificar esta estranha deliberação camarária. Por outro lado, a haver isenções, a lista dos beneficiados deve ser tornada pública. Se assim não for, ficamos na ideia de que uns serão mais iguais do que outros.

CONFUSÃO NO OBJECTO

Quem esteve ontem presente no desaparecido Salão Brazil e agora sede do Jazz ao Centro Clube, mais que certo para quem se debruçou sobre esta questão, não sabia se estava perante a direcção da APBC se da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, que, tanto quanto me apercebi, não teve ninguém presente. Por que não teve lá um representante? A associação comercial já morreu e, não fazendo anunciar o funeral, ninguém sabe? Por parte do anfitrião não foi enviado convite para estar? Perguntas que ficam no ar e responda quem souber.
É que o objecto social de cada uma destas entidades são completamente diferenciados. À ACIC cabe (deveria caber) representar os seus associados e defender os interesses de toda a classe, comercial e industrial.
 Já à APBC, através do plasmado no seu artigo Terceiro, embora com algumas derivas, está atribuída “a promoção e modernização da zona da baixa de Coimbra, visando a requalificação daquela zona e o desenvolvimento da gestão unitária e integrada de serviços de interesse comum”. Leia aqui o artigo terceiro.
Ora o que assistimos ontem mais uma vez, e igual a tantas reuniões anteriores, numa confusão que já vem de longe, foi uma mistura de atribuições. Não admira que os comerciantes estejam entregues a si mesmo e terem chegado a um deplorável, triste e lamentável, estado de indigência.

(ARTIGO EM CONTINUAÇÃO)


"A APBC REUNIU E CHOVEU NO MOLHADO (2)"




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