terça-feira, 19 de janeiro de 2016

EDITORIAL: AS PRESIDENCIAIS E O PAÍS DO QUER MAS NÃO QUER





Durante a manhã, assisti pela televisão, na SIC Notícias, ao programa “Opinião pública” em que o convidado a debater a opinião dos telespectadores foi Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rãs. No caso, e naturalmente, o tema em discussão era a sua candidatura a Presidente da República.
Ainda que em amostra, por parte dos intervenientes que se expressaram pelo telefone, aquele apontamento de cerca de cinquenta minutos mostrou verdadeiramente o país que somos, o que queremos ser e quem aceitamos para nos representar. Alguns participantes roçaram a boçalidade e sobretudo um foi até insultuoso ao opinar que o candidato não tinha formação intelectual nem sabia falar para representar a mais alta magistratura da nação.
Antes de prosseguir vou fazer uma ressalva: não votarei neste candidato. No entanto, numa campanha medíocre a todos os níveis onde, pelo seu desempenho de comentador político, os meios de conhecimento público ao alcance de um aspirante a Belém distorcem e apagam todos os outros nove, este homem simples, do povo, Vitorino Silva é o único que se salienta no grupo da dezena. E, já que falo nisto, interrogo se por parte dos canais televisivos não há intenção deliberada de fabricar líderes populistas? Quem ganha com esta instrumentalização? E mais, estará certo, é deontológico, enquanto primado ético de dever e obrigação, continuar-se a apostar em comentadores ligados aos partidos? O império destes pregadores partidários pagos a peso de ouro e com experiência governamental onde, entre dezenas e dezenas, se contam Santana Lopes, Morais Sarmento, Sócrates, Ferreira Leite, Marques Mendes, trouxe alguma coisa de novo ao debate político? O país está melhor? Mais esclarecido? Ganhou alguma coisa com eles?
Voltando aos comentários no programa “Opinião pública” por parte dos participantes, deu para ver que, no dia-a-dia, todos defendemos uma grande volta na política partidária e até chegamos a defender a substituição dos licenciados por trabalhadores à frente da organização dos partidos mas quando aparece algum é escarnecido, maltratado e não se leva a sério. É evidente que este procedimento assenta no endeusamento que sempre se teve em torno de um burro com canudo –sem ofensa para os licenciados. Somos um pequeno rectângulo com pouco mais de dez milhões de habitantes, ou seja, em consequência da pequenez sofremos a síndrome do dobrar a espinha. Precisamos desse prestar vassalagem como de pão para a boca. Para além do costume social é um comportamento típico de algumas cidades portuguesas como Coimbra, por exemplo.
Mas o que dizer de um país com mais de 200 milhões como o Brasil que elegeu um operário metalúrgico como Lula da Silva? Passando o apregoado financiamento pouco claro de luvas para a sua eleição ligado a grandes empresas petrolíferas, Lula, pelas suas políticas sociais, bateu recordes de popularidade durante o seu mandato.
Como entender que os uruguaios tivessem feito eleger um Presidente da República agricultor de 2010 a 2015? É certo que no caso de José Mujica e Lula da Silva contaram os seus passados de luta e resistência às ditaduras dos seus países, mas não deixa de ser um caso de estudo que serve para comparar com Portugal onde mesmo no período pós-revolucionário de 1974 -tirando alguns deputados eleitos na altura e salvo alguma excepção que não lembro-, nunca houve lugar aos proletários para ocuparem cargos de elevada responsabilidade no Estado. Como se os universitários fossem mais competentes e sérios que os trabalhadores, não depositamos confiança nos homens de tarimba, com experiência empírica. Veja-se, como exemplo, a nova lei para avaliador oficial reconhecido pela Contrastaria INCM, Imprensa Nacional Casa da Moeda, que obriga a possuir o 12.º ano de escolaridade e colocando completamente de parte o saber-fazer e o conhecimento de grandes mestres de ourivesaria e materiais gemológicos (pedras preciosas).
Se podemos argumentar que Vitorino Silva, o conhecido Tino de Rãs, talvez não tenha o traquejo argumentativo de outros concorrentes, no entanto, não podemos presumir de ânimo leve da sua pouca competência. Aliás, estou em querer que, pelo enorme querer e grande vontade que expressa, o futuro vai dizer que este homem vai longe na política. É uma grande lição para quem a quiser tomar. Deveria ser entendido como o português excepcional que, vindo do fundo da tabela como calceteiro, chegou à Universidade –disse no referido programa da SIC que frequenta a faculdade- e, contra todas as descrenças, é candidato à Presidência da República.
Quem tem medo da história de Tino de Rãs? Será que, comparando com os demais, incomoda o seu passado de trabalho e persistência? 

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