quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

CHEIAS SAGRADAS: A CÂMARA MUNICIPAL ASSOBIA MUITO BEM




O Diário as Beiras de hoje, em primeira página, noticia “Bares e restaurantes do Parque Verde em rota de colisão com a Câmara de Coimbra”. Em continuação, na página 5, escreve-se o seguinte: “O administrador do complexo de bares e restaurantes do Parque Verde do Mondego referiu ontem que os prejuízos das inundações de 11 de janeiro ascendem a valores entre 2,5 e três milhões de euros, acrescentando que os seguros não cobrem estes danos, o que mereceu imediatamente uma reação enérgica da Câmara Municipal de Coimbra. Ler aqui o comunicado da edilidade. O representante dos comerciantes de restauração, Rogério Emídio Silva, disse que não está a ser equacionado avançar já com obras de recuperação das instalações –parcialmente destruídas nas inundações de 11 de janeiro- porque não faz sentido executar agora o investimento para que “daqui a 15 dias, haja uma nova cheia”. O administrador do condomínio comercial acrescentou que, desde 2004, já se registaram inundações por 14 vezes, o que leva as seguradoras a não aceitar fazer “seguros contra cheias”, devido ao “excesso de sinistralidade”.

LAVAR AS MÃOS COMO PILATOS

Vamos por partes. Esta inundação foi única na última década? Não, nos últimos tempos o fenómeno repete-se ano-após-ano, e desde 2001 que os alagamentos são uma constante. São somente os hoteleiros do Parque Verde que estão lesados? Não, a margem esquerda, junto ao Liceu D. Duarte, continua a ser fustigada pela invasão das águas e, segundo parece, muitas pessoas sofreram elevados prejuízos decorrentes da água em excesso. A própria Baixa, segundo se consta, com o assoreamento das areias no rio está cada vez mais ao nível do lençol freático e sofre a ameaça de vir a ser transbordada. Perante o grande caudal do Mondego neste mês de Janeiro esteve na iminência de, mais uma vez, ser alagada. A última grande cheia, que inundou vários estabelecimentos, foi em 24 de Dezembro de 2013. Mas houve outros dilúvios anunciados que causaram grande preocupação aos comerciantes.
Mais uma pergunta: os responsáveis da Câmara Municipal de Coimbra (CMC) não sabem o que se passa? Podem passar a bola para os prejudicados, lembrando que estão obrigados a ter seguros, e lavando daí as mãos? Lá poder podem, mas politicamente, já para não falar em moral e ética, só lhes fica mal. Numa altura em que, na generalidade, os empresários e comerciantes sofrem as agruras de cinco anos de austeridade e estão completamente descapitalizados, esta posição do executivo da CMC demonstra, preto no branco, que se está a marimbar para as dificuldades dos operadores económicos do concelho. Aliás, nem será de estranhar, já este mês também procedeu assim em relação ao pagamento de licenças de esplanada. Numa interrogação bacoca, é caso para perguntar: será que esta autarquia socialista, confundindo os pequeníssimos operadores como representantes do grande capital, odeia os criadores de riqueza e, esquecendo que faz parte do problema, aparentemente faz tudo para os enterrar ainda mais? Parabéns! Está a conseguir levar o seu intento avante!

LÊEM TODOS PELA MESMA CARTILHA?

Poderemos indagar se esta forma de laxismo, no deixar correr na resolução de grandes problemas para a cidade, é património exclusivo deste poder liderado pelo PS? Não! Claro que não! Basta lembrar o aviso, em 2012, da administração da empresa que gere o barco "Basófias", que opera no lençol de água, quando pela dificuldade de manobrar ameaçou largar de Coimbra para outra cidade. Recordemos também as cheias de 2013 quando, por várias vezes, o leito do rio transbordou e alagou casas e estabelecimentos na margem esquerda e no Parque Verde e, por parte da edilidade, nada foi feito. Diga-se a propósito que, perante a catástrofe de particulares e empresas, o anterior executivo camarário, liderado por Barbosa de Melo, fez a mesma coisa: limitou-se a assobiar para o lado. Nem mesmo quando, em Março de 2013, a então ministra do Ambiente, Assunção Cristas, publicamente anunciou dar luz verde para se desenvolverem os estudos necessários e, segundo as suas declarações na altura, sem custos para a Câmara Municipal de Coimbra.

MINISTÉRIO DO AMBIENTE CHUTA PARA DEUS

Depois de tudo alagado, neste Janeiro, já com o actual Governo como timoneiro, veio a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) afirmarque a ocorrência de cheias no vale do Mondego, sobretudo na zona do Baixo Mondego, é uma «situação recorrente» e que acontece quando há períodos de grande precipitação”.

PASSAGEM PARA A EDP

Uma alegada “descarga abrupta” na barragem da Aguieira para produção de energia elétrica pela EDP estará na origem das cheias que inundaram Coimbra e o Baixo Mondego, na segunda-feira. A denúncia foi feita, ontem, pelos autarcas dos quatro municípios mais afetados -Coimbra, Soure, Montemor-o-Velho e Figueira da Foz – que enviaram um pedido de esclarecimento à Agência Portuguesa do Ambiente (APA), autoridade nacional para a segurança das barragens, com o conhecimento do ministro da tutela”.

QUINZE MILHÕES A METER ÁGUA

“A informação não chegou em tempo útil para podermos agir”, disse Manuel Machado, autarca de Coimbra. Entre as zonas afetadas está o Convento de Santa Clara-a-Velha, que nos anos 90 do século passado foi restaurado com um custo para o Estado de 15 milhões de euros”.

A CULPA VAI CASAR COM QUEM?

Para terminar, neste passar de responsabilidades, acho que só falta mesmo culpar a Rainha Santa Isabel. Quem sabe, do alto da sua eminência e do seu poder intemporal, talvez lá para 2036, comemoração de sete séculos da sua morte, em Estremoz, a dificuldade esteja resolvida. Até lá, vamos todos rezando para que a situação não piore.


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