quinta-feira, 29 de outubro de 2015

QUID IURIS?

(Imagem da Web)




Vamos aos factos. A minha vizinha, a menina Sonsinha Boateira, uma velhota de cerca de noventa anos, deu em espalhar pelas esquinas da minha rua, becos e praças em redor, que eu, cidadão puritano e que quando vê um decote com umas boas mamas cerra a cortina dos olhos, ando a assediá-la e que, para além de ser devasso, tenho em mente a prática de sexo. Como se fosse pouco, como é colaboradora do “Jornal da Caserna” –um matutino que talvez seja pouco conhecido- deu em malhar na minha pessoa e metralhar a minha vida íntima forte e feio. Chega a escrever que sou uma nulidade na cama, que sou mais rápido que Coelho a tombar governo, e que durmo logo a seguir ao acto sexual como uma besta dorminhoca. Para agravar, ainda me acusa de envergonhar o género masculino.
Como é de imaginar, sinto-me em baixo completamente com esta perseguição jornalística e boateira da menina Sonsinha. Os danos na minha pessoa são irreparáveis, com ansiedade crescente e tendência depressiva que, sei lá, para provar a minha masculinidade, pode fazer de mim um potencial violador. Se a minha contra-prestação do meu baixo-ventre poderia até agora deixar algo a desejar –saliento que não houve queixas-, agora, sinto-me um combatente que perdeu a guerra e traz a espingarda ao pendurão.
Sendo uma figura pública na minha rua e arredores, sinto a minha reputação muito abalada. De tal modo que quando mando uns piropos a umas garotas de meio-século que passam por mim, numa displicência provocadora dos maiores conflitos catárticos, estas mulheres dão em rir na minha cara.
Como se vê, nesta contenda liberdade de imprensa/manumissão boateira versus direito ao meu bom nome, onde a ofensa consumada é declarativa, é muito claro que os meus fundamentos são elegíveis e, para além de estar a sentir-me um cidadão de segunda apanha, como quem diz, de rebusco, está de ver que um dos pratos da balança se inclina fortemente para a violação dos meus direitos de personalidade.
Devo intentar uma providência cautelar para calar a boca à Sonsinha e silenciar o "Jornal da Caserna"?

(Qualquer comparação com um caso público que está a decorrer é pura coincidência)

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