segunda-feira, 14 de setembro de 2015

AMANHÃ DEBATE-SE O COMÉRCIO. EU VOU! E TU VAIS?

(Imagem de arquivo)


A CPPME, Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas, sob o lema “QUE FUTURO?”, vai realizar amanhã no Conservatório de Música de Coimbra, situado na Rua Pedro Nunes e por trás do Continente do Vale das Flores, um grande debate sobre as propostas dos partidos e coligações com assento parlamentar, concorrentes nas próximas Eleições Legislativas pelo Círculo Eleitoral de Coimbra. “O objectivo será debater e conhecer as propostas das forças políticas para a área empresarial, designadamente das Micro, Pequenas e Médias Empresas do Concelho de Coimbra
O painel, moderado por João Bizarro, Jornalista da TVI, será constituído por Nuno Encarnação, representante da coligação PSD/CDS, João Galamba, candidato pelo PS, Manuel Rocha, cabeça de lista da coligação PCP/PEV, e Manuel Pureza, candidato a deputado pelo BE.

UMA RARA OPORTUNIDADE

A pouco mais de três semanas das eleições para a Assembleia da República, que ocorrerão no próximo 4 de Outubro, estranhamente em Coimbra, pouco se sabe sobre o que pensam os candidatos a deputados pelo círculo sobre o futuro do comércio tradicional. Tanto quanto sei, é o primeiro que se realiza na cidade. É um tema, com subtemas, que interessa discutir? Ou não? Pela apatia geral, se calhar não.

E QUE SUBTEMAS?

-O encerramento da pequena loja. Desde há cerca de duas décadas que o pequeno estabelecimento na aldeia, vila, bairro e cidade, progressivamente, foi perdendo importância e, umas atrás de outras, foram fechando, contribuindo o seu desaparecimento para a desertificação das áreas de implantação. No situacionismo que vivemos, dificilmente se recuperará o património comercial que se perdeu e com a pouca sensibilidade para o assunto, quer do anterior governo PS quer da actual coligação PSD/CDS, que sempre estiveram mais interessados na cobrança de impostos do que manter vivos estes centros de convívio social, tudo indica que iremos continuar no mesmo encolher de ombros.

-O encerramento de grandes estabelecimentos antigos e históricos. Sem que nada seja feito para defender este vastíssimo património comercial, paulatinamente, continuamos a assistir a insolvências em barda e ao desaparecimento de grandes lojas e perda de milhares de empregos. A filosofia central, governamental, e local é que as empresas são como as pessoas: nascem e morrem. E como tal, o poder político não se deve imiscuir nos seus ciclos de vida económicos –mas, com a desculpa da contaminação, intervém nos bancos e transfere os seus passivos para os contribuintes. Acontece que um estabelecimento, para além de ponto de venda, é também motivo de interesse turístico nacional e a sua permanência no activo constitui um pólo de atracção local.
E como é que se conseguirá manter ou recriar estes motores de desenvolvimento? Através da discriminação positiva de impostos e taxas. A pequeníssima empresa de relevante interesse comunitário, que constituísse um meio de sobrevivência para evitar o desemprego e que não tivesse funcionários deveria estar isenta –é certo que se mantém um certo plafonamento de isenção de impostos pelo movimento anual de caixa mas este apoio não foi suficiente para evitar encerramentos massivos nas últimas duas décadas. O poder local, no mesmo assobiar para o lado, nada faz para aliviar a sobrecarga de taxas e contribui para este claudicar.

OUTROS PROBLEMAS QUE URGE RESOVER

-Criar uma lei para obrigar à reutilização de espaços comerciais abandonados. Com a entrada em vigor do Novo Regime de Arrendamento Urbano, em 28 de Junho de 2006, apenas se teve em mente dois interesses: por um lado, actualizar as matrizes até aí, sobretudo as mais antigas, com valores irrisórios, por outro, favorecer e calar os proprietários espoliados até aí com rendas antigas congeladas, desde o Estado Novo e no após 25 de Abril. O valor maior que deveria acompanhar esta reforma do arrendamento, que era a revitalização das cidades, ficou na gaveta e do que deveria ser um menino nasceu um monstro. Com aquela reestruturação desapareceu por completo a figura jurídica do trespasse e não foram acautelados nem os direitos dos comerciantes nem a continuação da actividade que desenvolviam. Foram simplesmente maltratados. Faz-se o funeral sem uma vela na morte do mercador. Entrámos no tempo da futilidade. Por força da Troika, foi revisto o Regime do Arrendamento em Dezembro de 2011 mas os problemas persistiram para os nossos dias. Resultado desta reorganização? O funcionamento futuro do comércio foi posto completamente em causa. Toda a acção mercantil que tenha por base o arrendamento estará sempre a prazo. Não é que não fosse sempre assim –já que todo o investimento pressupõe um elevado risco associado- o que se salienta é que praticamente desapareceu a passagem para a segunda geração, o definitivo, e deu lugar a um tempo determinado pelas partes. É mais justo assim? Se calhar! Mas há uma consequência a reter desta alteração. Como o risco de não receber as rendas –apesar da aparente simplificação dos despejos- é elevado, na maioria dos casos, os senhorios praticam rendas altíssimas de curto prazo para cobrirem o risco do eventual crédito malparado. Por outro lado, enquanto classe abastada sem grande necessidade, mantém muitas lojas encerradas durante vários anos.

-A legislação sobre promoções e saldos. Está de ver que a recente chamada Lei dos Saldos apenas veio favorecer os grandes grupos económicos e, a coberto do direito, mandar para a falência milhares de pequenos e médios operadores comerciais.

-Os horários comerciais. Embora houvesse várias iniciativas legislativas para fazer encerrar as grandes superfícies ao Domingo, nomeadamente do Bloco de Esquerda e, salvo erro, do PCP, nunca os governos do chamado arco do poder as deixaram passar. Contrariamente ao que se apregoa, esta limitação de horário não visa cercear a livre iniciativa mas antes colocar em paridade duas forças diferenciadas e salvar a parte mais vulnerável. Por mais que se queira, ou se pregue, a pequena loja de bairro jamais poderá praticar os mesmos horários.

-A insensibilidade da máquina fiscal. Pelo que se lê nos jornais diários, as insolvências são accionadas por parte do Estado sem ter em conta todo o saber acumulado do empresário e a sua provável recuperação. Prefere-se, muitas vezes, o encerramento de uma actividade, mantendo os produtos à guarda do fiel depositário durante anos em deterioração contínua e que quando são leiloados já nada valem ou somente uma ínfima parte.

-Os juros usurários do Fisco. Tanto quanto julgo saber, um operador que não entregue atempadamente o IVA sofre um agravamento de 30 por cento e, a seguir, mais uma multa. Ora, está de ver, fazer isto é o mesmo que dar um murro na cabeça a uma pessoa debilitada. O Estado não deveria ter outra consideração por quem não pode cumprir? A norma única de considerar abuso fiscal para todos os incumpridores estará a ser bem aplicada?


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