quinta-feira, 2 de julho de 2015

MAIS UMA TRAGÉDIA COMERCIAL SILENCIOSA





Encerrou a frutaria da Rua da Gala. Durante cinco anos, e seguindo o mesmo ramo anterior de comércio de frutas, funcionou com novo operador. Abruptamente, sem ser anunciado, há dias encerrou sem que Santo António, em painel de azulejos na fachada do prédio, lhe valesse.
Segundo um vizinho que pediu o anonimato, “é mais uma tragédia que se abateu em várias famílias. É um drama para a prole do próprio, o senhor que explorava o negócio –que intencionalmente não refiro o nome-, e para outras que, alegadamente por falência do primeiro, encadeados, teriam ficado em muito mau estado.”
Se é certo que, ao longo da história, sempre assistimos a insolvências, o que perante os nossos olhos está acontecer, demasiadamente repetido, dever-nos-ia fazer pensar. Como estamos num mundo do salve-se quem puder, ninguém fala nisto. Os comerciantes desaparecem da mesma forma que, como cogumelos, emergem na cidade. Não quero dizer que não fosse sempre assim. O que pretendo demonstrar é que esta insegurança que vivemos não pode ser boa para ninguém. Um investimento não pode ser uma armadilha seja para quem for. Quando assim é, demasiadamente renovado perante os nossos olhos, alguma coisa está a funcionar mal. Ou seja, num individualismo feroz, fazemos todos de conta de que não se passa nada. O desespero alheio passou a fazer parte integrante das nossas vidas. O próprio Estado, enquanto garante de salvaguarda do cidadão que ousa romper as malhas de imobilidade e criando riqueza recusa ficar quieto, não cumpre com a obrigação a que está adstrito e abandona quem, por direito, deveria merecer mais protecção do que quem confortavelmente se mantém a surfar a onda. Para os governos centrais e locais os empresários pequenos e pequeníssimos são uma espécie de erva daninha, nascem, crescem e morrem, sem que o seu ciclo de vida seja sentido pela administração. Seguindo a mesma linha do Estado Novo, o poder político apenas se interessa pelo volume do investidor, seja grande grupo ou individual, porque, como parasita a sugar, vive do seu sucesso. É assim que se vê e revê nas fotografias de jornais. A consequência de toda esta omissão, mais que certo, é uma tragédia colectiva para muitas mais famílias que fazem do risco o seu modo de vida. O que estranho é que ninguém fala deste problema. Falta discussão em torno deste assunto.


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