sexta-feira, 24 de julho de 2015

APAGOU-SE O BRINCA DA NOSSA MEMÓRIA






Devagar, devagarinho, como se fosse a natureza a modificar a paisagem, e sem que praticamente déssemos pela alteração, o panorama urbano na Rua Visconde da Luz alterou-se de um dia para o outro.
Depois de mais de meio-século entre nós, sem um ai, sem um aceno de despedida, encerrou a ourivesaria Brinca. Em processo natural de renovação, morre um para dar lugar a outro. Todos já sabemos que é assim mesmo, mas que deixa um sabor amargo lá isso deixa. Ver desaparecer esta velha e mítica ourivesaria é como perder um objecto sagrado e que fazia parte de nós, do nosso quotidiano e do nosso imaginário. Era na sua parede que estava um enorme relógio que nos remetia para os anos de 1950 e que curiosamente –a par com o da Estação Nova- apenas estava certo duas vezes ao dia. Em paradigma, como a mostrar que a Baixa está em mudança e já não tinha lugar nesta nova dinâmica -o inerte contador de tempo estancou nas 9h55 e assim se manteve durante décadas, creio- como velho guerrilheiro, a querer dizer que antes morrer que aceitar os novos tempos comerciais e dali só mesmo para a tumba.
Quem veio substituir a velha loja de venda de artigos em ouro e prata é a MultiÓpticas, uma reconhecida marca de lentes que não precisa de apresentação. Com cinco pontos de venda na cidade, nomeadamente nas grandes superfícies e Retail’s Park’s, esta é a sexta loja e a primeira na Baixa. Com bolo e velas a preceito e funcionários muito simpáticos, a abertura do novo estabelecimento aconteceu neste sábado, 25 de Julho.
Uma grande, mas grande, salva de palmas para quem parte sem pompa nem circunstância e um desejo de boas-vindas para quem vem ocupar o mesmo espaço. Muita vida e felicidade para os que desistem por força de circunstâncias variadas. Muita vida e felicidade, igualmente, para quem vêm de novo e aposta nesta zona em novos conceitos. Estou em crer, escolhem a Baixa porque acreditam que, como eterno retorno às origens e previsível mudança de costumes que está a bater à porta, historicamente aqui, nestas ruas de antanho, nasceu a mercantilização e o futuro está a começar hoje.





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