quarta-feira, 6 de maio de 2015

LEIA O CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS... (ÚLTIMA PÁGINA EDITADA)



ESTA SERÁ A ÚLTIMA PÁGINA EDITADA E ESCRITA POR MIM NESTE SEMANÁRIO DE COIMBRA. RETRIBUINDO A NOTA DA DIRECÇÃO IMPRESSA NESTA EDIÇÃO, TERMINA AQUI A COLABORAÇÃO SEMANAL ENTRE MIM E ESTE JORNAL A QUEM AGRADEÇO O APOIO PRESTADO AO LONGO DE MUITAS EDIÇÕES.


Leia aqui o CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS desta semana.

Na página "OLHARES... POR COIMBRA E PELO PAÍS", na rubrica "NÓS POR CÁ..."  leia  o texto "A LIBERTINAGEM E O DESVALOR DA DIGNIDADE DA PSP" e a crónica "BAIXA": QUANDO A EXCEPÇÃO DEVIA SER A REGRA".


A LIBERTINAGEM E O DESVALOR DA DIGNIDADE DA PSP

1-A semana passada, na Rua Ferreira Borges foram furtadas duas grelhas em ferro que servem de escoamento às águas pluviais. Segundo um comerciante da mesma artéria que pediu o anonimato, “alegadamente isto foi obra da estudantada que, nesta altura das festas académicas, faz o que lhe dá na real gana e ninguém lhe põe cobro”.
Quem visitar e percorrer o Jardim da Sereia corre o risco de se assustar com o grau de destruição patente em todo o recinto. São estátuas em pedra amputadas com selvajaria, sem cabeça, sem braços, sem pernas, sem pés; são vasos enormes cerceados completamente pela base e outros pela metade que desapareceram; são azulejos, presumivelmente do século XVIII, arrancados a esmo e manifestamente com recurso a martelo e a ponteiro.
Depois de ser todo restaurado durante um ano por Victor Eliseu, o presépio de Cabral Antunes foi exposto em 2005, do lado de fora da Câmara Municipal e a vinte metros da esquadra da Polícia de Segurança Pública (PSP), em período de eleições e por ordem de Carlos Encarnação, na altura, o pretor urbano da cidade. Nos meses de dezembro dos anos seguintes, raro foi o Natal em que não rebentaram a caixa de esmolas e escassa foi a quadra em que as imagens não foram vandalizadas. Em 2008, como que a provar que a pedofilia é muito mais do que atração física entre adultos e crianças e que também pode ser por uma figura de bebé em barro, furtaram a imagem do Menino Jesus. Salienta-se que media cerca de oitenta centímetros. Nunca apareceu. Quando se deveria combater esta anormalidade com eficácia, cedeu-se ao vândalo costume criminoso e, fugindo, colocaram-se as imagens gigantes dentro do hall de entrada da autarquia. Em 2013, num gosto duvidoso e mais uma vez falta de afirmação na luta contra o crime, o presépio passou a ser mostrado numa montra do Museu do Chiado, na Rua Ferreira Borges. A sorte destes decisores é Cabral Antunes estar impossibilitado por morte do próprio, caso contrário, ainda atirava com os bonecos à cabeça desta gente.
Todos os anos, por altura da festa da Queima das Fitas, são destruídos na cidade diversos bens económicos e furtados sinais de trânsito e outros valores que custam aos privados e ao erário público milhares de euros. A libertinagem veio para ficar. Perante esta devassidão social a Universidade –que, indirectamente, não pode lavar as mãos da responsabilidade- continua a fazer de conta que não vê o que fazem os seus alunos fora de portas. Que futuros juízes, magistrados do Ministério Público, advogados, professores e outras profissões formativas poderemos esperar destas crianças crescidas e irresponsáveis? O executivo atual da Câmara Municipal, igualmente, faz que não enxerga e continua a pactuar com o ridículo e vazio regulativo dos valores. Mais, para mostrar que é melhor que os anteriores e para manietar uma certa esquerda alinhada pela manifestação artística, esta semana, abriu o saco das moedas de ouro e distribuiu verbas “à la garder” para a cultura, mas não se conhecem medidas para combater e remediar o vandalismo crescente na urbe. Entretanto, por que a cultura é considerada erudita e só para alguns, a cidade continua a assobiar para o ar e assiste sem um queixume.
2- Também na semana, com pompa e circunstância, a PSP comemorou 137 anos, na Praça do Comércio, e recebeu no Salão Nobre a Medalha de Ouro da Cidade. Segundo o Diário de Coimbra (DC), “O comandante distrital da PSP aproveitou as comemorações do 137º aniversário do comando para destacar a “extrema necessidade de sensibilizar os vários níveis de poder para as exigências que se colocam ao serviço policial e para a necessidade de dotar este comando com condições para poder responder bem aos desafios. Pedro Teles salientou que as condições passam pelo “reforço e qualidade dos equipamentos” mas também “pela motivação do pessoal e a sua valorização e por conferir uma maior “funcionalidade e dignidade” às instalações de Coimbra (2ª Esquadra e Esquadra de Trânsito) e Figueira da Foz, que “apresentam deficiências extremas, caracterizadas por uma profunda falta de condições a todos os níveis”, alertou.”
Na mesma cerimónia Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal, e continuando a citar o DC, sublinhou a “conduta cívica” que os agentes de autoridade manifestam sempre que são chamados a atuar. A PSP tem contribuído para que Coimbra seja uma “cidade de paz”, o que estimula a visita e serve de impulso à atividade económica.”
Com todo o respeito pelas declarações dos dois intervenientes, cada um afirmou o que mais lhe convém e pode ser dito publicamente. Já há muito tempo e sobretudo nos últimos anos, a meu ver, os sucessivos comandantes distritais da PSP de Coimbra declaram apenas o que podem. Ou seja, não sendo políticos, pela inerência do cargo, não são livres de dizer o que pensam e, por essa limitação, acabam a fazer o jogo do poder. Talvez por isto mesmo perdoe a Pedro Teles a omissão de não ter declarado que, passados quase um século e meio, a PSP, aos olhos dos cidadãos, é uma corporação que tem vindo intencionalmente a ser ultrapassada por outras forças e desvalorizada pelos sucessivos governos das últimas décadas. A desmotivação desta polícia é uma evidência –isto foi aflorado por Pedro Teles-, em completo prejuízo para as populações citadinas. Orientada por um sistema judicial, enviesado e desequilibrado onde as leis são doutrinadas para a poupança do Estado, este, mais preocupado com os direitos dos detidos do que das vítimas e de quem arrisca a vida para salvaguardar pessoas e bens, o futuro apresenta-se pouco risonho. Talvez se entenda porque liguei o aniversário desta ordem policial ao vandalismo da cidade. Muitos parabéns à PSP e, sobretudo, a todos os agentes que, colocando em risco a sua integridade, se esforçam por manter a segurança.


BAIXA: QUANDO A EXCEPÇÃO DEVIA SER A REGRA

A semana passada uma loja comercial foi inaugurada na Baixa de Coimbra –no caso, tratou-se de uma galeria de um conhecido fotojornalista, colaborador de vários jornais, Carlos Jorge Monteiro, mais conhecido por “Cajó”. Desde Janeiro, último, só nesta área velha abriram cerca de 15 estabelecimentos comerciais –mais à frente vai perceber a razão de ter feito referência a este número.
Por ser um ótimo profissional, uma boa pessoa e muito popular na urbe, nesta abertura da galeria do Monteiro, para além da “high Society”, a alta sociedade da cidade, esteve também presente Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, acompanhado de um séquito de vereadores, assessores e chefes de gabinete.
Antes de prosseguir, tentando colocar ordem no raciocínio, vou fazer algumas perguntas. A primeira é: tendo em conta o facto em causa, não seria esta delegação camarária de peso ridícula?
Agora, indo em sentido contrário na argumentação, interrogo: e porquê ridícula? O chefe de governo local não é livre de ir onde lhe apetece? Não tem o direito de nas suas visitas privilegiar os amigos? Vou responder a estas duas questões. O presidente da edilidade, enquanto “homo economicus” e sujeito de direito privado, pode almoçar, comprar sapatos, adquirir cuecas e meias, cortar o cabelo e barba e fazer as visitas a quem e onde entender. Repito, é do seu foro privado. Depois desta alegação surge outra: e enquanto sujeito de direito público? Onde acaba o âmbito privado e começa o público? E chegados aqui temos a confusão completa. E porquê? Porque não sabemos responder. E esta balbúrdia já vem de longe, sobretudo nos mandatos do atual Presidente da República, Cavaco Silva, esta falta de destrinça tem vindo mais ao de cima. É óbvio que, admitamos, estabelecendo uma linha entre a pessoalidade e o geral de função, não será fácil determinar a fronteira e por isso mesmo o critério fica no livre-arbítrio do estadista. Ou seja, pressupõe-se que o interveniente na ação pública e política que desempenha utilizará o bom-senso para não cair no prejuízo ou favorecimento de alguém. Mas para complicar ainda mais, mesmo sendo de projeção pública, não pode o mandatado escolher, de per si, os acontecimentos que lhe aprouver? Pode, mas sendo criterioso e tendo sempre em conta o interesse social e político.
Voltamos novamente à visita da comissão encabeçada por Machado à galeria e perguntamos: à luz da reflexão, esta visitação foi privada ou pública? Antes de responder podemos indagar: e isso interessa? Acho que interessa sim, sobretudo se a deslocação foi em representação da Câmara Municipal. Pela composição do elenco, tudo indica que foi. E interessa? Porquê? Porque nestes dois anos de reinado do presidente camarário, e sobretudo nos últimos quatro meses, em tantos espaços comerciais que já abriram nesta zona, nunca este edil se deslocou a qualquer um. Ora, esta exceção, enquanto serviço público, deveria ser a regra e não a anormalidade. Já escrevi várias vezes que sempre que alguém abre um negócio deveria ser obrigação do presidente da edilidade apresentar-se ao investidor e desejar-lhe boa sorte. Esta proximidade entre pessoas é política de relações humanas. É viver a polis em toda a sua globalidade, mostrando uma necessária equidade e igualdade, num respeito por quem arrisca.
Tenho para mim que os ocupantes da cadeira presidencial que passaram nos últimos anos na Praça 8 de Maio foram acima de tudo burocratas e péssimos políticos, no sentido em que privilegiaram o gabinete em detrimento do contacto com os munícipes. Aliás, excetuando a campanha eleitoral, parece que fogem dele. E Machado, sendo reservado, foi o semeador da cartilha de manga-de-alpaca –já que esteve à frente da Câmara desde 1989 e até 2001 e foi reeleito em 2013. Encarnação ganhou a edilidade em 2001 e foi dono do seu destino até Dezembro de 2010, quando renunciou a favor de Barbosa de Melo. Estes dois edis, numa linha fechada onde prevaleceu o “low profile” –o aparecer pouco nos media-, seguiram o mesmo exemplo de pouca afetividade com os citadinos.
Respondendo à questão inicial, se toda aquela deslocação presidencial e de vereação para inaugurar uma pequena galeria não era ridícula, não o será se for para fazer o mesmo em investimentos similares futuros. Se foi um caso isolado, mesmo em nome da amizade privada, fica mal tanto aparato público.



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