sexta-feira, 1 de maio de 2015

A LIBERTINAGEM E O DESVALOR DA DIGNIDADE DA PSP







1-A noite passada, na Rua Ferreira Borges foram furtadas duas grelhas rectangulares em ferro que servem de escoamento às águas pluviais. Segundo um comerciante da mesma artéria que pediu o anonimato, “alegadamente isto foi obra da estudantada que, nesta altura das festas académicas, faz o que lhe dá na real gana e ninguém lhe põe cobro”.
Quem visitar e percorrer o Jardim da Sereia corre o risco de se assustar com o grau de destruição patente em todo o recinto. São estátuas em pedra amputadas com selvajaria, sem cabeça, sem braços, sem pernas, sem pés; são vasos enormes cerceados completamente pela base e outros pela metade que desapareceram; são azulejos, presumivelmente do século XVIII, arrancados a esmo e manifestamente com recurso a martelo e a ponteiro.
Depois de ser todo restaurado durante um ano por Victor Eliseu, o presépio de Cabral Antunes foi exposto em 2005, do lado de fora da Câmara Municipal e a vinte metros da esquadra da Polícia de Segurança Pública (PSP), em período de eleições e por ordem de Carlos Encarnação, na altura, o pretor urbano da cidade. Nos meses de Dezembro dos anos seguintes, raro foi o Natal em que não foi rebentada a caixa de esmolas e escassa foi a quadra em que as imagens não foram vandalizadas. Em 2008, como que a provar que a pedofilia é muito mais do que atracção física entre adultos e crianças e que também pode ser por uma figura de bebé em barro, furtaram a imagem do Menino Jesus. Salienta-se que media cerca de oitenta centímetros. Nunca apareceu. Quando se deveria combater esta anormalidade com eficácia, cedeu-se ao vândalo costume criminoso e, fugindo, colocaram-se as imagens gigantes dentro do hall de entrada da autarquia. Em 2013, num gosto duvidoso e mais uma vez falta de afirmação na luta contra o crime, o presépio passou a ser mostrado numa montra do Museu do Chiado, na Rua Ferreira Borges. A sorte destes decisores é Cabral Antunes estar impossibilitado por morte do próprio, caso contrário, ainda atirava com os bonecos à cabeça desta gente.
Todos os anos, por altura da festa da Queima das Fitas, são destruídos na cidade diversos bens económicos e furtados sinais de trânsito e outros valores que custam aos privados e ao erário público milhares de euros. A libertinagem veio para ficar. Perante esta devassidão social a Universidade –que, indirectamente, é corresponsável- continua a fazer de conta que não vê. O executivo actual da Câmara Municipal faz que não enxerga e pactua com o ridículo. Mais, para mostrar que é melhor que os anteriores e para manietar uma certa esquerda alinhada pela manifestação artística, esta semana, abriu o saco das moedas de ouro e distribui verbas “à la garder” para a cultura, mas não se conhecem medidas para combater e remediar o vandalismo crescente na urbe. Entretanto, por que a cultura é considerada erudita e só para alguns, a cidade continua a assobiar para o ar e assiste sem um queixume. Que adultos esperamos destas crianças?
2- Ontem, com pompa e circunstância, a PSP comemorou 137 anos, na Praça do Comércio, e recebeu no Salão Nobre a Medalha de Ouro da Cidade. Segundo o Diário de Coimbra (DC), “O comandante distrital da PSP aproveitou as comemorações do 137º aniversário do comando para destacar a “extrema necessidade de sensibilizar os vários níveis de poder para as exigências que se colocam ao serviço policial e para a necessidade de dotar este comando com condições para poder responder bem aos desafios. Pedro Teles salientou que as condições passam pelo “reforço e qualidade dos equipamentos” mas também “pela motivação do pessoal e a sua valorização e por conferir uma maior “funcionalidade e dignidade” às instalações de Coimbra (2ª Esquadra e Esquadra de Trânsito) e Figueira da Foz, que “apresentam deficiências extremas, caracterizadas por uma profunda falta de condições a todos os níveis”, alertou.”
Na mesma cerimónia Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal, e continuando a citar o DC, sublinhou a “conduta cívica” que os agentes de autoridade manifestam sempre que são chamados a actuar. A PSP tem contribuído para que Coimbra seja uma “cidade de paz”, o que estimula a visita e serve de impulso à actividade económica.”
Com todo o respeito pelas declarações dos dois intervenientes, cada um afirmou o que mais lhe convém e pode ser dito publicamente. Já há muito tempo e sobretudo nos últimos anos, a meu ver, os sucessivos comandantes distritais da PSP de Coimbra declaram apenas o que podem. Ou seja, não sendo políticos, pela inerência do cargo, não são livres de dizer o que pensam e, por essa limitação, acabam a fazer o jogo do poder. Talvez por isto mesmo perdoe a Pedro Teles a omissão de não ter declarado que, passados quase um século e meio, a PSP, aos olhos dos cidadãos, é uma corporação que tem vindo intencionalmente a ser ultrapassada por outras forças e desvalorizada pelos sucessivos governos das últimas décadas. A desmotivação desta polícia é uma evidência –isto foi aflorado por Pedro Teles-, em completo prejuízo para as populações citadinas. Orientada por um sistema judicial, enviesado e desequilibrado onde as leis são doutrinadas para a poupança do Estado, mais preocupado com os direitos dos detidos do que das vítimas e de quem arrisca a vida para salvaguardar pessoas e bens, o futuro apresenta-se pouco risonho. Talvez se entenda porque liguei o aniversário desta ordem policial ao vandalismo da cidade. Muitos parabéns à PSP e, sobretudo, a todos os agentes que, colocando em risco a sua integridade, se esforçam por manter a segurança.

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