sábado, 2 de maio de 2015

A BALBÚRDIA DOS VALORES




Passos Coelho, Primeiro-ministro de Portugal, inaugurou nesta última quinta-feira uma queijaria em Aguiar da Beira. Na assistência um homem demasiadamente conhecido pelos portugueses, Manuel Dias Loureiro, natural da terra onde discursava Passos, agora empresário de sucesso. Anteriormente advogado em Coimbra desde 1978 e durante muitos anos, ministro da República nos dois últimos governos de Cavaco Silva, enquanto primeiro-ministro do país. Mas o ser conhecido pelos portugueses não vêm do facto de ser um empresário bem-sucedido em Portugal e Cabo Verde, advém de, alegadamente e segundo a Esquerda.Net ligada ao Bloco de Esquerda, ser um dos principais responsáveis do BPN, que teria causado aos portugueses um prejuízo acima dos 4.700 milhões de euros e, pelo menos até agora e tanto quanto se sabe, não indiciado pela justiça. Segundo os jornais, Passos Coelho, dando pelo ex-ministro à sua frente, desatou a elogiar a sua capacidade e disse o seguinte: “Conheceu mundo, é um empresário bem-sucedido, viu muitas coisas por este mundo fora e sabe, como algumas pessoas em Portugal sabem também, que se nós queremos vencer na vida, se queremos ter uma economia desenvolvida, pujante, temos de ser exigentes, metódicos. Concluiu ainda, “cada dinheiro que é aplicado tem de render o suficiente para pagar a quem investiu, a quem forneceu esse financiamento, a todos aqueles que participam no processo produtivo”.
Ora, fazendo perguntas, comecemos pelos portugueses. Devido ao escândalo BPN-BPP, o Governo chamou ao Estado as chamadas imparidades daquele banco privado e, subindo desmesuradamente os impostos, indirectamente fê-las repercutir nos cidadãos. Como teriam percebido os nacionais que, nos últimos anos, em resultado de um esbulho fiscal para compensar o crédito mal-parado dos bancos levou à perda de emprego e consequente diminuição de rendimentos, viram as suas vidas viradas de avesso? Lembro que milhares de nacionais perderam as suas casas, os seus carros, as suas famílias –é preciso dizer que, provavelmente, muitas das mortes ocasionadas em cenário de violência doméstica resultam da desagregação das famílias por causa da falta de meios mínimos de sobrevivência. Nestes últimos oito anos, centenas, senão milhares, de suicídios tiveram a sua razão directa na austeridade imposta pelo anterior governo de Sócrates e este agora de Passos Coelho.
Perante o encómio do chefe do governo ao ex-ministro, como se teriam sentido? Petrificadas? Com ódio a este sistema sem vergonha e que, pelo que se viu ali, representa o modelo contrário, a falência total dos valores tal como os mais velhos os reconhecem? Sentiram-se vítimas de estupro?
Do ponto de vista de análise, como é que se pode entender este discurso do Primeiro-ministro? Bajulação ao homem-forte e grande capitalista? Reconhecimento de alguém que anteriormente, a seu tempo, o ajudou a tomar o poder? Inabilidade política e falta de estaleca do líder governamental?
São perguntas que por agora ficam sem resposta, mas os portugueses desta década não esquecem o que aconteceu e o que, aos seus olhos, continua.

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