sábado, 4 de abril de 2015

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "REFLEXÃO: VENHAM A MIM TODOS OS REINOS", deixo também as crónicas "UMA IDEIA GIRA, MAS..."; "O "POPEYE FOI "ENCARCERADO"; "ESSÊNCIAS GOURMET... DE UMA VIDA".


REFLEXÃO: VENHAM A MIM TODOS OS REINOS

Na edição desta semana do Campeão das Províncias escrevo uma crónica sobre o escândalo das comissões praticadas por alguns guias turísticos para levarem os grupos de excursionistas a comprarem em lojas de artesanato, entre os largos da Portagem e da Sé Velha e passando pelas escadas de Quebra-Costas. Alegadamente, a comissão praticada é de 20 por cento sobre as vendas e pago em dinheiro vivo e por debaixo da mesa. Por que os ofendidos na concorrência desleal continuem a calar e as entidades competentes, talvez com o argumento de que o vício ofende apenas a ética e se trata de um contrato entre particulares, fechem os olhos, a situação arrasta-se há vários anos numa vergonha inqualificável.
Promovida pela ADDAC, Associação de Defesa e Desenvolvimento da Alta de Coimbra, e por três comerciantes, neste último sábado, realizou-se uma feira de artesanato urbano para tentar reanimar a zona do Arco de Almedina. Segundo declarações de um dos promotores, um dos lojistas implantados, para além de, no dia, se opor à fixação de uma banca à sua porta argumentou que não quer a feira e que ia fazer tudo para que certames futuros não se efectuem. Este é o modelo de alguns comerciantes que estão entre nós. Se pudessem até retiravam o ar que respiramos só para eles. Falar-lhes que o sol quando nasce é para todos é pura perda de tempo. É triste, não é?


UMA IDEIA GIRA, MAS…

Era meio-dia deste sábado quando o meu amigo, acompanhado do neto, me entrou pela porta e atirou de supetão: “então vim eu com o meu neto para comprar arrufadas e lhe mostrar como, até há cerca de meio-século, era feita a sua venda aqui na Baixa através do pregão e com os tabuleiros de madeira à cabeça das mulheres e afinal não há nada? Isto é publicidade enganosa!”
De facto, passado um quarto de hora depois do meio-dia já não havia animação na Praça 8 de Maio e conforme o anunciado nos jornais, nomeadamente n’O Despertar: “Os doces e apetecíveis aromas prometem voltar a seduzir quem passar amanhã (Sábado) pela Praça 8 de Maio, antigo Largo do Sansão. Tal como manda a tradição, no sábado da Aleluia, o Grupo Etnográfico da Região de Coimbra (GERC) realiza mais uma Festa da Arrufada, trazendo para a rua centenas de atrativos, fofos e apetitosos bolos. Entre as 9h00 e as 13h00, a praça vai encher-se de vendedeiras que vão colocar os seus tabuleiros em linha e vão apregoar o seu produto. Tal como acontecia no passado, o grupo pretende recriar todo o ambiente festivo associado a esta tradição, onde o burburinho do público quase que abafava os pregões das vendedeiras atarefadas.”
Falei com um operador da zona. Com a minha anuência de não o identificar -perante o tão meu conhecido “não diga que fui eu que disse”-, aceitou falar e declarou o seguinte: Estiveram aí umas cinco bancas, mais ou menos até às 11h00, com pessoas a vender arrufadas. Mas, pareceu-me, traziam poucas –iam adquiri-las a uma carrinha que estava aí estacionada. Este doce tradicional não chegou para as encomendas. Não ouvi nenhum pregão. Até gostava de ter ouvido. Seria uma ótima ideia se fosse mais explorada”. Sei que andou uma vendedeira –pelo menos uma foi vista-, e o seu pregão ecoou pelos beirais.
Prossegue o meu depoente, “esta Praça 8 de Maio está feita numa bandalheira. Olhe ali o espelho de água –está com imensos papéis a boiar. Há gente a atirar os detritos lá para dentro de propósito. Para além disso, por exemplo, a tuna que atuou às 11h00 –Tuna do Instituto Superior De Contabilidade e Administração- coincidiu com a missa na igreja. É uma falta de respeito. Embora não saiba o motivo, creio que o pároco até veio cá fora para colocar alguma ordem. Esta manhã, aqui no antigo Largo de Sansão, o que até poderia ser uma iniciativa muito engraçada foi uma coisa muito triste. Muito pobrezinha!”

ALGUMAS “ILHAS” ESTIVERAM ANIMADAS DURANTE A TARDE

Neste quarto Sábado do mês, por isso mesmo, realizou-se, na Praça do Comércio, a Feira de Velharias. Para além deste certame, nas Escadas do Quebra-Costas havia também uma interessante feira de artesanato urbano. Foi uma organização de alguns lojistas e da ADDAC, Associação para o Desenvolvimento e Defesa da Alta de Coimbra, e, futuramente, vai praticar-se sempre no primeiro Sábado de cada mês –esta produção de hoje foi uma exceção para não coincidir com a Páscoa. Durante a tarde, cerca das 15h00, qualquer um destes eventos estava bem concorrido com público e era notório um ambiente de festa.
No Dia Mundial da Juventude, com espetáculo promovido em parceria entre o Café Santa Cruz e a Câmara Municipal de Coimbra, os gaiteiros “Roncos e Curiscos” exibiam a sua música junto ao vetusto café e juntavam alguma assistência na Praça 8 de Maio e ruas largas. Nas artérias estreitas, com bastantes lojas abertas nesta tarde solarenga, não se passava nada. Nem a festa cá chegou, nem o público veio atrás dos foguetes. Mais uma vez venho bater no ferro frio. Nos dias festivos é preciso ligar estas ilhas. No caso de hoje, Praça 8 de Maio, Praça do Comércio e Escadas do Quebra-Costas. E como é que se fazia a ponte? Bastava descentralizar a Feira de Velharias da antiga Praça Velha e, fazendo um círculo, estendê-la pelas ruas estreitas e largas –como se faz em Aveiro. Por seu lado a feira de artesanato do Quebra-Costas descia até à Rua Ferreira Borges. Qual é a consequência deste isolamento? É que cada um, no seu canto, tenta safar-se. Se estivessem todos ligados, para além de desenvolver toda a Baixa e convidar mais lojas comerciais a estarem abertas ao sábado de tarde, o público de um seria o mesmo do outro. Assim não. Parece que estamos todos de costas voltadas.
No caso das Escadas de Quebra-Costas o que se espera para “derrubar” a psicológica fronteira existente no Arco de Almedina e considerar esta zona –até ao cimo e junto ao Largo da Sé Velha e até ao antigo Governo Civil- como fazendo parte integrante da Baixa? Até parece que estamos na Idade Média e a cidade continua dividida. Ridículo, digo eu!


O “POPEYE” FOI “ENCARCERADO”

O António Simões da Silva, conhecido por “Tónio Bombeiro” e apelidado de “Popeye” foi internado num lar ali para os lados do Areeiro, segundo dois seus grandes amigos, o Jorge Martins, do Quiosque Espírito Santo, na Praça 8 de Maio, e Olímpio Ribeiro, proprietário da barbearia Santa Isabel, na Rua Direita, e cognominado de “Engenheiro”.
OTónio” é um daquelas figurantes carismáticos que pululam na Baixa. Pessoas como ele são uma espécie de flores silvestres que nascem e vivem numa área habitacional. Pela forma desligada, na diferença, em consequência da sua leve demência imprimem uma marca inconfundível e, talvez sem o notarem, são amados pela coletividade. Contudo, e aqui reside a ambiguidade, enquanto deambulam pelos becos e ruelas das cidades parecem ser ignorados. Quando se ausentam do meio habitacional, ou por velhice, doença ou morte, todos parecem sentir a sua falta e mostram espasmos de dor pelo seu desaparecimento. Já constatei este procedimento social várias vezes aquando do sumiço de outros “cromos” que nos deixaram na última década.
Por conseguinte já se entende a preocupação do Jorge Martins ao pedir-me que escrevesse sobre o “encarceramento” do “Tónio Bombeiro”. “Tens de escrever sobre isto. A administração do lar onde está internado o “Popeye” tem de ser sensibilizada para o deixar vir à Baixa de vez em quando. Se assim não acontecer, ele vai morrer rapidamente. Sempre aqui viveu. Aqui é o seu mundo.”
Olímpio Ribeiro, o “engenheiro, vai mais longe, “Até entendo a decisão tomada pelo primo –pessoa responsável pela sua administração, creio. Ele fez bem em retirá-lo para uma instituição onde cuidem dele. Ele sozinho não estava bem e, além disso, às vezes, bebia de mais. Mas o “Tónio” faz falta à malta! É uma figura típica e carismática. Ele fazia recados para toda a gente desta rua. O “Tónio” é super-sério. Espero bem que o deixem vir de vez em quando à Baixa. Ainda só foi há dias e já sentimos a sua falta.”


ESSÊNCIAS GOURMET… DE UMA VIDA

Abriu há dias a “Essências Gourmet”, no Terreiro da Erva número 21, ao lado do Restaurante Cantinho do Reis.
Transpomos a porta e, como se recebêssemos uma aura espiritual pelo branco imaculado, somos abraçados pelos odores, pelas essências da terra, que nos envolvem completamente. Para complementar, numa abrangência de cordialidade e simpatia, recebe-nos a Helena Pereira com um sorriso de candura familiar que nos faz acreditar que estamos no nosso meio. Nesta bonita loja de produtos endógenos nacionais –“somente artigos portugueses”, sublinha a anfitriã- podemos apreciar e adquirir biscoitos de vários sabores, chocolates, cerveja artesanal, azeite biológico –Acushla, que ganhou vários prémios-, mel, vinhos de vários pontos do país, conservas, compotas, sal marinho e flor de sal –este, é um sal mais depurado, mais suave- e até algas para fazer um salteado com vegetais. Para além tantas iguarias pantagruélicas, podemos também adquirir sabonetes de leite de burra e muitas variedades de infusões, chás, de muitos sabores.
Embora sem experiência empresarial, Helena está muito satisfeita. “Tenho vendido e está correr muito bem”, enfatiza. O que oferecemos na nossa loja são artigos diferentes dos que se encontram à venda em congéneres na cidade. Procurámos ser um suplemento na oferta e não mais do mesmo. Para não entrar em colisão com quem está, tentamos ser algo diferente.”
A Helena é professora -de Português e Inglês e mestrada em Tecnologias de Informação e Comunicação. Agora a dar formação. Como é que um docente se envolve nas lides comerciais? Interrogo. “Olhe, foi assim: sinto-me pouco empolgada com o caminho que o ensino em Portugal está a tomar. Dei aulas no ensino público cerca de 13 anos. A instrução, enquanto formação necessária ao desenvolvimento humano, está muito degradada. Então, eu e o meu marido gostamos muito de infusões, de chás, de plantas e frutos silvestres. Como temos um amigo que tem um estabelecimento em Aveiro, o “Glory Tea”, seguindo o seu exemplo, surgiu a ideia de abrir uma loja em Coimbra. Foi assim que germinou a Essências Gourmet.”









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