sábado, 18 de abril de 2015

A MINHA CIDADE DE ONTEM E DE HOJE




A MINHA CIDADE DE ONTEM E DE HOJE

Dizem que a minha terra já foi capital,
era aqui o berço e a alcova da nação,
tínhamos tudo menos um cardeal,
desde a Universidade como bênção,
onde foi formada a elite liberal,
antes dela nomes como Clavius, alemão,
 ao escritor poeta Antero de Quental,
Castilho, Eça, Junqueiro, sem questão,
passando por Pessanha, de cá natural,
Presidentes da República com função
como Teixeira Gomes, o novelista carnal,
até ao Estado Novo, de Cerejeira, na oração,
a Salazar, contribuímos para a história nacional,
na revolução, de cá saíram muitos para o pedestal;
Em nome do SNS, público, construi-se um hospital,
o comércio tradicional tinha na Baixa o coração,
mais ao lado a encantadora mata do Choupal
era o respirar das gentes, o seu pulmão,
agora a minha cidade não passa de um quintal
onde ao cego se surripia a lengalenga do pregão,
no intervalo de um copo e bucha meio letal,
mata-se o bicho, consola-se a alma em extrema unção,
ao maneta invisual se furta o órgão junto à catedral,
resta a caridade de uns, de outros tantos o perdão,
de outros mais, malabaristas, abutres do boçal,
na esquina, espreitam a vítima como vulgar burlão,
como falcão, esperam o momento para o golpe fatal;
O comércio arrasta-se, é um estertor da fundação,
está entregue aos shoppings, fantasmas do mal,
que rebentaram com toda a nativa produção,
o negócio da saúde passou ao privado sem moral,
empobrecemos todos com políticas de cambão,
enchemos a barriga com discursos de cristal,
cheios de brilho na verve, mentiras em chavão,
o vazio encheu  o nada e o silêncio é habitual,
no meio da tristeza colectiva ressalta a solidão,
a depressão tomou conta de todos como lei mental,
não há forças que lhe resistam, é a nova religião,
num esgar de dor, parecemos sem-abrigo no Natal,
assim está a nossa região, igualmente à minha Nação.


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