sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

LEIA O DESPERTAR...

LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "REFLEXÃO: UM DIA DE NAMORADOS", deixo também as crónicas "UMA PALMADA DE LESTE COM CLASSE"; "O CORTÊS JÁ TEM UM "ORGON"; "FURTARAM O "ORGON" AO CORTÊS; "ABRIU O CAFÉ DA LOJA; e "FALECEU OSVALDO FERNANDES"


REFLEXÃO:  UM DIA DE NAMORADOS

O dia 14 de Fevereiro é considerado o Dia dos Namorados. Quem for casado ou conviva em união de facto, pelo menos nesta data, ofereça uma rosa ao seu amor. Se puder, leve-a a jantar fora ou, no mínimo, ao cinema –e por que não “As 50 sombras de Grey”? Ainda não vi este filme que estreou recentemente. Sobretudo nos casamentos longos, temos tendência, todos, homem ou mulher, a esquecer as gentilezas, os pormenores, que transformam uma relação diferente a dois. Acomodamo-nos. Achamos que a/o comparte está conquistado e já não é necessário fazer nada para o manter. Erro crasso para tantos de nós! O amor é como um jardim, se não for continuamente regado, fenece e morre.
Para quem não tem namorada, ou companheira, por ser viúvo, divorciado, solteiro, sozinho, pode ser um dia muito triste e a defesa para muitos, creio, é o álcool. Para estes solitários é um dia de enterrar a cabeça no travesseiro, no etílico, nas sobras de um passado, empoeirado e cheio de sombras, que não volta, para esquecer um tempo que teima em vir ao de cimo e sobrepor-se a todas as recordações. Para estes muita coragem e ganhem esperança de que há sempre alguém à espera. Não se escondam atrás do reposteiro ou dos efeitos alucinogénios para aguentar o mundo que parece ter aterrado em cima dos seus ombros. Vão à luta. Para muitos destes, sobretudo pessoas com alguma idade, o facto de serem info-excluídos, não saberem lidar com computadores, pode ser uma enorme barreira. Apesar de haver muitas instituições de apoio à terceira idade, penso, ainda não se dá o devido valor a este facto e o quanto a sua ignorância pode contribuir para a solidão e infelicidade de tantos.
Há pouco tempo um meu amigo, já com alguma idade, pedindo-me ajuda, alertou-me para duas premissas que contribuíam enormemente para a sua angústia e isolamento e que eu nunca tinha pensado. A primeira é a precisão de saber comunicar na Internet e a segunda é a necessidade de saber dançar. O meu amigo, de cerca de sete décadas mas com aspeto de ter menos idade, mostrou-me a sua impotência para arranjar uma companheira para os dias que teimam em ser curtos e noites que, por não conseguir dormir, são demasiadamente compridas.
Nem nos passa pela cabeça os dramas que acontecem entreparedes de silêncio e retiro na terceira idade. São tragédias que, por sermos mais novos e ainda nos mexermos bem, nos passam ao lado. Há uma imensidão invisível à espera de um simples sorriso de alguém. No Dia de Namorados, que já foi, pensemos nisto.


UMA PALMADA DE LESTE COM CLASSE

Na quarta-feira da semana passada, logo ao abrir dos estabelecimentos, visitaram algumas ourivesarias e uma loja de velharias e antiguidades. Eram dois homens e uma mulher com idades entre os cinquenta e os sessenta anos. Bem vestidos, com fatos de bom corte, e a arranhar o português de modo a conseguirem ser entendidos, pareciam turistas em trânsito. Só com muita sorte, pela pronúncia, se poderia adivinhar que eram bandidos.
Passava pouco das 10h00 quando entraram na ourivesaria Ágata. Enquanto um homem entretinha António Cruz, para lhe mostrar uma salva de prata, a mulher dava a “palmada” a uma pulseira e um colar, ambos de ouro maciço e no valor arredondado de 2000 euros. A vigarista saiu com o acompanhante e o segundo homem, “entretainer”, continuou a falar com o proprietário do nobre estabelecimento. Certamente quando o casal já se tinha afastado o suficiente para não ser apanhado, o segundo burlão, com cortesia e elegância, despediu-se do lojista com a recomendação de que voltaria mais tarde. Andavam a ver peças para um amigo. Foi então que o reputado comerciante da Baixa se apercebeu do furto. Ainda correu as ruas em redor mas dos ladrões nem sombras.
António Cruz tinha um ar combalido, como se, de repente, lhe acrescentassem mais uma vintena de anos. “Bolas! Estou a vender cerca de 10 por cento do que comercializava há uns anos atrás e, sem que se conte, uma pessoa leva uma “chapelada” destas!”, enfatiza. Sinto-me agredido, com um mal-estar impossível de descrever”.
As lojas, na maioria, detém apenas uma pessoa. Por isto mesmo escrevo esta crónica. É preciso muita atenção aos grupos e à sua apresentação. Qualquer um de nós está preparado para suspeitar do malvestido e deixar à vontade o bem aprumado. Como tantas vezes tenho escrito, a vida de um comerciante de rua é cada vez mais uma espécie de roleta russa. Nunca se sabe quando, por motivos vários, pode tombar.


O CORTÊS JÁ TEM UM “ORGON”

Passavam poucos minutos das nove quando o telemóvel tocou. Era o senhor Olímpio Medina, o proprietário do mais identificativo estabelecimento, com o mesmo nome, de instrumentos musicais da Baixa. “Alô, Luís? Queria pedir-lhe um favor. É o seguinte: ontem ligou para aqui um senhor de Miranda do Corvo a dizer que leu no jornal O Despertar o que você escreveu e tem um órgão para oferecer ao Luís Cortês mas que só o pode trazer para Coimbra quando vier cá. Acontece que o Cortês anda desesperado, até já me quer comprar um órgão de qualquer jeito –sei lá onde vai ele buscar o dinheiro? Precisa de trabalhar e ganhar. Entende-se! Então liguei ao senhor de Miranda a propor-lhe ir lá buscar o instrumento mas ele, como não me conhece, pareceu receoso. Então pensei que se você fosse comigo seria mais fácil. Íamos no meu carro. Pode ir comigo?”
E, como dois catraios em busca de uma solução que pode ajudar a salvar um amigo, lá fomos –interessante como, por algo que consideramos bom, largamos tudo sem olhar a tempo e a despesas. É como se, passando o devido exagero, corrêssemos em busca de um medicamento que pode salvar uma vida –foi isto mesmo que senti no entusiasmo manifestado pelo senhor Olímpio.
Chegámos a Miranda do Corvo e ligámos ao benfeitor que se tinha disponibilizado para oferecer o instrumento ao Luís Cortês. Veio então o senhor Jorge Santos com um teclado Yamaha debaixo do braço. Pelas feições, reconheci-o de Coimbra, já lá vão muitas décadas. Disse-nos que estava aposentado por invalidez e que ao ler o apelo no jornal ficou muito sensibilizado. Por que o podia fazer, tinha muito gosto em contribuir para um dia-a-dia melhor do músico de rua, da Baixa de Coimbra. Mesmo contra a sua vontade -por não gostar de publicidade, disse-, lá consegui tirar uma foto do momento. Expliquei porque o fazia. Este seu gesto pode levar outras pessoas a fazer o mesmo para situações análogas. Comportamento gera comportamento. Apenas por isso e nada mais. Um agradecimento do tamanho do mundo para este benemérito, Jorge Santos, e um grande abraço para o senhor Olímpio. Neste dia, durante a tarde, o Cortês já manifestava um sorriso de felicidade. Não é tão bom quando tudo acaba bem?




FURTARAM O “ORGON” DO CORTÊS

Hoje, quarta-feira, durante a tarde, alegadamente, um indivíduo pegou no órgão do Cortês, o músico de rua que costuma estar em frente à Igreja de Santa Cruz, colocou-o debaixo do braço e abalou em direcção à Praça do Comércio. De salientar que este instrumento musical foi oferecido há cerca de uma semana por um benemérito de Miranda do Corvo, de nome Jorge Santos.
Segundo pessoas presentes na Praça 8 de Maio, indignados com a acção do energúmeno que teria surripiado o “orgon” ao Cortês, não deixaram de contar que o instrumentista é muito desleixado e não cuida dos bens à sua guarda. “Muitas vezes deixa o seu ganha-pão abandonado ao sol e à chuva sem levar em conta a importância para a sua sobrevivência. Depois acontece isto!”, referiram.
Foi apresentada participação do furto na PSP. Se o leitor tiver alguma informação que possa ajudar, por favor, informe a polícia.


FALECEU OSVALDO FERNANDES

No último fim-de-semana, Osvaldo Augusto Fernandes, de 83 anos, partiu do nosso meio. O seu funeral, com missa de corpo presente no Centro Funerário Nossa Senhora de Lurdes, realizou-se nesta segunda-feira. Pessoa muito conhecida na Baixa, nasceu no Beco das Canivetas, morou na Rua das Rãs e, durante muitos anos, até final da década de 1980, foi fabricante de malas com oficina na Rua Corpo de Deus onde veio a residir até há cerca de sete anos quando se transferiu para o Lar Graça de São Filipe, em Bencanta, São Martinho do Bispo. Sei que foi muito bem cuidado nesta casa e, até ao último minuto de vida, muito bem acompanhado pela sua filha Isabel Fernandes a quem, naturalmente, deixa um oceano de saudade.
O Senhor Osvaldo era irmão de João Fernandes, ex-delegado da Fundação Inatel, a quem, do meu cantinho, endereço um grande abraço de solidariedade nesta hora de angústia e sofrimento.
À Isabel Fernandes, aos filhos desta e netos do desaparecido, ao meu amigo João Fernandes, em nome da Baixa, que vê partir mais um dos seus obreiros, um enorme carinho de solidariedade e os sentidos pêsames.



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