quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...






SuperFebras deixou um novo comentário na sua mensagem "UM ESPAÇO SEM REGRAS":


Amigo:

Estou de acordo com o lugar, que é místico, onde se realiza a que não conheço mensal feira. Também não conheço o lugar como ele o é hoje! No meu tempo visitava o convento, muita das vezes enlameando-me. Só quando o Mondego deixava e entrávamos nele por aquilo que hoje sei é uma janela pois estava aterrado de lamas que ali se depositavam todos os anos.
Ninguém se acredita que acabaria o lixo, a destruição e o desprezo por quem deveria ser competente e responsável apenas com a mudança deste mercado para outro lugar!
Será Portuguesa esta falta de civismo na nossa relação com o meio ambiente, deixando lixo por todo lado, violando os nossos monumentos, destruindo paisagens e habitats sem que haja compreensão e respeito pela razão. E mais grave ainda, lidando com o lixo, a limpeza e a proteção daquilo que é de todos nós como se fosse um frete ou problema de outrem?
Não, de maneira alguma é só português este problema. Mesmo quem não viaja assiste hoje através dos meios tecnológicos às imagens de lugares bem piores na porcaria do que o nosso país. Mas as circunstâncias nestes sítios é bem diferente da nossa, basta pensar que alguns destes países têm mais gente numa cidade que nós no todo do território nacional!
Algumas destas gentes ainda hoje firmemente acredita que mergulhar num lendário rio, hoje com carcaças inflamadas de gases putrificados a passar flutuando ali à sua vista, é purificante!
No entanto, não acredito que em Portugal haja alguém a quem esta pergunta -que tantas vezes me foi feita pelas pessoas que me queriam bem e não posso deixar de mencionar as da minha Ribeira de Frades especialmente a Sra. Beatriz Torres, minha segunda mãe- não faça pensar: “então se ele se atirar a um poço também te atiras?”. O que me leva a concluir que o procedimento dos outros não é justificação de forma alguma para o nosso!
Quando tinha pouco mais de vinte anos, ainda cheio de ideais, na companhia de quatro amigos e da minha mui querida e bem torneada Fender Stratocaster, abrilhantava uns bailaricos bem à nossa moda pelas várias comunidades portuguesas nas vilas e cidades do Sul do Ontário (Canadá). Talvez por sermos o grupo mais jovem entre as bandas da diáspora, e por isso aos viras, tangos e valsas juntássemos uns rocks e alguns blues, um dia, fomos contratados para fazer um casamento de um português em enlace com um a bela moça holandesa! Como é natural e por vezes necessário, caso se tenha que repartir a pesada factura, o número de convidados entre as duas nacionalidades era quase igual e como amigo gosta de se sentar com o seu amigo o sobrado de dança dividia os dois grupos.
Minutos depois dos noivos se despedirem e partirem para a sua lua-de-mel a sala estava vazia e as luzes principais começam a reacender-se, iluminando agora as tarefas de arrumação e limpeza final. Enquanto desmontávamos a aparelhagem apercebemo-nos de um burburinho na sala! Que vergonha senti! Éramos agora os cinco, os últimos portugueses presentes, penso eu, já que a casa era de Italianos, e os seus empregados chamavam-nos à atenção para a diferença entre os lados, que tinham sido português e Holandês.
Do nosso lado o chão em carvalho envernizado mal se via! Rolhas de garrafa, pedaços de pão, ossos, arroz, folhas espezinhadas de alface entre esborrachados gomos de tomate, garfos, colheres e facas que ninguém se deu ao trabalho de apanhar, guardanapos ensopados em vinho e sei lá mais o quê! E do outro lado holandês nada. Mal havia uma cadeira fora do lugar! Tentei com o meu olhar encontrar algo a que pudesse apontar para desanuviar a culpa! Sim também me senti culpado, ou melhor, como português, responsabilizado! Mas nada! Cabisbaixo regressei à minha tarefa!
Sim, Amigo e seus leitores, somos um povo abrutalhado mas não se esqueçam que um diamante em bruto também vale fortunas! E é a lapidação o que nos faz falta, pois valor e grandes valores temos aos montes.
Nesse mesmo casamento só havia crianças no lado Português e muitas! Alegro-me de vos contar! No outro lado, crianças havia uma, a menina das flores! Não faziam nem fazem parte dos acontecimentos, ficam de fora e quase sempre entregues a pessoas a quem os pais pagam e por vezes nem conhecem!
Conversa animada, gargalhadas, pedido de beijos num ensurdecedor bater de talheres nos pratos e movimento de pessoas que entre "corses" visita e cumprimentar os amigos nas outras mesas, como sabem, só no nosso lado. Do outro, nas gentes das tulipas, apenas um coscuvilhar baixinho, não vá o diabo ouvir a conversa! Até pareciam assustados com os nossos!
E no tal campo neutro que dividia não só a cor dos olhos, dos cabelos e tonalidade de pele mas também a quantidade de tinto consumido? Na sala de dança é que era! A nossa alegria é inconfundível quando misturada com música! Velhos, mais novos e crianças, aparelhados ou não, só quem muito sofre das cruzes é que não salta, balançam e rodopiam! Do lado holandês, eles frouxos e elas a parecer medricas, não vá um “portuga” "botar-lhe a unha"!
Por fim, pergunto: valerá a pena trocar a nossa maneira de ser e estar na vida, com os amigos e com a família, pelo civismo que demonstram outras culturas que a
nem ao vizinho dão as boas-tardes pois tal nem existe no seu vocabulário?
Lembra-me agora outra pergunta frequente na minha aldeia: “o que é que tem o cu a ver com as calças?”

Um abraço português.

Álvaro José da Silva Pratas Leitão
Bradford – Ontário
Canadá

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