quarta-feira, 5 de novembro de 2014

TELMO MELO: A LINHA MÁGICA DA VIDA



É esguio e pela altura mediana não chama a nossa atenção num primeiro olhar. Mas há qualquer coisa de místico na imagem de Telmo Melo. Começa logo pela indumentária completamente negra. Mas não é apenas a roupa preta que instiga um segundo olhar. Este homem, de apenas 25 anos, carrega consigo uma carga inexplicável de mistério. Olhando os seus olhos negros, pressentimos que ali, pelo brilho embaciado, está o espelho de uma alma sofredora, o espírito de um artista em potência cuja criação está inevitavelmente ligada à tristeza, à solidão e à nostalgia. Seja no que for, pela sua entrega total e pelo perfeccionismo que o persegue, a área em que mergulhar, ainda que com dificuldade acrescida como se o destino o colocasse à prova, estará fadado ao sucesso. Tendo o lado obscuro da Lua como génio inspiratório, o mar, dividido na bipolaridade entre a acalmia e a turbulência, será sempre a sua projecção divina. Aqui, nas águas cálidas da arte, tomará banho de purificação e, pela catarse, sairá mais forte e mais aperfeiçoado. Quando, tantas vezes, nos cruzamos com ele nas ruas da Baixa da cidade, para nós mais velhos, lembra-nos alguém da TV ou do cinema. Talvez um personagem da “Guerra das Estrelas”, como Peter Cushing, da saga de George Lucas.
Pelo bem que queremos ao nosso menino, o Melo é a nossa maior esperança no mundo da prestidigitação, a arte da ilusão. A magia está para este rapaz como o Sol estará para a Terra.
O Telmo nasceu na Conchada, num meio pobre e arrabalde da cidade. Quis o propósito que um dia, com 11 anos, fosse ver um espectáculo de Luís de Matos, de magia, ao Teatro de Gil Vicente. Foi tiro e queda na paixão que viria a ser a sua profissão. Houve ali um clique, uma mensagem fluídica. Logo depois da actuação do nosso maior ilusionista da actualidade, levou consigo um guardanapo e, entre voltas e reviravoltas, foi até casa a tentar perceber como é que o seu novo ídolo fazia. A seguir, sempre que podia, e colocando outras prioridades de lado, adquiria livros de magia. Com o apoio incondicional de sua mãe esta ofereceu-lhe uma caixa que se chamava “magia Borras”. Estava criado o vírus que tomaria conta do seu futuro e o faria prescindir de estudar. Veio a Internet e ajudou na pesquisa. O seu mestre idolatrado foi sempre Luís de Matos. Embora saiba que o mágico nacional mais premiado internacionalmente reconhece o seu trabalho e até já lhe tivesse oferecido uma caixa mágica com 150 truques, Telmo nunca lhe pediu ajuda. Sendo autodidacta, entende que cada um de nós deve construir a sua escada em direcção à fama e, como um grande amor, tem de a conquistar pelos seus próprios meios. A magia é um engenho sem tradição em Portugal e não é apoiada. Talvez por isso mesmo tudo se torne mais difícil. Mas o nosso Telmo é um optimista e não desiste por nada. Quando está a pisar o palco transcende-se e, como se encarnasse num mago da Idade Média, sente-se um ser metafísico.
Apesar de sentir o calor da cidade, gostava de ver a autarquia mais envolvida nas artes performativas. Relembra Mário Nunes, outrora vereador da edilidade coimbrã e já desaparecido do mundo dos vivos. Era bom que a nova vereadora da Cultura, Carina Gomes, lhe seguisse as pisadas.
O maior desgosto que Telmo Melo sofreu foi a partida da sua musa inspiradora terrena, a sua mãe, em 2007, quando se transformou no seu anjo da guarda. Desde essa data, e ao longo destes sete anos, que o seu espírito, nos momentos bons e nos piores, passou a ser a sua luz de vida.
O seu maior sonho era poder apresentar um programa de televisão e chegar ao grande público. Mas, digo eu, vai acontecer Telmo! Escreve aí, meu amigo!

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