sábado, 11 de outubro de 2014

O CARTOLA NÃO DEVERIA SER ENTERRADO?




De iniciativa do executivo municipal liderado por Manuel Machado, no princípio da década de 1990, deu polémica da grossa a edificação e posterior exploração concessionada do café Cartola, ao cimo da Avenida Sá da Bandeira e com frente para a Praça da República. Para quem se lembra, este é o exemplo acabado de que o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. Desde a sua natividade que este estabelecimento hoteleiro esteve sempre envolto em controvérsia.
De iniciativa camarária, começou logo no anúncio do projecto por a oferta na zona ser já excedentária e a sua implantação ser considerada pelos hoteleiros locais como uma intrusão municipal nos negócios privados. A própria construção do imóvel foi considerada de discutível falta de gosto estético e classificada como aborto arquitectónico e barracão sem prestabilidade. A seguir abriu com pompa e circunstância e passado pouco tempo encerrou, penso, por falência do empresário na função. Seguiu-se novo concurso de atribuição. Foi então que o primeiro classificado viria a ser preterido por Machado e a concessão a ser outorgada a um segundo que tinha ofertado menos, empresa de um já desaparecido restaurante para os lados das também extintas piscinas municipais. Depois, alegadamente, no clausulado contratual o concessionário estava obrigado a permanecer sete anos e a promover eventos culturais. De festas realizadas ninguém se lembra e, julgo, acabou por ceder as quotas da empresa antes do prazo imposto. Foi de tal forma a escandaleira que gerou ódios em incubação e Manuel Machado acabaria por receber uma carta anónima com ameaça de morte. Durante meses todos os empresários de hotelaria da praça fizeram da sede da Polícia Judiciária, na Rua Venâncio Rodrigues, a sua segunda casa. Nunca se concluiu o processo da autoria da missiva e a cominação acabaria por ser arquivada. O adquirente permaneceu no negócio até finais de 2011 a pagar pouco mais, creio, de um milhar de euros por mês. Passou nos jornais que, alegadamente, a autarquia lhe teria perdoado de rendas em atraso, cerca de 100 mil euros.
Numa história recente que ainda está na memória, em Setembro de 2012 os jornais locais da cidade noticiavam que o café Cartola foi adjudicado por mais de 14 mil euros mensais. Como se sabe e era de prever, o fim da história deste ajuste foi o encerramento. A edilidade ficou a arder em cerca de 100 mil euros de rendas por pagar. Ainda segundo os jornais a caução bancária de garantia era de apenas 30 mil euros. Ou seja, numa depravada irresponsabilidade do executivo então liderado por Barbosa de Melo, o “” vai suportar a diferença.
Há escassos meses foi aberto novo concurso. Mais uma vez surgiram candidatos a oferecer verbas mensais utópicas e irreais com a realidade económica vigente. Este ajustamento acabaria por ser anulado por “vício de forma” –por inadequação às normas legais- e aberto nova prova de adjudicação.
Agora, durante este mês, foi anunciado que há vários proponentes dispostos a pagar cerca de 13 mil euros mensais para explorar este negócio. Mas será que o novo executivo, da Câmara Municipal de Coimbra, liderado por Manuel Machado, não vê, não enxerga que, pela apatia especulativa de aceitar a maior oferta, está a desgraçar famílias e, nas perdas mais que certas por ser impossível o cumprimento, está a envolver os contribuintes? Tendo em conta o bom senso, se no princípio de 1990 atribuiu o estabelecimento a um segundo que ofereceu menos por que não utiliza agora o mesmo critério?
Passando todas estas interrogações, levando em conta o passado de maldição deste malfadado projecto e sabendo que a hotelaria na Praça da República está em acentuada queda –basta lembrar o fresco encerramento do McDonald’s, no espaço do antigo Café Mandarim- não seria serviço público mandar demolir o mostrengo do barraco do café Cartola e devolver à Avenida Sá da Bandeira a paisagem que lhe foi furtada em plano de secretaria? Um erro, por muito grave que seja, está sempre a tempo de ser corrigido. Não quero ser ave de mau agoiro mas, se não se optar pela sua liquidação patrimonial esta história inquinada vai acabar mal. Aguardemos.

1 comentário:

Super-febras disse...

Amigo:

Nem tudo o vento mudou!

Se a esta vinheta quizer, com a arte sua, fazer a letra, a canção de gesta fica pronta. É que a música é a mesma!

Um abraço
Álvaro José da Silva Pratas Leitão