segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A QUEDA DO HUMANISMO E A ASCENSÃO DO ANIMALCENTRISMO





Ontem, Domingo, durante a manhã, junto às antigas instalações da Garagem de São José, na Avenida Fernão de Magalhães, um carro permanecia embrulhado em cartão e em toda a volta rodeado com fita autocolante da Polícia Municipal (PM). Quem passou e não ligou, provavelmente, teve o mesmo pensamento que eu tive: olha, agora a PM já não emprega bloqueadores e faz uma espécie de embrulho surpresa ao condutor. Acontece que achei aquilo estranho e fui ver o que tratava tão surpreendente quadro. Não foi fácil deslindar o mistério, confesso, mas cheguei lá. No vidro da viatura um papel manuscrito colado dava a seguinte mensagem: “Está um gato dentro do capô. Contacte-nos, seguido de um número de telemóvel”. Dei a volta à viatura e vislumbrei um recipiente com água e ouvi um miar.
Brincando um pouco com a situação, aos meus olhos caricata, pelos vistos um felino resolveu acampar entre o motor da viatura e, está de ver, como não tinha licença, a PM resolveu intervir. Presumo que não conseguiu expulsar o “ocupa”.
Escrevendo sério, acho que isto passa das marcas. Alguém está a instrumentalizar os recursos da PM para fins que não são os seus. E a meu ver, o pior de tudo, é que esta força de polícia municipal não se está aperceber da gravidade da situação. Por que o lóbi da defesa dos animais é tão poderoso e está a tomar conta da solidão de tantos, vai ser difícil não ser insultado e acusado de insensibilidade mas, mesmo assim, vou prosseguir. Palavra que não diria nada se verificasse que, do mesmo modo, a PM até sinalizou um homem que há vários dias dorme nuns papelões, na Rua Eduardo Coelho, no prédio das desaparecidas Galerias Coimbra. Antes de prosseguir, vou identificar este ser humano. Trata-se do António José Vaz Monteiro, tem 46 anos e, antes de cair na rua e nas malhas do alcoolismo, trabalhou uma dúzia de Verões na antiga Sociedade de Porcelana de Coimbra e outras tantas Primaveras em vários empregos, incluindo o Ministério do Ambiente.
Penso que já se vê onde quero chegar, há qualquer coisa que foge à minha compreensão. Estamos a perder de vista o humanismo –a valorização do ser humano nas condições de generosidade, compaixão e preocupação- e entrar no “animalcentrismo” –um termo que inventei e que significa o animal como centro de tudo. Ora, no meu entendimento, os serviços públicos, com recursos de todos, estão a alimentar e a desenvolver esta nova filosofia. Reitero que o problema não reside na ajuda aos animais mas sim nas soluções que falham para as pessoas. Talvez valesse a pena pensar nisto. O que acha?


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