segunda-feira, 10 de março de 2014

DA JANELA DO MEU TÁXI



MARCO deixou um novo comentário na sua mensagem "DA JANELA DO MEU TÁXI":



 A segunda situação ocorreu há cerca de mais ou menos 5 meses. De madrugada e, por coincidência, novamente nas urgências dos HUC, Hospitais da Universidade. Depois de ter sido chamado, ao chegar ao local surgiu-me uma garota com 14 ou 15 anos, no máximo. Educadíssima, pediu-me para aguardar uns minutos, que ia buscar a mãe acabada de ter alta. Apareceu então, pouco depois, empurrando uma senhora numa cadeira de rodas. Estava acompanhada por um funcionário (do hospital), que envergava uma bata verde -não sei se enfermeiro ou maqueiro. Sei (vi) que não fez o mais pequeno gesto e não teve sequer a intenção de abrir a porta da viatura. Manteve-se quieto aguardando que a cadeira ficasse vazia para a recolher. A menina pegou na mãe ao colo e sentou-a no carro sempre a pedir-me desculpa pela demora. Agora pasme-se -e por isso a minha revolta com o funcionário dos HUC, atenção que não estou a generalizar, existem lá excelentes funcionários-, a senhora era paraplégica. E ele quietinho, sem mexer uma palha. A menina andava de um lado para o outro para aconchegar a mãe. Foi novamente à recepção buscar os pertences, etc,.
Mas o pior aconteceu depois de abandonarmos o hospital. Perguntei o destino e a menina muito educada, como sempre, ficou um pouco envergonhada. Disse-me apenas para tomar a direcção da Portela do Mondego. Insisti em saber o nome da rua e ela respondeu que não sabia e que depois, no local, indicava por onde iríamos. Quando estava a chegar à Portela disse-me para abrandar e cortar à direita. Assim fiz e reparei que nos dirigíamos para o rio. Era o acesso à “praia dos tesos”. Ao fundo reparei num amontoado de escombros. Eram os restos demolidos de umas barracas que albergavam algumas famílias que foram realojadas noutro local da cidade. Ainda meio atordoado, a menina mandou-me seguir à direita para um túnel em que passa por baixo a nova variante da Boavista, onde estavam uns colchões e papelões no chão. Era naquele local que elas iriam ficar? Perguntei a mim mesmo. Onde estava um senhor idoso deitado- certamente pai da garota e marido da mulher paraplégica. A menina tinha 5 euros e foi pedir o resto ao pai para me pagar. Como se isto tudo não fosse já triste o suficiente, reparei que o pai era também um doente, não falava normalmente, tinha um aparelho na garganta, que pressionava para se fazer entender numa voz “metálica”, tipo robot -soube então que tinha tido um tumor na garganta, além das doenças que têm normalmente os sem abrigos, como pneumonia e tuberculose. Incrédulo com toda situação não consegui fazer mais perguntas. O que entendi da situação foi que por alguma razão esta família não foi realojada. Não sei também se a menor frequenta a escola. Não sei nada. Já não sei nada!! Sei somente que este é o ano de 2014. E que estou em Coimbra, Portugal, União Europeia, primeira divisão dos países desenvolvidos. Será?!?
Abraço.

MARCO

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P.S. -ESTE TEXTO FOI REMETIDO PARA O GABINETE DE ACÇÃO SOCIAL DA CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA

Bom dia.

Tomo a liberdade de levar ao seu conhecimento um texto que me foi remetido por um taxista e transcrevi no meu blogue. Não sei se a situação descrita ainda persiste. No entanto, talvez não fosse descabido V. Ex.ª mandar investigar. Deixo aqui o link para a crónica:  http://questoesnacionais.blogspot.pt/2014/03/da-janela-do-meu-taxi_10.html

Com os melhores cumprimentos.


Luís Fernandes

1 comentário:

Anónimo disse...

Boa noite

Fico agradecido por ter contactado a Câmara para saber da situação.
Dê noticias.
Obrigado