segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A NOVA "PRAÇA DO CHOCOLATE"


 No último 9 de Dezembro a Praça do Comércio ficou mais rica e adocicada com um novo estabelecimento dedicado à mais antiga marca de chocolate a operar em Portugal: a Avianense –esta etiqueta, fabricante do alimento com base na amêndoa fermentada e torrada do cacau, iniciou a produção em 1914. Segundo a página da empresa fabricante de tabletes, “Ao longo de quase um século de existência, passou por várias vicissitudes, mas sempre manteve a sua actividade e os compromissos comerciais, respondendo aos critérios de exigência de legalidade e qualidade dos seus produtos”.
Os responsáveis por este projecto são o Pedro Espírito Santo, de 36 anos, e a esposa Olga. Com alguma humildade mas também à defesa –afinal nem me conhece, saberá ele o que vou escrever?-, o Pedro, licenciado em engenharia civil, confessa não ter experiência comercial mas muita vontade de aprender. O espaço do novo estabelecimento está inserido no edifício que é pertença do avô –aqui funcionou até há cerca de uma vintena de anos a “Casa Figueiredo”, com  artigos de retrosaria-, de modo que, como estava encerrado, era preciso fazer alguma coisa para rentabilizar a loja e, por inerência, revitalizar a área envolvente, ou seja a Baixa da cidade. Mas porque é que escolheu o ramo dos chocolates? Interroguei, quase em provocação. Respondeu o Pedro:
“Esta história começa por ser muito engraçada. Os avós da minha mulher, a Olga, tiveram uma mercearia em Barcelos. Sempre que via um chocolate da Avianense era tocada por uma saudade que me envolvia totalmente. Pela enésima vez enfatizava: “ai, tantas vezes comi chocolates tradicionais, destes, oferecidos pelo meu avô!”. Aos poucos fui interiorizando que a recordação da nossa meninice está sempre presente dentro de nós. Foi assim, na hora de escolher um ramo diferente dos que já existiam, que caímos na interrogação: “e se fôssemos para uma loja de chocolates Avianense?”
Gosto muito desta zona velha, porque tal como a minha esposa, também estou muito ligado à desaparecida retrosaria do meu familiar. Acredito que a Baixa enquanto tiver comércio terá pessoas. É certo que é preciso criar hábitos para inverter esta tendência para a desertificação, mas é também por isso, por esta mudança, que estamos cá. Embora acredite que o tempo, na sua incomensurável virtude de eterno retorno, de fazer reviver a memória, tudo normaliza. E basta-me olhar para mim, durante alguns anos eu vinha cá apenas ao fim-de-semana matar saudades. Não vinha mais vezes pela comodidade de ter junto à minha residência uma grande superfície Comercial. Lá, na grande área de vendas, eu tinha tudo, sem precisar de andar à chuva, como o dia de hoje, por exemplo. Paulatinamente, comecei a cansar-me de todo aquele aparato de artificialismo e ar rarefeito. Como um cordão umbilical invisível, comecei a sentir uma necessidade de voltar aos meus tempos de criança, à loja do meu avô Figueiredo.
Abrimos o estabelecimento há cerca de um mês. Felizmente, as vendas no período de Natal correram relativamente bem, e dentro das nossas expectativas, tendo em conta que é uma ideia nova e sem haver aqui nada no género. Foi esta singularidade que nos motivou. Temos tido muita adesão por parte dos nossos clientes e, aliás, já temos alguns fidelizados. Proximamente, neste mesmo espaço, contamos apresentar exposições de pintura, escultura e arte vária. Todos os meses teremos uma montra temática diferente, tendo por objecto o chocolate Avianense. Sinto-me muito bem por estar aqui. Tenho a certeza de que o meu avô Figueiredo, felizmente de boa saúde, está  igualmente muito feliz pelo nosso contributo.”



1 comentário:

Anónimo disse...

A loja está muito gira, e o Pedro, ex-colega de desporto do meu filho mais velho, tem conversa agradável, e é simpático. Os chocolates são d'A Vianense, que voltam facilmente às nossas memórias de infância nas Sombrinhas de Chocolate. Entre outras gulodices dos nossos tempos de meninos.
Felicidades, Pedro e Olga.