domingo, 15 de dezembro de 2013

"AUDÁCIA E DEMOCRACIA PARA COIMBRA"



AUDÁCIA E DEMOCRACIA PARA COIMBRA



José Dias
José Manuel Pureza


1. Num tempo tão castigado e violento como aquele que o país vive às mãos de uma política de abate sistemático de direitos e dos serviços públicos que lhes dão suporte indispensável, num tempo assim em que as vidas das pessoas são castigadas e a sua esperança é apagada, pensar nas cidades como lugares de dignidade começa por ser um exercício de resistência mas tem que se tornar num exercício de ambição para o futuro. O que torna reconhecíveis as cidades mais do que os Estados onde se situam, o que lhes dá notoriedade e força, é a sua capacidade de atrair habitantes, trabalho e talentos. E para isso têm que ser sítios onde se vive bem porque os direitos de todos são honrados como prioridade pelos poderes e pelos cidadãos e porque todos se sentem parte de um projeto que mobilize para novos e melhores horizontes.

2. Coimbra é há tempo demais uma cidade que desperdiça o seu melhor. Que tem tudo para ser uma cidade fantástica mas que não o é nem para quem nela vive nem para quem a visita. Uma cidade que, desperdiçando as suas melhores diferenças, fica aqui mas poderia ficar em qualquer outro lugar sem diferença.
É mais que tempo de olhar esta cidade com ambição estratégica. De trazer de volta tudo o que de melhor Coimbra tem, aquilo que os visitantes referem com pena de não ser mais forte e os conimbricenses assinalam com raiva de não ser mais essencial. Uma cidade que tem a sua universidade como pólo de um conjunto classificado como património mundial tem forçosamente que colocar no centro da sua estratégia de afirmação nacional e internacional o setor criativo – a cultura e as humanidades, as artes performativas, visuais e do digital, a ciência e a engenharia, as indústrias de base tecnológica e as profissões ligadas ao conhecimento, a música e a publicidade, a arquitetura e o cinema, a escrita e o design, a rádio ou o software. A este respeito, convém lembrar que o QREN 14-20, último grande pacote financeiro a receber da UE, constitui um teste decisivo à ambição e à clarividência de quem nos governa: vai ou não prevalecer uma visão estratégica que seja capaz de mobilizar os recursos necessários para potenciar uma Coimbra como património comum a puxar pelo seu melhor?

3. A exigência dessa estratégia tem que ser feita a quem governa o país – porque Coimbra é um assunto nacional – e a quem governa a cidade – porque foi para isso que o povo os/as escolheu e não para, como qualquer quadro intermédio, gerirem bem o dia a dia trivial. A quem nos governa exige-se que se dote de instrumentos de prevenção do futuro, na ausência dos quais corre o risco de pilotar à vista, de ser submerso pela gestão das urgências, de ditar a sua conduta pelos acontecimentos. Quem governa, como os capitães dos navios, necessita de uma vigia para discernir, para lá da espuma dos dias, as tendências macro e emergentes que impõem lucidez e arrojo no caminho a traçar, e de um leme para traçar a sua rota com firmeza em cada momento, em função dos objetivos definidos.

4. Mas que fique claro: Coimbra não precisa de uma estratégia vendida por uma qualquer empresa de consultoria e marketing, traçada nos seus gabinetes a pensar tanto em Coimbra como noutra qualquer cidade do pais ou do mundo. O leme e a vigia do governo de Coimbra têm que ser feitos do envolvimento ativo de todos os cidadãos e cidadãs. A transparência, o diálogo com as pessoas e, mais que tudo, a democracia participativa que mobilize as inteligências e as boas vontades de todos/as são os suportes da vigia e do leme para a Coimbra que precisamos de trazer ao entusiasmo das nossas vidas. A afirmação do Movimento Cívico “Cidadãos por Coimbra” foi um passo importantíssimo nesse sentido. Outros e novos passos têm que ser dados agora.

5. 45 anos depois do levantamento académico de 1969 e 40 anos depois do 25 de abril de 1974, urge regressar ao entusiasmo e à mobilização do I Congresso da Cidade, realizado em 25 e 26 de maio de 2001, que aprovou a Carta Constitucional de Coimbra.  Este é o tempo de resgatar essa mobilização cívica e essa co-responsabilização da cidadania pela nossa cidade. Uma governação municipal à altura dessa exigência será a primeira a valorizar todas as formas de iniciativa cidadã – da mais anónima até ao horizonte de um novo Congresso da Cidade – como base partilhada imprescindível para uma estratégia de futuro, a exemplo de tantas cidades europeias (como Bilbao 2030), e assim prevenirmos cair numa futura Detroit.

Ano Europeu dos Cidadãos, Coimbra, 15 de Dezembro de 2013


[i] Membros do Movimento Cívico “Cidadãos por Coimbra”

(Recebido por e-mail e com pedido de divulgação)

Sem comentários: