sábado, 2 de novembro de 2013

LEIA O DESPERTAR....


Para além  do texto "O MISTÉRIO DO BECO DAS CANIVETAS", deixo também as crónicas "NATA LISBOA... EM COIMBRA"; e "POR SEIS PLANTAS DE CANNABIS".



O MISTÉRIO DO BECO DAS CANIVETAS

 Em meados de 2010 um prédio, propriedade da Câmara Municipal de Coimbra, ruiu no Beco das Canivetas, uma transversal da Rua Adelino Veiga. Mais tarde, pela autarquia, foi construído um passadiço em túnel de modo a proteger os transeuntes para danos futuros. Ainda hoje, passados três anos, lá se encontra no beco da facaria.
Segundo vizinhos, que pediram o anonimato, há cerca de quatro semanas começou a ser erigida uma estrutura em barras de ferro no agora vazio espaço e que outrora foi uma habitação de três pisos. Conforme me foi transmitido pelos confinantes, e pressenti, a indignação é grande. Dizia um: “onde é que se viu uma coisa destas? Olhe que gastaram aqui sete toneladas de ferro provisoriamente. Então não seria mais fácil e barato reconstruir o edifício tal como estava anteriormente?”. Corroborava outro, “andaram a colocar o ferro à “chucha-calada”, até parecia que tinham medo de falar connosco. Se esta propriedade fosse de um particular poderia estar três anos assim? Mais, poderia colocar este ferro todo, assim, sem mais nem menos?” –interrogava.
Pelos meus olhos de leigo, olho aquela simetria de aço e vejo ali uma obra de arte, um projeto inteligente. Ou seja, em vez de se utilizarem os materiais tradicionais, cimento e tijolo, optou-se pelo ferro em todo o seu interior e, penso cá com meus botões, só a fachada será reconstruída conforme o existente original. E disto mesmo, nesta dúvida, dei conta aos dois vizinhos que me vieram trazer os seus queixumes. “Não senhor! Estas toneladas de ferro foram apenas utilizadas transitoriamente para impedir o desabamento do prédio vizinho. Qualquer dia voltarão a retirá-lo para reconstruir a obra definitivamente. Há muito dinheiro para gastar naquela Câmara. É o que é! Andamos nós a eleger esta gentinha!” –enfatizaram em coro.

PELA SANTA MADRE, FALEM COM OS CIDADÃOS


 Repetindo, acredito que esta obra é muito mais do que parece. Ou seja, se for certo o que imagino, está muito bem concebida em termos de racionamento e contenção de custos. Depois de se reconstruir a fachada igual ao original o interior deixa de ser visível e, creio, até ficará simples e bonito. Má há aqui uma premissa que interessa salientar: por que não se digna a edilidade, através dos técnicos, informar os vizinhos da obra? É preciso não esquecer que estas pessoas estão há três anos a sofrer toda aquela carga negativa da estrutura em madeira, sobretudo pela ambiência de degradação, e que está a contribuir para a permanência de toxicodependentes na zona.
Estamos a entrar num novo ciclo, acabaram de tomar posse os corpos-gerentes no paço, era bom que os novos escolhidos tivessem em conta que foram eleitos representantes dos cidadãos e, no seu dia-a-dia na Administração Pública, devem satisfações aos representados. Se assim fosse, tal como neste caso, não haveria especulações que, tantas vezes, deturpam bons planos e criam animosidade contra o poder autárquico.


NATA LISBOA… EM COIMBRA

 Abriu a semana passada, mais exatamente na quarta-feira, a Nata Lisboa, na Rua Ferreira Borges, em frente ao Arco da Traição e no antigo espaço do Último Figurino. Com uma decoração moderna e sóbria, entre o rústico e o revivalismo de vanguarda, o ambiente é deveras convidativo e acolhedor.
A Nata Lisboa é um conceito franchisado da Nata-Mundo, marca com sede na capital e com vários pontos de venda no País. Como se adivinha é uma aposta forte no celebérrimo pastel de nata. Não igual a um qualquer vendido num café de bairro. Nada disso! O docinho do Céu que aqui provei, quentinho e com um sabor nunca ensaiado por mim, é assim como usufruir de uma viagem aos confins do paraíso pantagruélico. O palato bate palmas, o estômago sorri e a barriga agradece. É um sonho realizado de duas jovens amigas, a Ana Ribeiro e a Raquel Bento. Contrariamente ao comum não estavam desempregadas. A Ana, de Pombal, foi até há pouco docente em design de moda. A Raquel, de Castelo Branco, é licenciada em Ciências da educação. Ambas estavam a trabalhar nas suas áreas de cursos e abandonaram os seus lugares para abraçarem este projeto. Confessam não perceber muito do universo hoteleiro, mas estão muito bem assessoradas pelo João Gerardo, que sabe muito bem quantas gramas de café são necessárias para tirar uma bica. Além disso, referem em coro, com a vontade férrea que as impele tudo rapidamente se aprende.
Então, com um sorriso enorme da Ana, da Raquel e do João, façam o favor de visitar o seu bonito estabelecimento, que muito vem engrandecer e valorizar a Baixa de Coimbra, e provar aquela maravilha de bolinho encantado. As maiores felicidades e toda a ventura são os nossos desejos sinceros.


POR SEIS PLANTAS DE CANNABIS

 O Diário de Coimbra (DC) de sexta-feira, dia 25, em título de primeira página, dava à estampa: “Moradores de república de estudantes arguidos por cultivo de cannabis”. No interior do jornal, em subtítulo, foi escrito que “PSP de Coimbra apreendeu seis plantas adultas de cannabis e ainda quantidade desta droga suficiente para 5400 doses no interior da residência”. E em desenvolvimento “Cinco indivíduos (de ambos os sexos) residentes numa república de estudantes localizada na zona da Sé Velha foram constituídos arguidos e estão sujeitos a termo de identidade e residência, por serem suspeitos de cultivo e posse de estupefacientes, nomeadamente cannabis”. Continuando a citar o DC, “(…) No interior da residência, em zonas comuns a todos os moradores da casa, foram encontrados pelos mesmos agentes seis vasos com outras tantas plantas adultas (….). No decorrer das buscas, e já no quarto de um dos moradores, foi encontrada uma caixa de papelão que a PSP de Coimbra confirma que continha “diversas cabeças de cannabis, prontas para secar e embalar” e ainda “uma saca em plástico com sementes de cannabis e um moinho próprio para o produto”. A conclusão a que chegaram as autoridades é que o material encontrado no interior da residência dava para cerca de 5400 doses.”
Depois da transcrição do periódico, demos uma vista de olhos na Internet sobre as consequências do haxixe, ou maconha como também é conhecida esta planta no mundo. Ficamos a saber que “Os efeitos variam se a droga é fumada ou tomada, e dependem da quantidade usada. Com vários efeitos comportamentais, consoante a quantidade usada, tem várias consequências para a saúde como por exemplo:fumar maconha traz os mesmos problemas que fumar cigarro de tabaco: bronquite, asma, faringite, enfisema e cancro; há maior risco de sofrer acidentes de trânsito; diminui a imunidade, aumentando a possibilidade de ocorrerem infeções; se for usada durante a gravidez, existe a possibilidade de prejudicar o feto. A dependência pode ocorrer por uso repetido, durante bastante tempo.”
A talhe de foice convém referir os ventos que sopram da América Latina, mais propriamente do Uruguai. Vamos espreitar: “No mês que vem, o Uruguai pode se tornar o primeiro país das Américas a legalizar o cultivo, a distribuição e a venda da maconha. O Senado, de maioria oficialista, deve transformar em lei a legalização da maconha, já aprovada pela Câmara de Deputados no final de julho. Esse pioneirismo pode representar um modelo para os demais países do mundo, especialmente aos vizinhos (…). Os consumidores vão poder cultivar até seis mudas de maconha em casa, com uma produção de até 480 gramas. O cultivo também poderá ser coletivo nos chamados "clubes do auto-cultivo", cujo limite será de 45 sócios. Também se poderá adquirir a maconha plantada, distribuída e vendida pelo Estado por meio das farmácias, numa quantidade mensal de até 40 gramas. Haverá um registro de usuários com identidade protegida, que impede a compra por estrangeiros, para evitar o "turismo da maconha". Depois de aprovada a lei em novembro e depois do plantio e da colheita, a maconha deve começar a ser vendida no segundo semestre do ano que vem. O chanceler uruguaio Luís Almagro explica que o objetivo final da lei será asfixiar financeiramente o tráfico de drogas e preservar os usuários que não vão mais precisar ir até uma boca de fumo, expondo-se à delinquência de traficantes.
Antes de prosseguir, vou fazer ressalvas de interesses: afirmo que não conheço as pessoas indiciadas; juro solenemente que nunca consumi o vulgar charro –embora, saliento, conto não morrer sem experimentar; nada tenho contra a PSP. Entendo que os agentes se limitam a cumprir a prescrição legislativa –no entanto, é minha convicção que, para mostrar trabalho feito à comunidade, há uma tendência natural para a especulação, quer na quantidade apreendida que resultará em n doses, quer partindo do princípio de que, instigados pelo espírito da lei, a produção tem sempre por objeto a comercialização futura, o tráfico. Na quarta emenda, não sou um patrocinador acérrimo da legalização da plantação de cannabis. O que defendo é que, de uma vez por todas, se clarifique a legislação vigente, se coloque em cima da mesa os danos e os proveitos para a sociedade. É um paradoxo, a cair no absurdo, o consumo de drogas leves estar despenalizado e ser sancionado o cultivo de plantas para o gasto pessoal. Ou seja, na lei, estamos perante um apriorismo bacoco de que um produtor é sempre um eminente traficante –lembremos, por exemplo, que os agentes da  PSP estão sempre vinculados ao mesmo procedimento de inquérito, quer sejam 200 plantas apreendidas ou apenas uma.
Gostaria ainda de apelar à reflexão no sentido dos custos. Comecemos pelos financeiros; terá lógica levar a julgamento arguidos primários cujo desfecho se sabe, em princípio, que será a absolvição? E os Sociais? Será justo a comunidade –ignorante e sádica, sempre ávida de um legalismo e justicialismo radicais- lançar um estigma de “criminosos” em cima destes e de outros jovens?
De uma vez por todas, era bom assumir que não devemos continuar a enterrar a cabeça na areia. O consumo de haxixe não existe apenas no nosso vizinho. Ainda que algumas vezes por ignorância tácita e confortável e outras por desconhecimento legitimador do não conflito, não vale a pena esconder: ele está mesmo dentro de nossa casa.



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